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|bgcolor(#FFFFFF):[img[As fotografias contam histórias|./wikiImages/nido.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''As fotografias contam histórias'', Nida, Lituânia, Setembro 2010^^//}}}
Como se costuma dizer as histórias são como as cerejas, atrás de uma vem outra. A história que contei, passada na Costa Rica, lembrou-me esta fotografia, guardada na arca de possíveis //tiddlers//. Fiz esta imagem em Setembro de 2010, quando passeava junto ao mar, até às grandiosas dunas de Nida, na Lituânia. Nida é um pequeno povoado situado numa estreita língua de areia que atravessa o Báltico, de Klaipeda na Lituânia até Kalingrado na Rússia. Foi terra de Thomas Mann. O escritor teve em Nida uma casa de verão e aí, onde existe actualmente um museu com o seu nome, terá escrito alguns dos seus livros mais famosos.
Caminhava com a câmara pronta, quando fui surpreendido por uma cena de modelo que fotografei. Houve de imediato uma reacção violenta por parte do fotógrafo e de outros elementos da equipa, afirmando que não podia fotografar, pois eles estavam a trabalhar. Perguntei se estava enganado e se aquele lugar não era público? Porque sendo um lugar público, não me parecia que alguém me pudesse proibir de fotografar. Outra coisa seria eventualmente publicar fotografias que pudessem de alguma forma ser inconvenientes para alguns dos fotografados. Mas os protestos continuaram. Acalmei-os, finalmente, afirmando que apesar de estar convicto de que podia fotografar, por princípio não fotografava quem não o queria ser e não fiz mais nenhuma fotografia. Se publico agora esta imagem única desta cena é porque por um lado ninguém é nela reconhecível - o modelo só se vislumbra por uma pequena mancha de corpo iluminado pelos reflectores, por trás da assistente loura de negro - e porque por outro lado me parece que esta história e esta imagem podem suscitar um conjunto de questões complexas sobre o direito a fotografar, em contraponto ao direito à privacidade. Tenho lido diversas opiniões de pessoas que defendem que as restrições a publicar imagens nalguns países são tão exigentes, que tornariam quase impossível publicar qualquer fotografia onde haja gente visível, se as quiséssemos respeitar inteiramente. Quais os limites razoáveis, afinal?
Tenho por isso imensa pena de nas três vezes que conversei com Martin Parr, precisamente na Lituânia, não lhe ter perguntado - apesar de a pergunta me ter ocorrido, pois depois a ocasião propícia não aconteceu - como consegue ele publicar retratos de tanta gente, em revistas, jornais e livros com tanta visibilidade, para mais retratos que muitas vezes teríamos tendência a considerar como caricaturas grosseiras e que ridicularizam os protagonistas.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[BES Revelação 2010 e eu|./wikiImages/revelacao2010.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''BES Revelação 2010 e eu'', nos projectos de Mónica Baptista e de Miguel Ferrão, Serralves, Janeiro 2011^^//}}}
Tal como aconteceu em anos anteriores, regressei a Serralves para mergulhar na exposição dos quatro artistas seleccionados no prémio BES Revelação e, tal como aconteceu em anos anteriores, utilizo este espaço vazio, nesta minha espécie de blog, para dizer alguma coisa acerca do que vi.
O trabalho de Carlos Azeredo Mesquita é interessante e bem realizado, na ligação que estabelece entre as ideias de série e de imagem panorâmica, a partir de um conjunto de fotografias que fez na Hungria, onde é visível ainda o peso imagético do socialismo (ir)real dos países de leste. O projecto de Mónica Baptista, ao montar imagens fotográficas pessoais de arquivo em filme, constrói um objecto fílmico com uma aura de objecto quase artesanal e que, apesar de correr o risco de ser interpretado como uma multiplicidade de ideias e de rascunhos a desenvolver no futuro, acaba por resultar numa curta-metragem intimista e poética. Não sei sinceramente o que dizer dos outros 2 projectos. No caso de Miguel Ferrão, esta perplexidade poderá resultar do facto de a projecção de imagens, que integrava o projecto, não estar a funcionar, quando estive em Serralves. Acredito que por isso a peça estava porventura amputada de uma parte fundamental. No caso de Eduardo Guerra confesso que nem sequer compreendo como pôde ser aceite, quando o regulamento diz explicitamente "projecto/trabalho ''em fotografia'', impressão digital, slide 35mm ou diapositivo". O texto do regulamento do prémio parece-me mal redigido, pois acredito que a impressão fotográfica não tem de ser digital e também que o suporte final pode ser qualquer outro, para além dos 3 mencionados, aliás confusos - slide 35mm ou diapositivo? - como acontece afinal com o trabalho da Mónica Baptista que usa uma montagem de fotografias em filme de 35mm, mas a redacção confusa do regulamento não é o que me interessa aqui. O que importa é que, de acordo com o regulamento, as propostas têm de ser trabalhos em ''FOTOGRAFIA''. Ora a proposta de Eduardo Guerra consiste num biombo em madeira e num texto em áudio - lido em inglês - que, de acordo com o que li, conterá extractos da Teoria das Cores de Goethe - confesso que a qualidade sonora não era suficiente para eu conseguir seguir o texto. Poder-se-á argumentar, e é verdade, que tudo isto não é nada que um bom texto de um bom //curator// não consiga ultrapassar. Por exemplo: "A fotografia está lá por lá não estar e é revelada ao ser evocada na luz do texto de Goethe, lido através do altifalante negro, colocado escondido na esquina do biombo pintado de branco, que simboliza a fixação da voz humana nas esquinas da história, materializada pelo processo fotográfico a preto e branco, que possibilitou o registo da imagem, como uma escrita na linha do tempo". Não sei se gostaram. Ou será que há alguma coisa mais no projecto que me passou?
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[IMPORTADO|./wikiImages/importado.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''IMPORTADO'', S.José, Costa Rica, Dezembro 2010^^//}}}
Uma das características mais preocupantes, quanto a mim, na arte - e em particular na fotografia - com que nos confrontam nos dias que correm, em muitos eventos artísticos de topo, é a manifesta falta de originalidade de quase todos os autores e a completa ausência, na maioria dos projectos, de verdadeira contemporaneidade, no sentido que é dado a esta palavra por Georgio Agamben - [[Ver entrada nesta espécie de blog de Nov 2011|2010-11 - De novo o Contemporâneo]]. Claro que existem muitos autores originais, autores com visão própria, e também em Portugal, mas esses persistem, se não na obscuridade, em circuitos menos visíveis e menos prestigiados, às vezes quase marginais, enquanto aqueles que realiza(ra)m a fotografia valorizada pelos mercados, ou simplesmente a clonam, nos são mostrados todos os dias como ícones indiscutíveis. Visitamos tantas vezes galerias, museus, bienais, para vermos os mesmos nomes, autores que já vimos há um mês, há um ano, há dois anos, ou então outros que hoje clonam os que tínhamos visto há um mês, há um ano ou há dois anos, ou outros que clonam processos que, pretendendo ser de ruptura, nada rompem, antes repetem fórmulas que perderam a acuidade. E apercebemo-nos mesmo, nalguns casos, de que alguns desses autores aceitaram abdicar da voz própria que tiveram no passado, para debutarem nos salões. Há excepções? Claro que há, mas esta linha de força, assente na clonagem, na pretensa ruptura de um falso contemporâneo, imposta muitas vezes por gente muito afastada da fotografia, é um espartilho que, como um colete de forças, cinge a fotografia em Portugal e no mundo. E o que é verdadeiramente preocupante é que tudo isto acontece à frente dos nossos olhos e não vemos uma polémica acesa, que seria natural que acontecesse. Talvez a melhor forma de compreender este drama seja contar uma pequena história ''verídica'', que um dos antigos responsáveis do Foto España me relatou. Na década de 80 a direcção do evento marcou uma entrevista com uma senhora que era responsável pela politica artística da empresa Telefónica. Nesse reunião, essa senhora afirmou peremptoriamente que a Telefónica não estava interessada em apoiar o Foto España, pois a fotografia era uma área sem interesse para a Fundação. E a reunião acabou. Alguns anos depois, poucos, com a notoriedade e a importância que a fotografia adquiriu, nos eventos e nos mercados de arte, foi essa senhora que coordenou as primeiras compras de fotografias da Fundación Tefefónica e, claro, comprou uns Thomas Ruff por muitos milhões de pesetas. Lembram-se da peseta?
Esta realidade perigosa, porque castradora, pode ser explicada em parte como um resultado inevitável da globalização cultural: há hoje um mundo global cultural ''IMPORTADO''. O contemporâneo é ''IMPORTADO''. Encontramos em toda a Europa, nos EUA, na América do Sul, ou no Oriente fotógrafos que parecem fotografar exactamente da mesma maneira. Repararam como em pouco tempo deixamos de ter coordenadores de exposições, para passarmos a ter comissários, depois curadores e hoje //curators//? Mas esta realidade é sobretudo o resultado de uma subserviência dos artistas e fotógrafos, que muitas vezes quase prescindiram de ter voz própria.
__Pequena nota explicativa:__
Este //tiddler// resultou de um desafio que recebi do fotógrafo Júlio de Matos. Enviou-me um email dizendo:
!
{{indent{//^^Há algum tempo fui convidado pelo IPF - Instituto Português de Fotografia, para organizar um ciclo de conferencias. Escolhi como tema central " Paradigmas da Fotografia Contemporânea" Este ciclo arrancará já no dia 25 em Lisboa e 26 no Porto, com uma conferência a que chamei " Reflexões sobre o Paradigma da Fotografia Contemporânea", e entretanto estou a tentar coligir alguma informação em primeira mão e pensei em enviar-te uma ou duas questões de ultima hora.
Em teu entender o que mais se alterou na tua actividade artística enquanto fotógrafo, nestes últimos anos?
Na tua avaliação quais serão os paradigmas emergentes da fotografia contemporânea?
Ficava-te muito grato mesmo por uma resposta ''muito curta''...^^//}}}
!
Comecei por protestar, dizendo que para responder ao seu desafio necessitava, se não de várias conferências, pelo menos de muitos //tiddlers// nesta minha espécie de blog - ver alguns dos //tiddlers// que aqui tenho dedicado a este tema - pois o problema é complexo e envolve muitos e variados aspectos. Como ele insistisse e até me elogiasse para me convencer, "Pelo menos tenta. Tenho reparado na tua escrita que és capaz de muita capacidade de síntese, indo ao essencial sem te perderes em detalhes", não resisti. Pretendo então neste pequeno //tiddler//, inspirado pelo IMPORTADO da imagem, focar apenas um dos grandes problemas (o maior? não tenho a certeza), com que, na minha óptica, se confrontam aquilo a que se convencionou chamar fotografia e arte contemporâneas, com a dose de provocação quanto baste, para eventualmente suscitar a tal discussão e a tal polémica, que são coisas que hoje fazem muita falta!
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Outra imagem do Oeste para Robert Adams|./wikiImages/west2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Outra imagem do Oeste para Robert Adams'', Figueira da Foz, Junho 2010^^//}}}
Tal como prometi, volto ao livrinho "Why people photograph" de Robert Adams. Ele inclui nesse livro um pequeno ensaio chamado "Writing", que [[podem encontrar aqui,|http://thinkingaboutart.blogs.com/art/2008/02/writing-by-robe.html]] em que parece menosprezar a importância da escrita e da palavra na fotografia. Começa logo por afirmar
{{indent{//Art is by nature self-explanatory. //}}}
E mais adiante
{{indent{//Years ago when I began to enjoy photographs I was struck by the fact that I did not have to read photographers’ statements in order to love the pictures...Photographers seemed so strikingly unable to write at length about what they had made, in face, that I came to wonder if there was any exception at all, a single case where an artist’s writing did not end up making a picture smaller, less complex, less resonant, less worthy of comparison with life.
Part of the reason that these attempts at explanation fail, I think, is that photographers, like all artists, choose their medium because it allows them the most fully truthful expression of their vision.//}}}
E ainda mais à frente
{{indent{//The main reason that artists don’t willingly describe or explain what they produce is, however, that the minute they do so they’ve admitted failure. Words are proof that the vision they had is not, in the opinion of some at least, fully there in the picture. Characterizing in words what they thought they’d shown is an acknowledgement that the photograph is unclear – that it is not art. Of course if you believe in the merit of your work you reject the accusation of failure that is implied by a request to explain it. In this respect all artists are elitists. They are convinced that some viewers lack patience to see what is clear.//}}}
Eu tenho aqui muitas vezes defendido a importância de os fotógrafos serem capazes de apresentar os seus trabalhos, de defender as suas opções e de lutar pelas suas convicções sobre fotografia, em vez de, como fazem alguns, murmurarem pelos cantos em surdina contra tudo e contra todos. O que dizer portanto das afirmações de Robert Adams, que aliás parecem corresponder em larga medida à opinião dominante junto de muitos fotógrafos e artistas? "Uma imagem vale por mil palavras", diz-se a cada passo, esquecendo que se poderia contrapor que uma palavra vale milhares de imagens: bastará pensar na palavra "morte" ou na palavra "amor". Posso começar por dizer que poderemos porventura compreender as palavras de Robert Adams, se as contextualizarmos com muito cuidado e se tivermos em conta que a democraticidade do processo fotográfico - hoje teríamos de falar de massificação - faz com que haja uma propensão quase cretina para pedir ao fotógrafo uma "explicação", que muitas vezes se quer centrada na técnica utilizada em cada imagem. Parece-me no entanto que hoje este ensaio pode ser perigoso, pois pode ser facilmente interpretado como "os fotógrafos, e no caso geral os artistas, não devem escrever sobre o seu trabalho, nem sobre o trabalho dos outros, não devem teorizar, pois isso é da responsabilidade de especialistas na matéria, os teóricos". Quando defendo a importância da escrita isso não deve ser entendido, como é óbvio, como o fotógrafo dever "explicar" cada imagem, mas sim ser capaz de apresentar e de justificar o conceito, a ideia, por detrás do seu trabalho, se esse conceito ou essa ideia existirem. E ser também capaz de falar sobre o trabalho de outros fotógrafos e sobre propostas/projectos na área da fotografia. E isto é hoje ainda mais importante porque no contexto da chamada arte e fotografia contemporâneas existe um esvaziamento do poder dos artistas e assistimos, muitas vezes estupefactos, a situações em que as obras valem não pelo que são, pela tal visão que apresentam, mas pelo que se escreve acerca delas. E o que se escreve! Neste contexto desfavorável, se os artistas pretendem salvar a genuinidade das obras e dos projectos, terão de ser eles a lançar-lhes a bóia e a discutir tudo aquilo que lhes parece ter de ser discutido. Sem medo da polémica, que hoje surpreendentemente não existe, para além dos tais murmúrios surdos nos bastidores.
Como nota final não deixa de ser curioso ler este ensaio escrito por Robert Adams, quando para além do "Why people photograph", onde aborda todo o tipo de questões e fala sobre o seu trabalho e o trabalho de muitos fotógrafos conhecidos, ele publicou pelo menos mais 2 livros de ensaios sobre fotografia que eu conheço.
Como nota mesmo final - pois este //tiddler// já vai demasiado longo - depois de ler o ensaio, procurei nas minhas prateleiras o livro "West from Columbia" de Robert Adams, reabri-o e folheei-o, curioso. Comprei-o há uns anos num saldo numa livraria de fotografia de Frankfurt, perto da Catedral, que recomendo. Fui surpreendido de imediato por um pequeno texto não assinado - mas que tudo indica ter sido escrito por Adams - que serve de prefácio ao livro, onde o autor apresenta o conceito, como o só o autor o poderia fazer. E o livro termina com um belo poema de T.S. Elliot, que ilustra tão bem a ideia daquele projecto e que, mais uma vez, tenho a certeza de ter sido escolhido por Adams.
{{indent{//^^We shall not cease from exploration
And the end of all our exploring
Will be to arrive where we started
And know the place for the first time.
Through the unknown, unremembered gate
When the last of earth left to discover
Is that which was the beginning;
At the source of the longest river
The voice of the hidden waterfall
And the children in the apple-tree
Not known, because not looked for
But heard, half-heard, in the stillness
Between two waves of the sea.
T.S. Elliot^^//}}}
E que dizer do facto de Adams ter tido inclusive o cuidado de inserir no livro um anexo com a localização e com pequenas notas pessoais de cada imagem? (Afinal esta é que é a nota mesmo final...)
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Quem espeta os sinais na nossa vida?|./wikiImages/sinais.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Quem espeta os sinais na nossa vida?'', Mirandela, 2005^^//}}}
{{indent{{{indent{^^Dão-nos um mercado imaginário
que espeta sinais na nossa vida
mais um relógio e um calendário
sem futuro e sem saída^^
}}}}}}
^^inspirado no poema magnífico de Natália Correia e na canção sublime de José Mário Branco ''Queixa das almas jovens censuradas''^^
{{indent{{{indent{^^
...
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
...^^}}}}}}
{{indent{{{indent{^^//in ''Queixa das almas jovens censuradas'' de Natália Correia//^^}}}}}}
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Uma imagem do Oeste para Robert Adams|./wikiImages/west.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma imagem do Oeste para Robert Adams'', Hiddensee, Alemanha, Julho 2008^^//}}}
Quando procurava outra coisa na internet - já não me recordo o quê - fui confrontado com um pequeno livro de Robert Adams. Robert Adams é um fotógrafo americano com um trajecto importante na fotografia contemporânea: tem vários livros dedicados à paisagem do Oeste do EUA. Poderá porventura ser enquadrado numa corrente que por vezes é designada por //New Topographics//. Não pertencendo à lista curta - //shortlist// - dos meus fotógrafos de eleição, é no entanto um fotógrafo de que gosto e de que já possuía dois livros. Poderei até ter a ousadia - que me perdoarão - de afirmar que existem alguns pontos de contacto entre a sua fotografia e alguns dos meus projectos. Mas este livro é especial, pois não é um livro de fotografia mas um livro sobre fotografia e sobre fotógrafos, uma pequena colecção de ensaios, chamada "Why people photograph". Desde há muito que defendo a posição de que existem muito poucos fotógrafos a assumir posições públicas sobre fotografia. Muitas vezes, infelizmente, emudecem e entregam essa tarefa a pessoas que não têm qualquer trajecto fotográfico anterior. Tenho também algumas vezes chamado a atenção para a clareza de pontos de vista, quando os fotógrafos falam sobre fotografia e sobre os seus projectos pessoais fotográficos/artísticos. Procuro por isso aproveitar todas as oportunidades que se me oferecem para adquirir e ler livros de textos de opinião ou com entrevistas de fotógrafos que conheço e admiro e que são excepção a esse panorama de silêncio pesado.
Quando comecei a ler o livrinho, que adquiri e mandei vir da //Amazon//, o que me surpreendeu foi ser confrontado com opiniões que enquadraria numa visão romântica e idealista da fotografia, uma visão que não esperava de um fotógrafo como Adams, pois o livro é de 1987 : eu achava que nos EUA, no final da década de 80, seria já dominante o panorama actual, marcado pela chamada fotografia contemporânea. Não me surpreenderia essa visão, se expressa por qualquer grande fotógrafo alguns anos antes. Como ilustração dessa visão surpreendente, pelo menos lida nos dias que correm, escrevo aqui um conjunto de citações do 1º ensaio do livro, chamado "Colleagues", em que Adams procura resumir as razões por que admira os fotógrafos.
{{indent{^^
*"Another reason I like photographers: they do not tempt me to envy. The profession is short on dignity"... "Nearly everyone has fallen down, being harassed by security guards and dropped expensive equipment"..."incurring large expenses in porsuit tiny audiences, finding that the wonder they would hoped to share is something few want to receive."
*"There is room for idealism. There was no fortune or reputation to be made"
*"I respect many photographers for their courage. Sometimes this quality is undramatic and private"... "An aspect of that is likely to be, the threat of insolvency, something with which they have to learn to live, as they would with a chronic disease. One photographer I admire had to go to cleaning houses, when her Guggenheim felowship ran out."
*"There can be physical danger as welll."
*"Paradoxically, photographers must also face the threat that their vision may one day be denied to them. Their capacity to find their way to art, which is their consolation - to see things whole - may fail for an hour or a month or forever."
*"One aditional quality that I admire in my colleague is a basis for the others: their awareness of finalities and of our place in nature."
^^
}}}Não pretendo com este //tiddler//, nesta minha espécie de //blog//, negar que aquela fotografia e aqueles fotógrafos (de que Adams tanto gosta) continuam a existir, mas hoje são, na maioria dos casos, se não aves raras, aves muito pouco valorizadas por quem manda e por quem escreve sobre fotografia.
Prometo regressar ao livrinho "Why people photograph" de Robert Adams.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[A morte é a curva da estrada|./wikiImages/rodas.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Rebordelo, rio Rabaçal, 2006^^//}}}
{{indent{^^A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.^^}}}
{{indent{{{indent{//^^Poesias de Fernando Pessoa^^//}}}}}}
Nota: este foi um dos poemas seleccionados pela Regina Guimarães para o meu livro ''Hora Sua'', editado pela Assírio & Alvim em 1999, e que acompanhou o projecto fotográfico com o mesmo nome, desenterrado agora da memória por esta imagem antiga do Rabaçal. Para quem não saiba o rio Rabaçal junta-se ao rio Tuela em Mirandela e forma o rio Tua, afluente do Douro.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Esta não é uma fotografia contemporânea, apesar de a ter feito esta semana|./wikiImages/areia6.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Esta não é uma fotografia contemporânea, apesar de a ter feito esta semana'', Matosinhos, Fevereiro 2011^^//}}}
Está a decorrer um ciclo de [[conferências/debates no IPF do Porto|http://www.ipf.pt/]] sob o tema de Paradigmas da Fotografia Contemporânea.
A partir da conversa animada, em que participei, na última conferência, escrevi um texto onde pretendo reflectir um pouco sobre fotografia e curadoria nos tempos presentes.
Sendo um texto um pouco longo, ultrapassando os limites do que seria razoável num //tidller// desta espécie de //blog//, coloco aqui um [[link|http://www.renatoroque.com/umaespeciedeblog/pdfs/Fotografia_e_Curadoria.pdf]] para quem estiver interessado. Poderão perceber, se lerem o texto, por que razão a fotografia que apresento não é contemporânea, apesar de a ter feito esta semana.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Esta não é uma fotografia contemporânea, apesar de a ter feito esta semana|./wikiImages/areia7.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Esta não é uma fotografia contemporânea, apesar de a ter feito esta semana II'', Matosinhos, Fevereiro 2011^^//}}}
Pelas mesmas razões da fotografia do meu //tiddler// anterior, esta também não é uma fotografia contemporânea, apesar de também a ter feito na semana passada.
//^^Nota: volto a colocar aqui o mesmo [[link|http://www.renatoroque.com/umaespeciedeblog/pdfs/Fotografia_e_Curadoria.pdf]] para um texto de reflexão sobre arte contemporânea e curadoria, para quem estiver interessado nas razões porventura intrigantes desta minha afirmação.^^//
Mas o que é curioso é percebermos (surpreendentemente?) que apesar de cada fotografia não ser contemporânea, o conjunto de fotografias que realizei, e a que chamo //''Esta Fotografia não é Contemporânea''//, se transforma, de facto, num projecto fotográfico contemporâneo. No fundo, recoloca de alguma forma a velha questão de Duchamp. Duchamp perguntava " O urinol invertido e assinado, colocado num espaço expositivo transforma-se em arte?". Este projecto recoloca a questão como "Um conjunto de fotografias realizadas no século XXI, intituladas //''Esta Fotografia não é Contemporânea''// transformam-se num projecto de arte contemporânea, ao questionar afinal o conceito de arte contemporânea?"
Porque ao fim ao cabo arte contemporânea é aquela que coloca sempre a questão "Isto é arte?". Assim, este projecto estaria mesmo para lá do contemporâneo, ao colocar já a questão "Isto é arte contemporânea?"
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|[img[Gérard, tinha uma pedra para ti e nunca ta dei|./wikiImages/pedraBohinjBW.jpg]]|
//^^©Renato Roque, ''Gérard, tinha uma pedra para ti e nunca ta dei'', Lago Bohinj, Eslovénia, Junho 2007^^//
Morreu Gérard Castello Lopes. Estava doente há muito tempo. Não o conheci pessoalmente, mas admiro-o através das imagens e dos escritos.
Gérard Castello Lopes é um dos nomes incontornáveis da fotografia portuguesa na década de 50, uma fotografia corajosa num país atrasado, pobre e cinzento. E foi capaz de revelar a frescura necessária para voltar a fotografar, com uma nova energia, nos anos 80. Para além das imagens, muitas publicadas em livro, escreveu alguns textos de reflexão sobre fotografia, reunidos pela Assírio e Alvim no livro ''Reflexões sobre Fotografia''. É um adepto fervoroso da ideia de instante decisivo na fotografia: poder-se-á dizer que os seus textos e as suas imagens reflectem uma perspectiva muito Bressoniana, reveladora da admiração profunda que tinha por Henri Cartier Bresson, mas continuam a ser essenciais para um compreensão da fotografia e da sua história em Portugal.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Não consigo resistir muito tempo sem me deitar nas ervas|./wikiImages/alendouro1010.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Não consigo resistir muito tempo sem me deitar nas ervas'', Rebordelo, Serro, Outubro 2010^^//}}}
{{indent{^^Nas ervas mais altas
Resiste ainda
O verão
in D'ouro d'Alendouro - Jorge Sousa Braga^^}}}
As ervas chamam-me e inebriam-me. Deito-me e adormeço.
^^PS: Para o Jorge Velhote que se deitou ao meu lado.^^
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Os fotógrafos são como as cerejas|./wikiImages/nozolino4.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Ceci c'est pas un Nozolino'', Felgar, Julho 2010^^//}}}
Começo por confessar que não conhecia Joachim Schmid. Nunca tinha ouvido falar. E continuaria na minha santa ignorância, se não tivesse lido o livro ''La Câmara de Pandora'' de Fontcuberta, que lhe dedica quase integralmente um capítulo final do livro. E não é de admirar, pois Schmid é o autor que eu conheço cujo trabalho parece estar mais próximo de Fontcuberta. Se para Fontcuberta a questão central se coloca entre a verdade e a mentira na fotografia, para Schmid a questão central coloca-se entre ser ou não obra de arte, entre ter ou não ter a tal aura misteriosa da arte. E Schmid coloca esta questão com fotografias que encontra por todo o lado e que contextualiza nos seus projectos. Menciono apenas dois dos muitos projectos interessantes de Schmid, um bastante antigo e outro recente. O primeiro é já dos anos 80 e chama-se ''Photographic Master Pieces - Collection Schmid/Fricke'', onde Joachim Schmid usou fotografias que encontrou perdidas em feiras ou em antiquários. São imagens anónimas mas que facilmente tomaríamos por fotografias de grandes mestres: Atget, Robert Frank, Walker Evans, etc., sobretudo porque são apresentadas como se o fossem. O segundo projecto é recente e chama-se ''Joachim Schmid is Martin Parr · Martin Parr is Joachim Schmid ''. Em 2009 Martin Parr não pôde visitar o Art Forum de Berlim e ofereceu o passe VIP, a que tinha direito, a Schmid, que teve uma ideia brilhante. Já que tinha o passe de Parr iria fotografar como se fosse o Martin Parr. Pediu depois a Martin Parr para fingir que era Joachim Schmid e para, no espírito de reciclagem de imagens de Schmid, escolher um conjunto imagens num clube de fãs de Parr na internet, que Parr pudesse tomar como suas. O resultado foi o projecto e o livro com esse nome.
Coloco dois links que dão acesso a alguns dos projectos de Joachim Schmid.
[[repositório de livros no blurb|http://www.blurb.com/search/site_search?search=joachim+schmid&filter=all]]
[[repositório de projectos |http://schmid.wordpress.com/works/]]
Mas o que não deixa de ser intrigante (perturbador?) é ter sido confrontado nos últimos anos com três nomes extraordinários da fotografia alemã, cujos trabalhos desconhecia: Robert Häusser, Otto Steinert e agora Joachim Schmid. Creio que nunca expuseram em Portugal. Se estou enganado, peço desculpa. A Häusser já dediquei um //tiddler// [[aqui|2005-12 - Homenagem a Robert Häusser]]. Quando comprei uma antologia sua na Alemanha, há uns anos, na tal livraria de Frankfurt, de que falei recentemente a propósito do livro de Robert Adams, procurei um livro seu em inglês por todo o lado e não encontrei. Parece que não há! De Steinert mandei vir um livro recentemente da Amazon. Mas também só tem um livro com versão inglesa. E isto acontece ao mesmo tempo que encontro em quase todos os eventos representativos da arte e da fotografia contemporâneas alguns fotógrafos alemães (sempre os mesmos...).
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Para Nozolino a partir de Robert Adams|./wikiImages/nozolino2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Para Nozolino a partir de Robert Adams'', Felgar, Julho 2010^^//}}}
Pareceu-me fazer sentido, depois dos dois //tiddlers// anteriores inspirados no livrinho de Robert Adams, sobretudo o último sobre a (des)importância da escrita ligada à fotografia, dedicar este //tiddler// a Paulo Nozolino e à entrevista que ele deu a Clara Ferreira Alves na revista do Expresso de 29/01/2011. Recomendo que a leiam. Se não tiverem o jornal, procurem-no.
Nozolino é um dos fotógrafos portugueses do nosso tempo de que mais gosto - reparem que intencionalmente escrevi "do nosso tempo" e não "contemporâneo".
A entrevista é uma boa solução, sobretudo com fotógrafos que não têm a ousadia de escrever. Há alguns livros publicados com boas entrevistas a fotógrafos e também se encontram algumas muitas interessantes na internet. É uma maneira simples de sermos confrontados, quase sempre de uma forma muito frontal e terra à terra com o autor, com o seu trabalho e com as suas angústias. Eu próprio, lembro-me de ter usado o formato de entrevista fictícia num dos meus primeiros livros, para dizer aquilo que queria dizer e que não ousava escrever em texto corrido. Esta entrevista do Nozolino é talvez demasiado auto-biográfica. Nozolino fala mais de si e da sua relação com o mundo do que dos projectos fotográficos. O que não é mau, mas gostaria de ter um pouco mais de reflexão sobre os vários projectos. Nota-se, creio, que a entrevista é muito conduzida pela Clara Ferreira Alves. Demasiado? Noto uma clara convergência: a proximidade entre fotografia e poesia. Para Nozolino fica o lado negro da literatura e da vida. A morte. Makulatur.
