O elogio da fotografia
Para o Luís
Ia visitar um país
novo, desconhecido. Na hora da partida estava entusiasmado, como sempre estou,
ao partir de viagem.
O Luís deu-me a mão
e guiou-me. Andamos durante muito tempo. Atravessamos campos e aldeias, prados e
bosques. Perguntei-lhe se ainda demorava muito. Ele respondeu-me cheio de paciência,
que precisava de ser paciente.
Entrámos por fim
numa clareira no meio de uma floresta. Parámos. Algo na expressão do Luís me
dizia que tínhamos chegado. Na clareira havia uma pequena casa. À primeira
vista, esta casa nada possuía de extraordinário, mas à medida que os meus
olhos se adaptaram à luminosidade da clareira, notei que era rodeada por uma
espécie de brilho, talvez causado pela luz solar filtrada pela folhagem das árvores
que a cobriam. Aproximei-me, andei à sua volta. A casa estava fechada. As
janelas eram cobertas por portadas grossas. Nada se via para o interior. Olhei
para o Luís como que a perguntar o que fazer. Ele sorriu, aquele sorriso
confiante que só ele sabe fazer, e mandou-me espreitar pelo buraco da
fechadura. Caminhei para a porta. Inclinei-me, algo receoso, e espreitei. A
princípio nada vi. Os meus olhos, feridos pela claridade do exterior, nada
conseguiam ver. Mas a pouco e pouco os contornos foram-se definindo. Um mundo
maravilhoso foi-se desenhando através daquele pequeno orifício. Um mundo, onde
as regras a que nos habituamos e que acabamos por respeitar podem desaparecer.
Um mundo de pernas para o ar! Fiquei fascinado. O meu olho direito cansado,
colado ao buraco da fechadura daquele mundo (i)rreal começou-me a doer. Poucas
vezes há maravilha sem um pouco de dor e sacrifício. O Luís chamou-me. Tínhamos
de voltar. Eu não queria partir. O Luís explicou-me então que poderia levar
aquela casa comigo. Podia levá-la dentro do coração. O Luís falou-me como só
ele consegue falar coma sua voz pausada, segura, amiga. Depois de o ter ouvido
sabia que era verdade. Ergui-me e olhei para ele. Ele sorriu de novo e percebi
que a casa já estava dentro de mim.
O
seu sorriso era maravilhoso...
Renato Roque