Fotografias de Renato Roque |
Ao mexer o braço toquei num objecto
negro e duro, e demorei a perceber que se tratava da minha câmara fotográfica. Consegui
movê-la até à frente do meu olho direito e, com esforço, desloquei a mão até ouvir o
clic. |
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Passado
todo este tempo a minha visão já se tinha adaptado a este novo mundo, e já conseguia
distinguir sem dificuldade diversas espécies de seres e conseguia identificar aquilo a
que o Manuel chamara casas. Eram manchas grandes de cor fixa com diversas aberturas.
Continuava a ter alguma dificuldade em mover o visor da máquina até ao olho e em
disparar. |
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Ouvia-se o ruído do mar, os guinchos das gaimanchas e, de vez em quando, os clics da minha máquina. |
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Entretanto o Manuel afastou-se com um grupo de amigos e eu observei os visitantes da exposição com mais atenção. As manchas pareciam associar-se por grupos. De um lado as berrantes, do outro as negras, e ainda de outro as brancas, as cinzentas e todas as outras. Eu, sozinho, fotografava. Clic, clic. | |
Abri os olhos. O gnomo que me tinha indicado a porta de entrada para o mundo paralelo olhava-me espantado. Ao meu lado a máquina fotográfica, carregada de tempo ancorado. | Em Renato no País das Manchinhas editado pela Salamandra |