Nota final interessante: Quando João Fernandes realizou há poucos anos a exposição ''Far Cry'' de Nozolino em Serralves, houve quem criticasse essa decisão por considerarem que Paulo Nozolino não era um contemporâneo. Se calhar, à luz do conceito muito discutível de contemporâneo que defendem, teriam razão. Mais uma razão para eu ter escrito "do nosso tempo"...
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[A nossa democracia assenta no voto gratuito|./wikiImages/europa1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''A nossa democracia assenta no voto gratuito'', Europa, Março 2011^^//}}}
{{indent{^^''A SITUAÇÃO DA OVELHA''
a ovelha vive em rebanho
e sente-se orgulhosa
(excepto, claro, a ranhosa)
a ovelha produz a lã,
em troca tem o sustento
e já não precisa de
passar a noite ao relento
é guiada pelo cão-pastor
e governada por pelicanos
e outros moradores dos céus
que lhe têm um grande amor
e lhe pedem o seu voto
por favor ou por amor de deus:
vota TETRÁS
o que melhor te leva (e te traz)
vota ROLA
a única que não te enrola
vota SANTISSIMA TRINDADE (símbolo POMBA) sempre são três
não votes MAL
pensa no que diz o cardeal
vota CACATUA
sempre é a tua
A ovelha entrega o boletim dobrado em quatro
e por hábito pergunta: - Quanto é?
- A nossa democracia assenta no voto gratuito – diz o presidente da mesa.^^}}}
{{indent{{{indent{^^Alberto Pimenta em //Bestiário Lusitano//^^}}}}}}
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Espanta o quê?|./wikiImages/quintas2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, A propósito de ''O Imaterial'', projecto ''Espanta o quê?'', Rebordelo, Março 2011^^//}}}
Estive em Serralves numa conferência de Augusto Mateus, do ciclo ''O Imaterial'', subordinada ao tema ''As indústrias culturais e criativas portuguesas''. O primeiro comentário que a conferência me suscita tem a ver com a confusão que muita gente faz - e Augusto Mateus também fez - entre arte, cultura e criatividade. Mistura-se arte com produtos culturais e com indústrias criativas, como se estivéssemos a falar da mesma coisa ou de coisas muito parecidas. Ora estes conceitos são quanto a mim coisas bem diferentes, ainda que com relações fortes entre si. Como é evidente uma obra de arte terá(?) em princípio de evidenciar uma certa criatividade. A melhor forma de explicitar a diferença entre os conceitos poderá ser porventura através de um exemplo: a pessoa que pensou pela primeira vez criar um objecto em cerâmica, para dependurar na parede, para facilitar o acto de urinar dos homens, demonstrou uma enorme criatividade; esse objecto, chamado vulgarmente urinol, transformou-se depois rapidamente num objecto que faz parte da cultura ocidental; mas quando Duchamp pôs o urinol de pernas para o ar, o assinou como R. Mutt e lhe deu o titulo de ''Fonte'', realizou uma intervenção artística. Aliás Duchamp provocou com esse seu gesto um verdadeiro cataclismo na arte do século XX, ao colocar em cima da mesa uma questão nova e provocatória "Será que isto pode ser arte", considerada por muitos como a génese da chamada arte contemporânea.
De facto o modelo do produto cultural - apresentado por Augusto Mateus - pensado para "satisfazer as necessidades" dos consumidores de bens culturais não tem nada a ver com arte ou pelo menos não deveria.
A ideia central da conferência foi de que a globalização e as transformações que aconteceram nas ultimas décadas impõem um modelo de desenvolvimento diferente, substituindo as mercadorias tradicionais por soluções integradas de bens e serviços, onde a cultura e a criatividade desempenham um papel chave. Não faz por isso sentido, na opinião de Augusto Mateus, a divisão entre indústrias não criativas e indústrias criativas. Todas têm de ser criativas para sobreviver. Em vez de camisas ter-se-á de oferecer conforto e moda, em vez de turismo tradicional ter-se-á de oferecer um produto inovador e integrado que associe viagem, aventura, cultura, gastronomia, conhecimento. Na opinião de Augusto Mateus os territórios no mundo que terão sucesso serão os que forem capazes de encontrar soluções que se adaptem às características culturais desses territórios e que correspondam a necessidades dos consumidores globais. Independentemente de ter achado a conferência interessante e de alguma forma compreender as propostas de Augusto Mateus, há duas perplexidades de que não consigo libertar-me. Em rigor, talvez se fundam numa mesma perplexidade. A primeira tem a ver com aquilo que se poderia designar como o cunho Darwinista da proposta: cada território terá de ser capaz de procurar soluções inovadoras e criativas, ainda que com um risco grande, pois poderá não acertar no que os consumidores do futuro pretendem e a estratégia pode falhar. Alguns territórios terão sucesso, outros não. O sucesso passa por ter capacidade para encontrar essas tais soluções integradas e inovadoras de bens e serviços, mas também pela sorte de a aposta ter sido feita em áreas que o futuro confirmará. A segunda perplexidade tem a ver com uma preocupação que já aqui coloquei, nesta minha espécie de //blog//, que é esta ideia dos economistas de que o progresso e o sucesso implicam um crescimento constante. Qualquer pessoa com formação cientifica sabe que este modelo é inviável a longo prazo, pois implicaria recursos infinitos e energia infinita. Ao atingir a saturação, o sistema não pode crescer; para que alguns elementos cresçam, outros têm de decrescer. O sistema rompe ou estabiliza. Interrogo-me se o que acontece actualmente, com os novos países emergentes a crescer rapidamente e com a Europa a não conseguir fazê-lo, não poderá ser um sinal de que já atingimos esse limite. O modelo de Augusto Mateus parece-me mais solidamente estruturado do que o dos nossos governantes - aliás estes parecem não ter qualquer modelo perceptível para o futuro - mas no fundamental assenta nos mesmos princípios económicos: produzir bens e serviços e crescer. Não vejo ninguém a apresentar um verdadeiro paradigma de ruptura, que não implique crescimento, mas ofereça em alternativa mais equidade global e mais qualidade de vida. Claro que não sei se um tal modelo de desenvolvimento - sem procurar sempre o crescimento e até eventualmente procurando um decrescimento controlado - poderia funcionar. Mas gostava que pudesse.
Explicação adicional sobre os conceitos arte, cultura, produto cultural, criatividade e indústria criativa a partir da imagem deste //tiddler//: a pessoa em ~Trás-os-Montes que teve a ideia de dependurar objectos - peças de roupa, frascos, garrafas ou simples plásticos - nas árvores, para espantar bichos, gentes ou maus olhados (espanta o quê?) pode ter demonstrado uma grande criatividade; como parece que toda a gente adoptou essa ideia - ver meu projecto fotográfico ''Espanta o quê?'' - essa ideia poder-se-á ter transformado numa prática cultural transmontana; mas uma instalação com garrafas dentro de um museu de arte contemporânea, uma peça porventura sobre o espanto que a arte (não) deve traduzir, pode eventualmente ser considerada como arte, independentemente do que pudéssemos pensar sobre isso. Se alguém inspirado por esta tradição cultural criar "espanta-espíritos" com garrafas de todas as cores e as vender na internet, volta a mostrar grande criatividade e cria um produto cultural e até eventualmente, se o negócio prosperar, uma indústria criativa para produzir garrafas mas que, em rigor, deixam de ser garrafas, para se transformar em "ambiente campestre em sua casa...".
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Afrodite de Praxíteles|./wikiImages/afrodite.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Afrodite de Praxíteles'', ou Vénus para os Romanos, Roma, Museu Capitolino, Março 2011^^//}}}
{{indent{^^
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
in canto IX de Lusíadas de Luís Vaz de Camões^^}}}
Quando olhamos para a história sentimos que a NOSSA história começou de facto com os gregos, por volta do século V AC. Observamos que quase todos os grandes conceitos que balizam hoje as nossas vidas foram enunciados pela primeira vez pelos gregos: a ética, a democracia, a filosofia, a ciência, a matemática. Em particular no caso da arte são os gregos os primeiros a adoptar a arte como um campo para a liberdade e para a fruição estética puras, uma atitude muito próxima da que subsistiu até ao presente, tendo sido posta em causa apenas durante a Idade Média, por razões que são conhecidas e não pretendo aqui aprofundar, e porventura também com a chamada arte contemporânea, a partir da segunda metade do século XX. Não é por acaso que no fim da Idade Média os grandes artistas renascentistas tomaram como referência precisamente os clássicos gregos, para voltar a trilhar o caminho que os gregos tinham apontado cerca de 1500 anos antes.
Na escultura de Afrodite de Praxíteles, que foi considerada como um padrão de beleza feminina, os gregos, de alguns séculos AC, já tinham "a ousadia" de representar um corpo feminino nu - e não é um corpo qualquer, mas o corpo de Afrodite (Vénus para os Romanos), a deusa do Amor. Durante toda a Idade Média o poder preocupou-se sobretudo em tapar a nudez com folhas parras ou em destruí-la pura e simplesmente à força de marretas; e lembro-me de ainda na década de 60 um filme francês chamado a Piscina, com Alain Delon e Romy Schneider, ter provocado um pequeno escândalo social em Portugal e um grande entusiasmo na juventude masculina, por ter uma cena de apenas alguns segundos em que se vislumbravam os seios nus de Romy Schneider...
Nós ainda somos fruto desse tempo.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[As regras da arte|./wikiImages/rules.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''As regras da arte'', Roma, Março 2011^^//}}}
A arte seria certamente mais simples, se pudesse haver regras claras, mas seria também, com toda a certeza, muito menos interessante.
Porque faz parte da grande arte quebrar as regras.
^^Nota: Por razões óbvias dedico este //tiddler// à minha amiga, a pintora Joana Rego, pela sua série //"phrases and words"//^^
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Die Wahrheit - A Verdade|./wikiImages/wahreit.jpg]]|{{indent{^^''Civilidade''<br>não tussa monsieur<br>reprima a tosse<br>não espirre monsieur<br>reprima o espirro<br>não soluce monsieur<br>reprima o soluço<br>não cante monsieur<br>reprima o canto<br>não arrote monsieur<br>reprima o arroto<br>não cague monsieur<br>reprima a merda<br>e quando estourar<br>que seja devagarinho<br>e sem incomodar, ok monsieur?<br>ok, madame.<br><br>//a partir de Alberto Pimenta//^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, Primavera 2011, ''Die Wahrheit - A Verdade'', Stuttgart, 2005^^//}}}
Quando o governo apresentou o chamado PEC 4 pensei, como muita gente pensou, que se tratava de uma estratégia para quase obrigar a oposição a ter de chumbar o PEC no Parlamento e assim encontrar um bom pretexto para sair, antes de tudo se complicar ainda mais. Com gente tão experimentada nestas lides, seria difícil acreditar em falta de jeito ou em precipitação. Aliás muita gente, mesmo da área do governo, fez essa interpretação. Mas algo não batia certo! E as atitudes pareciam contraditórias. Senão vejamos: Faz algum sentido elaborar um plano com esta responsabilidade, sem um estudo minimamente aprofundado, que pudesse medir o impacto de cada medida e eventualmente comparar essas medidas com outras? Como se escolheram as medidas propostas? Esse estudo implicava, no mínimo, a participação de todo o governo, e havia tempo para tal, pois o governo sabia há muito que teria de apresentar um PEC. Ora sabemos que o próprio governo só conheceu o PEC depois deste ter sido apresentado - aprovou-o em reunião depois da conferência de imprensa do ministro das Finanças em Bruxelas. As declarações do senhor Euro - Junker, não não é o esquentador - decifrou o enigma. Ele afirmou preto no branco que as medidas foram (im)(pro)postas pela Europa, quer dizer pelo BCE e pelos banqueiros. Estou convencido neste momento que nem Sócrates sabia que as medidas iriam ser essas quando saiu de Portugal, ou soube pouco antes. Aquilo que ele apresenta como sua grande vitória, pois teria conseguido convencer a Europa a apoiar as medidas propostas, foi de facto ele ter de aceitar tudo o que o obrigaram. Só isso explica também haver medidas que nada têm a ver com a dívida nem com o défice.
Ou seja, o governo não se demitiu, pois já não existia há muito...
PS: creio que pela primeira vez (?) reutilizei um mesmo texto literário, mas este pequeno poema do Alberto Pimenta, que tive a lata de modificar, trocando madame por monsieur e monsieur por madame, pareceu-me não ter substituto à altura para ilustrar a atitude do nosso governo perante os banqueiros, personificados na Madame Merkel
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Espanta o Quê?|./wikiImages/espanta1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Projecto ''Espanta o Quê?'', Rebordelo, Março 2011^^//}}}
Confesso que ainda me espanto com a capacidade que pareço manter de me espantar...
Lembro-me de ter lido há algum tempo uma crónica do meu amigo Manuel António Pina em que ele defendia que deveríamos reivindicar o direito de votar nas eleições alemãs. Os recentes acontecimentos demonstram como ele tinha razão.
Depois de inúmeras declarações do primeiro-ministro afirmando que as medidas eram suficientes, que não estavam previstas outras, que a execução orçamental estava a correr até melhor do que se esperava, depois de no dia anterior na AR ter assegurado que tudo estava a correr fantasticamente, o governo (?) anuncia em Bruxelas outro pacote...
Estamos a ser governados(?) por marionetas?
Esta situação, quanto a mim, para além de escandalosa - a falta de vergonha ultrapassa os limites do razoável - é muito perigosa. De facto qual o sentido de votar num governo e num programa que depois de nada servem? De que serve uma AR que não tem qualquer autonomia? Queixam-se da abstenção? Se os mecanismos democráticos forem esvaziados, se o estado social for destruído, o que nos resta?
[[Estranhamente (será?) o programa de governo deixou de estar acessível na internet|http://www.socrates2009.pt/Conteudos/Noticias/Programa-do-Partido-Socialista/Programa_de_Governo_do_PS.aspx]]. De facto é talvez melhor assim. Esse programa nunca existiu.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Primavera 2011|./wikiImages/primavera2011.jpg]]|{{indent{^^Florescem as couves<br>Floresce o nabal<br> Só não floresce Portugal<br>^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, Primavera 2011, Rebordelo, Março 2011^^//}}}
{{indent{^^
''Quando Vier a Primavera''
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.^^}}}
{{indent{^^//Alberto Caeiro//^^}}}
No último fim de semana em ~Trás-os-Montes a Primavera já se anunciava
Portugal não...
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Alternativa?|./wikiImages/alternativa.jpg]]|{{indent{^^o carrinho dos uísques<br>e das revistas<br>a dizer coisas…<br>quem o empurra<br>é o cônjuge periódico<br><br>diz que a marca dos uísques<br>é sobretudo uma questão<br>de agradar ao olho<br><br>se o papel fosse mais macio<br>podia-se<br>dizer o mesmo das revistas<br><br>''Alberto Pimenta''<br><br>''Nota de Rodapé'': e dos partidos que têm passado pelo governo...^^}}}|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Alternativa?'', Europa, 2011^^//}}}
Qual a alternativa quando de um lado temos um caminho único, obrigatório, que nos conduz contra uma parede, e do outro um sentido proibido que nos leva contra a mesma parede!
Temos de ser todos nós a construir uma alternativa diferente! Comecemos por ser desconfiados. Não acreditemos facilmente no que nos dizem! Tenhamos memória e lembremos o que nos disseram ontem.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Blackbird|./wikiImages/blackbird1.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Blackbird'', Rebordelo, Abril 2011^^//}}}
{{indent{^^
Blackbird //(not)// singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
Black bird //(not)// singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
all your life
you were only waiting for this moment to be free
Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.
Paul ~McCartney (Beatles) ^^}}}
<html>
<iframe title="YouTube video player" width="480" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/A2V6lG1P3nE" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
</html>
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Mais um objecto insólito pousado na paisagem do Alendouro|./wikiImages/fmi2.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Mais um objecto insólito pousado na paisagem do Alendouro'', Rebordelo, Abril 2011^^//}}}
{{indent{^^''De um miserável naufrágio que passámos''
- Estamos a ir ao fundo.
- Eu sei.
- Chama o nadador-salvador.
- Chama tu.
- Chama tu.
- Chama tu.
- Tu é que estás a remar. Chama tu.
- Já não estou! Olha para mim! Chama tu.
- Eu não, chama tu.
- Para te armares em forte? Chama tu.
- Tu é que estás armado em bom e não queres que as pessoas na praia vejam que foste tu que chamaste.
- Eu não preciso de chamar.
- Mas estamos a afundar.
- Eu sei. Então chama o nadador-salvador.
- Eu não chamo. Chama tu se achas que precisas.
- Eu acho que precisamos mas quem tem que chamar és tu.
- Não, não chamo. Queres os remos?
- Eu? Agora não! Só depois de vir o nadador-salvador.
- Então chama-o.
- Quem tem que chamar és tu.
- Eu não chamo.
- Mas estamos a afundar.
- Pois estamos.
- Sabes nadar?
- Eu sei, e tu?
- Eu também.
- Ah! Então que se lixe o barco! Nem é nosso!
João Moreira de Sá (//Arcebispo de Cantuária//)^^}}}
Que estamos a ir ao fundo ninguém duvida. Há no entanto um conjunto de objectos insólitos pousados na paisagem desta crise, que não vejo, ou vejo muito pouco, serem colocadas em cima da mesa, onde os interlocutores (não) parecem estar a tentar discutir e a encontrar soluções para a crise. "Então que se lixe o barco, pois nem é nosso?" Parece, não é?
1 - O grande problema português, todos o reconhecem, é o da dívida galopante. Mas este problema é antigo. A dívida cresce há muitos anos resultado de um modelo e de uma política. Já existia, tal como hoje, a menos das taxas de juro, nas últimas eleições, e também nas anteriores. Lembram-se do programa do partido que ganhou as últimas eleições? Desapareceu do site do PS!!! Dizem-nos que vivemos acima das nossas possibilidades. Se não havia recursos no país, porquê construir tanta coisa que é muito difícil justificar e já nem falo dos estádios de futebol? Como justificar todas as mordomias para filhos e enteados, como justificar as benesses e as medidas eleitoralistas? Não há responsáveis? Os primeiros responsáveis são os nossos governantes. Como acreditar que sejam os mesmos que agora apresentam a solução? Os segundos responsáveis são as políticas europeias e as entidades financeiras que fomentaram o tal modelo de endividamento. Agora as entidades financeiras que nos emprestaram, porque tal servia os seus desígnios e os seus lucros, que se transformavam em prémios para os gestores, sobem as taxas de juro para nos sugar até o tutano. E ninguém parece querer fazer nada. Lembram-se dos discursos contra a finança desregulada no início da crise? Como acreditar?
2 - As taxas de juro no presente são incomportáveis e levarão à ruína. Toda a gente o admite mas ninguém faz nada, nomeadamente a Europa. A Europa pareceria ter as ferramentas para contrariar a especulação, se o quisesse fazer, mas a Europa parece estar nas mãos da Europa da Finança. A receita praticada na Irlanda e na Grécia só conduziu à recessão e ao aumento das taxas, aliás tal como tudo o que nos prometeram em Portugal que as baixaria: a aprovação do orçamento, dos ~PECs, a eleição de Cavaco à primeira volta, etc. Como acreditar?
Não é possível mudar sem acreditar e não podemos acreditar em que não se responsabiliza e garante tudo para no dia seguinte vir justificar com a mesma convicção a perda desse tudo e prometer outro tudo...
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[FMI em Portugal|./wikiImages/fmi.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''FMI em Portugal''^^//}}}
{{indent{^^Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente, um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente nalgum canto de jardim
...
em Tanto Mar de Chico Buarque^^}}}
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Mentem|./wikiImages/mentem.jpg]]|
{{indent{^^
...
Ó partidos, da esquerda e da direita, mais uma vez podeis beijar os pés ao papa, ficareis com a boca abençoada para mentir melhor.
... ^^}}}
{{indent{{{indent{^^em ''Teses sobre a Visita do Papa'' de //António José Forte//^^}}}}}}
Nota: ao usar a citação do poeta surrealista António José Forte neste //tiddler//, revoltado com alguns discursos deste fim-de-semana político, não pretendo difundir uma mensagem demagógica e populista contra os partidos, mas apenas protestar contra a mentira instalada por tantos, que nos escondem o que realmente aconteceu e que não desvendam o que vai acontecer. E às vezes mentem descaradamente e com todos os dentes, como se nós fossemos estúpidos. E às vezes parecemos ser...
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[As coisas devem ser bem grandes p'ra formiga pequenina|./wikiImages/lagarto.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''As coisas devem ser bem grandes p'ra formiga pequenina'', Rebordelo, Abril 2011^^//}}}
{{indent{^^''A formiga''
As coisas devem ser bem grandes
Pra formiga pequenina
A rosa, um lindo palácio
E o espinho, uma espada fina
A gota d'água, um manso lago
O pingo de chuva, um mar
Onde um pauzinho boiando
É navio a navegar
O bico de pão, o corcovado
O grilo, um rinoceronte
Uns grãos de sal derramados,
Ovelhinhas pelo monte
"Um lagarto, um dinossauro..."
A partir do poema "A formiga" de Vinicius de Moraes^^}}}
Tudo é relativo neste mundo. Mas às vezes é mesmo mentira e aldrabice...
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Auto-retrato com Trisha Brown|./wikiImages/trisha.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Auto-retrato com Trisha Brown'', Serralves, exposição de Trisha Brown, Abril 2011^^//}}}
{{indent{
^^Sob o eu que eu sou, não sendo
há pontes, que só eu quero passar
O eu que eu sou, temendo
agarra-me e obriga-me a ficar^^}}}
Mergulho na obra de Trisha Brown.
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Auto-retrato no quarto escuro de José Barrias|./wikiImages/barrias.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Auto-retrato no quarto escuro de José Barrias'', Serralves, exposição //In Itinerere// de José Barrias, Abril 2011^^//}}}
{{indent{
^^Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
Mário de Sá - Carneiro
^^}}}
Continuo a gostar de mergulhar nas obras dos outros...
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|[img[Fontana de Trevi| ./wikiImages/fontana.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Fontana di Trevi'', Barragem do Picote, Projecto Hollywood^^//}}}}}}
Realizei o projecto fotográfico ''Hollywood'' a convite do FITEI. A exposição está no CPF, no Porto, até 26 de Junho. Neste projecto utilizei um conjunto de imagens que fiz durante as obras de ampliação da barragem do Picote, no Douro Internacional, em 2007. O que me surpreendeu desde essa altura foi o facto de imagens, que esperaríamos tão "reais", tão "documentais", me sugerirem de uma forma tão natural cenários Hollywoodescos. Este projecto fotográfico permitiu-me assim recolocar em cima da mesa aquela questão tão velha e tão presente na chamada fotografia contemporânea, da relação entre fotografia e verdade/realidade e e entre fotografia e mentira/ilusão.
E paradoxalmente essa ilusão de cenário não resulta de qualquer artificialidade introduzida e nem sequer intuída nas imagens, mas de algo que poderíamos chamar quase uma sobre-realidade que se impõe. As imagens parecem ser mais reais do que o real, se tal pode ser dito, como se o real tivesse sido construído como cenário para ser fotografado Temos assim um mundo de ilusão, não o que a energia produzida nas turbinas eléctricas proporciona nos lares dos portugueses, nos teatros e nos cinemas, mas uma ilusão criada por esse processo misterioso, que congela o tempo e aprisiona o espaço, chamado Fotografia.
Nota importante : o texto que escrevo a seguir era o texto, que escrevi durante os dias de preparação da exposição para o FITEI, e que eu gostaria de ter lido na inauguração, se o protocolo o tivesse permitido
{{indent{{{indent{^^''Estamos em Hollywood''
Quando um governante de fato cinzento,
gravata vermelha de seda italiana
afirma com solenidade que está a fazer o melhor
Estamos em Hollywood...
Quando um dirigente da oposição de fato cinzento
gravata laranja de seda italiana
afirma com solenidade que faria muito melhor
Estamos em Hollywood...
Quando o presidente de fato cinzento,
gravata de outra cor de seda italiana
afirma com solenidade que têm todos de se unir para fazer melhor
Estamos em Hollywood...
Quando assistimos, como nêsperas, a tal momento
calados, deitados na cama
a esperar que tudo aconteça pelo melhor
Estamos em Hollywood...
Renato Roque, Maio 2011^^}}}}}}
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Ver com o coração|./wikiImages/leca.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, Leça da Palmeira, 2011^^//}}}
{{indent{^^É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...^^}}}
{{indent{//^^em ''O Principezinho'' de Antoine de ~Saint-Exupéry ^^//}}}
Pergunto-me como pode continuar tanta gente sem ver o que se passa à nossa volta. A luz, que nos ofusca tantas vezes, não está lá. Têm olhos, parecem ter coração. Faltar-lhes-á o quê: a memória?
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|bgcolor(#FFFFFF):[img[Uma história de amor|./wikiImages/umaHistoriaAmor.jpg]]|
{{indent{//^^©Renato Roque, ''Uma história de amor'', Roma, Março 2011^^//}}}
Sem palavras; cada um escreva a sua história...
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|[img[A(s) Troika(s)| ./wikiImages/troika.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''A(s) Troika(s) olham pro nobis'', Rebordelo, 5 de Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{^^
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?|
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José
José, pra onde?
//Carlos Drummond de Andrade//
As //Troikas// olham por nós, José!
Marchamos, José?
José, para onde?
PS: Obrigado Teresa Tudela pelo poema!^^}}}
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|[img[Abertura da época balnear| ./wikiImages/epocaBalnear.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Abertura da época balnear'', Malhão, Vila Nova de Mil Fontes, Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{^^...
De todos os complexos turísticos da Europa são as estâncias balneares do Mar Negro, as preferidas pelos morcegos em gozo de férias
...
Jorge Sousa Braga in Greve dos Controladores de Voo^^}}}}}}
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Na minha última visita ao sul ao Algarve, disseram-me que uma habitação enorme sobre a falésia tinha sido um dos refúgios de Mobutu do Zaire. Lembram-se? Terá sido confiscada(?) pelo estado português para pagar dívidas antigas. Hoje parece abandonada e semi-vandalizada. Mas a estrutura do edifício permanece incólume. Curioso, esgueirei-me por uma abertura na rede com arame farpado, que limita o terreno à volta, e entrei na casa por uma porta escancarada. Encontrei no chão da sala do rés-do chão um pássaro negro morto que, com certeza, encontrou o fim da vida por não ter conseguido escapar, depois de ter entrado na casa tal como eu.
|[img[Metáfora de África I| ./wikiImages/mobutu1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Metáfora de África I'', Algarve, Junho 2011^^//}}}}}}
Como uma resposta do destino e talvez, quem sabe, como um complemento da metáfora, encontrei noutra divisão, no 1º andar, um pássaro branco - uma rola - que batia as asas, desesperado, contra o vidro de uma janela, procurando fugir daquela prisão. Procurei uma janela que pudesse abrir para o salvar, mas estavam todas trancadas. Terá morrido de exaustão à procura da liberdade...
|[img[Metáfora de África II| ./wikiImages/mobutu2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''Metáfora de África II'', Algarve, Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{^^''Fui Sabendo de Mim''
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas" de Mia Couto^^}}}}}}
eu vi os pássaros mortos e soube que mentia...
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|[img[Verão 2011| ./wikiImages/verao2011.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, imagens do fim de semana do solstício de Verão nas proximidades de Rebordelo, Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{^^''Quem Me Mandou a Mim Querer Perceber?''
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
//Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)//^^}}}}}}
Num fim de semana prolongado no Alendouro, o Verão deu-se a provar com toda a sua intensidade. Começou o Verão, acabou a Primavera. E eu sem perceber nada...
<br>
|[img[21| ./wikiImages/vinteEum.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''21'', Lampaça, perto de Rebordelo, Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{^^Sete e sete são quatorze
com mais sete vinte e um;
tenho sete governantes
e não gosto de nenhum...^^}}}}}}
<br>
|[img[C'est pas un cadavre exquis| ./wikiImages/cadavreExquis.jpg]]|
{{indent{{{indent{//^^©Renato Roque, ''C'est pas un cadavre exquis'', Rebordelo, Junho 2011^^//}}}}}}
{{indent{{{indent{
Para pescar...
Colheres SAR}}}}}}
{{indent{{{indent{^^C'est pas un "cadavre exquis"º de Cesariny et quelqu'un d'autre. C'est justement exquis.
º''Cadavre exquis'' - Jeu qui consiste à faire composer une phrase, ou un dessin, par plusieurs personnes sans qu'aucune d'elles puissent tenir compte de la collaboration ou des collaborations précédentes. (in Wikipedia)^^}}}}}}
<br>
|[img[Desaprender de contar| ./wikiImages/aprenderContar.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Desaprender de contar'',Carção, Vimioso, Julho 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinícius de Moraes@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Temos de desaprender de contar
desaprender de contar os passos
desaprender de contar os bens
desaprender de contar os dias
para nascer todas as manhãs
como se fosse a última
@@}}}}}}}}}
<br>
|[img[Mudam-se os tempos| ./wikiImages/campoViboras.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Mudam-se os tempos'', Campo de Víboras, Vimioso, Julho 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões@@}}}}}}
É curioso observar na imagem a forma como se obtêm o padrão desenhado na parede. Como com certeza o papel de parede era muito caro naquele tempo, as pessoas desenhavam o padrão com tinta, recorrendo a um molde que iam colocando ao longo da superfície, até a cobrir integralmente. Hoje o papel de parede, fora de moda, seria indubitavelmente mais barato.
