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Renato no País das Manchinhas - a história do livro

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Tal como descreve em Renato no País das Manchinhas, naquele dia Renato entrou no Jardim Encantado pela porta da frente. No Jardim Encantado conheceu um gnomo. O gnomo aceitou ensinar-lhe o caminho para o Mundo Paralelo se o Renato prometesse contar-lhe todas as suas aventuras.

- Para ligar dois mundos paralelos são precisos espelhos mágicos especiais chamados buracos negros. Terás apenas um problema: posso indicar-te o caminho no nosso mundo até ao espelho, mas não conheço o caminho de regresso no outro mundo paralelo. Que dizes?…

Seguiu as instruções do gnomo, encontrou a passagem e entrou. Descobriu um segundo gnomo, perdido no Mundo Paralelo há mais de duzentos anos, que lhe disse como chegar ao Mundo Chato.

- Vês aquelas torres ao longe? 

Não sobes à primeira que não conduz a lado nenhum. A segunda também não. Se subires à terceira torre, encontrarás o Mundo Chato.

Renato teve alguns problemas mas lá subiu à terceira torre, onde descobriu a entrada para o País das Manchinhas. Aí conheceu o Manuel Manchinha, a Maria Manchinha e muitos outros habitantes desse mundo bidimensional fantástico.

- Estás no País dos Manchinhas. Eu chamo-me Manuel Manchinha e vivo nesta cidade.

Mas o País das Manchinhas não é apenas um mundo a duas dimensões, onde, por isso, os seres não têm altura, onde os objectos não têm espessura ou profundidade; um mundo onde as preposições ‘sobre’ ou ‘por debaixo’ são desconhecidas, por não fazerem sentido; um mundo com uma escrita e uma pintura unidimensionais. É também um mundo onde o tempo passa de outra maneira, mais depressa ou mais devagar conforme a intensidade da luz, um mundo onde as cores dos objectos mudam de acordo com a velocidade, e onde as cores são utilizadas pelas manchinhas para expressar sentimentos e emoções – amarelo-desconfiado, azul-de-raiva, verde-embaraço - um mundo onde a simples operação aritmética de contagem -1,2,3 - pode dar lugar a muitas surpresas. É também um mundo onde existe uma ponte entre a Ciência e a Poesia, entre a Ciência e a Arte: a Ultra-Ciência.

- Houve quem pensasse e defendesse que as ciências da natureza permitiriam dar resposta a todas as perguntas, mas depressa se percebeu, como te disse há pouco, que existia ainda uma grande área do conhecimento que, apesar de ser todos os dias mais restrita, devido aos avanços da Ciência, parece, surpreendentemente, não diminuir, talvez mesmo aumentar! A Ultra-Ciência pretende ser uma ponte para essa área, e como todas as pontes tem dois lados: de um lado a Ciência, do outro a Poesia e a Arte.

Renato visitou a cidade onde habita Manuel Manchinha, visitou o seu museu, o museu da Ciência e tomou banho nas águas do Canal da Mancha.

Caminhámos ao longo praia. Chamo-lhe praia, pois não sei que palavra utilizar. Ouvia-se o ruído do mar, os guinchos das gaimanchas e, de vez em quando, os clics da minha máquina fotográfica. Eu não podia perder aquela oportunidade. Hesitando perguntei:
- Posso tomar um banho no mar?

Manuel Manchinha era afinal pintor; e ofereceu ao Renato um catálogo da sua última exposição Pinturas para o Outro Lado, que – seria coincidência? - inaugurava no dia da sua visita.

- É o catálogo da minha exposição. Quero oferecer-to. 

- Vou escrever uma dedicatória:

Para o Renato, uma mancha do outro mundo, com muita amizade
Manuel Manchinha

- Como já consegues ler manchuguês, lê o texto escrito pelo crítico, vê as reproduções dos meus trabalhos e diz-me o que pensas.
Folheei o catálogo, mas as imagens a uma dimensão, impressas a uma dimensão, ainda eram mais difíceis para mim. Comecei então a ler o texto, de um crítico conceituado chamado Alka Seltzer, devagar, mas confesso que logo o percorri em diagonal, pois não conseguia comprender nada do que lá estava escrito. Escorreguei rapidamente até ao canto inferior direito. O texto era intragável. Pensei na minha avó que sempre dizia que eu tinha uma boca santa, e levei o texto de novo à boca. Piquei o lábio no bico da diagonal, e uma pequena gota de sangue sujou o branco imaculado da folha.

Depois do jantar em que comeu ‘manchorda à nossa moda’ e ‘manchanadas’ deliciosas, Manuel Manchinha levou-o a visitar a sua exposição. 

Saímos e, pouco depois, pareceu-me, chegámos à praça onde os tinha conhecido. Reparei que o Manuel trazia o meu retrato ‘debaixo’ do braço.
- Trouxeste o retrato que fizeste?
- Sim, quero colocá-lo na exposição.


Senti-me orgulhoso. Atravessámos a praça e entrámos no local da exposição.

Mas Renato foi obrigado a regressar subitamente ao nosso mundo, com a ajuda do Professor Mancherto Einfleck, fugindo ao presidente do bairro e outras manchas que o queriam aprisionar.

Escreveu o livro Renato no País das Manchinhas para contar ao gnomo todas as suas aventuras, cumprindo assim a sua promessa.

 

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