AlkaSeltzer - o crítico de arte manchuguesa |
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Texto escrito para exposição 'Pinturas do Outro Lado' de Manuel Manchinha
“ e na planura sensual da cor, o ruído do silêncio de uma
dimensão emergente num plano dimensional
evanescente.” S.F.Eno Tridimensionalidade cromática - os amarelos musculados e os azuis mal passados, a
crítica inefável aos monocromistas minimalistas. Citando S. F. Eno «...
e na planura sensual da cor, o ruído do silêncio de uma dimensão
emergente num plano dimensional evanescente. » No
Retrato hiper-quadradista o
positivo e o negativo, o masculino e o feminino, o roque e a amiga. Os «Espelhos»
do caos amoroso, da desordem aparente, a presença do ausente, ou a
partida do presente? Nas memórias n-dimensionais com areia e tempo
a poética do «Prego» enquanto negação do metaforismo oco dos
apreciadores do prego em prato, pesa como a ameaça de uma narrativa
auto-centrada: a cor e a luz; a luz e a água; a água e o telefone; o
telefone e o gás. Modelos de si próprios? Em fisgar o tempo num espaço quadrático
«a fisga», os estilhaços matéricos povoam de incertezas vibrantes e
projectivas o nosso olhar sedentário, enquanto nos faz mergulhar
libidinosamente no âmago da arte de Manuel Manchinha, arte/conceito,
arte/jogo, arte/redenção, arte/mulher, arte/amante, arte/lençol,
arte/mancha, arte/máquina de lavar. A
obra de Manuel Manchinha estende-se na noite do efémero sensível,
plasmando-se silenciosamente de vivências, no tecer de dádivas de uma
nobreza invasora, confiantemente urdida num espaço de conjugações
impossíveis: em Ratoeira
tridimensional com tempograma Manuel encontra-se em Manchinha. A
viagem no tecido sensual da sua arte esboça-se. Esboça-se,
plana, voa para logo ser aprisionada em Tempografia
n-dimensional. num espaço hiper-dimensional, onde a hiper-imagem
contrapõe a ausência de luz: o medo do escuro, a Arte como saída
ortogonal, a Arte como saída daqui. Buracos negros. Serão negros? Que dizer do buraco enquanto reflexo da nossa própria
sexualidade? O despudor da máquina registadora - de imagens - e da caneta
que paira, emblema falacioso de uma sexualidade não consumada. Em Batedor bípede e outras espécies «a batedeira», novamente a tensão erótica
entre o manual e o digital, o positivo e o negativo, o masculino e o
feminino - os jogos de sombras, interpenetrações fragmentárias do
conceito de "luz manchada relativizante" tão grato a Manuel
Manchinha. Na
planura das imagens os vales dos outrora rios de linfa de que se compõem
os sonhos do autor, descobrimos o desejo de desejar, a alma negra da
deconstrução iconoclástica de um olhar pusilânime, paradigma de uma
burguesia do conceito, irrefragável vertigem da consciência de uma
apropriação privada do simbolismo dos modelos semióticos daquilo que é
a leitura daquilo que queremos ler. Por
favor não incomodem os animais! Libertem o tempo da panóplia
descontrutivizante da sociedade de consumo. Em
Tempograma tridimensional molhado a critica implícita à
tecnocracia da dimensão a três, a física e a hiper-física enquanto
contra-eixos da arte tecnológica. A água enquanto escrita, a escrita /
libertação, o retorno ao ventre materno. Água / libertação, água / mãe,
água do Luso. Falar de Manuel Manchinha enquanto apropriador dos
trajectos quânticos inter e intra-dimensões é o mesmo que não dizer
nada. Falar de Manchinha é falar para o boneco. Eu dou-me bem com Manuel Manchinha. (A. Seltzer) |