Esta imagem e a mudança que revela recordaram-me aqueles que hoje como ontem mudam de opinião ao sabor do vento. Mudam-se as vontades porque se mudam os tempos dirão eles, claro, mas os tempos não mudaram assim tanto, a não ser o lugar onde eles estão. Basta ouvir o que tantos- sem qualquer vergonha na cara e sem acto de contrição - ousam dizer acerca das agências de rating, que antes eram sagradas, e do papel da Europa na resolução da crise, que antes era nenhum ou quase nenhum, pois nós éramos os culpados. Ainda hão-de um dia defender a renegociação da dívida e chamar ignorantes a quem se admirar...
<br>
|[img[Santo António e São José| ./wikiImages/santos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Santo António e São José'', Igreja de Vimioso, Julho 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;
''SANTO ANTÓNIO''
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
...
Fernando Pessoa@@}}}}}}
Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho, dia de Santo António. Se vivêssemos num mundo justo, Mário de ~Sá-Carneiro deveria ter nascido em dia de São João ou em dia de São José. Nasceu afinal a 19 de Maio. Ironia do destino! Que justiça pode haver num mundo em que Mário de ~Sá-Carneiro acertou no dia mas se enganou apenas na terminação do mês e, assim, errou o dia de São José, o dia 19 de Março, por dois meses certinhos?
<br>
|[img[Auto-retrato comigo e com os 438 outros| ./wikiImages/autoRetratoTavira.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Auto-retrato comigo e com os 438 outros'', Projecto ''Espelhos Matriciais'', na exposição "J'aime la Différence", Casa das Artes, Tavira, Agosto 2011@@//}}}}}}
O projecto [[Espelhos Matriciais|http://www.renatoroque.com/EspelhosMatriciais/index.htm]] é um projecto fotográfico sobre a identidade e a forma como nós a reconhecemos; a identidade não considerada em toda a sua complexidade, com todas as suas vertentes, mas apenas a identidade imagética, simbolizada pela imagem da face humana.
O projecto partiu de uma Base de Dados de Retratos, construída com 439 retratos de homens e mulheres, amigos, conhecidos e descohecidos, da Universidade do Porto, com idades entre os 18 e os 65 anos.
<br>
|[img[Estará a Europa a afogar-se?| ./wikiImages/autoRetratoBC2011.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Estará a Europa a afogar-se?'', autoretrato na Bienal de V.N. Cerveira, Agosto 2011@@//}}}}}}
Estará a Europa a afogar-se e nós olhamos e não damos por nada? Porque a questão que se poderia colocar, em vez de "Porque acontece isto em Inglaterra", poderia ser " Porque não está a acontecer também por cá?" ou até "Porque não acontece em toda a Europa?"
PS - Quanto à Bienal de V. N. Cerveira, que foi um evento muito importante em Portugal há muitos anos atrás, creio que continua a evidenciar uma certa indefinição, apesar dos esforços visíveis para lhe introduzir uma nova dinâmica. Mas passem por lá e visitem os vários espaços que integram a Bienal deste ano.
<br>
|[img[Eu Amo Voçê!!!| ./wikiImages/amoVoce.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Eu Amo Voçê!!!'', Terra Estreita, Ilha de Tavira, Agosto 2011@@//}}}}}}
Eu acredito que escrevemos o nosso nome, ou o nome da pessoa de quem gostamos, nos muros, nas pedras, nas cascas das árvores, ou na areia da praia, pela mesma razão por que fotografamos: para registar a nossa passagem; pegadas na paisagem. São sempre registos efêmeros, mesmo se feitos com a ilusão de eternidade. Neste caso o "Eu amo voçê" tem uma efemeridade quase sufocante: dura até à próxima maré alta.
<br>
|[img[Orgulho Português| ./wikiImages/orgulhoPortugues.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Orgulho Português'', Festa de N. Srª da Saúde, Vale Janeiro, Vinhais, Agosto 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
...
//in ''Portugal'' de Alexandre O'Neill//@@}}}}}}
O que sentir, senão orgulho, perante o que nos fazem e o que nos dizem e o que nós (não) fazemos e (não) dizemos...
@@font-size:11px;PS: A primeira vez que estive na festa da N. Srª da Saúde, foi há muitos anos, levado pelo Sr António Carvalho de Rebordelo, a quem devo, se não o meu amor a ~Trás-os-Montes, parte da minha afectividade especial para com o concelho de Vinhais. Dedico-lhe pois este modesto //tiddler//@@
<br>
|[img[A casinha do médico| ./wikiImages/casaMedico.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A casinha do médico de Figueira'', Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; É pequenina e modesta
a casa que visitais
mas reparai, está em festa
pela honra que lhe dais.
@@}}}}}}
Esta era a "casinha" do médico de Figueira de Castelo Rodrigo.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa @@}}}}}}
A casa do "oftalmologista dos dentes" de Figueira, como gostava de dizer a brincar o meu pai, com algum sentido de humor, mas expresso sem sarcasmo, dada a relativa amizade que o ligava ao médico.
A casa, no centro da principal avenida de Figueira, encontra-se completamente devassada e em ruínas. Centenas ou milhares de novas habitações foram entretanto construídas, por todo o lado, durante as últimas décadas. Muitas estão vazias.
<br>
|[img[A propósito de Ivan o Terrível| ./wikiImages/ivan.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A propósito de Ivan o Terrível'', na Barragem do Picote e na Cerâmica da Marofa, Setembro 2011@@//}}}}}}
Lembro-me de ver o fime ''Ivan o Terrível'' de Eisenstein há muitos anos, já não me lembro exactamente quando (antes ou depois do 25 de Abril? já não sei). A imagem do filme que mais marcou a minha memória foi, talvez surpreendentemente, a daquelas portas e passagens dos palácios russos, onde os personagens mal cabiam. Na minha memória tinham de se baixar para passar.
Einsenstein tem se calhar pouco a ver com Hollywood, mas tem tudo a ver com a história do cinema, e por isso integrei esta imagem, que junta duas fotografias, uma no Picote outra em Figueira de Castelo Rodrigo, na série Hollywood.
<br>
|[img[Cerâmica da Marofa| ./wikiImages/ceramica.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Cerâmica da Marofa, Setembro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;deus-ex-machina
deixou cair 100 bancadas de trabalho
1000 roldanas 10000 pedais
as raspas dos restos juntavam-se fazendo-se madeira sem grupe nem nada que colasse
as tábuas saíam
lisas
a gente comprava-as
os pintores mais amadores até nelas faziam quadros
camas e quadros mesas e quadros estantes e quadros
os operários ganhavam dois tostões e serravam um dedo de vez em quando
manchas vermelhas escorrendo como tinta em quadros
A felicidade andava enterrada no trabalho
depois enterrou-se na memória de cada um
Eduarda Dionísio, em texto escrito para projecto fotográfico [[Catedrais do Silêncio|http://www.renatoroque.com/catedraissilencio/images/FrameSet.htm]], a partir de imagens da Tabopan em Vila Pouca de Aguiar@@}}}}}}
A Cerâmica da Marofa, ou Morofa como se diz por lá, é uma das poucas unidades industriais de Figueira de Castelo Rodrigo. Com a implosão da agricultura, é difícil perceber o modelo de desenvolvimento destas terras. Nunca tinha entrado na Cerâmica e nem sabia se ainda laborava. Fiquei a saber que já teve cerca de 50 trabalhadores, com direito a refeitório e até pequenas casas destinadas aos operários. Hoje são ruínas abandonadas para deslizar no tempo. Restam apenas quatro trabalhadores, "O que nos ajuda, pois permite parar a produção, quando não é necessária, e entretermo-nos com outras coisas". Respira-se decadência e uma morte anunciada. Inevitável?
<br>
|[img[Gravuras de Foz-Côa à noite| ./wikiImages/gravuras.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Gravuras no Parque de ~Foz-Côa, à noite, à luz do luar, Setembro 2011@@//}}}}}}
Nos últimos anos, nas minhas idas a Figueira de Castelo Rodrigo, pude visitar, um a um, os núcleos de gravuras abertas ao público. No ano passado visitei o museu, finalmente construído sobre o vale do Douro. Este ano tive a oportunidade, que aconteceu por acaso, de visitar o núcleo da Penascosa, em Castelo Melhor, à noite. Não revi aquelas paisagens magníficas, que se vêem durante o dia, mas afoguei-me naquele céu cheio de estrelas, que me recorda sempre a infância em Figueira, e pude observar as gravuras com outra definição, pois a iluminação controlada, rasante, permite ver com muito detalhe os desenhos, alguns datados com mais de 20000 anos.
Não compreendo como ainda não fomos capazes de transformar o Côa num destino de excelência em Portugal, ou melhor talvez, como ainda não fomos capazes de fazer saber a todos que o Côa é um destino de excelência, que merece uma viagem de pelo menos alguns dias. Temos as gravuras, o museu, as paisagens assombrosas do vale do Côa e do vale do Douro, e podíamos ainda mencionar o Águeda, temos os vinhos, a gastronomia, os trilhos magníficos para passeios a pé ou de bicicleta. Temos quase tudo. Vem gente de propósito de toda a Europa, e até de outros continentes, para visitar o parque e as gravuras e nós ainda não fomos capazes de construir naquela região um projecto sustentável. Convinha reflectir porquê.
<br>
|[img[Roubaram-nos o tempo| ./wikiImages/tempoRoubado.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Roubaram-nos o tempo'', Afife, 2011@@//}}}}}}
Onde está o tempo de que me lembro? Onde estão aqueles Verões que não acabavam? Onde estão aqueles dias sem fazer nada que duravam até nos aborrecer? Onde estão aqueles Junhos e Julhos que não chegavam a Agosto e à praia que esperava por nós? E onde estão os meses de Setembro e aquelas tardes que se prolongavam abafadas e não nos deixavam sair, que o calor era tanto? Roubaram-nos o tempo e nem sequer sabemos quem nos roubou. Hoje de Junho a Setembro é um instante.
Roubaram-nos e trocaram-nos o tempo, sem darmos por nada.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Sou dono de um tempo vazio, ou de um tempo só cheio de tempo?
I
Peguei num bocado de tempo em branco para poder escrever sobre ele.
II
O tempo às vezes é transparente. Vemos através do tempo como se não estivesse lá.
O tempo às vezes é opaco. Vivemos encerrados no tempo e não conseguimos ver o outro lado.
Quase sempre o tempo é translúcido. Através do tempo pressentimos as sombras do passado.
III
O tempo às vezes é sólido. Pregado com pregos no presente.
Às vezes respiramos um tempo gasoso que nos enche os pulmões e inunda o coração.
Quase sempre o tempo é líquido. Escorrega nas condutas do tempo a encher o presente.@@}}}}}}
<br>
|[img[Para Júlio Resende| ./wikiImages/julioResende.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Para Júlio Resende'', Rebordelo, 2007@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //"Ainda hoje me irrita que as pessoas olhem para uma pintura e vejam euros"
"Eu nem sei o que é que procuro. O que sei é que procuro."
Júlio Resende//@@}}}}}}
Nunca conheci o Julio Resende pessoalmente - o destino tem destas estranhezas, apesar de pisarmos o mesmo chão - mas a obra dele está presente na minha memória desde a minha juventude, na gateria Arvore, o único(?) espaço de reflexão artistica na cidade do Porto, antes do 25 de Abril.
<br>
|[img[Cheiro de Outono| ./wikiImages/outono.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Cheiro de Outono'', Vassal, Valpaços, Agosto 2011@@//}}}}}}
''Teatro dos dias''
Ninguém cheira melhor
nestes dias
do que a terra molhada: é outono.
Talvez por isso a luz,
como quem gosta de falar
da sua vida, se demora à porta,
ou então passa as tardes à janela
confundindo o crepúsculo
com as ruínas
de cal mordidas pelas silvas.
Quando se vai embora o pano desce
rapidamente.
Eugénio de Andrade, in "Ofício de paciência", 1994
|[img[Como resistir ao canto do silêncio?| ./wikiImages/ervasFigueira.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Como resistir ao canto do silêncio?'', Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro2011@@//}}}}}}
Regressei a Figueira de Castelo Rodrigo por alguns dias, à terra de meus avós, como tenho feito todos os anos.
Quantas vezes já prometi a mim mesmo deixar de fotografar estas ervas douradas, em que me deitei tantas e tantas vezes no projecto [[D'ouro d'Alendouro |http://www.renatoroque.com/paisagens_silencio/FrameSet.htm]], que fiz com o Jorge Sousa Braga? Mas de cada vez me esqueço de pedir para me amarrarem firme ao mastro, como a Ulisses, e não resisto ao canto inebriante daquelas ervas mágicas. E mergulho de novo bêbado no silêncio, fundo, muito fundo, perco o ar e venho à tona sôfrego, respirar um zumbido de insecto ou um chilrear de pássaro.
<br>
|[img[Procurar a eternidade num instante| ./wikiImages/nao.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''NÃO'', Porto, Manifestação do 15 de Outubro de 2011@@//}}}}}}
Hoje no carro ia a ouvir o forum do TSF sobre a proposta de orçamento e, ao entrevistarem uma aluna da Faculdade de Economia do Porto, ela dizia a propósito do documento que "Temos de continuar a acreditar". Ora eu afirmo, com toda a veemência de que sou capaz, que aquilo que temos de fazer, se temos de fazer alguma coisa, é de "NÃO ACREDITAR". Aliás uma dose de cepticismo perante tudo na vida é quanto a mim uma atitute inteligente. E neste caso só acredita mesmo quem for parvo, não, muito parvo se não estúpido. Vejam a entrevista magnífica com o Bispo Januário Torgal sobre as propostas deste governo. Bastaria comparar aquilo que o PM disse antes e o que diz agora para não podermos acreditar. E ele até disse, vejam lá (falou demais?), que nunca iria argumentar que não conhecia a situação para propor coisas que não anunciou, pois conhecia-a.
É preciso ''NÃO''acreditar e pelo contrário exigir conhecer toda a situação. Uma auditoria independente às contas! Pois, como diz o bispo, até tudo pode estar a ser manipulado para conseguir destruir direitos. Temos de saber quanto devemos, a quem e porquê? E quem é responsável?
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;...
Seremos deuses adúlteros ou selvagens
escravos...NÂO@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //Afonso Rocha//@@}}}}}}}}}
<br>
|[img[Reality Shows used as a Espanta o Quê| ./wikiImages/tvHorta.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Reality Shows used as a Espanta o Quê'', Rebordelo, Outubro de 2011@@//}}}}}}
Os agricultores de ~Trás-os-Montes estão a colocar as televisões na horta. Parece que os reality shows são óptimos para assustar a passarada. Os programas da manhã e da tarde também parecem ser muito eficazes.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; Da série fotográfica "Espanta o Quê?" @@}}}}}}
<br>
|[img[Procurar a eternidade num instante| ./wikiImages/eternidade.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Procurar a eternidade num instante'', Rebordelo, Outubro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Eterno é este instante, o dia claro,
as cores das casas desenhadas em aguada rasa,
castanhos e vermelhos quase em declive,
as janelas limpíssimas, de vidros muito honestos.
Este instante que foi e já não é, mal pousei a caneta
no papel: eterno
...
Em ''Vozes'' de //Ana Luísa Amara//l@@}}}}}}
Fui hoje assistir, no Planetário no Porto, ao lançamento do último livro de poesia de Ana Luísa Amaral, chamado ''Vozes''. Ao ouvir ler este poema, pela própria autora, compreendi finalmente porque regresso sempre às ervas onde se deita o silêncio. Compreendi porque não consigo resistir ao apelo, mesmo fechando os olhos, tal como os companheiros Ulisses taparam os ouvidos com cera, ao aproximarem-se dos mares das sereias. Volto às ervas à procura da eternidade, mesmo que a eternidade só dure um instante: esse.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Eterno é este instante, o dia claro,
as cores das ervas desenhadas em céu raso,
castanhos e amarelos quase em declive,
o ar limpíssimo, como de vidro muito honesto.
Este instante que foi e já não é, mal pousei a câmara
no colo: eterno@@}}}}}}
<br>
|[img[Proibido fotografar| ./wikiImages/proibido4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Proibido fotografar'', Amsterdão, Museu da Fotografia, Outubro 2011@@//}}}}}}
Tenho nesta espécie de blog já algumas vezes protestado contra a incoerência(tolice?) de proibir a fotografia em museus e galerias de fotografia. Se a proibição de utilização de flash pode ter alguma justificação, proibir a fotografia é quanto a mim inaceitável e até moralmente sem justificação.
Neste caso, foi no museu de fotografia de Amsterdão, conhecido por Marseille. A exposição era de [[SCARLETT HOOFT GRAAFLAND| www.scarletthooftgraafland.com]], uma jovem fotógrafa holandesa, que fotografa paisagens, onde intervém de uma forma planeada, com objectos, com cor, ou utilizando coreografias de personagens locais. As intervenções são efêmeras, uma espécie de performance na paisagem, para a fotografar. As imagens são tecnicamente muito boas e evidenciam alguma sensibilidade/sentido de humor. A questão que coloco é até que ponto ela parece já estar amarrada a uma fórmula, de que se não consegue libertar, pois já a usou em vários locais na Europa, na América do Sul, na Ásia e na África, ao longo de muitos anos. Há vários exemplos de autores que parecem ficar prisioneiros de fórmulas, que já parecem há muito esgotadas, durante dezenas de anos ou mesmo toda a vida. Será este apenas um desabafo de quem (bem ou mal) tem sempre partido de um projecto fotográfico para outro, que parece ser completamente diferente?
<br>
|[img[Window in Amsterdam| ./wikiImages/amsterdamNigh2t.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Window in Amsterdam'', Amsterdão, Outubro de 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;A noite chega pela janela do quarto.
Tu não chegas.
A noite ilumina-se e
o céu acende.
O candeeiro
da tua mesinha de cabeceira
não acende.
A noite escurece
e tu adormeces
Eu não adormeço.@@}}}}}}
<br>
|[img[A Cinderela passou por aqui| ./wikiImages/casaAchada1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Cinderela passou por aqui'', Largo da Achada, 19 de Novembro de 2011@@//}}}}}}
A Cinderela passou por aqui. Terá seguido o rasto de baba? Terá andado à procura do caracol?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O caracol não é tolo
não se perde no caminho
Deixa atrás de si no solo
de baba, um fiozinho@@}}}}}}
<br>
|[img[Fountain by R. Butt| ./wikiImages/fountain.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Fountain by R. Butt'', Serralves, Novembro 2011@@//}}}}}}
As restrições financeiras obrigaram Serralves a adquirir uma Fountain de R. Butt em muito mau estado.
Foram obrigados a usar fita adesiva para sustentar a peça.
<br>
|[img[Tu és tu ou tu és eu?| ./wikiImages/autoRetratoMatosinhos2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Tu és tu ou tu és eu?'', Matosinhos 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Ó caracol, caracol
já não sei o que me deu
C'os corminhos ao sol
tu és tu ou tu és eu?@@}}}}}}
Não consigo lembrar exactamente o momento em que surgiu a ideia do caracol, mas talvez ao nível do subconsciente, pensei nisto mais tarde, tenha pesado alguma parecença que eu posso reconhecer com esse bicho simpático.
Tal como o caracol, desloco-me muito devagar na paisagem, demoro muito tempo a percorrer alguns metros, o que provoca muitas vezes os protestos de familiares e de amigos. O caracol tem razão quando diz ao leitor "os fotógrafos são uns chatos". Além disso, tal como o caracol, pareço quase sempre andar sem (des)tino e deixo por onde passo, com os disparos da câmara, uma espécie de baba atrás de mim, para ser capaz de encontrar o caminho de volta. E tenho memória de caracol, memória curta, a fotografia ajuda-me a recordar.
<br>
|[img[Velocidade Máxima 30 cm/h| ./wikiImages/casaAchada2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Velocidade Máxima 30 cm/h'', Largo da Achada, 19 de Novembro de 2011@@//}}}}}}
A Junta de Freguesia, sabendo da visita do caracol à Mouraria, mandou colocar uma placa de limite de velocidade junto à Casa da Achada em Lisboa. Vamos a ver se no Porto a edilidade tem o mesmo cuidado e coloca placas limitadoras na Rua José Falcão, junto à GESTO, no próximo sábado, dia 26 de Novembro, à tarde.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Devagar, devagarinho
té parece que não bole
mas chega ao fim do caminho
com o seu corpinho mole
Vai à esquerda e direita
vai em frente e atrás retorna
A paisagem é estreita
visita de cada jorna
Atrás de si no chão deixa
um fiozinho brilhante
Um caminho que se fecha
se atrás volta, num instante
Se as coisas dão pró torto
às costas carrega o lar
e se não quer ser morto
só tem de se enrolar@@}}}}}}
<br>
|[img["O porco, criado e cevado com desvelos de que gozam poucos humanos, lá está a sangrar no banco do sacrifício"| ./wikiImages/matanca2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O porco, criado e cevado com desvelos de que gozam poucos humanos, lá está a sangrar no banco do sacrifício'', Rebordelo, Dezembro de 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1950 – A matança.'' O porco, criado e cevado com desvelos de que gozam poucos humanos, lá está a sangrar no banco do sacrifício. Berra que espanta a penumbra da madrugada, mas o seu sofrimento não encontra eco nos ouvidos de ninguém. Quanto mais barulhenta for a agonia, mais escoado ficará o seu corpo no chambaril. Impressionou-me sempre na vida aldeã este cerimonial doméstico, que acaba por deixar um porco de pernas para o ar, pendurado na trave da casa. (…) (Torga 1995: 508)@@}}}}}}
No penúltimo fim de semana fotografei a matança do porco em Rebordelo. A matança, nas terras de ~Trás-os-Montes, está ligada ao que de mais genuíno ainda lá persiste. O porco era a garantia de sobrevivência das gentes nessas regiões. Quase todas as tradições culturais incluem uma matança. É um momento de festa e muitas vezes de encontro e de partilha. Bem sei que poderá parecer cruel a muita gente e eu não sei se assistiria, se não me escondesse por detrás da máscara que a câmara constitui.
<br>
|[img['Mais um "Espanta o Quê"| ./wikiImages/espantaPano3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Mais um Espanta o Quê'', Rebordelo, Dezembro de 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Já tudo é tudo. A perfeição dos
deuses digere o próprio estômago.
O rio da morte corre para a nascente.
O que é feito das palavras senão as palavras?
O que é feito de nós senão
as palavras que nos fazem
Todas as coisas são perfeitas de
Nós até ao infinito, somos pois divinos.
Já não é possível dizer mais nada
mas também não é possível ficar calado.
Eis o verdadeiro rosto do poema.
Assim seja feito a mais e a menos
//Manuel António Pina//@@}}}}}}
Quantas vezes já prometi aqui, nesta minha espécie de blog, não voltar a estas ervas onde se deita o silêncio? O projecto [[D'ouro d'Alendouro|http://www.renatoroque.com/paisagens_silencio/FrameSet.htm]] e o projecto [[Paisagens de Silêncio|http://www.renatoroque.com/paisagens_silencio/FrameSet.htm]] deveriam encerrar o assunto. Mas "Já não é possível dizer mais nada mas também não é possível ficar calado. Eis o verdadeiro rosto da //fotografia//. Assim seja feito a mais e a menos."
E regresso sempre às ervas, de cada vez que volto ao Reino Maravilhoso, e sei vou continuar a regressar.
Nota: Obrigado Manuel António Pina por me dares a conhecer este poema na sessão de homenagem realizada a semana passada na Biblioteca Municipal de Matosinhos.
<br>
|[img['Um Espanta o Quê| ./wikiImages/espantaSaco.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Um Espanta o Quê'', Rebordelo, Dezembro de 2011@@//}}}}}}
Palavras para quê? Num dos locais mais belos dos mundo...
<br>
|[img[O governo quer decidir quem fica e quem sai| ./wikiImages/emigrar.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O governo quer decidir quem fica e quem sai'', Picote, Julho de 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Ei-los que partem''
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:9px;//De canção de antes do 25 de Abril do Manuel Freire//@@}}}}}}}}}
<br>
|[img[O tempo parece que parou| ./wikiImages/boucoais2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O tempo parece que parou'', Sonim, concelho de Valpaços, Novembro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Nalguns locais do nosso país o tempo parece que parou, embrulhado num lençol de mortalha...@@}}}}}}
Jeff Wall é um fotógrafo americano de que não gosto especialmente - nem consegui compreender até hoje (bem talvez consiga em parte) o relevo de que parece gozar no reino da chamada fotografia contemporânea - mas não resisto a citar uma entrevista dele, publicada na ''ipsilon'' desta semana, a propósito de uma exposição sua no Centro de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, porque estou absolutamente de acordo com o que ele lá diz. Penso mesmo que poderia ter respondido a algumas perguntas que lhe fizeram de uma forma muito parecida. Diz ele "Os fotógrafos são poetas: os grandes são todos poetas. A maioria interessa-se por poesia e sentem que existe alguma afinidade entre o que fazem e aquilo que um poeta faz". Ao responder à pergunta "Como surge a necessidade de realizar uma fotografia?" ele diz: É apenas uma intuição. São acidentes que surgem. As minhas fotografias podem ter origem em qualquer lugar, mas surgem quase sempre de forma acidental: pode ser alguma coisa que vi na rua, pode ser algo que uma pessoa me contou, pode ser uma canção e pode ser também um livro". Depois respondendo à questão "Podemos então ler as suas fotografias como poemas" Jeff Wall responde: "Análogas à prosa poética, de uma forma simples. Sinto que Baudelaire que escreveu os maiores poemas em prosa, teve intenção de escrever uma reportagem e acabou com um poema. E penso que esse processo diz tudo acerca de como uma fotografia se pode tornar artística."
Alguns dirão que fotografam porque não sabem escrever. Eu digo que fotografo quando não quero escrever. Porque a fotografia me permite contar melhor as histórias que quero contar. E de facto, sem falsa modéstia, acho que todos os meus livros, bons ou maus, são livros de prosa poética, tal como afirma Jeff Wall.
<br> <br>
|[img[Receita de Ano Novo com Espanta O Quê| ./wikiImages/espantaCamisola1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Receita de Ano Novo com Espanta O Quê'', Rebordelo, Dezembro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Receita de Ano Novo''
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:9px;//Carlos Drummond de Andrade//@@}}}}}}}}}
Para merecer um Ano Novo, que mereça este nome, você, meu caro, vai ter de deixar de se espantar com o que lhe fazem e vai ter de fazer alguma coisa...
<br>
|[img[Receita para fazer azul| ./wikiImages/azul4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Receita para fazer azul'', Feira de Rebordelo, 4 de Dezembro de 2011@@//}}}}}}
''RECEITA PARA FAZER O AZUL''
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas a s cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.
//Nuno Júdice//@@}}}}}}
|[img[Um postal de Natal| ./wikiImages/postal2011_B.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Um postal de Natal'', 2011@@//}}}}}}
<br>
|[img[A pantera| ./wikiImages/jaula.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Pantera'', 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''Der Panther''
Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden,dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt
...
''A Pantera''
O seu olhar de tanto olhar as grades
foi tomado de um cansaço profundo
para ela é como se houvesse mil grades
e, atrás das mil grades, nenhum mundo
...
Rainer Maria Rilke (tradução minha, desculpem qualquer falta de rigor...)@@}}}}}}
Tal como a pantera, parecemos hoje viver dentro de uma jaula e acreditamos que por detrás das grades não há nenhum mundo.
@@font-size:10px;Nota: Eu sabia que havia traduções do poema em português. Uma das pessoas que o traduziu foi o meu amigo Jorge Sousa Braga para o livro "Animal, Animal", uma colectânea sobre animais, onde o poema está incluído. Fui à procura do livro. Como não o consegui encontrar, fui obrigado a tentar uma tradução.@@
<br>
|[img[Este não é um Struth| ./wikiImages/struth4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Este não é um Struth'', Portugal, Junho 2010@@//}}}}}}
Este não é um Struth, nem é uma Nova Imagem do Paraíso. Quando muito poderá ser uma imagem do Reino Maravilhoso (Mágico?).
O concurso ''Qual das duas imagens é um Thomas Struth? Qual a genuína, qual a falsa?'' foi, como terá sido evidente para a maioria, uma brincadeira, ou uma pequena provocação como um amigo lhe chamou, com o objectivo de fazer as pessoas reflectir sobre a chamada fotografia contemporânea: quais os mecanismos de atribuição do carimbo de artista contemporâneo e quais os mecanismos de atribuição de valor a cada imagem? Porque nestes mercados, tal como nos financeiros, também há agências de rating, que tal como aquelas são quase sempre controladas pelos donos do dinheiro.
As respostas que obtive foram curiosas. A par de respostas de gente que sobretudo alinhou na brincadeira e na provocação, tive algumas respostas de pessoas que pareceram levar o concurso a sério. Alguns fãs de Struth, que demonstravam conhecer as imagens - aliás fáceis de encontrar na Internet, onde eu as fui buscar - que justificavam as suas escolhas "óbvias" das fotografias de Struth com aspectos técnicos: melhor densidade, melhor focagem e maior profundidade de campo, melhor relação cromática, etc.. Curiosamente, algumas pessoas pouco conhecedoras da obra de Struth e que não tiveram a preocupação de procurar as imagens na net, mas que procuraram identificar as imagens, nalguns casos escolheram as outras imagens baseadas em critérios técnicos idênticos, pois assumiam que as melhores imagem (quer dizer tecnicamente mais perfeitas) seriam a de tão ilustre autor. E houve mesmo quem justificasse a escolha apresentando os links para sites onde as imagens de Struth são observáveis.
Poderão alguns pensar, a partir desta brincadeira, que acho o trabalho de Struth muito mau. Não é esse o caso. Gosto de algumas séries, como a dos museus, gosto das fotografias de cidades a PB mais antigas. E tenho de reconhecer que todas são fotografias tecnicamente perfeitas, e o formato gigante ajuda muito. Mas não o considero um fotógrafo extraordinário. Muitos trabalhos serão mesmo triviais como é o caso das florestas. Está claramente sobre-valorizado, quando comparado com tantos autores europeus e não-europeus muito mais interessantes e inovadores.
