D'ouro d'Alendouro
- Paisagens do silêncio
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Para a
minha mãe, com quem construí há muitos anos um Herbário, quando com
ela aprendi a amar as ervas do campo, sobretudo as selvagens...
Renato
Roque |
Paisagens de Silêncio
- tripla projecção na sala do tribunal da Cadeia da Relação - Centro
Português Fotografia - 2004
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Há
muitos anos que o Alendouro – como eu gosto de chamar a Trás-os-Montes - é
um refúgio dourado, um lugar mágico, um destino privilegiado, onde o tempo
ancorado parece passar mais devagar. Nessas viagens, a proximidade com aquela
terra brava, com aquelas plantas, aquelas árvores, aquelas pedras foi
crescendo, tornando-se física, animal, quase sensual, construída sobre olhares
prolongados, assentes em carícias longas, onde a mão no anel do foco afaga um
tronco nu de castanheiro, aquele castanheiro, sabes, que aparece sempre.
O
lugar onde o meu corpo cansado se molda nas ervas secas, onde se deitou e dormiu
o silêncio.
Silêncio...
Sempre o silêncio. Silêncio que zumbe nos ouvidos. O eco do silêncio.
E
o clique da máquina, ao quebrar o silêncio, eriça as ervas secas e a penugem
dourada dos meus braços.
Só
no silêncio pode crescer a intimidade. Uma intimidade feita de palavras
subentendidas, que não têm de ser ditas.
Clique!
E
no fim resta apenas o rasto de um silêncio arrastado pelo vento sobre as ervas.
E
no fim milhares de imagens, guardadas com carinho em pequenas caixinhas de prata
- Âncoras do tempo.
...
D’ouro
d’Alendouro nasceu em percursos vagarosos em Terras de Miranda, de Sendim a
Constantim, onde o ouro do Douro refulgiu com toda a intensidade.
D’ouro
d’Alendouro cresceu depois em Terras de Montesinho, de Vinhais a Bragança, de
Rebordelo a Mirandela.
Atravessou
o rio e em rigor saiu do Alendouro, para alargar-se a Terras da Beira, de
Figueira de Castelo Rodrigo à Barca, de Escalhão a Almeida.
Finalmente
D’ouro d’Alendouro amadureceu no Porto com as palavras leves, mergulhadas em
silêncios, de Jorge Sousa Braga.
2003
Renato Roque