Cada fotografia é uma folha amarelecida,
uma
folha morta de tempo, como que uma página arrancada ao calendário da vida, uma
página onde se escreveu uma pequena anotação, onde se rabiscou um esquisso,
um pedaço de memória que se congelou, um pedaço de tempo que se aprisionou
numa pequena caixa em prata.
Cada fotografia é uma âncora lançada no tempo.
O
clic da máquina fotográfica é o
ruído do tempo a cair dentro da câmara escura: o tempo sempre teve medo do
escuro, por isso, nos buracos negros o tempo, aflito, sempre estrebucha,
assustado. Quando o diafragma se fecha, o instante de tempo fica para sempre
prisioneiro, naquela cela exígua de 24 por 36mm.
Há por isso em cada fotografia um pedaço de morte que, ironicamente, sobrevive à morte física do objecto fotografado e do objecto fotógrafo!
Mas
se cada fotografia é um objecto
morto, parado no tempo, congelado, é também muitas vezes fonte de vida, uma
semente de sonho, de viagem no espaço-tempo, de fantasia e de criação,
transformando-se assim num contentor de vida latente.
Renato
Roque 1999