Deixem-me repetir uma história, que já contei aqui, mas que vem a matar. É uma pequena história verídica, que me foi contada por Alejandro Castellote, que foi durante muitos anos responsável pelo Foto España. Quando ele estava à frente do festival foi falar com uma senhora, que era então responsável pela colecção de arte da Fundação Telefonica, para tentar obter apoio dessa Fundação. A senhora disse-lhe cruamente que a fotografia lhe não interessava. Passados alguns anos, quando a fotografia começou a adquiriu notoriedade nos meios artísticos, por razões que ultrapassam este post, a Fundação decidiu adquirir obras fotográficas e a primeira fotografia que essa senhora decidiu comprar foi um Thomas Ruff. Mas poderia ter sido um Thomas Struth ou um Andreas Gürsky, todos ele do grupo de Dusseldorf, autores das imagens mais valorizadas no mercado de arte
<br>
|[img[Ver ao longe| ./wikiImages/chuva&nevoeiro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, hoje em ~Trás-os-Montes com chuva e nevoeiro, concelho de Vinhais, 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
//Ferrnando Pessoa//@@}}}}}}
<br>
|[img[Objecto Luminoso Pousado na Paisagem| ./wikiImages/objectoLuminoso.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Objecto Luminoso Pousado na Paisagem'', S. Brás, Baião, Janeiro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Assim o amor
Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa
''Sophia de Mello Breyner Andresen'', in “Obra Poética” @@}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:9px; E a luz sentada no limar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
E eu encontrei a eterna luz precisa@@}}}}}}
<br>
|[img[vão-se os textos, fiquem os peixes| ./wikiImages/peixes.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''vão-se os textos, fiquem os peixes'', 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Clarice Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
aos textos
Adília Lopes@@}}}}}}
Dedicado ao Sr. Soares dos Santos (Pingo Doce), porque ele merece, pelo texto e pelo peixe que nos vende todos os dias.
<br>
|[img[Proibido Fotografar Fotografias| ./wikiImages/proibidoStruth3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Proibido Fotografar Fotografias do Struth'', Serralves, Janeiro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; ''Nota'': Esta foi a fotografia que fiz à frente da segurança do museu, antes de me virem informar que era proibido. Espero que não constitua um "uso indevido de imagens do artista"
@@}}}}}}
Na sequência do meu protesto, aqui e no FB, recebi vários comentários a solidarizarem-se com a minha posição, mas também recebi um email de Serralves tentando esclarecer a situação. Fiquei contente, pois revela que Serralves está atenta aos protestos dos seus visitantes. Tendo obtido autorização, decidi divulgar aqui esse mail e a minha resposta.
__MAIL de SERRALVES:__
Exmo. Senhor,
Gostaríamos, antes de mais, de agradecer a visita que efectuou à Fundação de Serralves no passado dia 15 de Janeiro.
O nosso objectivo primordial é proporcionar aos nossos visitantes uma experiência única e enriquecedora. Nesse sentido, consideramos fundamental dispor das opiniões e apreciações de quem nos visita por forma a podermos implementar acções que visem a constante melhoria dos serviços que prestamos.
A atenção que os nossos visitantes nos merecem reflecte-se na justificação infra que a Direcção do Museu preparou como resposta ao comentário produzido no seu blog.
É um facto que o trabalho do artista Thomas Struth se tem vindo a desenvolver, em grande medida, graças à generosidade de museus que albergam algumas das consideradas obras-primas da arte ocidental. Nenhuma das imagens por si produzidas foi feita à revelia das instituições que autorizaram o fotógrafo a permanecer nas suas salas com equipamento fotográfico distinto daquele comummente transportado pelo comum visitante de museus – porque sabiam que Thomas Struth iria utilizar técnicas fotográficas irrepreensíveis, respeitar ao máximo as qualidades das peças, fotografando-as de forma a sublinhar as suas características, nomeadamente cromáticas. Uma das vertentes do seu trabalho passa pela crítica ao turismo cultural de massas que “obriga” as pessoas a circular por salas de exposição muitas vezes dedicando pouca atenção às obras apresentadas, que fotografam rapidamente ou cuja reprodução compram nas lojas dos museus. Ora o artista, a quem interessa contrariar o ritmo frenético com que hoje vemos exposições, propenso a distracções visuais mais do que à contemplação, pretende com a proibição de fotografar as suas obras garantir o espaço para a contemplação mais ou menos demorada das mesmas. Por outro lado, e infelizmente, multiplicam-se os casos de usos indevidos de imagens dos artistas – oferecidas pelas recentes plataformas de distribuição de imagens, nomeadamente a internet e que, em muitos casos, desrespeitam a natureza do seu próprio trabalho. Querendo controlar a forma como o seu trabalho é visionado e garantir que esse visionamento acontece em condições perfeitas, é o próprio artista quem coloca restrições no que toca à sua circulação.
Com os nossos melhores cumprimentos.
Direcção de Marketing e Desenvolvimento
__MINHA RESPOSTA:__
À Direção de Marketing e Desenvolvimento de Serralves
Gostaria de começar por agradecer o vosso mail, tentando esclarecer as razões da proibição de fotografar na exposição de Thomas Struth em Serralves, na sequência do conhecimento de um post meu, na minha espécie de blog, dedicado a esse assunto.
A seguir gostaria de esclarecer que o meu protesto e mesmo indignação não se volta contra Serralves, como tenho deixado claro neste e noutros posts dedicados a estas proibições na minha espécie de blog. Eu sei, porque visito Serralves com regularidade, que a política desta instituição tem sido sempre a de deixar fotografar, a menos que os autores obriguem a assumir uma posição diferente. Na exposição ao lado, do Eduardo Batarda, pude fotografar o que quis. A minha luta contra a proibição de fotografar em locais públicos, em particular nas exposições de fotografia, é antiga e tenho outros posts dedicados ao assunto. Foi o caso de das exposições de Robert Rauschenberg e de Augusto Alves da Silva em Serralves. A proibição nesses casos também se deveu a imposições desses autores.
Vejamos agora os argumentos que apresentam:
Eu conheço há muito o Thomas Struth e vi muitos dos seus trabalhos em muitas exposições em vários sítios da Europa. Não tenho qualquer dificuldade em reconhecer que o seu projecto dedicado aos museus, que integra a exposição de Serralves, pode conter uma crítica subtil "ao turismo cultural de massas que “obriga” as pessoas a circular por salas de exposição muitas vezes dedicando pouca atenção às obras apresentadas, que fotografam rapidamente ou cuja reprodução compram nas lojas dos museus". A partir desta observação não polémica afirmam no vosso email que o artista "pretende com a proibição de fotografar as suas obras garantir o espaço para a contemplação mais ou menos demorada das mesmas". Poderia ser um bom argumento ainda que a série "os museus" seja apenas uma pequena parte da obra exposta. A ser constatável, essa proibição e essa razão poderiam inculcar no trabalho de Struth até uma certa contemporaneidade de provocação ao visitante e de crítica aos conceitos massificados de cultura e de arte. No entanto observamos que a informação de proibição de fotografar é quase invisível. Eu procurei-a, ao entrar na exposição e nas salas, pois queria fotografá-la, como acabei por fazer. Como informo no meu post, quando visitei a exposição, tinha já sido avisado da proibição e já estava pronto para a encarar. A verdade é que tive de perguntar à segurança onde estava a proibição afixada. Ou seja, só os visitantes que tentam fotografar e o fazem à frente de um segurança são informados dessa proibição. Poderia ser uma simples falha de publicitação na montagem. Então eu li com atenção a folha distribuída aos visitantes. Nenhuma informação sobre a proibição. Procurei no catálogo e, mais uma vez, nada... Procurei na internet, em vários sites com informação sobre o trabalho de Struth, e nada. Para uma componente conceptual do seu trabalho tão importante pois "pretende garantir o espaço para a contemplação mais ou menos demorada das obras", já seria incompetência. Se houvesse competência, esta proibição teria de ser bem visível e por exemplo obrigar quem quisesse fotografar a pedir um autocolante na recepção acompanhado de informação sobre o assunto para propiciar o tal "espaço de contemplação". Há muitos museus, como devem saber, onde todos podem fotografar mas têm de pedir uma autorização na recepção. Ora, eu sei que Serralves é competente e que a montagem e a informação foi feita de acordo com as instruções de Struth. Eu estou certo de que a informação que me enviaram sobre a razão da proibição seja baseada em qualquer informação que obtiveram do Struth, onde gostaria de saber, mas essa informação conceptual é invisível para quem visita a exposição, mesmo depois de uma procura militante na folha de sala, catálogo e internet. É por isso estanho que ela exista de facto.
Vejamos o outro argumento "multiplicam-se os casos de usos indevidos de imagens dos artistas – oferecidas pelas recentes plataformas de distribuição de imagens, nomeadamente a internet e que, em muitos casos, desrespeitam a natureza do seu próprio trabalho. Querendo controlar a forma como o seu trabalho é visionado e garantir que esse visionamento acontece em condições perfeitas, é o próprio artista quem coloca restrições no que toca à sua circulação". Eu sei que é próprio artista quem coloca as restrições e é isso que eu considero estúpido e imoral, sobretudo neste caso. Será esse o argumento de Struth, mas alguém inteligente pode aceitar este argumento? Se eu quiser obter qualquer imagem do Struth, elas estão na Internet e também posso obtê-las de livros, até do catálogo que editaram, muito mais facilmente do que fotografar as obras com vidros e iluminação deficiente . Posso pegar nessas imagens e fazer todo o uso indevido que quiser. (Ver, por exemplo, o concurso que organizei aqui sobre "O Genuino Struth", que não considero indevido)
Reafirmando que o meu protesto não é contra Serralves, mas é por uma questão de principio e por não aceitar limites à liberdade de fotografar em locais públicos, a não ser em casos muito bem justificados, como por exemplo fotografar certas obras com flash. Se Serralves errou, foi apenas em não afirmar claramente na proibição e no esclarecimento que enviaram que ela se devia ''apenas'' à exigência do autor, contrariando a política normal do museu.
Tal como no passado continuarei a gostar de visitar Serralves, que considero que tem tido um papel muito positivo no panorama artístico em Portugal, mesmo reservando o meu direito a expressar o meu sentido critico, quando achar que o devo tornar público.
Melhores cumprimentos
Renato Roque
|[img[É proibido fotografar| ./wikiImages/proibidoStruth1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''É proibido fotografar'', Exposição de Thomas Struth, Serralves, Janeiro de 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;
Há uns dias, ao encontrar o João Fernandes, ele perguntou-se se eu ainda não tinha ido visitar a exposição de Thomas Struth a Serralves. Confirmei e ele afirmou que já desconfiava, pois eu ainda não tinha manifestado o meu protesto nesta espécie de blog, por ser proibido fotografar as imagens desse fotógrafo alemão.
Estive finalmente esta semana no museu e confirmei essa proibição absurda e até, no caso de Thomas Struth, talvez imoral. Se pensarmos na sua série porventura mais conhecida, a dos museus, ele fotografa nos melhores museus de todo o mundo, onde normalmente é proibido fotografar, obras de génios da pintura como Velásquez, Dürer ou Seurat, com dezenas e dezenas de visitantes anónimos, depois imprime essas fotos e vende cada uma por centenas de milhares de euros e no fim proíbe que quem visita as suas exposições as possa fotografar. Além de inaceitável é estúpido, pois não consigo encontrar, tal como já aqui escrevi e desenvolvi em ocasiões anteriores, qualquer razão lógica para essa proibição.
Eu fiz uma fotografia - que até ficou interessante - e uma senhora da segurança veio logo me "informar", como eu já estava à espera, de que não podia fotografar. Perguntei-lhe onde estava afixada essa proibição e ela indicou-me o local. Dirigi-me para lá e fotografei-o. Ao ver o que eu estava a fazer, ela veio logo ter comigo, reafirmando com veemência que já me tinha informado que não podia fotografar. Eu esclareci que só estava a fotografar o placard com a proibição e perguntei se também era proibido. Ela mostrou o seu grande espanto e resmungou " Fotografar o placard? Para quê?,"Porque gosto de fotografar placards de proibições!". Ela, percebendo que eu não estava a fotografar as obras tão frágeis de tão notório autor, afastou-se, talvez a pensar que no seu trabalho tem de lidar com todos os tipos de loucura.
@@}}}}}}
|[img[As obras dsta exposição são extremamente frágeis| ./wikiImages/proibidoStruth2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''As obras dsta exposição são extremamente frágeis'', Exposição de Thomas Struth, Serralves, Janeiro de 2012@@//}}}}}}
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|[img[Qual é o Struth genuíno?| ./wikiImages/struth1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Qual é o Struth genuíno?''@@//}}}}}}
''Qual das duas imagens é um Thomas Struth? Qual a genuína, qual a falsa?''
Thomas Struth é um fotógrafo muito conhecido. Está exposto em Serralves. Pertence a um grupo de super-stars alemãs conhecido como o grupo de Dusseldorf. Para além do proprio Struth os mais conhecidos são o Thomas Ruff, o Andreas Gurski e a Candida Hofer. Há pouco tempo eram os fotógrafos com recordes em preços de vendas. Não sei se continuarão no topo, porque estas coisas mudam rapidamente, por vezes sem razões evidentes.
Já uma vez criei aqui, na minha espécie de blog, um pequeno concurso a partir de uma exposição em Serralves. A exposição de Struth deu-me o pretexto para voltar à ideia.
O que eu acho muito curioso, agora que estou a meio de escrever este post, é aperceber-me de que, se não tenho a certeza de que a fotografia de Thomas Struth possa ser considerada como arte contemporânea, este concurso pode! Arte contemporânea, sim...
Quem desejar participar neste grandioso concurso, que vai ter prémios aliciantes, tem apenas de enviar um mail para ~QualEhStruth@gmail.com, indicando qual das duas é a imagem de Thomas Struth e explicando porquê.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; @@}}}}}}
<br>
|[img[Qual é o Struth genuíno?| ./wikiImages/struth2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Qual é o Struth genuíno?''@@//}}}}}}
''Qual das duas imagens é um Thomas Struth? Qual a genuína, qual a falsa?''
Na exposição em Serralves uma das séries apresentadas por Thomas Struth chama-se ''Novas imagens do paraíso''. São fotografias de florestas tropicais situadas em vários locais.
Este segundo par de imagens continua o desafio do post anterior, que usava fotografias da série dedicada a lugares de tecnologia.
Quem desejar participar neste grandioso concurso, que vai ter prémios aliciantes, tem apenas de enviar um mail para ~QualEhStruth@gmail.com, indicando qual das duas é a imagem de Thomas Struth e explicando porquê.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; @@}}}}}}
<br>
|[img[Qual é o Struth genuíno?| ./wikiImages/struth3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Qual é o Struth genuíno?''@@//}}}}}}
''Qual das duas imagens é um Thomas Struth? Qual a genuína, qual a falsa?''
Na exposição em Serralves uma das séries apresentadas por Thomas Struth chama-se ''Públicos'', integrando imagens de visitantes fotografados em museus e outros locais de culto cultural.
Este terceiro par de imagens continua o desafio dos 2 posts anteriores.
Quem desejar participar neste grandioso concurso, que vai ter prémios aliciantes, tem apenas de enviar um mail para ~QualEhStruth@gmail.com, indicando qual das duas é a imagem de Thomas Struth e explicando porquê.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; @@}}}}}}
<br>
|[img[Recomeçar| ./wikiImages/recomecar2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Recomeçar'', Rebordelo, Dezembro 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Recomeçar''
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga@@}}}}}}
Pareceu-me adequado colocar aqui, nesta minha espécie de blog, esta fotografia tão recente e este poema, ao chegar ao fim o primeiro dia do ano de 2012. Como uma mensagem, não de esperança, mas de coragem. Recomeçar...
<br>
|[img[Ver ao longe| ./wikiImages/longe.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Ver ao Longe'', 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensiveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte-
Os beijos merecidos da Verdade
//Em Mensagem de Fernando Pessoa//@@}}}}}}
Porque em tempos de austeridade e de medo é difícil ver ao longe...
|[img[Ver ao perto| ./wikiImages/perto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Ver ao Perto'', 2011@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é
...
//Novas Poesias Inéditas de Alberto Caeiro//@@}}}}}}
Porque nestes tempos, só vemos o que nos põem à frente dos olhos, mesmo que não esteja lá...
<br>
|[img[Auto-retrato no Bes Revelacao 2011| ./wikiImages/besRevelacao2011.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Auto-retrato no Bes Revelacao 2011'', Serralves, Janeiro2012@@//}}}}}}
Porque se insiste em dizer que o BES Revelação é um prémio de fotografia? Para além de se observar, na minha humilde opinião, uma qualidade artística que decai de ano para ano, vemos que nos seleccionados deste ano - exposição em Serralves - não há nada de fotografia. Há vídeo - um dos trabalhos em vídeo é interessante - há pintura, há desenho. É verdade que em anos anteriores muitos trabalhos já pouco (nada?) tinham a ver com fotografia, mas este ano atingiu-se o extremo: nenhum é verdadeiramente fotografia. Um trabalho exposto, baseado em vídeo, que se apropria de algumas fotografias de notícias de jornais não parece ser suficiente para um prémio que se reclama da fotografia.
Seria preferível chamar-lhe um prémio de artes visuais, onde a fotografia também poderia participar. Tudo seria mais transparente e a fotografia poderia desempenhar o papel subalterno que tem desempenhado sem parecer mal.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; No regulamento lemos:
"O BES Revelação é uma iniciativa conjunta do Banco Espírito Santo e da Fundação de Serralves que visa incentivar a produção e criação artística de jovens talentos portugueses, tendo por base uma lógica de divulgação, lançamento e apoio a todos os que recorram ao medium fotografia"
@@}}}}}}
<br>
|[img[Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz| ./wikiImages/cidadeCampo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz'', Costa da Caparica, Fevereiro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro
Ruy Belo@@}}}}}}
O crescimento das cidades fez-se sem regras e foi ocupando todo o espaço de que a especulação necessitava. Nalguns sítios o campo resistiu.
Muita gente partiu para as cidades à procura da sorte. Deixou de ouvir as horas do relógio da matriz da aldeia...
Vai ser duro edificar o Portugal futuro mas por outras razões. Teremos de impedir a destruição da parte do Portugal presente de que nos orgulhamos.
<br>
|[img[Um Espanta o Quê? no Serro| ./wikiImages/espantaSerro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Um Espanta o Quê? no Serro'', Rebordelo, Fevereiro 2012@@//}}}}}}
Mais um ''Espanta O Quê'' no Serro...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Não nos espantamos que nos prometam uma coisa e depois façam outra
Não nos espantamos que cortem nos salários e nas pensões
Não nos espantamos que decidam eliminar feriados
Não nos espantamos que eliminem direitos
Não nos espantamos que os responsáveis pelas burlas continuem por aí a aconselhar nos negócios
Não nos espantamos com as nomeações
Não nos espantamos com a censura
Não nos espantamos com a venda ao desbarato do país a outro país
Não nos espantamos com a lata com que o fazem
Não nos espantamos com o desespanto de toda gente@@}}}}}}
<br>
|[img[Ó Portugal, Portugal| ./wikiImages/pensaoCentral.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Ó Portugal, Portugal'', Caldas de Aregos, Fevereiro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; Ó Portugal, Portugal
Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta
//Jorge Palma//@@}}}}}}
<br>
|[img[Cidade dos Outros| ./wikiImages/tavira6.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Cidade dos Outros'', Tavira, Março 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; ''Cidade dos Outros!''
Uma terrível atroz imensa
Desonestidade
Cobre a cidade
Há um murmúrio de combinações
Uma telegrafia
Sem gestos sem sinais sem fios
O mal procura o mal e ambos se entendem
Compram e vendem
E com um sabor a coisa morta
A cidade dos outros
Bate à nossa porta
Sophia de Mello Breyner Andresen @@}}}}}}
A propósito do que está a acontecer à Europa.
<br>
|[img[Foto Andrade| ./wikiImages/andrade.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Foto Andrade'', Tavira, Palácio da Galeria, Março 2012@@//}}}}}}
A fotografia foi, desde a sua invenção, um processo de registo e de documentação cultural, social e político. Desde o final do século XIX que os estúdios foram abrindo em várias cidades portuguesas -o primeiro parece que foi no Porto - fazendo chegar o retrato a todo o lado. É um registo fundamental para compreender a história de Portugal.
O estúdio fotográfico, Casa Andrade, em Tavira, foi criado no início do século XX, ainda antes da instauração da República. Hoje o herdeiro - bisneto do fundador - guiou-nos na visita da exposição que vai estar aberta até ao Verão no Palácio da Galeria, que nos mostra a história do estúdio da família ao longo de 4 gerações. Apesar de muito do espólio ter sido impunemente destruído ou degradado, vale a pena a visita. A exposição está muito bem montada e por lá encontramos algumas imagens extremamente interessantes, até algumas que se poderiam transmutar em "objectos contemporâneos", como aconteceu por exemplo com o trabalho do fotógrafo galego [[Virxilio Vieitez |http://www.cefvigo.com/galego/galeria_virxilio.htm]], cujos fantásticos retratos realizados pelas aldeias onde vendia o seu trabalho, passaram rapidamente do anonimato a ser cotados nas melhores galerias de Paris.
<br>
|[img[Isto não é contemporâneo, ou agora já é?| ./wikiImages/tavira1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Isto não é contemporâneo, ou agora já é?'', ilha de Tavira, Março 2012@@//}}}}}}
Visitei uma exposição chamada "Fotografia Contemporânea" na galeria Cordeiros no Porto. Devem visitá-la se quiserem ser confrontados com um bom exemplo da confusão que o adjectivo "contemporâneo" provoca em tanta gente e até numa galeria tão antiga e "conceituada". Ao preparar este //"tiddler"// pensei em colocar por baixo um ''Aviso Sério'': Atenção que esta fotografia não é contemporânea, apesar de a ter realizado em 2012! Mas depois percebi que a mesma fotografia, com este aviso por debaixo, já podia ser considerada contemporânea.
<br>
|[img[Pioneiros da fotografia em Portugal| ./wikiImages/tavira8.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Pioneiros da fotografia em Portugal - Casa Andrade'', Tavira, Palácio da Galeria, Março 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;"Chamo referente fotográfico não à coisa facultativamente real para que remete uma imagem ou um signo, mas à coisa necessariamente real que foi colocada diante da objectiva, sem a qual não haveria fotografia".
em Câmara Clara de Roland Barthes@@}}}}}}
A fotografia no século XIX e ainda nas primeiras décadas do século XX era quase sempre em estúdio. As máquinas eram ainda muito pesadas para poderem ser transportadas. O retrato usava muitas vezes um cenário pintado. Um cenário falso a servir de "referente". Curioso como esta metodologia foi recuperada por muitos dos chamados fotógrafos contemporâneos, interessados em questionar a representação fotográfica e o conceito de referente.
A Casa Andrade foi criada nos primeiros anos do século XX em Tavira. Há 4 gerações que os //Andrades// fotografam as gentes do Sotavento. A exposição no Palácio da Galeria está muito bem montada e merece a visita.
<br>
|[img[Speaker's Corner a que temos direito| ./wikiImages/tavira4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Speaker's Corner a que temos direito'', Tavira, Março 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; ''Fala!''
Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância muito e devagar.
Alexandre O'Neill@@}}}}}}
<br>
Para a Raquel, uma imagem da cerejeira que dá as melhores cerejas do mundo. De novo florida.
|[img[Para a Raquel| ./wikiImages/cerejeira.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A uma cerejeira em flor'', Rebordelo, Serro, Abril 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''A UMA CEREJEIRA EM FLOR''
Acordar, ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira
Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração duma cereja.
// em As mãos e os frutos de Eugénio de Andrade//@@}}}}}}
<br>
|[img[Abro mão da primavera para que continues me olhando| ./wikiImages/primavera2012.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Abro mão da primavera para que continues me olhando'', Rebordelo, Abril 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda@@}}}}}}
Eu até nem sou muito ambicioso mas quero muito mais coisas:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
quero o vento morno na cara
quero o mar a molhar-me o corpo
quero queimar os pés na areia
quero ouvir o rio a correr nas fragas
quero o cansaço doce de subir ao monte
mas mais que tudo
quero a liberdade
quero a justiça
quero a verdade
e quero que os outros também queiram@@}}}}}}
Nota: Todos os anos tenho dedicado um "tidller" ao início da Primavera, sempre com uma imagem no Alendouro.
<br>
|[img[Auto-retrato com cartaz de "procura-se"| ./wikiImages/autoRetratoCQ.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Auto-retrato com cartaz de "procura-se"'', Matosinhos, 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
...
in Dispersão de Mário de ~Sá-Carneiro@@}}}}}}
<br>
|[img[Livres podemos ser, porque irrequietos, inconformados, rebeldes, Grávidos de Esperança| ./wikiImages/fontinha5.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Livres podemos ser, porque irrequietos, inconformados, rebeldes, Grávidos de Esperança'', Fontinha, Abril 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Livres podemos ser, porque irrequietos, inconformados, rebeldes
Grávidos de Esperança@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:9px;Num muro da Fontinha@@}}}}}}}}}
Criei um [[álbum no Picasa|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/APoesiaSaiuDeNovoARua?authuser=0&feat=directlink#slideshow/5735745679898241922]] com as fotos do 25 de Abril na Fontinha e do 25 de Abril pela Fontinha
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Nota: tem talvez fotos a mais mas tive dificuldade em cortar.
Se alguém que aparece nalguma fotografia não quiser a imagem pública, diga-me.@@}}}}}}
<br>
|[img[Poderei ser algum dia um foto-jornalista?| ./wikiImages/fotojornalista3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Poderei ser algum dia um foto-jornalista?'', 12 Abril 2012@@//}}}}}}
Como é óbvio o meu "tiddler" anterior e a [[série| https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/ConseguireiAlgumDiaSerFotojornalista#slideshow/5731023471469864194]] que coloquei no Picasa tinham como objectivo provocar alguma reflexão sobre o que (não) é o foto-jornalismo nos dias que correm. Porque não é nada óbvio o que possa hoje ser. A fotografia mudou - há quem diga que o que existe já não é fotografia ( ver por exemplo [["La Câmara de Pandora|"http://ggili.com/es/tienda/productos/la-camara-de-pandora]] de Joan Fontcuberta)- e o foto-jornalismo mudou também e não é muitas vezes claro qual é o seu papel nem quais são os seus limites, nem parece haver muita discussão acerca disso.
Recebi alguns comentários e muitas pessoas parecem ter gostado especialmente desta foto. Porquê? Pelo seu lado simbólico?
<br>
|[img[Poderei ser algum dia um foto-jornalista?| ./wikiImages/fotojornalista2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Poderei ser algum dia um foto-jornalista?'', 12 Abril 2012@@//}}}}}}
Relatei nesta espécie de blog algumas experiências que pareciam evidenciar o facto de eu não ser um foto-jornalista.
Desta vez, queria tirar mesmo a prova dos nove. Quando vi o fumo negro e denso da minha janela, ainda sem saber do que se tratava, peguei na máquina fotográfica e saí de casa a correr. Voltei logo atrás para ir buscar uma bateria e um cartão de reserva, que meti no bolso.
Fotografei.
Regressado a casa com as imagens a dúvida permanece.
[[Vejam o álbum| https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/ConseguireiAlgumDiaSerFotojornalista#slideshow/5731023471469864194]] e ajudem-me a responder a essa questão.
<br>
|[img[Sou do partido dos autónomos| ./wikiImages/guimaraes1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Sou do partido dos autónomos'', Guimarães, Fábrica ASA, 21 de Abril 2012@@//}}}}}}
EU PERTENÇO AO PARTIDO DOS AUTÓNOMOS!
Por isso decidi dar a minha opinião!
Estive em Guimarães na Fábrica Asa. Não sei como estava o espaço quando decidiram utilizá-lo para o conjunto de eventos programados. A adaptação do espaço parece-me bastante bem feita. Quanto à exposição colectiva do rés-do chão o que senti é que a montagem é muito confusa. Demasiado! Não se consegue identificar o nome do autor ou o título da maioria das peças. Não se descobre em lado nenhum a duração dos vídeos. Não há texto de curadoria que definam o conceito de cada trabalho nem encontramos o critério das selecções das imagens agrupadas que, nalguns casos, parece ser pura aleatoriedade.
Por outro lado em muitos trabalhos tem-se a sensação de que se continua em insistir na ruptura fácil, esquecendo que muita dessa ruptura está feita...
O urinol transformado em Fonte já aconteceu quase há um século atrás...
O lixo transformado ou assemblado em arte de Rauschenberg já tem mais de 50 anos...
Sim, eu sei que é muito difícil continuar a fazer arte contemporânea verdadeiramente inovadora. São muito poucos os que conseguem romper o que já foi rompido tantas vezes de outra forma, com ironia, humor, com narrativas que nos encantem ou seduzam.
|bgcolor(#000000):color(#000000):[img[O qué belo, o que não é| ./wikiImages/hevelda2.jpg]]|
Nota: bem sei que a chamada arte contemporânea nada tem a ver com critérios estéticos (belo ou não belo não lhe interessa a não ser para eventualmente o questionar), mas não resisti a ir buscar este poema de John Havelda que usei no meu projecto velhinho [["O que resta da Arte?" | http://www.renatoroque.com/resta/galeria.html]]. Porque a chamada arte contemporânea terá de ter pelo menos a ver com critérios de inteligência e de novidade.
<br>
Para a Raquel,
|[img[Uma pequena mão preenche| ./wikiImages/Raquel3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Uma pequena mão preenche'', 5 Abril 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''O SEU OLHAR CHEGA COMO OFÍCIO E REPOUSA''
A sua voz vem subindo como um sopro, ondulando
o seu olhar chega como ofício e repousa
como água que desliza descampando de pedras
o seu leito -- ou vento que regressa desenhando
de luz o vácuo que uma pequena mão preenche
com as cores que reduzem o tempo
à sua eternidade
como as borboletas que nos canteiros azulam
de alegria o ar que respira e inédito
sempre seja no seu olhar
o sol a lua e o mar.
//poema escrito para a Raquel pelo Jorge Velhote//
@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img["O Caracol" espera pelos seus leitores| ./wikiImages/esperas.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''"O Caracol" espera pelos seus leitores, na escola de Nevogilde. Tu esperas por mim'', 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Um livro aberto é um cérebro que fala;
Fechado, um amigo que espera;
Esquecido, uma alma que perdoa;
Destruído, um coração que chora.
