AlkaSeltzer - o crítico de arte manchuguesa

  • AlkaSeltzer é o crítico de artemanchuguesa mais conceituado com inúmreros ensaios sobre a Arte Manchuguesa contemporânea.
  • Especializado em hiperquadradismo, tem inúmeros ensaios escritos sobre o tema, de que se destaca "O Hiperquadradismo emerge num plano inclinado incandescente"

Texto escrito para exposição 'Pinturas do Outro Lado' de Manuel Manchinha

 

“ e na planura sensual da cor,

o ruído do silêncio de uma dimensão emergente

num plano dimensional evanescente.”

S.F.Eno

Poder-se-ia decodificar esta viagem transdimensional de Manuel Manchinha ao quadradismo objectual/conceptual - esta passagem apenas perceptível como metástase crítica de um cubismo transpirante enquanto processo depurativo de uma meta-neutralidade cromatizante - sem nos questionarmos sobre a tensão ontogenética que paira na tessitura dos destroços tão só adivinhados na sua obra, sem ao menos perguntarmos onde fica a casa de banho? «Rascunhos n-dimensionais» - o espaço encantatório, a repartição dos equilíbrios instáveis políticos e sociais da sociedade hodierna.

Tridimensionalidade cromática - os amarelos musculados e os azuis mal passados, a crítica inefável aos monocromistas minimalistas. Citando S. F. Eno «... e na planura sensual da cor, o ruído do silêncio de uma dimensão emergente num plano dimensional evanescente. »

No Retrato hiper-quadradista o positivo e o negativo, o masculino e o feminino, o roque e a amiga. Os «Espelhos» do caos amoroso, da desordem aparente, a presença do ausente, ou a partida do presente?

Nas memórias n-dimensionais com areia e tempo a poética do «Prego» enquanto negação do metaforismo oco dos apreciadores do prego em prato, pesa como a ameaça de uma narrativa auto-centrada: a cor e a luz; a luz e a água; a água e o telefone; o telefone e o gás. Modelos de si próprios?

Em fisgar o tempo num espaço quadrático «a fisga», os estilhaços matéricos povoam de incertezas vibrantes e projectivas o nosso olhar sedentário, enquanto nos faz mergulhar libidinosamente no âmago da arte de Manuel Manchinha, arte/conceito, arte/jogo, arte/redenção, arte/mulher, arte/amante, arte/lençol, arte/mancha, arte/máquina de lavar.

A obra de Manuel Manchinha estende-se na noite do efémero sensível, plasmando-se silenciosamente de vivências, no tecer de dádivas de uma nobreza invasora, confiantemente urdida num espaço de conjugações impossíveis: em Ratoeira tridimensional com tempograma Manuel encontra-se em Manchinha. A viagem no tecido sensual da sua arte esboça-se.

Esboça-se, plana, voa para logo ser aprisionada em Tempografia n-dimensional. num espaço hiper-dimensional, onde a hiper-imagem contrapõe a ausência de luz: o medo do escuro, a Arte como saída ortogonal, a Arte como saída daqui.

Buracos negros. Serão negros? Que dizer do buraco enquanto reflexo da nossa própria sexualidade? O despudor da máquina registadora - de imagens - e da caneta que paira, emblema falacioso de uma sexualidade não consumada.

Em Batedor bípede e outras espécies «a batedeira», novamente a tensão erótica entre o manual e o digital, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino - os jogos de sombras, interpenetrações fragmentárias do conceito de "luz manchada relativizante" tão grato a Manuel Manchinha.

Na planura das imagens os vales dos outrora rios de linfa de que se compõem os sonhos do autor, descobrimos o desejo de desejar, a alma negra da deconstrução iconoclástica de um olhar pusilânime, paradigma de uma burguesia do conceito, irrefragável vertigem da consciência de uma apropriação privada do simbolismo dos modelos semióticos daquilo que é a leitura daquilo que queremos ler. Por favor não incomodem os animais! Libertem o tempo da panóplia descontrutivizante da sociedade de consumo.

Em Tempograma tridimensional molhado a critica implícita à tecnocracia da dimensão a três, a física e a hiper-física enquanto contra-eixos da arte tecnológica. A água enquanto escrita, a escrita / libertação, o retorno ao ventre materno. Água / libertação, água / mãe, água do Luso. Falar de Manuel Manchinha enquanto apropriador dos trajectos quânticos inter e intra-dimensões é o mesmo que não dizer nada.

Falar de Manchinha é falar para o boneco. Eu dou-me bem com Manuel Manchinha.

                                                            (A. Seltzer)