Voltaire
Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.
Eugénio de Andrade, em //As Mãos e os Frutos//@@}}}}}}
Nota: Já valeu a pena ter escrito e publicado "O Caracol", para ver [[este trabalho tão delicado em vídeo| https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=IIL3uQeMAic]], baseado nos desenhos e nos escritos dos alunos da escola de Nevogilde, a partir da leitura do livro, sob a orientação da professora Sara Canelhas.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Como se navegasse um rio| ./wikiImages/nu4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Como se navegasse um rio'', 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Como se navegasse um rio
por dentro
e na tua fragilidade encontrasse
a minha força
Um caminho rigoroso de
silêncio
Casimiro de Brito@@}}}}}}
Eu não tenho experiência de fotografar em estúdio. O meu amigo Mário Jorge Pedra desafiou-me para fotografar nu feminino num velho armazém de tecidos, muito conhecido, na baixa do Porto. Aquele espaço pertencera à sua família e, por isso, mantinha com ele ligações afectivas. O armazém ia ser vendido, depois de esvaziado. Viria a ser restaurado, curiosamente para uma empresa de novas tecnologias. Fizemos uma sessão com modelo e decidimos fazer mais uma sessão noutro espaço. Como tínhamos apenas um cabo de controlo dos dois flashes que utilizámos, éramos obrigados a fotografar à vez. A certa altura quando ele fotografava resolvi também fotografar, mas sem luz artificial, aumentando os ASA da máquna, e não tendo de me preocupar em orientar o modelo. Acho que essas foram as minhas melhores fotografias. A razão será a maior descontração e o facto de ver exactamente o que vou fotografar, o que não acontece com luz artificial. Antes de fotografar eu tenho de ver exactamente a imagem que procuro (encontro?). Depois de ter concluído que não sou foto-jornalista terei de concluir que não sou fotógrafo de estúdio?
Um flâneur vai sempre ser um flâneur. //Un flâneur sera toujours un flâneur//.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[De quem é esta obra exposta numa galeria da Miguel Bombarda?| ./wikiImages/FS.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''De quem é esta obra exposta numa galeria da Miguel Bombarda?'', 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Adivinha''
Não é galo nem galão
Nem padre nem sacristão
É um animal esquisito
Entre peru e pavão,
Tem barbas ruivas de milho
Tem olhos de crocodilo,
Rabo de gato ou de cão,
Ão ão, ão!
Eugénio de Andrade - (Aquela nuvem e Outras de 1986) @@}}}}}}
Aceitam-se respostas
<br>
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Deixamos! Paguem Menos!| ./wikiImages/DayOrg.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Deixamos! Paguem Menos!'', 15 de Maio de 2012@@//}}}}}}
"Paguem menos", "Deixamos", lê-se nos restos de jornal pegados ao vidro da montra de mais um estabelecimento comercial da Rua Brito Capelo em Matosinhos que fechou.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O homem vestiu o seu melhor fato, pôs a gravata dos funerais e foi vender o último anel de ouro que lhe restava.@@}}}}}}
Nota: Fiz estas duas fotos hoje para responder a um repto do meu amigo fotógrafo Nelson D'aires, membro do Kameraphoto, para fazer o upload de uma foto do dia 15 de Maio para um [[site que lançou esse desafio|http://www.aday.org/]].
Saí com a máquina e fiz apenas duas fotos perto do sítio onde vivo, em Matosinhos. Decidi juntá-las.
|bgcolor(#ffffff):[img[Não mexer pf| ./wikiImages/naoMexer.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Não mexer pf'', 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Mário de ~Sá-Carneiro @@}}}}}}
|[img[GET OUT!| ./wikiImages/out.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''GET OUT!'', Guimarães, Fábrica ASA, Abril 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;{{twocolumns{
''Liberdade''
Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
}}}
Paul Éluard - tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira @@}}}}}}
Nasci para te conhecer
e te chamar
Liberdade
ελευθερία
Libertad
Liberté
Libertà
Freedom
Freiheit
Getout!
<br>
|[img[Trocas e baldrocas| ./wikiImages/consumo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Trocas e baldrocas'', Tavira, Março 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''TROCAS''
Se me deres
a lapiseira
dou-te um gomo de maçã.
Se me deres
um livrinho
dou-te as asas de uma rã.
Se me deres
uma boneca
dou-te a flor que dá a lã.
E se eu
não te der nada?
Largo aqui uma galinha
para te dar uma dentada
Luisa Ducla Soares em ''Poemas da Mentira e da Verdade''@@}}}}}}
PS:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Se me deres
uma cabeça
dou-te um espelho e um pente
Se me deres
o teu futuro
dou-te 50% de presente@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[GET OUT!| ./wikiImages/bernardo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Para o Bernardo Sasseti'', 2012@@//}}}}}}
A vida raras vezes é justa. E quando é, ao mesmo tempo acontecem milhares de injustiças. Não conheci pessoalmente o Bernardo Sasseti.
Assisti ao vivo a alguns dos seus espetáculos, a última vez, há tão pouco tempo, a acompanhar a Beatriz Batarda na belíssima "Menina do Mar" em Matosinhos, perto de minha casa. Fui a pé, regressei a voar.
Ouvi algumas das suas entrevistas na rádio e na televisão. Era profundo e simples ao mesmo tempo. Fiquei com vontade de o conhecer.
Tenho alguns ~CDs seus que fui comprando ao longo do tempo. Há quem diga que o que é importante é a obra e não o autor. Eu não acredito nisso.
Nunca o conheci pessoalmente e ele morreu com 41 anos. A fazer fotografia. Suprema ironia, fotografia, a arte, de todas, a mais próxima da morte...
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Sem título| ./wikiImages/trondheim5.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Fiorde de Trondheim, imagem do projecto ''12 pm'', editado em livro com poemas de Jorge Sousa Braga, 2008@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
O coração do mar
é um cemitério
de navios e de luar
//Jorge Sousa Braga//@@}}}}}}
Contra a ideia mais generalizada, que coloca próximas a pintura e a fotografia - ideia que é compreensível de um ponto de vista histórico, pois a fotografia, quando foi inventada provocou um conflito sobretudo com os pintores, conflito que, já agora, está muito longe de ser resolvido - eu tenho dito e escrito muitas vezes que considero a literatura e em particular a poesia como a forma de expressão mais próxima da fotografia. Trata-se evidentemente de uma posição pessoal e subjectiva que reflecte a minha atitude perante a fotografia e admito que outros a sintam de outra maneira. Os dois livros que publiquei com o Jorge Sousa Braga são de alguma forma uma materialização dessa ideia. Regresso a este assunto, a partir de um texto que acabei de ler. Na Feira do Livro deste ano encontrei num saldo um livrinho de bolso com o Banquete de Platão. Para quem nunca o leu, é um texto escrito sobre a forma de diálogo entre vários personagens, entre os quais está Sócrates, como em muitos outros livros de Platão. O Banquete é sobre o amor. A determinada altura no discurso de Sócrates ele diz, repetindo as palavras de Diotima, mulher de Mantineia:
{{indent{//Sabes que a "poesia" é multiforme; no sentido geral é, não importa em que objecto, a causa pela qual ele surge do não-ser para a existência: assim os trabalhos realizados em todas as profissões são "poesias" e os seus autores "poetas". Todavia, tu sabes que estes não são denominados poetas, mas têm outros nomes, enquanto que de toda a “poesia” uma única parcela foi destacada, a que se refere à música e aos versos, e com o nome do todo é denominada.//}}}
Para Platão toda a criação é poesia. Assim, cada pessoa pode ser um poeta na sua actividade, se a exercer de uma forma criativa, se realizar coisas, criar objectos. Afinal, o célebre slogan de Joseph Beuys "Cada pessoa é um artista", que tanto clamor originou e que continua a ser objecto de tanta discussão, não passaria de uma reprodução daquela ideia de Platão, expressa há cerca de 2500 anos atrás!
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Sem título| ./wikiImages/festaSerralves7.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Sem título'', 3 de Junho de 2012@@//}}}}}}
SEM COMENTÁRIOS
{{indent{@@font-size:10px;Nota: em anos anteriores expressei aqui as minhas dúvidas e as minhas questões perante o evento //Serralves em Festa//. Parece-me que, sentindo-me dividido e tendo muita dificuldade em expressar essas dúvidas por palavras, talvez esta imagem acabe afinal por ser mais loquaz.@@}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Sem título| ./wikiImages/festaSerralvesF.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Que fez a Festa?'', Festa de Serralves, 3 de Junho de 2012@@//}}}}}}
{{indent{@@font-size:10px;Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritaram por seus escravos.
O jovem Alexandre consquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Fredrico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as despesas?
Tantos relatos.
Tantas perguntas.
//Bertolt Brecht//@@}}}
Afinal quem fez a festa?
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Aquele querido mês de Agosto| ./wikiImages/agosto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Aquele querido mês de Agosto'', Rio Mente, ~Trás-os-Montes, 22 de Julho de 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do Verão.
//Eugénio de Andrade//@@}}}}}}
O problema é que quase todos nós vamos às missas, obedecemos aos sinos das paróquias e temos muito medo de queimar os pés nas areias do Verão...
Transformemo-nos pois em versos de um poema!
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Esta fotografia é MESMO uma apropriação| ./wikiImages/apropriacao.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Esta fotografia é MESMO uma apropriação'', Estúdio Foto Andrade, Tavira, 2012@@//}}}}}}
Na apresentação do livro [[''Fotografia e Curadoria''|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85]] em Serralves mais uma vez veio à baila a questão da apropriação da fotografia pelos artistas contemporâneos. Como o tempo escasseou e porventura o meu ponto de vista não ficou totalmente claro decidi explicitá-lo aqui, nesta espécie de blog.
Antes de mais o conceito de apropriação ''faz'' sentido. Os surrealistas, os dadaístas, os conceptualistas e outros artistas apropriaram-se muitas vezes de fotografias e de outros objectos que integravam nos seus trabalhos. Os conceptualistas para além da apropriação propriamente dita de fotografias, muitas vezes de autor desconhecido, usaram fotografias de que eram autores em que, de acordo com as sua intenção expressa, não se preocupavam com a qualidade das imagens mas somente na afirmação de um conceito, quase sempre através de uma série e não de uma única imagem. No segundo caso, falar em apropriação, já poderá parecer forçado, pois os artistas são os autores das imagens (ver por exemplo Dibbets ou Ruscha), ainda que o carácter conceptual do trabalho, sem quaisquer preocupações técnicas ou estéticas, possa desculpar esse forçar da ideia original de apropriação. Por vezes associado a esta ideia de apropriação aparece a ideia de usar a fotografia como mera ferramenta@@font-size:8px;^^1^^@@, tal como expressa Ricardo Nicolau no seu livro "Fotografia na Arte"@@font-size:8px;^^2^^@@ , que constitui um dos vectores da reflexão no livro [[''Fotografia e Curadoria''|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85]]. Para os fotógrafos do movimento conceptualista (ver por exemplo Dibbets ou Ruscha), para realçar o facto desses fotógrafos não valorizarem as qualidades estéticas ou técnicas da obra, poderíamos aceitar a utilização desse conceito de "ferramenta", que parece ser mais adequado do que falar em "apropriação".
Mas o que é de estranhar (será) é pretender alargar estas ideias de apropriação e de ferramenta a muitos fotógrafos do nosso tempo. Como podemos falar de apropriação ou de ferramenta por exemplo a propósito da fotografia de Thomas Struth? Tal como no livro [[''Fotografia e Curadoria''|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85]], escolho este exemplo apenas porque é um autor conhecido, foi mostrado recentemente em Portugal e também porque foi o pomo da discussão que tivemos na apresentação do livro [[''Fotografia e Curadoria''|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85]] na Biblioteca de Serralves@@font-size:8px;^^3^^@@. Muitos outros fotógrafos poderiam servir de ilustração para o que pretendemos mostrar. Como explicar a apropriação/ferramenta em Struth? Struth é fotógrafo, fez a sua aprendizagem numa escola de fotografia, faz uma fotografia tecnicamente e esteticamente irrepreensível. Afirmar que faz sentido para Struth falar em apropriação ou em ferramenta porque ele faz séries ou porque "usa" a fotografia na afirmação de ideias ou de conceitos é o mesmo que dizer que todos os grandes fotógrafos fizeram apropriação ou usaram a fotografia como ferramenta. Todos fizeram séries e todos usaram a fotografia para expressar questões, ideias, inquietações. Afirmar que esta terminologia faz sentido pelas dimensões dos seus trabalhos é para mim algo de completamente incompreensível. As dimensões fazem parte da obra, claro, mas não são a obra. Struth hoje produz obras para contemplação (tableaux) nas paredes dos museus ou de instituições com muito dinheiro e essa é talvez a razão principal dessas dimensões, que exigem produção extremamente cara.
Como interpretar então esta insistência obsessiva na ideia de “apropriação”/"ferramenta" para artistas que de facto fotografam, que inclusive incorporam no seu trabalho toda a tradição e a cultura da fotografia e que mostram essas fotografias em galerias e museus?
Para assim os poder classificar como contemporâneos? Talvez, já que nada parece existir nos seus trabalhos que traduza a ruptura ontológica com a Arte/Fotografia Clássicas ou Modernistas, que a chamada arte contemporânea exige.
Existem porventura outras justificações para esta obsessão:
a) Uma forma de “marketing”, para ser mais fácil vender fotografia no território das galerias? Antes, nem com os pictorialistas a fotografia tinha sido aceite no circuito da obra de arte. Para validar e valorizar a nova fotografia, seria necessário afirmar a sua diferença. Por isso, se transformaria a fotografia em “apropriação” da fotografia por artistas, que fotografam mas não são fotógrafos. Tal como os publicitários conseguem vender o mesmo produto, dando-lhe outro nome e outro embalagem, garantindo enormes diferenças.
b) Dar tanta importância à questão da “apropriação” poderá representar também um ressurgimento de velhos preconceitos dos artistas e dos curadores, que sempre os impediram de aceitar a entrada da fotografia para o clube privado da arte, mas que agora são obrigados a aceitar por múltiplas razões que ultrapassam o âmbito deste pequeno texto. Para justificar esta mudança de atitude perante si próprios, teriam de vestir a fotografia com outras vestes, as suas. Podemos facilmente observar que as pessoas que normalmente recorrem a esta terminologia não tiveram uma formação importante na área da fotografia, mas sim na pintura ou na História de Arte.
Talvez tudo isto justifique ser tão decisivo distinguir os artistas que usam a fotografia dos fotógrafos que usam a fotografia, mesmo que os artistas sejam fotógrafos.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; 1 Curiosamente esta ideia da “fotografia como ferramenta” ao serviço da arte, parece retomar o pensamento de Baudelaire, expressa no famoso “Salon de 1859”. Ele diz ao falar da fotografia “Il faut donc, qu’elle rentre dans son véritable devoir, qui est d’être la servante des sciences et des arts, mais la plus humble servante, comme l’imprimerie et la sténographie, qui n’ont ni criée ni suplée la litérature”.
2 Ricardo Nicolau no seu livro associa os dois conceitos. Diz o autor ao falar dessa fotografia ferramenta: “confundida com determinadas práticas artísticas, nomeadamente as que foram designadas como arte conceptual, pós-modernismo e ''apropriacionismo''”.
3Tal como afirmo no livro a escolha de fotógrafos - neste caso Struth - não obedece a nenhum critério de gosto ou não-gosto, mas são apenas nomes conhecidos e que servem para ilustrar uma ideia.@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Um Castanheiro| ./wikiImages/searaCastanheiro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Um Castanheiro'', Rebordelo, Julho 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''A árvore que se queria transformar em pássaro''
{{indent{//“Mal entrara no paraíso logo se encontrou diante de uma árvore que era a um só tempo homem e mulher.”
(Em ´Contos Maravilhosos de Herman Hesse)//}}}
O sonho bateu à porta. Abri a porta ao sonho e entrei.
Mal entrei, vi uma árvore majestosa. Sentei-me à sua sombra e perguntei-lhe se era um castanheiro, mas a árvore não me respondeu. Talvez não me compreendesse. Infelizmente, na escola não aprendemos a falar com as árvores.
Levantei-me, e continuei. Os meus pés pisavam flores de todas as cores sem as machucar. Cheiravam cheiros antigos que quase já tinha esquecido.
Vi uma outra árvore tão majestosa como a primeira. No galho mais alto pousava um pássaro muito belo. Perguntei-lhe:
- Pássaro o que é a felicidade?
- A felicidade é poder voar-. Abriu as asas e voou. Bateu as asas e transformou-se numa borboleta que voltejou sobre a minha cabeça. Estendi o braço e a borboleta pousou na palma da minha mão, fazendo-me cócegas. Bateu as asas e transformou-se num espelho. Do outro lado, um outro Eu que eu não conhecia, fitava-me. Gostei dele. Disse-me:
- Este espelho é mágico. Podes pedir o que quiseres. O teu desejo será concedido.
Quase sem pensar pedi:
- Quero ser um castanheiro majestoso.
De imediato senti os meus pés criarem raízes, o meu corpo lenhificar-se. Os meus braços esticaram e curvaram, e novos braços nasceram. E nos braços folhas verdes brotaram, pois estávamos na Primavera.
Os anos passaram, muitos muitos anos, e eu sentia-me feliz e importante. Era um castanheiro. Os pássaros pousavam nos meus ramos, faziam ninhos, nasciam, cresciam e morriam. As borboletas voavam, e a cada bater de asas transformavam-se, e magicamente transformavam o mundo à minha volta. Os prados verdejantes transmutavam-se em searas luminosas. Regatos frescos e rumorejantes desapareciam revelando encostas pedregosas. Mas as minhas raízes continuavam bem cravadas na terra.
Demorei muito tempo a compreender que não era feliz. Que a vida de árvore não me chegava. Mas as raízes continuavam a crescer e a enterrar-se bem fundo na terra.
Um dia, um pássaro-arco-iris pousou no meu ramo mais alto. Cantou uma canção triste e bela que não compreendi porque infelizmente as árvores não aprendem a falar com os pássaros. Mas comoveu-me. O eco de algo pronunciado há muito tempo ressoou, reflectido pela abóbada celeste: “A felicidade é poder voar.” Bati os ramos mas as raízes fundas não me deixaram mover. Uma borboleta negra pousou no bico do pássaro, bateu as asas e transformou-se em espelho mágico. O pássaro piou e expressou o desejo.
Senti as raízes cederem. Transformei-me em pássaro e levantámos voo juntos.
Sobrevoamos prados verdes, searas de ouro e campos rubros de papoilas. Ao cruzar um souto olhei os castanheiros-irmãos e chorei uma lágrima que caiu na terra de onde brotou uma nova árvore. Pousamos no seu galho mais alto, transformámo-nos em borboletas batemos as asas e fundimo-nos na árvore, “uma árvore que era a um só tempo homem e mulher”.
//Em ''Arcas de Sonhos'' de Renato Roque, editado pela Colibri em 1994//
@@}}}}}}
Quem me conhece, sabe que tenho uma paixão especial por castanheiros. São árvores belíssimas e possuidoras de uma magia que não consigo expressar por palavras. Há uns poucos, perto da aldeia onde temos uma casa em Trás-os-Montes, que visito com frequência, como se visitam velhos amigos. Uns desses castanheiros, que fotografei muitas vezes ao longo dos anos, ardeu num dos incêndios estivais que massacram o nosso interior; pensei que tinha morrido, fotografei-o então queimado e prestei-lhe uma última homenagem nesta minha espécie de blog. Mas esse castanheiro, apesar de revelar algumas debilidades, recuperou e está vivo. Volto hoje a fotografá-lo com a esperança de que a sua magia possa ser um sinal para os tempos malditos em que vivemos.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Super-Homem em Matosinhos| ./wikiImages/superHomem.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''~Super-Homem em Matosinhos'', Matosinhos, 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
É grande quem usa vasos de argila como se fossem de prata, mas não é inferior quem usa vasos de prata como se fossem de argila. Uma alma fraca não sabe suportar a riqueza.
Séneca@@}}}}}}
Nota: Os nosso governantes deveriam ler os clássicos!
Mas se já não podemos nem confiar no ~Super-Homem, que recorre à Internet para saber o que se passa no mundo, como queremos confiar nos nossos governantes que, ao que parece, receberam equivalência à cadeira de Ética.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Celeste abre brevemente| ./wikiImages/100metros1_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Celeste Abre Brevemente'', da série ''Compro Ouro - A Menos de 100 Metros da Minha Casa'', Matosinhos, Agosto de 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Impus-me ontem a um exercício que resultou numa [[série fotográfica|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/ComproOuroUmaSerieAMenosDe100MetrosDeMinhaCasa#slideshow/5775157174865196658]] a que chamo "Compro Ouro - A Menos de 100 Metros da Minha Casa". Saí com a câmara para fotografar e dei a volta ao quarteirão, sem me poder afastar de minha casa mais do que cerca de 100 metros. Ao fim de cerca de uma hora de passeio tinha [[a série|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/ComproOuroUmaSerieAMenosDe100MetrosDeMinhaCasa#slideshow/5775157174865196658]].
Vamos às vezes tão longe à procura de imagens e elas estão ali a menos de 100 metros de nós.
Este díptico junta duas dessas imagens.
Nota: quem conhece o sítio onde moro identificará com certeza muitos dos locais...@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Aquele Querido Mês de Agosto| ./wikiImages/miramar4.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Aquele Querido Mês de Agosto'', Miramar, Agosto de 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''Poeminha de Homenagem à Preguiça Universal''
Que nada é impossível
não é verdade;
todo o mundo faz nada
com facilidade
//Millôr Fernandes in "~Pif-Paf"//@@}}}}}}
Há em Agosto, nas férias, na praia, que consumimos com sofreguidão, algo de muito absurdo. Mas a vida sem absurdos teria muito pouca graça...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Graffitis à beira Douro| ./wikiImages/graffiti1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque,''Graffitis à beira Douro'', Linha do Douro, 2012@@//}}}}}}
Ao contrário de muita gente, que vejo opinar sobre tudo e mais alguma coisa, há muitos assuntos relativamente aos quais não tenho uma opinião firme, dividindo-me entre os argumentos de um de outro lado. Uns destes assuntos está a gerar no presente alguma discussão. Refiro-me aos graffitis e à legislação mais repressiva que alguns pretendem (o governo?) aprovar para impredir ou condicionar tal actividade. Confesso que muitas vezes (quase sempre?) os graffitis me atraem visualmente, mesmo graffitis que na opinião de alguns não possam ser considerados graffitis mas simples "tags". Os segundos são meras inscrições de símbolos ou de assinaturas. E não me refiro apenas a graffitis que começaram como lixo nas paredes e que foram transformados, pelos tais mercados, em arte valiosa, vendida nas melhores galerias de todo o mundo. Gosto geralmente do efeito colorido da maioria dos graffitis e de outras pinturas murais. Mas por outro lado compreendo que haja muita e boa gente que não goste de ver essas imagem a ornar monumentos, estátuas, ou até as paredes das suas casas, que tinham acabado de caiar. Parece-me que nestes conflitos de interesses muitas vezes o bom-senso é a melhor solução, mas sei que não o consigo garantir.
Tudo isto a propósito de uma série de imagens que fiz em Julho, na minha viagem de combóio do Pocinho até ao Porto, a relembrar velhas viagens. O combóio estava coberto de graffitis, que cobriam inclusive parte das janelas, perturbando a visibilidade. Poderia ser um incómodo grande para alguém como eu que pretendia fazer algumas fotografias durante a viagem. Mas porque não transformar esta barreira num olhar diferente sobre o Douro? Foi o que tentei fazer.
Dessa decisão resultou uma série, a que esta imagem pertence. Se tiver tempo publicarei um álbum, que divulgarei.
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|bgcolor(#ffffff):[img[FDP| ./wikiImages/fdp.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque,''FDP'', restauro cuidado de obra apresentada no projecto de arte contemporânea ''Collecting Collections and Concepts'', Fábrica ASA, Guimarães Capital Europeia da Cultura, 2012@@//}}}}}}
É muito curioso o fenómeno mediático gerado por uma notícia do "restauro" de um fresco numa pequena igreja perto de Saragoça, numa aldeia de nome Borja. A obra datava de 1910 e estava em mau estado. O autor do Ecce Hommo restaurado era um pintor espanhol chamado Elías García Martínez (1858-1934). O "restauro" foi feito por uma senhora da aldeia, de nome Cecilia Gimenez, com mais de 8o anos, aparentemente sem autorização. Este "restauro", que muitos consideram um horror e um atentado,está a provocar um interesse enorme (viral) em torno da aldeia onde o episódio aconteceu. A pequena igreja tem sido visitada por milhares de pessoas, são publicadas inúmeras notícias nos jornais, rádios e televisões, e assistimos a inúmeras discussões nas redes sociais.
A minha questão, porventura irreverente/provocatória, é: seríamos ou não capazes de afirmar que este episódio contém algumas das características do que se costuma chamar arte contemporânea? Algumas pessoas ao ler isto pensarão "Lá está a ele a brincar, a gozar uma vez mais com as contradições inerentes ao conceito de arte contemporânea". Sim trata-se certamente disso, uma brincadeira, mas pretende ser brincadeira séria. Brincadeira séria? Faz sentido? Claro, se lembramos que uma das características, que atravessa grande parte do que se chama arte contemporânea, é a crítica mordaz, o humor, a irreverência. Basta pensar em Duchamp ou em Piero Manzoni para o percebermos.
E de facto essa pergunta provocatória(?) não é descabida, independentemente dos sorrisos que possa provocar. Se pensarmos um pouco, constatamos que é possível observar e questionar neste episódio quase todos os motivos de enfoque de muitas peças/projectos da chamada arte contemporânea. A arte contemporânea apresenta-se como uma arte de ruptura ontológica com toda a arte anterior, desde a arte clássica até ao modernismo. Questiona a função da arte, o conceito de belo, despreza a obra criada para contemplação, contesta o conceito de original, o conceito de valor da obra, o conceito de autoria, etc. Ora, podemos facilmente concluir que este "restauro" de Cecilia Gimenez permite colocar em cima da mesa todos esses conceitos fundadores da arte pré-contemporânea, e questioná-los de uma forma acutilante: o conceito de beleza, de autor, de valor de efemeridade da obra, de original, e até contestar a ilusão de verdade num restauro. Aliás, a intervenção numa obra de arte, alterando-a, questionando-a, ridicularizando-a, não é nada de novo na chamada arte contemporânea. Tem sido um método utilizado frequentemente por autores que pertencem a esse "género artístico" - basta pensarmos na Mona Lisa adornada com bigode de Duchamp. Lembro-me de outro episódio curioso, mediático, cuja notícia li há uns anos, já não sei onde, e que, como veremos, pode ter algumas similitudes com o acto de "restauro" que motivou esta reflexão. Aconteceu com a célebre escultura ''O Beijo'' de Rodin. Uma artista chamada Cornelia Parker, numa exposição que realizou na Tate em 2003, com autorização do museu, pretendeu intervir contemporaneamente na escultura célebre de Rodin, e decidiu cobri-la integralmente por tecido, escondendo assim a peça original. Independentemente das intenções, porventura irreverentes de Cornelia Parker, esta intervenção foi considerada por muitos como vandalismo e mesmo como um insulto à obra de Rodin, e gerou muitos protestos, tendo inclusive provocado uma reacção de protesto público por Piers Butler, que cortou os tecidos que cobriam a escultura, enquanto vários pares se beijavam à volta peça. Apesar de toda a contestação, que como se sabe muitas vezes a chamada arte contemporânea procura, aquela intervenção de Cornélia Parker foi apresentada como arte contemporânea num dos mais prestigiados museus do mundo.
Poder-se-á argumentar que falta ao Ecce Hommo de Cecilia a vontade expressa da sua autora de realmente intervir de uma forma contemporânea. Faltaria no fundo à artista a inspiração/protecção da máxima "Arte é o que artista diz que é arte", divisa tão do agrado de algumas pessoas do meio. É verdade, poder-se-á acreditar que Cecilia pretendia mesmo só "restaurar" o Ecce Hommo, mas o Ecce Hommo já ultrapassou o estreito domínio de Cecilia Jimenez. Hoje agrega todo o fervilhar de notícias e de discussão globalizados. Se inserido num projecto contemporâneo por um curador corajoso(?), pode transformar-se facilmente numa peça contemporânea que nos faz reflectir sobre todas estas coisas, tal como um urinol corriqueiro de uma fábrica de material de casa de banho se transformou pelas mãos e cabeça de Duchamp na Fonte, de facto a fonte de um ciclo novo na história da arte.
Conclusão: esta "obra" de Cecilia Gimenez pode muito bem ser utilizada como peça importante num projecto contemporâneo que pretenda questionar a arte e até curiosamente a própria arte contemporânea e os princípios de transgressão em que assenta. Poder-se-á argumentar, com razão, que afinal qualquer objecto pode fazer parte de um projecto da chamada arte contemporânea, pois o que corporiza a arte contemporânea não são critérios estéticos nem técnicos mas tudo o que acontece à volta do objecto/evento: o mais importante não é o objecto/obra física mas sim a metadata. É verdade, e por isso mesmo este "restauro" contem afinal todos os condimentos necessários para o transformar num ícone contemporâneo.
Estou a brincar mas, como avisei, a falar a sério...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fogo Sobre Fogo Sobre Fogo| ./wikiImages/fogoSobreFogo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Fogo Sobre Fogo Sobre Fogo'', Rebordelo, Agosto de 2012@@//}}}}}}
Estive na segunda semana de Agosto em ~Trás-os-Montes. Fotografei o resultado de um fogo de proporções razoáveis, perto de nossa casa. Com essas imagens criei uma [[série|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/FogoSobreFogoSobreFogo#slideshow/5779173593482143794]]. Juntei algumas fotografias, onde o verde começa a despertar, que fiz de outro fogo que tinha ocorrido o ano passado, bem próximo, num lameiro, no Serro.
Sabem o que me perturba nesta [[série|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/FogoSobreFogoSobreFogo#slideshow/5779173593482143794]] como noutras? O facto de imagens daquela natureza queimada poderem despertar emoções estéticas, como se realmente o fogo pudesse "purificar" o visível. Senti muitas vezes algo parecido ao olhar fotografias de muitos foto-jornalistas, de que o exemplo mais paradigmático será talvez o Sebastião Salgado. Como é possível que o mais forte possa ser uma tal emoção estética perante tanta dor e sofrimento?
Talvez a questão não faça sentido... Afinal, muitas obras-primas da literatura ou da pintura descrevem factos horrendos e tal já não me parece perturbar. Talvez este pudor radique afinal ainda naquela ilusão romântica de que a fotografia é um registo do real.
O título da série roubei-o de uma pequena colecção de pequenos textos, que escrevi em 1998, em resposta ao livro de poemas ''Fogo sobre Fogo'' de Jorge Sousa Braga, e que lhe enviei, junto com a carta que anexo. Na altura ainda não tinha com ele a relação de cumplicidade que alguns anos mais tarde nasceu e que já permitiu a colaboração em dois livros, D’ouro d’Alendouro (2003) e 12 pm (2008).
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Jorge Sousa Braga:
Quantas palavras poderá conter uma gota de água?
Eu prefiro, quase sempre, as gotas de água vazias de palavras. As palavras menos densas do que a água – densidade < 1 – vêm à tona, flutuam e conspurcam a transparência da água. As palavras mais densas do que a água – densidade > 1 – vão ao fundo e perdem-se para sempre. Durante o fim-de-semana, após a apresentação do teu livro na Leitura, li-o e reli-o várias vezes; alguns poemas despertaram-me pequenas reacções/anotações e tive vontade de fazer uma espécie de cantiga ao desafio: responder a cada um daqueles pequenos poemas, construindo como que uma imagem ao espelho do livro. Ao meu espelho. Aliás o título circular do livro quase sugeria essa brincadeira óptica/geométrica.
Fui repetindo as leituras, até que tinha escrevinhado 55 pequenos ‘poemas’/anotações/impressões, um(a) para cada um dos poemas no livro. Afinal, incoerente como sempre, enchera cada gota de água de palavras... Talvez o António Pina tenha razão quando disse na apresentação que entre ler e escrever poesia não há grande diferença. Depois hesitei
sobre o que fazer. Deveria enviar-te o que escrevera? A minha timidez aconselhava-me a não o fazer. Seria pretensiosismo da minha parte enviar aqueles escritos, aqueles rascunhos tão verdes, apesar do prazer que me dera escrevê-los? Deveria deixar amadurecer aqueles rabiscos dentro de uma qualquer gaveta para escritos verdes. Sabia que, mais tarde, teria o argumento fácil da já falta de oportunidade da minha carta, para a não enviar. Depois, olhando para trás, concluí que nunca a minha timidez me servira para nada, a não ser para perder muitos futuros possíveis. A distância que uma carta permite facilitou-me a ousadia.
Se as minhas palavras conspurcarem a transparência da água, basta aumentar-lhes ligeiramente a densidade e afundá-las. Dotei para tal cada ‘poema’ de uma pequena bolsa que pode ser cheia de chumbo líquido.
Tendo cumprido as normas de segurança, em vigor na UE, para projectos de poemas em gotas de água, decidi enviar-tos.
Obrigado
Renato Roque@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Facing My Youth| ./wikiImages/youth1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Facing My Youth'', Figueira de Castelo Rodrigo, em casa da minha avó, Setembro 2012@@//}}}}}}
Fotografar é como fazer pequenos riscos no tempo com a ilusão de que nada será esquecido...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''A MINHA ALTURA''
Era a minha altura. Um livro
em cima da cabeça marcava
o lugar que um lápis semestralmente
riscava na parede da cozinha.
A única sabedoria dos ossos, crescerem
como a teia sólida de um propósito
e a anatomia mais transparente.
Centímetro a centímetro
espigava o corpo imaginário, essa contabilidade
que era assim, íntima, pictórica,
como uma cena burguesa.
Traço a traço a parede da cozinha
tornou-se rupestre,
a infância uma ternura assustadora.
Esta era a minha altura.
Agora sou tão mais alto e mais pequeno.
Pedro Mexia@@}}}}}}
Os Encontros da Imagem em Braga deste ano têm como tema a ''Juventude''. O tema aparece ligado ao facto de Braga ser este ano Capital Europeia da Juventude. A exposição coletiva no Mosteiro de Tibães chama-se por isso "Facing Youth".
Desde sexta-feira última, em que visitei Tibães, que fui ganhando vontade de reflectir por escrito sobre o que lá vi. A principal motivação da escrita é saber que esta é a forma de eu próprio aprender e de conseguir reunir um corpo de pensamento próprio a partir do que vou vendo. Foi procedendo assim que reuni um conjunto de reflexões que foram o ponto de partida para poder publicar recentemente o livro ''Fotografia e Curadoria - Queijo Curado é Outra Coisa''.
Decidi depois colocar a mim próprio o desafio de construir [[uma série|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/AoEncontroDosEncontros#slideshow/5793275894546424882]], a partir das imagens que fiz durante a visita aos Encontros da Imagem de Braga no dia 21 de Setembro de 2012, e que traduzisse o conjunto de reflexões que as exposições me suscitaram e que reflectisse também o meu estado de espírito ao deambular pela cidade de exposição em exposição. O destino da maior parte [[dessas imagens|https://picasaweb.google.com/114896269543768506710/AoEncontroDosEncontros#slideshow/5793275894546424882]] , depois de usar uma ou outra no Facebook ou aqui nesta espécie de blog, seria a arrecadação imensa de imagens passadas. E essa foi outra reflexão que este exercício tornou possível.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Mais Um Objecto Insólito Pousado Na Paisagem| ./wikiImages/FCR02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Mais Um Objecto Insólito Pousado Na Paisagem'', perto de Vale da Coelha, Almeida, Setembro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Sob o chuveiro amar''
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
Ou na banheira amar, de água vestidos,
Amor escorregante, foge, prende-se,
Torna a fugir, água nos olhos, bocas,
Dança, navegação, mergulho, chuva,
Essa espuma nos ventres, a brancura
Triangular do sexo é água, esperma,
É amor se esvaiando, ou nos tornamos fonte?
//Carlos Drummond de Andrade//@@}}}}}}
PS: as séries regressam de quando em vez com naturalidade.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[A Poesia Saiu de Novo à Rua| ./wikiImages/manif1509_11.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Poesia Saiu de Novo à Rua'', Porto, Avenida dos Aliados, 15 de Setembro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
//Sophia de Mello Breyner Andresen//@@}}}}}}
Fazer política é intervir na vida em sociedade, participar na polis, na vida da cidade. Por isso considero que todos os meus "posts", aqui nesta espécie de blog, são de alguma forma políticos. Ao contrário do que considera muita gente, que resume a política à vida dos partidos, todos fazemos política todos os dias, mesmo quando afirmamos peremptoriamente que não o fazemos. Mas a política não costuma estar tão à superfície das águas aqui. Mas vivemos um tempo perigoso e de excepção e, por isso, este post também tem de ser excepcional, porque é urgente correr com este governo que, para além de ser varrido, deveria com outros personagens da seita ser julgado nos tribunais por gestão dolosa e talvez mais algumas coisas.
A foto foi feita no fim da manifestação de 15 de Setembro no Porto, já quase noite, quando se cantava a "Grândola, Vila Morena".
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Dança Macabra| ./wikiImages/boltansky1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Dança Macabra'', Fábrica ASA, Guimarães, Setembro 2012@@//}}}}}}
Estive a semana passada em Guimarães para visitar, entre outras coisas, a exposição "Dança Macabra" do Boltansky. Este autor tem abordado muitas vezes o tema da identidade, da vida e da morte, recorrendo frequentemente ao usa da fotografia, como acontece no conhecido trabalho "Les Suisses Morts", mostrado já várias vezes em Portugal. Por isso me interessava tanto.
Confesso que "Dança Macabra" me suscita algumas perplexidades. Creio que ninguém ficará indiferente à instalação, pois, se ela contém um lado macabro, ao percebermos os casacos mobiles como símbolos de gente morta, como roupa que traz consigo o cheiro e até porventura o formato de corpos que se desfizeram, ou se desfazem, contém também algo de espectacular e até de lúdico, que divertirá tantos visitantes, a brincar por entre os casacos, gabardinas e sobretudos, que se arrastam num círculo vicioso na sala da fábrica ASA.
É esse lado lúdico, espectacular, de entretenimento, a que a chamada arte contemporânea tantas vezes recorre, que me causa algumas cócegas no umbigo, para as quais não conheço o anti-alérgico indicado.
Parecer-me-ia um trabalho muito mais indicado como cenário de teatro, onde adquiriria com toda a certeza todo o dramatismo que potencialmente contém, mas que estou certo muitas vezes se não revela, disfarçado por aquele jogo de carrossel.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[O Restaurante Santa Cruz| ./wikiImages/boticas28_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da [[série|https://www.facebook.com/photo.php?fbid=542400519110812&set=a.542396299111234.144774.100000226070829&type=3&theater]] ''A minha última viagem por ~Trás-os-Montes'', Boticas, Outubro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''As Gavetas''
Não deves abrir as gavetas fechadas
por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora a chave
é um acaso que podes ignorar.
Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel,
fotografias, objectos.
Dentro das gavetas está a imperfeição
do mundo, a inalterável imperfeição,
a mágoa com que repetidamente te desiludes.
As gavetas foram sendo preenchidas
por gente tão fraca como tu
e foram fechadas por alguém mais sábio do que tu.
Há um mês ou um século, não importa.
Pedro Mexia@@}}}}}}
A última vez que tinha visitado Boticas tinha sido há mais de vinte anos. Quando entrei na vila (cidade?) na última sexta-feira, depois de várias rotundas, que por lá pululam, como por por todas as terras do interior, quase sempre engalanadas por fontanários ou esculturas de gosto duvidoso, não reconheci nada. Parecia ser uma terra diferente.
Lembrava-me de ter almoçado da última vez num restaurante tradicional, onde tinha sido bem servido. Tinha sido aí que bebera, pela primeira vez e última, o chamado vinho dos mortos, receita que "devemos" às invasões francesas e à capacidade de improvisação dos lavradores portugueses, que engendraram uma forma de impedir o roubo do seu vinho. Esconderam-no, enterrando-o. O resultado foi o tal vinho dos mortos, que parece que tem um travo especial que o distingue, por permanecer durante um determinado período de tempo enterrado, em condições especiais de temperatura e humidade; não sei exactamente como nem porquê. E digo "parece" porque bebi-o daquela vez mas não me consigo lembrar bem do paladar e por informação de pessoas com quem falei desta vez, parece haver muitas imitações, que mais não são do que o vinho tradicional a que colam o rótulo da estadia nas terras de Hades. Para atravessar o rio Aqueronte é necessário dar a moeda da passagem ao barqueiro. Mas essa gente não está disposta a gastar o que é devido a Caronte, preferindo enganar os ingénuos.
Lembrava-me de que o restaurante ficava na beira da estrada nacional, numa subida, e que tínhamos almoçado numa varanda virada para o exterior.
Mas o restaurante não aparecia. Perguntámos e lá acabámos por descobri-lo, fora do local onde nos parecia que ele deveria estar. Soubemos então que o restaurante Sta Cruz já fechou há cerca de 20 anos, mas a dona teimosamente continua a habitar no edifício e mantém tudo como se tivesse fechado na semana passada. Como se o tempo tivesse parado. A varanda onde almoçáramos lá estava. [[Fotografei|https://www.facebook.com/photo.php?fbid=542400519110812&set=a.542396299111234.144774.100000226070829&type=3&theater]]
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O tempo às vezes é opaco. Fechamos o tempo em pequenas gavetas e não conseguimos ver o outro lado do tempo.
Se abrimos as gavetas, o tempo torna-se sólido, pregado com pregos no presente.
Mas quase sempre o tempo é translúcido. Através do tempo pressentimos as sombras do passado.@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[O fim do Verão entristece-me sempre| ./wikiImages/mat120916_13_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''O fim do Verão entristece-me sempre'', Matosinhos, Setembro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Contemplo o que não vejo''
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"@@}}}}}}
Desde há uns anos que o Verão passa a correr. De Maio a Outubro é uma pressinha. O tempo acelera. Talvez tal efeito se deva um fenómeno estranho explicado pela Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos [[(TRRS)|http://www.renatoroque.com/rroque/trrs.htm]]. Talvez os sonhos acelerem mais no Verão e provoquem tal contracção do tempo. Talvez os sonhos acelerem mais durante os longos dias estivais, talvez a luz do sol influencie a taxa de aceleração.
Cada ano ao regressar de Figueira, da visita anual com a minha mãe à casa da minha avó, sei que os dias grandes acabaram. E o fim do Verão entristece-me...
Nota: a maioria das fotos que reuni ao longo de muitos anos - em filme e a partir de 2005 em suporte digital - estão guardadas em arcas do futuro. São do futuro, tive o cuidado de me certificar, mas não tenho a certeza de um dia as voltar a abrir. Quem conhece a TRRS, sabe do que falo. A utilização de espaço virtual, tal como o que oferece o Facebook ou o Picasa, permite-me(?) ter a ilusão de que consigo uma arca do futuro mais amigável (//user-friendly// como se diz no software) e com maior probabilidade de vir a ser aberta. Decidi por isso criar no Picasa este pequeno [[álbum|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.538283179522546.143869.100000226070829&type=3]] rascunho, a que chamei [[O fim do Verão entristece-me sempre|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.538283179522546.143869.100000226070829&type=3]]
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Último retrato| ./wikiImages/retrato.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Último retrato'', Rebordelo, Novembro 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;"To photograph people is to violate them, by seeing them as they never see themselves, by having knowledge of them they can never have; it turns people into objects that can be symbolically possessed. Just as the camera is a sublimation of the gun, to photograph someone is a sublimated murder—a soft murder, appropriate to a sad, frightened time."
Susan Sontag in Plato’s Cave@@}}}}}}
É terrível, não é? Faz-nos pensar, não faz? Será por ter esta subpercepção ao nível do subconsciente que nunca publiquei fotos com pessoas - "publiquei" quer dizer aqui em livro ou em exposições - e mesmo no Facebook e nesta minha espécie de blog a percentagem de imagens com rostos humanos é pequena. Não sei... É verdade que sinto muitas vezes um certo pudor em carregar no "gatilho" e em "disparar" sobre os inocentes, mas isso nem sempre acontece ou, se acontece, muitas vezes cubro o pudor com despudor e lá vou fotografando e encurralando rostos de gente em pequenas caixas que foram de prata e hoje são feitas de uns e de zeros. Será esse pudor coberto de despudor que no fim não me deixa publicar?
~PS1: Esta é a última fotografia que fiz de uma pessoa. Na feira de Rebordelo, dia 4 De Novembro de 2012.
~PS2: O ensaio da Susan Sontag foi publicado em conjunto com outros ensaios pela Quetzal num livro chamado "Ensaios Sobre Fotografia", com tradução do José Afonso Furtado. Aconselho.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Com que palavras?| ./wikiImages/livros.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, do livro ''Uma Luz de Papel'', comemorativo do 95º aniversário da Livraria Académica, onde M.A. Pina participou, editado em 2007@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
As palavras (o tempo e os livros que
foram precisos para aqui chegar,
ao sítio do primeiro poema!)
são apenas seres deste mundo,
insubstanciais seres, incapazes também eles de compreender,
falando desamparadamente diante do mundo.
As palavras não chegam,
a palavra azul não chega,
a palavra dor não chega.
Como falaremos com tantas palavras? Com que palavras e sem
[que palavras?
E, no entanto, é à sua volta
que se articula, balbuciante,
o enigma do mundo.
Não temos mais nada, e com tão pouco
havemos de amar e de ser amados,
e de nos conformar à vida e à morte,
e ao desespero, e à alegria,
havemos de comer e de vestir,
e de saber e de não saber,
e até o silêncio, se é possível o silêncio,
havemos de, penosamente, com as nossas palavras construí-lo.
Teremos então, enfim, uma casa onde morar
e uma cama onde dormir
e um sono onde coincidiremos
com a nossa vida,
um sono coerente e silencioso,
uma palavra só, sem voz, inarticulável,
anterior e exterior,
como um limite tendendo para destino nenhum
e para palavra nenhuma.
Manuel António Pina@@}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Lembro-me de ter ouvido o M.A. Pina, quando o interrogavam sobre a forma de escrever poesia, contar mais do que uma vez uma história, parece que verídica, envolvendo o poeta Mallarmé e o pintor Degas . O pintor Degas terá comentado um dia, ao visitar o amigo Mallarmé, que possuía muitas boas ideias que poderiam ser utilizadas para escrever grandes poemas. Mallarmé teria respondido com assertividade que os poemas não se escrevem com ideias mas com palavras.
Para validar esta ideia do poeta, curiosamente descrita com palavras, decidi experimentar. Construí um mecanismo engenhoso, com uma peneira de grão fino, regulada para a dimensão da poesia, montando-a sobre uma estrutura em arame, colocada sobre uma caixa de papelão cinzento de grande formato. Peguei em seguida em cada um dos seis volumes do Houaiss e despejei na peneira todas as palavras, página a página, de A a Z, para separar as palavras necessárias para construir um novo poema de M.A. Pina, um poema que ele escreveria se não tivesse sido forçado a partir. Porque esta era a única homenagem adequada.
Depois de algumas horas de joeira, já com os braços dormentes, cheguei ao "zzz..." e observei que todas as palavras tinham caído na caixa; nenhuma ficara retida no reticulado da peneira. Diminuí então a secção da peneira e repeti a operação; fi-lo várias vezes, mas o resultado foi sempre o mesmo. Experimentei ainda juntar ao Houaiss dicionários de sinónimos e de antónimos, dicionários de calão, dicionários de rimas fáceis e difíceis e de cada vez restava um vazio de palavras na rede da peneira; as palavras caíam todas e transbordavam da caixa que colocara por debaixo para as aparar. Perdia de cada vez algum tempo a procurar algumas palavras mais matreiras que aproveitavam a ocasião para se esconder em vários pontos da sala. Encontrei várias vezes um "cotão" debaixo do sofá, um "pó" por detrás dos livros nas estantes e um "lixo" sob a carpete.
Percebi então que, ao contrário do que afirmara Mallarmé e em que M.A. Pina parecia acreditar, a poesia, se não se constrói com ideias, também não se constrói com palavras . A poesia constrói-se com nada. O material, como sempre, tinha razão. Há nada e surge o poema. A poesia é o que conhecemos que mais se aproxima do milagre de multiplicação dos pães e do vinho, com a diferença de que, em vez de multiplicar uma existência, cria uma existência a partir de uma não existência. Existe subitamente um poema onde antes nada existia. Talvez cada poema nos permita aproximar da compreensão do Big Bang. É a única excepção conhecida à lei da conservação da energia, a única experiência que contraria o célebre principio de Lavoisier "Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Por isso não há poesia sem poetas; e eu não fui capaz de joeirar o teu poema, que procurava para te oferecer e homenagear.@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Die Kunst ist Kacke| ./wikiImages/sontag08.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Die Kunst ist Kacke'', Serralves, BES Revelação, Janeiro de 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Even in the nineteenth century, when photography was thought to be so evidently in need of defense as a fine art, the line of defense was far from stable. Julia Margaret Cameron’s claim that photography qualifies as an art because, like painting, it seeks the beautiful was succeeded by Henry Peach Robinson’s Wildean claim that photography is an art because it can lie. In the early twentieth century Alvin Langdon Coburn’s praise of photography as “the most modern of the arts,” because it is a fast, impersonal way of seeing, competed with Weston’s praise of photography as a new means of individual visual creation. In recent decades the notion of art has been exhausted as an instrument of polemic; indeed, a good part of the immense prestige that photography has acquired as an art form comes from its declared ambivalence toward being an art.
Susan Sontag in ''On Photography''@@}}}}}}
O BES Revelação é supostamente um concurso na área da fotografia*. Mas aparentemente a fotografia, que parece de alguma forma condenada a estar assombrada pelo espectro da beleza (ver uma vez mais os ensaios de Susan Sontag sobre fotografia e beleza), não é capaz de produzir verdadeira caca. Pode ser bela, pode mentir, pode produzir uma visão de autor, mas é incapaz de cheirar mal. Podemos por isso desculpar ao júri de um PRÉMIO de fotografia aceitar peças como esta....
Nota: Ainda não visitei o prémio deste ano, mas quando o fizer se tiver de dizer alguma coisa, di-lo-ei aqui nesta espécie de blog.
@@font-size:10px;*Ver lista das condições que os projectos devem respeitar no regulamento do prémio BES Revelação: "Projecto/trabalho em fotografia, impressão digital, slide 35 mm, ou diapositivo." Apesar de confuso (Porquê impressão digital? Porquê só slide em 35 mm? Qual a diferença entre slide e diapositivo?) afirma claramente projecto em fotografia!@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e Narrativa| ./wikiImages/sontag06.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Uma história simples'', metro de Lisboa, Dezembro2012@@//}}}}}}
Li nos últimos dez anos dois livros que marcaram decididamente a forma como sinto a fotografia. O primeiro, ''Câmara Clara'' de Roland Barthes, levou-me de imediato a sentir a necessidade de escrever um pequeno ensaio em que, de alguma forma, pretendia demonstrar como o texto de Barthes, se era importante e mesmo interessante, era ao mesmo tempo fortemente redutor e mesmo castrador relativamente à fotografia. O segundo, ''Ensaios Sobre Fotografia'' (On Photography) de Susan Sontag é bastante mais difícil de digerir. É impossível ficar-lhe indiferente. Todos os fotógrafos, em particular os foto-jornalistas e os fotógrafos documentais, deveriam ser obrigados a lê-lo e a estudá-lo. A questão que se me põe é sobretudo saber, não se Sontag tem razão, mas se, como Barthes, ela não tem a razão toda. Não é para mim tão fácil encontrar os terrenos de fuga, as pedras no leito do rio, para fotógrafos que como eu queiram escapar ao triste fado que Sontag nos canta. Como quando afirma que a fotografia por si é incapaz de contar uma história, de revelar a verdade, é incapaz de "falar". Sontag cita Walter Benjamin, que afirmou em 1934, numa conferência em Paris, no Institute for the Study of Fascism :
@@color(#666666):"//The camera is now incapable of photographing a tenement or a rubbish-heap without transfiguring it. Not to mention a river dam or an electric cable factory: in front of these, photography can only say, ‘How beautiful.’ It has succeeded in turning abject poverty itself, by handling it in a modish, technically perfect way, into an object of enjoyment. "//@@
@@color(#444444)://Moralists who love photographs always hope that words will save the picture. (The opposite approach to that of the museum curator who, in order to turn a photojournalist’s work into art, shows the photographs without their original captions.) Thus, Benjamin thought that the right caption beneath a picture could “rescue it from the ravages of modishness and confer upon it a revolutionary use value.” He urged that writers start taking photographs, to show the way.
Socially concerned photographers assume that their work can convey some kind of stable meaning, can reveal truth. But partly because the photograph is, always, an object in a context, this
meaning is bound to drain away; that is, the context which shapes whatever immediate—in particular, political— uses.
Susan Sontag//@@
Quantas histórias poderiam as minhas fotografias feitas no metro em Lisboa, há uns dias atrás, contar? A história que eu contei não é a verdade, isso eu sei.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Postal de Natal 2012| ./wikiImages/postal2012_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Postal 2012'', Dezembro2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Natal ~Up-To-Date''
Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década
Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público
Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas
Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido
Assim a noite passa. E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco
David ~Mourão-Ferreira@@}}}}}}
Confesso que tenho dificuldade em compreender este gesto repetido, quase mecânico, de amigos, pessoas sensíveis e inteligentes, de enviar postaizinhos bonitinhos com neve, com pais-natais, com pinheirinhos e luzinhas, a desejar Boas Festas e um Bom Ano, como se fosse possível termos Boas Festas e um Bom Ano enquanto bandidos destroem o país.
Recuso-me também a aceitar a sigla estéril de tanta gente, PR incluído, "Um bom ano na medida possível". O que é possível depende de nós e, se nada se fizer, o que é possível vai ser muito MAU.
Decidi por isso fazer um postal para esta minha espécie de blog, a desejar um 2013 DIFERENTE, que tem de ser desejado e construído por nós!
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[A Origem da Obra de Arte| ./wikiImages/heidegger01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Estas chinelas são uma coisa, estas chinelas são um um utensílio. A fotografia das chinelas é uma coisa, é um utensílio, poderá eventualmente constituir uma obra'', Escalhão, Setembro de 2012@@//}}}}}}
A minha espécie de blog funciona como um caderno de registos. Foi aqui que nasceram as reflexões escritas que acabariam por dar origem ao livro [[''Fotografia e Curadoria''|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85O]].
Um desafio que aceitei (levianamente?) de escrever um ensaio sobre fotografia e beleza, depois de um primeiro artigo suscitado pelos ensaios de Susan Sontag, para em princípio publicar também na colecção [[REFLEX|http://www.theportfolioproject.org/books]], tem-me obrigado a ler uma série de livros. Tenho entre mãos um livrinho de Martin Heidegger que não é, como se costuma dizer, pera doce. Pequenino, mas difícil de enfrentar. O ensaio, publicado em 1950, chama-se ''A Origem da Obra de Arte'' e parece ser um texto fundamental sobre arte e beleza desse filósofo alemão. O primeiro capítulo tem como título ''A Coisa e a Obra'' e nele Heidegger começa por afirmar que a obra de arte é uma coisa, mas uma coisa especial.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Todas as obras têm este carácter de coisa[Das Dinghaft]...A tão evocada vivência estética não passa sem o caráter de coisa da obra de arte...Mas a obra de arte, além do caráter de coisa, é ainda algo de outro. Este algo de outro que está nela constitui o artístico.@@}}}}}}
Depois Heidegger procura clarificar o que é afinal uma coisa.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
As coisas da natureza e as de uso são as que habitualmente chamamos de coisas....A pedra no caminho é uma coisa e também o torrão de terra. A jarra é uma coisa bem como a fonte no caminho. Mas o que dizer do leite na jarra e da água da fonte? Também estes são coisas, se as nuvens no céu e o cardo no campo, se a folha no vento do outono e o açor sobre a floresta se denominam de facto coisas. Tudo isto tem que ser efectivamente denominado uma coisa, se até se designa com o nome coisa o que propriamente não se mostra, como as coisas que referimos, quer dizer, o que não aparece. Uma tal coisa, que como tal não aparece, uma "coisa-em-si", é, segundo Kant, por exemplo, a totalidade do mundo ou até mesmo o próprio Deus. Coisas-em-si e coisas que aparecem (que se vêem), todo ente que é, chama-se na linguagem filosófica uma coisa. Ou seja, a palavra coisa nomeia seja o que for que simplesmente é não-nada...@@}}}}}}
Depois Hedegger procurar sistematizar os elementos que constituem as coisas e analisa várias possibilidades. Uma coisa como substância+acidentes ou como matéria+forma ou como conjunto de sensações. E concluímos que há três tipos de coisas: as coisas propriamente ditas, os utensílios - coisas construídas para desempenhar uma determinada função - e as obra de arte. Para compreender a essência da obra de arte, Heidegger utiliza o conhecido quadro de Van Gogh, que representa umas botas de camponês, ou seja uma coisa que representa outra coisa que neste caso é um utensílio, um par de botas.
Perante o quadro de Van Gogh afirma que a obra desvenda uma verdade.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
O ser-utensílio do utensílio foi encontrado. Mas como? Não através de uma descrição e comentário de um utensílio-sapato realmente existente; não através de um relato sobre o processo da fabricação de sapatos; também não através da observação de uma real utilização do utensílio-sapatos que aconteceu aqui ou ali, mas, sim, somente através do facto de nos colocarmos diante do quadro de Van Gogh. Este falou-nos. Na proximidade da obra, estivemos repentinamente em outro lugar diferente do que habitualmente costumamos estar. A obra de arte deu a conhecer o que o utensílio-sapatos é em verdade...Na obra de arte, torna-se visível a verdade do ente.@@}}}}}}
E chega depois no fim do capítulo à parte que mais me interessou.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Até agora a arte só tinha a ver com o Belo e a Beleza e não com a Verdade. Por isso as artes que produzem tais obras se chamam Belas-Artes em oposição às artes manuais, que fabricam utensílios...Mas se a arte é o "pôr-se em obra a verdade" dever-se-ia retomar a ideia, felizmente ultrapassada, de que a arte é uma imitação e uma cópia do real? A conformidade com o ente real vale há muito como a essência da verdade. Mas então achamos que aquele quadro de Van Gogh copia um par existente de sapatos de camponês e é, desse modo, uma obra de arte, porque consegue fazê-lo bem? Achamos que o quadro retira do real efetivo uma cópia e a transforma em obra de arte? De modo algum. Na obra de arte não se trata de uma reprodução de cada ente singular existente. Muito pelo contrário, trata-se da reprodução da essência geral das coisas...A obra de arte abre inauguralmente à sua maneira o ser do ente. Na obra acontece esta abertura inaugural, ou seja, o revelar, ou seja, a verdade do ente. Na obra de arte a verdade do ente revela-se em obra. A arte é o pôr-se-em-obra da verdade. @@}}}}}}
Não é fácil pois não? Não, mas desconfio que o meu próximo ensaio vai ser sobre a fotografia e a verdade. Depois da beleza a verdade. Sem voltar aos gregos que confundiam beleza com verdade.
Há uns tempos, nas conversas que mantemos acerca das minhas reflexões escritas, o Luís Tobias escreveu "ARTE é COMUNICAÇÃO, com ÉTICA E COM ESTÉTICA". Estaria a dizer o mesmo por outras palavras?
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/noe01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem de ''Arca de Noé'', um projecto sobre Museus de História Natural, à espera de se revelar@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Zebra
liberta
no campo
o teu belo
cavalo branco
in Animal Animal um Bestiário Poético - antologia organizada por Jorge Sousa Braga@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Auto-retrato voyeurístico em vídeo de Julião Sarmento| ./wikiImages/JS05.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Auto-retrato voyeurístico em vídeo de Julião Sarmento'', em exposição de Julião Sarmento em Serralves, Janeiro 2013@@//}}}}}}
Aqueles que lêem o que vou escrevendo nesta espécie de blog e noutros sítios, sabem que uma das razões por que escrevo é tentar arrumar as ideias. A escrita obriga-me a depurar as ambiguidades e a aprofundar os argumentos. Depois de visitar em Serralves a grande exposição retrospectiva de Julião Sarmento, um dos autores com maior visibilidade em Portugal, achei que tinha de passar a escrito algumas das minhas reflexões. Vou concentrar-me na fotografia, não porque não tenha também opinião sobre o resto das técnicas que Julião Sarmento utiliza, mas porque a fotografia é o que mais me interessa e porque, por razões óbvias, serão opiniões muito mais fundamentadas.
Ao analisar o que nos apresenta a exposição em fotografia - conhecia alguns trabalhos de JS, outros não - verificamos facilmente que tudo, ou quase tudo, se integraria facilmente naquilo a que chamou o movimento conceptualista em fotografia, com particular expressão no fim da década de 60 e na década de 70. De facto, alguns trabalhos são inspirados directamente em trabalhos muito próximos de Ed Ruscha (a série das casas e apartamentos) em Dibbets (a sequência de fotos com diferentes exposições) ou em John Baldessari (as fotografias e séries com textos inscritos e outras séries como a série dos duplos). Estes trabalhos levantam uma questão de imediato, que já coloquei em cima da mesa noutras ocasiões: quando nos movemos no seio do conceptualismo, fará muito sentido repetir um conceito? De facto, na arte anterior, ao que se chamou de arte contemporânea, fazia sentido repetir temas, pois o autor acrescentava sempre algo de seu. Os critérios eram técnicos e estéticos e só assim se compreende os muitos milhares de Madonas, pintadas por centenas de pintores, com estilos diferentes, com técnicas diferentes, todas com o mesmo tema mas todas com razão de ser. Mas quando se põem em causa esses critérios, quando se repudiam as qualidades formais e estéticas da obra, fará sentido repetir? O que se acrescenta? Repetir um conceito ainda é arte ou é mera divulgação? Esta é uma das contradições óbvias da chamada arte contemporânea. A chamada arte contemporânea tem apertado os caminhos da arte e esses caminhos cada vez mais estreitos não comportam o número de artistas a querer passar por esse funil. Este constrangimento associado a outras razões tem conduzido muitas vezes nos últimos anos a saídas sub-reptícias do campo estreito da chamada arte contemporânea, para tentar manter o atributo "contemporâneo" que hoje é valioso. Mas isso seria assunto para outro post.
Deixei para o fim aquele que me parece o trabalho mais interessante, sobre o pretenso quarto de hotel, onde os pais de Julião Sarmento teriam passado a lua-de-mel e onde o artista teria sido concebido. Esta história, tive a sorte de a ouvir durante a visita de uma escola, que apanhei nessa sala por acaso. E desde já uma pergunta: porque razão parece haver esta tendência a tantas vezes não revelar informação contextual tão importante para a compreensão de uma obra? Antes de ouvir esta informação tinha percebido que eram imagens de um ou mais quartos, que teriam algum significado importante para o autor. O título dá uma pista subtil(1947), Julião Sarmento nasceu a 48, mas é insuficiente. As imagens em grande formato, muito negras e com grande contraste, lembram o universo estético de Nozolino, ainda que Nozolino seja mais rigoroso nas impressões. Cada imagem é acompanhada de uma placa com as mesmas dimensões, pousada no chão, junto a cada fotografia, forrada a tela azul, que interpretei como uma óbvia referência à memória vazia de imagens (porquê azul, JS terá as suas razões), que Julião Sarmento só preencheu com a ajuda dos pais, e por isso a placa central que dedica este trabalho à memória de outro. Muitas das nossas memórias são-nos emprestadas e muitas vezes nem as distinguimos com precisão daquelas que são genuinamente nossas. Em minha opinião estas placas são esteticamente inadequadas, são forçadas porque desnecessárias, e porque parecem apenas um adorno artificial para obter para este trabalho o carimbo de conceptual e de contemporâneo. O trabalho não o exigia, e as placas espalhadas pela sala acabam por contrariar a sua simplicidade e, dessa forma, destruir a sua envolvente poética.
Já agora uma pergunta ao museu. Aceito que Julião Sarmento possa usar muitos títulos em línguas estrangeiras, nomeadamente em inglês, mas porque não foram tantas vezes esses títulos traduzidos nas etiquetas informativas junto a cada trabalho? Em muitos países da Europa tenho sido confrontado com situação inversas, por exemplo na Alemanha com títulos apenas em alemão, mas parece-me estranho em Portugal aparecer informação apenas numa língua estrangeira.
~PS1 - Já agora, para quem se interessa por estas matérias o Paulo Cunha e Silva publicou um artigo chamado [[A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS|http://www.artecapital.net/estado_arte.php?ref=30]] e eu respondi a algumas das suas propostas numa nota chamada [[Reflexões a partir do artigo do Paulo Cunha Silva|https://www.facebook.com/notes/renato-roque/reflex%C3%B5es-a-partir-do-artigo-do-paulo-cunha-silva-a-obra-de-arte-o-sistema-e-os-/471533902909030]]
~PS2 - Independentemente das minhas críticas, a exposição Noites Brancas de JS merece uma visita. Visitem e digam o que pensam.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Tua pele ser pele da minha pele| ./wikiImages/nu03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Tua pele ser pele da minha pele'', foto que integra um eventual 2º projecto de nus, 2012@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele.
David ~Mourão-Ferreira@@}}}}}}
Nunca tinha fotografado nu. E se tinha alguma vez pensado nisso - talvez tivesse, quem não pensou, ao ser confrontado com os nus de tantos autores brilhantes ao longo da história da fotografia - com certeza, depressa, pus de lado esses pensamentos, não por serem pecaminosos, não, mas porque a minha relação com a fotografia nunca foi nesse sentido e não me via a contratar modelo para tal. Mas o desafio do meu amigo Jorge Pedra para fotografar nu num espaço muito especial em 2008 foi irrecusável.
Uma questão pertinente perpassou o meu pensamento desde que realizámos as imagens e discutimos o que fazer com elas. Será ainda possível uma abordagem que ainda não tenha sido tomada? Seremos capazes de olhar e de pensar o nu de uma forma diferente não-redundante não-insignificante?
A verdade é que assumimos este risco e estamos hoje a preparar os dois, com a colaboração de duas escritoras amigas e de um designer, um projecto fotográfico a partir de um conjunto de imagens que fizemos há mais de 4 anos. É um projecto em que procuramos nos distanciar de uma visão erotizada do corpo. Fizemos depois em 2012 uma segunda série de fotos muito diferentes, num noutro espaço, a que pertence esta imagem, para um eventual 2º projecto(?) que ainda não sabemos se irá acontecer.
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|bgcolor(#ffffff):[img[A morte é uma flor que só abre uma vez| ./wikiImages/florMorte01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''A morte é uma flor que só abre uma vez'', Rebordelo, a caminho de Vale de Armeiro, Janeiro 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''A MORTE''
A morte é uma flor que só abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.
Abre sempre que quer, e fora de estação.
E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.
Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.
//Paul Celan//@@}}}}}}
Nota: fui convidado para fazer a fotografia para o "flyer" da ''Quintas de Leitura'' de Fevereiro, que vai ser inspirada no poema de Paul Celan. Esta imagem pertence à série que realizei. A escolhida foi outra, que o TCA começou a divulgar.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[A morte é uma flor que só abre uma vez| ./wikiImages/quintaFev2013_02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''A morte é uma flor que só abre uma vez'', Janeiro 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''A MORTE''
A morte é uma flor que só abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.
Abre sempre que quer, e fora de estação.
E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.
Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.
//Paul Celan//@@}}}}}}
Nota: esta foi a imagem seleccionada para o "flyer" da ''Quintas de Leitura'' de Fevereiro 2013, a partir do poema de Paul Celan, com poemas seleccionados por Paula Moura Pinheiro. Se arranjarem bilhete, apareçam.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Azul é sempre bonito| ./wikiImages/Besrev02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Azul é sempre bonito'', BES Revelação 2012 , Fevereiro 2013@@//}}}}}}
Fui a Serralves para visitar, como costumo fazer todos os anos, o BES Revelação. Tal como uma vez já aqui afirmei o BES Revelação é supostamente um concurso na área da fotografia (ver regulamento), mas que nos surpreende ano ano após ano, por vezes até com peças que de fotografia nada têm, a não ser porventura as fotografias das peças para o catálogo...
Este ano deixei-me surpreender por um trabalho chamado AZUL. Claro que "AZUL" é sempre bonito, e então em inglês onde permite múltiplas leituras... Depois de ver 3 imagens de uma casa com piscina, quase idênticas, e de fraca qualidade, fui surpreendido, lá mais para a frente na visita por uma sala com um cordinha na entrada para impedir a passagem. O chão estava coberto por um plástico azul claro, tipo plástico de saco de lixo e, como da última vez que tinha tentado visitar a exposição, me tinham informado que a casa estava em manutenção e não podia visitá-la, pensei que entraria água por algum lado e que o plástico protegeria o soalho. Mas verifiquei depois que do outro lado da sala não havia corda e entrei para fazer umas fotos, mas acabei por reparar que havia uma legenda com o tal nome "AZUL" e percebi que afinal essa cobertura integrava o trabalho. Tinha eu acabado de ser abanado com esta brilhante dedução, quando um menino e uma menina que guardavam a exposição se põem a gesticular nervosamente, que eu não podia pôr os pés em cima da obra! Bem, não foi a primeira nem vai ser a última vez que com certeza vou pisar uma obra de arte.
Depois li com atenção o que é dito no jornal de Serralves sobre o trabalho:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
"Projecto em fotografia analógica, ampliada a partir de processos digitais. As imagens correspondem a planos, muito semelhantes, de uma piscina que pertence ao Clube Aquático Bosque da Saúde, em S. Paulo, e que a artista captou desde a varanda de sua casa em Novembro de 2011. No centro deste trabalho estão as ideias de série, de aparente repetição e de pequenas diferenças. Interessou-lhe relacionar o carácter imutável da arquitectura com a forma como alterações climatéricas, mesmo que subtis" - muito subtis, digo eu, pois não se notam - podem transformar a nossa percepção dos objectos."
@@}}}}}}
"No centro deste trabalho estão as ideias de série, de aparente repetição e de pequenas diferenças"?? Mas quantos artistas já fizeram isto antes e melhor? Basta ver por exemplo a conhecida série //"Throwing three balls in the air to get a straight line (best of thirty-six attempts)"// que junta à ideia da série, de 36 imagens já agora, e não por acaso, o sentido de humor. Um dos problemas do conceptualismo, como referi várias vezes, é que repetir conceitos, para mais sem sequer qualidade nas imagens, é como "as maçãs do rosto de uma mulher que lembram uma rosa" de Dali:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
O primeiro homem a comparar as maçãs do rosto de uma mulher com uma rosa foi com certeza um poeta; o primeiro que o repetiu era possivelmente um idiota.
Salvador Dali@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[A morte é uma flor que só abre uma vez| ./wikiImages/parque01_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''Não-lugares'', Mirandela, Fevereiro Janeiro 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!
Todos, todos! A hora passa,
O gênio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.
A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim,
Convoca, e, erguendo-os um a um,
Vibra, clarim!
...
in Mensagem de Fernando Pessoa@@}}}}}}
Este governo de facínoras pretende transformar Portugal num não-lugar. Convoca toda a gente, vibra ó clarim!
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Aquela palmeira existe| ./wikiImages/figueira02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série na praia da Figueira da Foz, Março 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
É uma palmeira triste
as folhas deixam-se cair
Aquela palmeira existe
porque só sabe existir
Ali na areia enterrada
pode ver tão perto o mar
Naquela tristeza amarrada
nem pensa em lá chegar@@}}}}}}
PS - Cada um de nós é como aquela palmeira enterrada. Seremos capazes de caminhar à procura do mar?
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[até a voz do mar se torna exílio| ./wikiImages/matosinhos_130306_01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''Anteontem em Matosinhos'', Matosinhos, Março 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''EXÍLIO''
Quando a pátria que temos não a temos
perdida por silêncio e por renúncia
até a voz do mar se torna exílio
e a luz que nos rodeia é como grades
//Sophia de Mello Breyner Andresen//@@}}}}}}
É nossa responsabilidade romper o silêncio...
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Chama-se Poesia Tudo Aquilo que Fecha a Porta aos Imbecis| ./wikiImages/imbecis02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Porta da Poesia'', Porto, 2008@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
“A poesia tem uma porta hermeticamente fechada para os imbecis, aberta de par em par para os inocentes. Não é uma porta fechada com chave ou com ferrolho, mas sua estrutura é tal que, por mais esforço que façam os imbecis, não conseguem abri-la, enquanto cede à simples presença dos inocentes. Não há nada mais oposto à imbecilidade que a inocência. A característica do imbecil é sua aspiração sistemática a certa ordem de poder. O inocente, ao contrário, nega-se a exercer o poder porque possui todos.”
Em ''Chama-se Poesia Tudo Aquilo que Fecha a Porta aos Imbecis'' de Aldo Pellegrini@@}}}}}}
A entrevista do Isaque Ferrerira no programa do valter hugo mão no Porto Canal chamou-me a atenção para este texto magnífico. Não o conhecia. Não dispondo de espaço para o publicar na totalidade aqui, deixo um [[link|http://furiasdeorfeu.blogspot.pt/2011/03/chama-se-poesia-tudo-aquilo-que-fecha.html]] para quem tiver curiosidade.
Ora este texto sugeriu-me uma ideia fantástica. Nós temos andado atrás dos imbecis a lançar-lhes canções e palavras de ordem sem qualquer sucesso. Como diz Aldo Pellegrini no texto
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;“Os imbecis vivem num mundo artificial e falso: baseado no poder que se pode exercer sobre os outros, negam a rotunda realidade do humano, a qual substituem por esquemas ocos. O mundo do poder é um mundo vazio de sentido, fora da realidade".@@}}}}}}
Vivendo fora da realidade não compreendem o que lhes dizemos. A minha primeira ideia – estúpida é certo - foi lançar poemas para cima dos imbecis, pensando que poderia ser uma forma de lhes fechar a porta, como se os varresse para debaixo de um tapete mágico. Mas vi logo que era um disparate. Como são imunes à poesia, eles nem os veriam, e os poemas perder-se-iam, pisados pelos sapatos brilhantes engraxados desses imbecis. Lançar poesia a imbecis é como lançar pérolas a porcos. Depois compreendi. Bastará colocar um poema à porta de cada uma dos nossos corações e os imbecis não entrarão. Mandei fazer uma t-shirt branca com o poema de Alberto Pimenta impresso:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;@@}}}}}}
Nem se aproximam de mim...
Vou mandar fazer outras de todas as cores com poemas do Cesariny, Sophia, Mário Henrique Leiria e Manuel António Pina. Vou distribui-las pela família e amigos.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Ó noite| ./wikiImages/primavera2013_03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Crepúsculo de Primavera'', Rebordelo, 21 de Março de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''Ó noite''
Ó noite, flor acesa, quem te colhe?
Sou eu que em ti me deixo anoitecer,
Ou o gesto preciso que te escolhe
Na flor dum outro ser?
Sophia Mello Breyner Andresen@@}}}}}}
Este poema foi a determinada altura o texto que ilustrou o meu projecto de fotografias realizadas à volta da meia-noite na Noruega, que depois adquiriu o título mais prosaico ''12 pm''.
Esta nova [[série|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.635109693173227.1073741828.100000226070829&type=1&l=85b38994ff]] realizei-a no primeiro dia da Primavera deste ano, no crepúsculo, à espera da queda da cortina da noite.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[DEMITAM-SE| ./wikiImages/LixeTroika01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''~DEMITAM-SE'', 2 de Março 2013@@//}}}}}}
Afirmei já algumas vezes, nomeadamente aqui, nesta espécie de blog, que não sou foto-jornalista, e é o que deveras sinto mas, ocasionalmente, aproximo-me desse registo.
Neste caso, este [[álbum| https://plus.google.com/photos/114896269543768506710/albums/5851675395169058401/5851677656670586178]] é uma forma de dizer o que eu sinto sobre o saque e a destruição deste país por um bando de salteadores...
Continuo a afirmar que sinto a fotografia sobretudo como uma forma de ficção, uma maneira de contar histórias, histórias pouco verdadeiras, mas que passam a ser verdadeiras depois de contadas, como todas as histórias, pois a verdade não é só a verdade que acontece. Ou então fotografar como uma forma de escrever poemas, se me permitirem esta ousadia.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Duas notas breves
Nota1: todas as fotografias são do dia 2 de Março no Porto, com excepção da primeira, que funciona como capa, e que fiz em 29 de Setembro numa magnifica iniciativa, que reuniu vários coros do Porto para cantar o ACORDAI do Fernando ~Lopes-Graça, em vários locais da baixa do Porto. Porque o álbum reúne 2 ideias chave: Luta e Festa. A imagem pareceu-me por isso adequada para capa da série. ACORDAI portanto para a luta e para a festa.
Nota2: aproveito para vos convidar a aparecer numa conversa que vou dinamizar sobre Fotografia e Beleza, organizada pela Escola Informal de Fotografia do Espetáculo, na Casa das Caldeiras em Coimbra, sábado, dia 9 de Março, às 16 horas.@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Poderão um dia os computadores ter a noção de Beleza?| ./wikiImages/matosinhos_130306_03_C.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''Anteontem em Matosinhos'', Matosinhos, Março 2013@@//}}}}}}
O advento e o desenvolvimento da fotografia digital possibilitaram a oferta, inclusive gratuita muitas vezes, de inúmeras ferramentas sofisticadas, que permitem com uma enorme facilidade introduzir efeitos pictóricos variados, para obter imagens muito belas, ou pelo menos de belo efeito. O exemplo paradigmático serão os //iphones//, munidos de aplicações como o //instagram// ou o //snapseed//, que originaram uma //iphonemania//. Existem já muitas exposições, publicações e concursos muito populares, baseados neste novo universo. Eu não tenho //iphone//, tenho há muito o 1º modelo que foi vendido em Portugal com Android e nunca o uso para fotografar. De facto, até me esqueço de que o telemóvel pode ser utilizado para fotografar. Já me tem acontecido esquecer a minha pequena máquina de bolso, querer fotografar e não o fazer, sem me lembrar que tenho comigo o telemóvel. Se nada me move, no plano racional, contra a fotografia com telemóvel, não o faço, e creio que continuarei a não o fazer. Mas pode acontecer o contrário.
A foto que publico aqui e agora, feita com a minha pequena máquina de bolso, há poucos dias em Matosinhos, permite no entanto ilustrar a pequena reflexão que comecei a fazer acima, integrada num tema, que me tem preocupado e levado a escrever um conjunto de ensaios: a questão da beleza na fotografia. Escolhi esta imagem porque quando a publiquei no Facebook foi objecto de muitos /likes/ entusiasmados.
A imagem à esquerda é a imagem original, directamente a partir do ficheiro no cartão da máquina, sem qualquer processamento. A imagem à direita teve tratamento fotográfico posterior em //photoshop// - nomeadamente ajuste de níveis, contrastes e "sharpening" - e a moldura tipo "old fashion", a imitar efeitos conhecidos da impressão em papel, tal como era feita antigamente a partir de negativos, foi colocada na imagem com uma nova aplicação chamada //snapseed//. Neste caso o processamento em //photoshop// foi manual, mas a moldura em //snapseed// é um processo quase automatizado. É só escolher o que se quer. E o //snapseed//, tal como o //instagram// para telemóveis, permite criar inúmeros efeitos, curiosamente quase todos de tipo "old fashion" / "vintage", que simulam a fotografia antiga e que transformam praticamente qualquer imagem numa bela imagem.
Escrevi há uns anos um pequeno [[ensaio |http://pt.scribd.com/doc/52913562/Alan-Turing-Artigo-Sobre-Jogo-Imitacao]] onde reflectia sobre um artigo famoso de Alan Turing, escrito em 1950, em que este matemático extraordinário defendia que os computadores no ano 2000 seriam capazes de pensar. Esse artigo de Turing ainda hoje é foco de muita polémica e de muitas controvérsias. Perante o que vemos estar a acontecer, outra pergunta pode ser pertinente. Serão os computadores - os telemóveis são hoje pequenos-grandes computadores, muito mais potentes do que algum dia Turing poderia imaginar - capazes no futuro de ter a noção de beleza? Este pensamento seria porventura capaz de provocar um calafrio a Kant, que defendeu ser a Beleza um conceito que distinguia os humanos.
A facilidade (trivialidade?) da beleza, com as novas ferramentas e aplicações, com //software// que cria beleza automaticamente, obriga-nos a adoptar uma atitude diferente perante a beleza? A história da fotografia, tal como refere Susan Sontag é marcada por essa procura desenfreada da beleza em todas as coisas. A chamada fotografia contemporânea, que nasce com o conceptualismo, rejeitou a beleza, recusou a contemplação do objecto artístico. Mas vemos hoje o retorno à beleza clássica, aquilo que eu tenho designado por um novo pictorialismo, paradoxalmente nascido no seio do que se continua a chamar fotografia contemporânea. O exemplo mais paradigmático é o de Thomas Struth. Mas se virmos a beleza em Thomas Struth assenta muitas vezes em grandes produções, que se nos impõem pela dimensão. Outro tipo de //instagram//? O espaço deste //post// não me permite desenvolver esta questão, que deixo no entanto aqui, em cima da mesa virtual desta espécie de blog.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Debaixo da cerejeira do cedo| ./wikiImages/sd01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Debaixo da cerejeira do cedo*'', Rebordelo, 20 de Abril de 2013@@//}}}}}}
Sentei-me à sombra da cerejeira "do cedo*", no jardim em Rebordelo, como gosto tanto de fazer depois de almoço, com o livro de Sousa Dias pousado no peito. Abri-o e comecei a ler. E gostei do que lia
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Nunca houve com efeito criação artística, nos vários domínios, que não exprimisse uma relação negativa com o seu tempo e um nexo activo com um tempo por vir: uma resistência ao presente, à actualidade circunstancial da obra, e uma exortação a um futuro, a uma comunidade futurível. Mas não a um futuro como acontecimento previsível ou mesmo provável, mas ao invés como um Evento infixável, processo puro, como a eventualidade de um povo capaz de acolher a arte e de a «realizar», de uma utópica comunidade revolucionária exigida como seu correlato pela criação.
Faz-se arte para o futuro, para uma comunidade que falta, e como petição dessa comunidade: toda a criação é colectiva, ou feita em nome de um colectivo, de uma colectividade inexistente a suscitar. Não há arte, não há criação estética, sem esse sentimento de uma falta, de uma ausência, e da necessidade de uma comunidade mesmo improvável como única justificação da arte, de um devir revolucionário como única hipótese do homem. E nunca esse sentimento terá sido tão forte, nunca esse imperativo utópico tão necessário, como na nossa época dita do fim das utopias, ou em que as únicas cínicas «utopias» com que nos acenam são a democracia, a Europa ou a cidadania electrónica global. Porque nunca como nesta época se assistiu a tão despudorada homogeneização dos modos de existência, a tamanha compressão das condições de criação e das possibilidades de vida. Criação significa repossibilitação, toda a criação é criação de possibilidades, relançamento dos possíveis, e a sua realização.
in a Utopia Íntima da Arte de Sousa Dias@@}}}}}}
A Utopia de Sousa Dias lembrava-me o conceito de contemporaneidade de Giorgio Agamben, que já agora nada tem a ver com o conceito de arte contemporânea com que somos confrontados habitualmente. Os contemporâneos seriam artistas que não se adaptam no seu tempo e que rompem com ele. Ser contemporâneo seria ser "do cedo", ser capaz de ver o futuro. Interrogava-me, perante o que lia, como continuava a ser possível confrontar-me com gente culta, inteligente e muitas vezes até assumindo-se de esquerda, que alinhava com a tese risível de "ser a arte aquilo que o artista diz que é arte", tese que, para além de ser falsa no plano prático do dia a dia, pois se alguém diz o que é a arte não são certamente os artistas, mas os directores dos museus, os curadores e os gestores de colecções, corresponderia a reduzir a arte a uma enorme operação de marketing.
Adiante afirma Sousa Dias a respeito da literatura
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Revelar dimensões desconhecidas ou inexploradas da realidade humana existente, ou então criar mundos existenciáveis, novas possibilidades de existência ou de vida dos homens...A grande literatura, é sempre conhecimento, um conhecimento que nenhuma ciência e nenhuma filosofia, nenhuma outra arte, poderiam restituir pelo seu lado.
in a A Literatura e o Princípio de Razão Insuficiente de Sousa Dias@@}}}}}}
Sousa Dias fala de literatura mas as suas palavras são válidas para toda a criação artística. O que distingue a arte é então esta capacidade mágica de revelar novos mundos, de revelar uma verdade, não a verdade no sentido da imitação ou da cópia do real, mas uma verdade que permanecia escondida e que só a literatura, a pintura ou a fotografia podem revelar. O belo texto de Sousa Dias traz-nos burilado o pensamento de autores como Heidegger ou Deleuze, que ele aliás refere ao longo dos seus textos.
É inspirador mas, ao mesmo tempo, assustador. Poderemos exigir a cada autor a cada criador esta capacidade sobre-humana de criar uma utopia, um novo mundo, de revelar uma verdade? No dia seguinte de manhã, saí como sempre com a máquina fotográfica ao pescoço para fotografar. Fotografei.
|bgcolor(#ffffff):[img[Lembrando-me de Heidegger| ./wikiImages/nozedo06_sh.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Lembrando-me de Heidegger e do quadro de Van Gogh que representa uns sapatos de camponesa'', Rebordelo, 21 de Abril de 2013@@//}}}}}}
Ou, perante aquele desafio enorme, deveria dizer "ousei fazer fotografias"? Conterão alguma utopia? Revelarão alguma verdade?
{{indent{@@font-size:9px;* "Do cedo" é a expressão utilizada em ~Trás-os-Montes para árvores que dão frutos antes da época. Ser artista é ser capaz de criar antes do tempo. Assim, a obra de arte seria sempre uma fruta fora de época@@}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Escada para a Primavera| ./wikiImages/primavera2013_01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Escada para a Primavera'', da série ''Primavera em Rebordelo'', Rebordelo, 21 de Março de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarão
multiplicando-lhe a ausência que importa
se onde pomos os pés é primavera?
//Ruy Belo, in Aquele Grande Rio Eufrates//@@}}}}}}
Todos os anos tenho colocado aqui uma fotografia que celebra a Primavera. É verdade que o penúltimo //tiddler// ''Crepúsculo de Primavera'' foi já de alguma forma uma primeira tentativa. Mas era necessário um //tiddler// que assumisse essa homenagem de uma forma transparente. Aqui está.
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|bgcolor(#ffffff):[img[25 de Abril| ./wikiImages/25Abril05.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''25 de Abril*'', Porto, 25 de Abril de 2013@@//}}}}}}
Publiquei no Facebook várias fotografias que fiz no 25 de Abril no Porto, tal como tenho publicado imagens de outros momentos de afirmação de uma cidadania activa. Não me considerando um foto-jornalista, e tendo-o afirmado publicamente várias vezes aqui, tenho sentido necessidade de através desta participação imagética me juntar a esta vaga de protesto e de afirmação de alternativas. Aproximo-me assim inevitavelmente do que se chama um registo foto-jornalístico.
Na série dedicada ao 25 de Abril, como noutras anteriormente, publiquei algumas imagens a cor, outras a PB e algumas ainda a PB, mas mantendo alguns elementos a cor, como é o caso, nesta série, dos cravos vermelhos que, pela sua dimensão, quase se tornariam invisíveis se optasse pelo simples PB. Tenho-o feito, decidindo caso a caso e de uma forma completamente intuitiva qual a opção a usar. Não pretendo aqui justificar cada opção mas apenas aproveitar esta realidade para iniciar porventura uma reflexão sobre os limites razoáveis para a fotografia, se os há, ou quando os há.
Sei que há muitos fotógrafos que torcem o nariz à opção que mistura cor com PB. Já recebi comentários desses. Eu acredito que esse torcer de proeminência nasal se deve sobretudo a memórias de tempos idos, quando havia o filme a PB e o filme a cor, e até de tempos em que os "verdadeiros" fotógrafos não usavam cor, reservada para fotografia publicitária ou de moda. Lembram-se dos muitos Encontros de Coimbra onde a cor não entrava? Não foi assim há tanto tempo...Hoje todos os "grandes" fotógrafos têm de fotografar a cor, não é?
Mas fará sentido traçar este tipo de limites?
Teremos, parece-me, nesta reflexão de distinguir dois planos: o artístico, um plano feito de ficções, e o jornalístico com a ética deontológica que comporta.
No plano artístico não me parece legítimo colocar quaisquer limites. É um plano de criação, de ficção. Regressando a Sousa Dias, inspirado nos pensadores deste tempo, com quem eu me identifico, a arte é criação de utopias, de possibilidades que eram antes impossíveis. E essas impossibilidades constroem-se com tudo o que servir para as construir. A questão será se no fim a utopia relativa a essas impossibilidades lá está ou não...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Criação significa repossibilitação, toda a criação é criação de possibilidades, relançamento dos possíveis, e a sua realização. Mas, precisamente, como criação que é, esses possíveis não preexistiam a essa realização, não existiam já idealmente como puras possibilidades. Pelo contrário: eram rigorosamente impossíveis, e sem essa criação jamais seriam, sequer, concebíveis. A obra de arte cria, ao mesmo tempo que a sua realidade, a sua própria possibilidade, e não há arte, não há critério da arte, fora dessa criação, dessa deslimitação, dessa extensão do horizonte do possível. A arte (como também, por outros meios, a filosofia, a criação conceptual) é de cada vez o afrontamento de uma impossibilidade e a realização do que, sem ela, teria permanecido não só irrealizado como impossível. De cada vez, e em cada domínio artístico, ela é a abertura, na ordem do sensível, de um inédito campo de sensações, de um campo não empírico de experiência, e assim o afastamento das fronteiras da sensibilidade, da emotividade e também da inteligência, o afastamento das fronteiras do humano. É neste sentido que a arte é impensável sem a não-arte, sem o apelo a um exterior que, todavia, lhe é interior, criado por ela, por ela possibilitado, impensável pois sem a sua intrínseca articulação com forças não artísticas que a efectivem, com forças de auto-superação humana ou com um devir revolucionário dos homens. É nesse sentido, em síntese, que a invenção estética por si mesma corporiza uma incontingente dimensão utópica, a utopia de um povo que a aproprie, de uma comunidade futura talvez impossível.
Sousa Dias em A UTOPIA ÍNTIMA DA ARTE@@}}}}}}
E no plano do foto-jornalismo fará sentido estabelecer limites desenhados por uma ética deontológica? Se sim, quais e quando? Se há limites (e há), estes não creio que possam residir na edição das imagens, a menos que esta se transforme numa edição que ultrapasse os limites de uma interpretação do autor - um exemplo de limite inaceitável seria colocar alguém num evento em que essa pessoa não esteve.
De facto que diferença, no plano dos princípios, existe entre fotografar em digital e depois converter o ficheiro para PB ou fazer essa conversão mantendo alguma cor, ou até manter a cor mas modificá-la com as ferramentas que os vários ~SWs de edição nos oferecem? A fotografia não é realidade, quando muito (sempre?) um registo interpretativo dessa realidade. Isto é assim, mesmo no caso do foto-jornalismo, e o fotógrafo deve apenas (apenas?) responsabilizar-se por essa opinião interpretativa imagética que incluirá porventura uma legenda. Na realidade TODAS as imagens fotográficas são alteradas, mesmo as que pensamos que não, pois cada fabricante tem SW com algoritmos diferentes para produzir o ficheiro RAW ou JPEG. É portanto melhor sermos nós a modificá-las que aí controlamos o processo e seremos responsáveis...
Ou seja, tal como um jornalista da imprensa escrita deve narrar acontecimentos de uma forma séria, mas ao mesmo tempo decidindo na sua interpretação subjectiva o que narrar e o que não narrar e a forma a dar a essa narrativa, o foto-jornalista vai fazer o mesmo, escolhendo o que fotografar, como fotografar e como editar as imagens. Aliás, no caso do foto-jornalismo, essa ligação com a realidade, só se materializa em absoluto com o texto/legenda que acompanha as imagens, já que elas só por si são incapazes de narrar uma história jornalística, como aqui tentei evidenciar noutro [[tiddler|2013-04 - Uma fotografia pode contar uma história?]].
Fará então algum sentido um conjunto de regras como estas, que encontrei no Manual de Regras da Agência Reuters?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Photoshop is a highly sophisticated image manipulation programme. We use only a tiny part of its potential capability to format our pictures, crop and size them and balance the tone and colour. Materially altering a picture in Photoshop or any other image editing software ''will lead to dismissal''.
• No additions or deletions to the subject matter of the original image (thus changing the original content and journalistic integrity of an image).
• No excessive lightening, darkening or blurring of the image. (thus misleading the viewer by disguising certain elements of an image)
• No excessive colour manipulation. (thus dramatically changing the original lighting conditions of an image).
....@@}}}}}}
Pergunto-me como materializar regras equivalentes para os jornalistas da imprensa escrita. Proibi-los de exagerar os conflitos ou de omitir algum acontecimento? Transformar notícias em actas?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Se eu quisesse fotografar o tempo| ./wikiImages/nozedo08.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Se eu quisesse fotografar o tempo'', Rebordelo, 20 de Abril de 2013@@//}}}}}}
Como dizia Andrei Tarkovski "Fazer cinema é esculpir o tempo".
Pode-se também dizer que, em cada instante no tempo, o mundo em que vivemos é uma escultura talhada no espaço 3D pelo tempo.
Mas, se em rigor, a fotografia tem mais a ver com o tempo do que com o espaço, pode-se afirmar que se dá mal com ele, pois rompe-o e dessa forma destrói-lhe a continuidade. Por isso a fotografia, tendo tanto a ver com o tempo, tem tanta dificuldade em fotografá-lo...
Se eu quisesse fotografar o tempo...
|bgcolor(#ffffff):[img[Uma fotografia pode contar uma história?| ./wikiImages/aleixo_01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Uma fotografia pode contar uma história?'', Porto, Abril de 2013@@//}}}}}}
Tenho tido algumas vezes, trocas de argumentos com amigos sobre a capacidade de uma fotografia contar uma história. Eu afirmo, tal como afirmava Susan Sontag, que uma fotografia não conta nenhuma história no sentido jornalístico dessa palavra.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;"O que os moralistas exigem a uma fotografia é aquilo que ela nunca poderá fazer: falar. A legenda é a voz ausente e de que se espera a verdade. Mas mesmo uma legenda absolutamente rigorosa é apenas uma interpretação, necessariamente limitada da fotografia a que se refere. A legenda é uma luva que se põe com facilidade. Não pode impedir que qualquer argumento ou alegação moral baseado numa fotografia (ou conjunto de fotografias) seja minado pela pluralidade de significados que qualquer fotografia supõe.
em Ensaios sobre Fotografia de Susan Sontag.@@}}}}}}
Os que comigo argumentam não aceitam.
Por isso gosto muito desta fotografia. Tem uma luz quase divina. Poderia ser (poderia?) uma fotografia de Thomas Struth, num qualquer museu ao ar livre, onde os visitantes passeiam alegremente à volta de um edifício de arquitectura contemporânea.
Nada na fotografia indicia a destruição, a tristeza, a angústia, o negócio imobiliário. Nada indicia que muitas daquelas pessoas acabaram de engolir a raiva e de enxugar as lágrimas.
A menos que eu vos diga que foi a 1ª foto que fiz no Aleixo, ao chegar junto das ruínas da torre 4, que tinha acabado de ser demolida à frente dos olhos dos seus moradores.
PS - Já agora, se houver interessados, criei um [[álbum|https://plus.google.com/photos/114896269543768506710/albums/5866501769130301969/5866504581054394130?banner=pwa]] a partir das várias fotografias que fiz sobre a destruição da 2ª torre e que fui publicando no Facebook.
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|bgcolor(#ffffff):[img[À Beleza| ./wikiImages/pascoa11.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Páscoa em Rebordelo'', Rebordelo, 30 de Março de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes'@@}}}}}}
Depois de ler os ensaios de Susan Sontag, tenho dedicado nos últimos meses muito tempo ao assunto da beleza na arte e em particular na fotografia. Isso tem-me obrigado a ler muitos clássicos, de Platão a Kant, e até pensadores mais actuais como Heidegger ou Deleuze, com o objectivo de escrever um novo ensaio para que fui desafiado pela colecção [[REFLEX|http://www.theportfolioproject.org/books/hefc1d85#hefc1d85]] do THE PORTFOLIO PROJECT. Sobre beleza especificamente na fotografia não encontrei ainda nada de relevante, para além dos ensaios de Sontag, de um livrinho de Robert Adams chamado "Beauty in Photography: Essays in Defense of Traditional Values" e dos diários de Edward Weston. Conhecem mais alguma coisa?
Gostei por isso de ser confrontado com este poema de Miguel Torga que parece reflectir quase tudo o que a beleza tem sido ou não tem sido, desde os Gregos, quando não existia autonomamente como conceito, até ao Romantismo e Simbolismo quando a beleza era exaltação e sublimidade.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Vale do Tua| ./wikiImages/rioTua01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Vale do Tua'', Brunheda, Vale do Tua, Maio de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Elegia Transmontana''
Terra, minha medida!
Com que ternura te encontro
Sempre inteira nos sentidos,
Sempre redonda nos olhos,
Sempre segura nos pés,
Sempre a cheirar a fermento!
Terra amada!
Em qualquer sítio e momento,
Enrugada ou descampada,
Nunca te desconheci!
Berço do meu sofrimento,
Cabes em mim, e eu em ti!
//Miguel Torga//@@}}}}}}
Fui convidado pelo Coro de Intervenção do Porto para os acompanhar numa viagem ao vale do TUA para expressarmos a nossa indignação por mais este crime de lesa-pátria, que se pretende cometer, destruindo património único, em nome de interesses no mínimo obscuros, com argumentos tão falaciosos que se recusam a ser confrontados numa discussão aberta e racional. Ao longo da linha, da Foz do Tua, onde já se iniciaram as obras, até Mirandela, cantámos o ACORDAI, a GRÂNDOLA, O COMBOIO DESCENDENTE, o HINO DA MARIA DA FONTE e mais canções, para acordar aquelas fragas que ali repousam desde tempos de que quase nada sabemos.
A degradação da linha foi cirurgicamente planeada para conseguir mais argumentos para essa destruição. A série [["A Linha é Tua"| https://www.facebook.com/media/set/?set=a.659849177365945.1073741829.100000226070829&type=1&l=bffbc52edf]] mostra apenas o estado da estação de Mirandela.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Onde está Abril?| ./wikiImages/Abril.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Onde está Abril?'', Porto, Maio de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)@@}}}}}}
Resolvi partilhar aqui um outro [[álbum|https://plus.google.com/photos/114896269543768506710/albums/5874638789931834161/5874651880124012386?banner=pwa]] que reúne as imagens que fui colocando no Facebook das manifestações do 25 de Abril e do 1º de Maio deste ano no Porto. Não tem pretensões a ser uma verdadeira reportagem, que exigiria um critério mais rigoroso de selecção e de edição. O objectivo é apenas juntar o que estava disperso. Se servirem para divulgar o que aconteceu, tanto melhor.
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|bgcolor(#ffffff):[img[1, 2, 3 a conta que Deus fez?| ./wikiImages/deleuze02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Números'', 2013@@//}}}}}}
''1, 2, 3 a conta que Deus fez?''
O numero três é mágico, como aliás tantos outros: o 5, o 7, o 12 …
Se calhar são todos, então os primos...
Mas agora é o 3 que me interessa.
No pequeno livro “Qu’est-ce que la philosophie”, escrito por Gilles Deleuze em parceria com Felix Guattari, os autores consideram que há ''3'' domínios onde procuramos a ordem de que necessitamos para nos defendermos do caos de que fazemos parte: a ciência, a arte e a filosofia,
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;A luta com o caos, que Cézanne e Klee mostraram na pintura, no coração da pintura, encontra-se de uma outra maneira na ciência e na filosofia.
“Qu’est-ce que la philosophie” de Gilles Deleuze em parceria com Felix Guattari@@}}}}}}
Esses três domínios distintos do pensamento constituem formas de romper o caos em que vivemos, projectando-o em três planos diferentes – para utilizar a terminologia Deleuze. Para Deleuze tudo se passa como se o caos em que estamos mergulhados pudesse ser representado por um mundo n-dimensional, complexo, quase impenetrável. A arte, a ciência e a filosofia permitir-nos-iam delimitar domínios compreensíveis nesse mundo infinito, a que Deleuze chama planos secantes, ou seja, utiliza uma imagem geométrica simplificada de três planos bidimensionais que cortam (secantes) esse caos tridimensional. Cada plano permitiria assim uma espécie de projecção bidimensional do caos tridimensional. Essas três projecções permitir-nos-iam idealizar o caos, abstraindo a sua complexidade, de três formas diferentes. Em rigor, talvez pudéssemos falar de um caos n-dimensional (n=?) que reduzimos a tridimensionalidades, apenas porque não somos capazes de perceber mais do que três dimensões, ou quatro quando muito, se considerarmos o tempo.
A ciência, a arte e a filosofia para Deleuze constroem passo a passo o nosso conhecimento, através da criação permanente de novas entidades – teorias, objectos estéticos e conceitos – materializando, cada uma das três áreas, criações (obras) que as outras não são capazes de realizar, mas de que necessitam para fazer sentido.
Para alguém, como eu, que tem formação académica na área da ciência e que há muito dedica parte do seu pensamento à fotografia, à escrita e à reflexão sobre o que é a arte e que sempre considerou existir uma grande proximidade entre arte e ciência, é agradável ler isto.
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Islândia - um mito?| ./wikiImages/islandia01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Islândia, Junho 2013@@//}}}}}}
Estive uma semana na Islândia, onde atravessei o pais de ponta a ponta. Pretendo iniciar aqui uma pequena série de reflexões sobre a forma como senti aquela terra.
Comecemos então pelo óbvio:
1. A Islândia é uma terra fascinante, onde a beleza da natureza se desdobra a cada minuto. Sentimos a força da terra e a força do mar. A cada curva da estrada a paisagem muda e surpreende-nos, como já acreditávamos que não nos poderia surpreender. A beleza é tão avassaladora que quem fotografa às vezes não sabe por onde começar.
2. A Islândia tem um território ligeiramente superior a Portugal com cerca de 300 000 habitantes, cerca de 200 000 em Reikjavik. Fora da capital, ainda assim uma cidade bastante pequena, há muito pouca gente. Tem muito poucos recursos. No passado os habitantes sobreviviam do peixe que pescavam, das ovelhas e da batata, o único produto cultivado por aquelas bandas. Não há hortícolas nem fruta - ou melhor começa a haver no presente em estufas. Até à década de 50 a Islândia era talvez o pais mais pobre da Europa. Transformou-se em algumas décadas e adquiriu uma qualidade de vida fantástica. Como exactamente continua a ser um mistério para mim, mas este será o tema de futura nota.
3. Os islandeses têm uma forma de ser muito própria que os distingue de todos os outros europeus, porventura fruto do seu isolamento e da dificuldade de sobrevivência, Por outro lado parece não ter havido ainda um impacto tão forte da chamada cultura global. Não encontramos nenhuma das grandes cadeias internacionais. As lojas vendem sobretudo produtos islandeses. Come-se muito peixe e muito anho. A decoração das casas lembra em alguns aspectos os nossos anos 50, tal como acontecia quando há alguns anos visitávamos os países de leste
4. Como todos sabemos em 2008 eclodiu o crash, que na Islândia foi muito fundo, pois a banca era gigantesca para as dimensões do pais. Os bancos colapsaram e foram todos nacionalizados. Fruto de movimentações populares o governo foi substituído por um governo de esquerda. E também por força popular - por referendos - o governo teve de recusar-se a pagar o que bancos europeus e americanos pretendiam que ele pagasse e forçou uma negociação. A moeda foi desvalorizada. Muitos islandeses correram o risco de perder a casa que tinham pago em euros. O governo foi forçado a perdoar temporariamente essa divida dos contribuintes à banca. O desemprego que não existia atingiu 12%. Curiosamente os acontecimentos na Islândia foram muito romanceados pela maior parte da Comunicação Social e poucas vezes correspondiam ao que estava de facto a acontecer.
5. Nos últimos anos a Islândia parece recuperar e surpreendentemente os conservadores voltaram a ganhar as eleições. A Islândia foi sempre um pais de maioria conservadora. Prepara-se a privatização dos bancos, porventura para os antigos proprietários.
Permanecem dois mistérios que abordarei em futuros comentários:
1. Como conseguiram os islandeses dar o salto económico que realizaram nas últimas décadas e como parecem hoje estar a recuperar, sem recursos que o expliquem?
2. Como explicar o romance que muitos órgãos de comunicação social inventaram sobre os acontecimentos na Islândia?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Vale do Tua| ./wikiImages/pantera.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Pantera descansa da casa de Sophia'' do álbum ''Arca de Noé'', 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''A pantera''
O seu olhar de tanto olhar as grades
foi tomado de um cansaço profundo
para ela é como se houvesse mil grades
e, atrás das mil grades, nenhum mundo
...
//Rainer Maria Rilke// (tradução minha, peço desculpa por qualquer falta de rigor...Sei que há traduções em Português. Uma das pessoas que traduziu o poema foi o Jorge Sousa Braga, para o livro "Animal, Animal", uma colectânea de poemas sobre bichos. Quando precisei do poema fui à procura do livro. Como não o consegui encontrar nas prateleiras cheias de minha casa, fui obrigado a tentar uma tradução...)
Dequalquer forma este é o original em alemão:
''Der Panther''
Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden,dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt
...
//Rainer Maria Rilke//@@}}}}}}
Os museus de História Natural sempre me fascinaram. A fotografia da pantera negra integra um álbum chamado [[''Arca de Noé''|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.583644584986405.152874.100000226070829&type=1&l=34903f2f16]] que reúne imagens que fui fazendo em vários museus em vários lugares, ao longo do tempo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Islândia - um mito?| ./wikiImages/islandia02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Islândia, Junho 2013@@//}}}}}}
Estive uma semana na Islândia, onde atravessei o pais de ponta a ponta. Este //"tiddler"// continua a pequena série de reflexões sobre a forma como senti aquela terra.
Um dos mistérios para que não consegui uma resposta convincente é a forma como a Islândia conseguiu tal nível de vida, quando na década de 60 era um país muito pobre, talvez o mais pobre da Europa. E como parece estar a recuperar depois do //crash//.
Vejamos quais os recursos visíveis naquele país.
__Agricultura e pecuária__: Não se vê ninguém a trabalhar nos campos, onde não se vislumbram culturas e apenas se consegue identificar erva. Não existem árvores de fruta nem hortas. Tradicionalmente apenas cultivavam batata. Vêem-se algumas raras estufas, que são muito recentes, onde cultivam alguns hortícolas, nomeadamente tomate. Mas todas as quintas estão muito bem tratadas, as casas são bonitas e parecem estar em óptimo estado, todas com aquecimento central. Vêem-se também bons carros, sobretudo jipes. O gado é constituído predominantemente por cavalos e ovelhas que pastam livremente. São soltos nos prados durante o verão (a partir de Maio) e guardados nos estábulos no inverno (no fim de Setembro). As ovelhas dos vários agricultores, soltas, misturam-se e são separadas no fim do verão em redis especiais de forma recticulada. Apenas no sul se vislumbram algumas manadas de bovinos. O cavalo islandês parece ter características únicas. Trazido para a ilha pelos primeiros Vikings, foi fundamental para a sobrevivência do homem nessa terra inóspita. Ao longo dos séculos foi sendo depurado pelos islandeses um tipo de cavalo muito resistente, capaz de também sobreviver ao frio e à escassez de comida. O cavalo islandês é um cavalo pequeno, meigo, de longas crinas. A sua criação parece ser uma das poucas actividades rentáveis para os agricultores. Vêem-se cavalos soltos nos campos por toda a ilha. No presente não são usados para transporte nem no trabalho no campo, servindo como base na alimentação e nalgum turismo. Parece que existe uma exportação razoável de animais que têm alguma procura pelas suas características especiais
__Indústria__: A Islândia não tem recursos minerais. A indústria resume-se quase a duas fábricas de alumínio, onde a participação de trabalhadores portugueses parece ter sido importante. Curiosamente o próprio alumínio é importado da Austrália e exportado quase todo para os EUA. Há também um sector emergente e que cresce ligado as novas tecnologias.
__Pesca__: Existe a pesca e os derivados do pescado, que representam 70% das exportações e que nos é apresentada como a actividade chave de toda a Islândia. É na maioria das cidades a única actividade produtiva.
__Turismo__: Existe um turismo ainda pouco representativo, mas que está a crescer rapidamente.
__Energia__: O único factor diferenciador que conseguimos identificar foi a energia, de origem geotérmica, e quase gratuita. Por toda a Islândia encontramos unidades de energia geotérmica.Por isso, os islandeses nunca desligam as luzes ou o aquecimento em casa
Permanece por isso um mistério o salto económico que conseguiram dar em muito pouco tempo e a recuperação que parecem estar a fazer. Se essa transformação fosse apenas virtual, assente na especulação financeira que existiu, não se compreende a recuperação que parece estar a acontecer. Algumas pessoas apresentam também como argumento o pequeno número de habitantes da Islândia (cerca de 300 000) mas, se assim fosse, bastaria dividirmos Portugal em 30 pequenos países...
Algo na história deste povo (ou será na nossa?) parece estar a ser mal contada. Será que Portugal seria viável, se bem gerido, apenas suportado em actividades tradicionais e um ou outro sector de ponta?
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[A Islândia - um mito?| ./wikiImages/islandia03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''100% árangur'', Islândia, Junho 2013@@//}}}}}}
Quando eclodiu a crise na Europa, durante muito tempo a Islândia aparecia com alguma frequência em emails ou em mensagens na internet, onde se contavam coisas extraordinárias. Os presidentes dos bancos, tal como os membros do governo que com eles era responsáveis pela crise, teriam sido todos presos, julgados e condenados. Os Islandeses teriam aprovado uma constituição revolucionária e um governo de esquerda que, com o apoio do povo, se recusara a pagar aos credores. E assim os islandeses estavam a recuperar, libertos dos tentáculos dos usurários. E todos os dias havia quem perguntasse "Porque não nos contam com pormenor o que está a acontecer na Islândia? Se não nos contam, é porque não querem que conheçamos os factos, pois podemos deixar-nos inspirar por eles."
Curiosamente os acontecimentos na Islândia foram muito romanceados pela maior parte da Comunicação Social, em particular através de notícias postas a circular nas redes sociais, e poucas vezes correspondiam ao que estava de facto a acontecer. Porquê, é uma das questões para a qual não tenho resposta.
__Os factos:__
Em 2008 eclodiu o //crash// na Islândia, onde foi muito violento pois a banca era gigantesca para as dimensões do pais. Os bancos completamente mergulhados em jogos tóxicos e especulativos colapsaram e foram todos nacionalizados. O estado nacionalizou a banca e assumiu as suas dívidas. Fruto de movimentações populares o governo em funções foi substituído, pela primeira vez, por um governo de esquerda. E também por força popular - através de referendos - o novo governo teve de recusar-se a pagar de imediato o que bancos europeus e americanos pretendiam que ele pagasse e forçou a uma negociação da dívida. A moeda foi desvalorizada. Muitos islandeses correram o risco de perder a casa que tinham pago em euros. O governo foi forçado a perdoar temporariamente essa dívida dos contribuintes à banca. O desemprego que não existia antes, atingiu 12%.
Nenhum banqueiro foi preso nem julgado. A maioria deles continua a ocupar altos cargos na banca em países estrangeiros.
O primeiro ministro foi de facto julgado e a sentença terá simplesmente concluído "Que ele não fizera tudo o que poderia ter feito para evitar a crise". O julgamento não teve outras consequências.
Nos últimos anos a Islândia parece recuperar e surpreendentemente os conservadores voltaram com toda a naturalidade a ganhar as eleições. A Islândia foi sempre um pais de maioria conservadora. Prepara-se a privatização dos bancos, porventura para os antigos proprietários.
O romance na internet islandês é para mim um mistério, a somar ao mistério do milagre económico daquele país.
Para quem possa estar interessado criei um pequeno [[álbum|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.692572587426937.1073741832.100000226070829&type=1&l=9b9de99df3]] com uma selecção de imagens da viagem que fiz em Junho à volta da ilha.O álbum funciona assim com uma espécie de diário. Despretensioso. Nada mais do que isso.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Desinventar objetos| ./wikiImages/desinventar.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Desinventar objetos'', Reikjavik, Junho 2013@@//}}}}}}
Hoje antes de sair de casa procurei um livrinho pequeno que pudesse transportar comigo na bicicleta. Encontrei o "Encantador de Palavras" do Manoel de Barros, que é tão fininho que se escondia entre dois livros maiores. Já nem me lembrava que o tinha!
Feliz achado!
Há muito que defendo que a poesia é a forma de expressão mais próxima da fotografia. Alguns pedem-me provas e eu hesito. Como provar tal realidade quando quase todos preferem a pintura ou o cinema. Bem, hoje encontrei a prova. A prova, não. Três provas. Três poemas de Manoel de Barros, cada um a melhor definição de fotografia que eu já tinha lido. Experimentem substituir a palavra "palavras" pela palavra "imagens"...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao
pente funções de não pentear. Até que ele fique à
disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.
...
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas
irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.
A poesia está guardada nas palavras – é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro.
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.@@}}}}}}
Haverá no livrinho com certeza muito mais provas, mas eu ainda não entrei no "estado de imagem" para ver os desveres. Fecho os olhos e tento, desvejo, mas sinto que ainda estou longe...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
O que resta de grandezas para nós são os
desconheceres – completou.
Para enxergar as coisas sem feitio é preciso
não saber nada.
É preciso entrar em estado de árvore.
É preciso entrar em estado de palavra.
Só quem está em estado de palavra pode
enxergar as coisas sem feitio.
Manoel de Barros@@}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Catedrais do Silêncio em Morille no PAN 2013| ./wikiImages/morille1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Catedrais do Silêncio em Morille no PAN 2013'', Morille, Salamanca, Julho 2013@@//}}}}}}
Morille é uma pequena aldeia a menos de 20 km de Salamanca. Tem pouco mais de 200 habitantes, os suficientes para todos os anos organizar o PAN (Poesia, Arte e Naturaleza): três dias de intensas actividades artísticas e culturais: exposições, concertos, conferências, poesia, debates. Este ano o PAN esteve para não se organizar devido a fortes constrangimentos financeiros, mas a população exigiu-o do seu alcaide. E com um orçamento menor teve de acontecer. Tive a sorte de ser convidado e pude mostrar o projecto Catedrais do Silêncio. Hei-de voltar!
Morille é talvez uma prova de que é possível termos um poder local diferente.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Festa da Transumância em Figueira de Castelo Rodrigo 2013| ./wikiImages/transumanciaFCR.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da [[série|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.730755810275281.1073741836.100000226070829&type=1&l=4d43af9f1b]] ''Festa da Transumância em Figueira de Castelo Rodrigo 2013'', no caminho entre Freixeda do Torrão e Castelo Rodrigo, Setembro 2013@@//}}}}}}
Estive uma vez mais em Figueira e, ao saber que ia haver um passeio com um pequeno rebanho, entre Freixeda do Torrao e Castelo Rodrigo, organizado para rememorar a antiga transumância, decidi ir também. Fazer caminho é a única forma de caminhar. A [[série|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.730755810275281.1073741836.100000226070829&type=1&l=4d43af9f1b]] de fotografias que publiquei no Facebook(FB) sugeriu-me esta reflexão que partilho agora aqui.
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;
Como devem imaginar tenho muitos amigos e conhecidos no FB, que se assumem como fotógrafos ou que têm uma actividade consistente na área da fotografia. Observando o seu comportamento, há muito que reflicto porque razão têm práticas tão diferentes no que diz respeito à colocação de fotografias nos seus portais. Há quem pura e simplesmente não divulgue imagens suas, há os que apenas divulgam imagens que correspondem a projectos maduros (em livro ou em exposição) e há aqueles que, como eu, adoptam uma prática de utilizar o FB como um registo muito aberto de partilha, onde se misturam imagens de todo o tipo, da vida pessoal, da família, de amigos, de passeios e viagens, da rua, muitas vezes para acompanhar pequenos comentários/reflexões. É um local para uma partilha ainda mais imediata e menos amadurecida do que a que faço há mais tempo na minha espécie de blog. Noventa e nove por cento (99%) das imagens morrem aí ou ficam na letargia à espera de que alguma coisa possa despertá-las.
Este álbum é mais um que publico aqui no FB, limitando-me apenas a juntar algumas imagens que divulguei nos últimos dias a outras, que poderão constituir um pequeno registo despretensioso da festa da transumância em Figueira de Castelo Rodrigo. A verdade é que na sua singeleza já serviram para despertar finalmente esta reflexão adiada. Vamos a ela!
Será indiscutível que cada um tem o direito de usar o FB como bem lhe aprouver e isso não está sequer em discussão. Mas ao reflectir sobre isso e ao colocar-me a questão de "se a minha prática fazia sentido", interroguei-me se a prática de cada um não poderia reflectir de alguma forma a sua atitude relativamente à fotografia.
Perante situações opacas na fotografia, eu tenho por hábito, de há muito, fazer paralelismos com a escrita/literatura porque, em minha opinião, é essa a forma de expressão mais próxima da fotografia e porque, ao traçar rectas mais ou menos paralelas no espaço da criação, consigo muitas vezes ver mais claro. Vejo mais claro, talvez porque no mundo da escrita as coisas parecem ser mais transparentes. Uma razão da diferença poderá ter a ver com a antiguidade do processo e com o seu amadurecimento. A fotografia tem pouco mais de 100 anos e só recentemente se “vulgarizou e democratizou”. Outra razão da diferença poderá ser não existirem na literatura tantas confusões conceptuais como no mundo das artes visuais. Não há purismos exacerbados. Não há apropriação da escrita para criar objectos artísticos chamados contemporâneos.
Quando olho para o FB, verifico que a maioria dos meus amigos/conhecidos da área da escrita, que fazem parte da minha lista, publicam sem pudor todo o tipo de textos: comentários, pequenas reflexões, notícias, pequenos contos, poemas, textos de outros autores, e não consigo identificar as "esquisitices" que creio intuir algumas vezes na fotografia.
Longe de mim pretender afirmar que cada um dos fotógrafos que assim procede, o faz por purismo exagerado. Cada caso será um caso e cada um poderá ter razões muito diferentes.
Limito-me a encontrar justificações plausíveis para poder prosseguir com a minha prática?
Renato Roque, Setembro 2013@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Abrir a porta a essa gente| ./wikiImages/beco01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Abrir a porta a essa gente'' durante a Manifestação ''Não há becos sem saída'', Porto, 26 de Outubro de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; ''A porta''
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
//Vinicius de Moraes//@@}}}}}}
Apesar de ter escrito vezes sem conta que não sou foto-jornalista e que me não sinto como tal que para mim fotografar é muito mais inventar histórias verdadeiras, ou contar histórias falsas que passam a verdadeiras porque as contei, continuo nestes tempos de excepção a voltar ao registo foto-jornalístico. Tempos excepcionais exigem porventura comportamentos excepcionais. Será isso?
Vivemos um tempo de retrocesso civilizacional e toda a criação, e portanto também a fotografia, se puder contribuir com pequenas areias na engrenagem deste ataque ao progresso, deverá fazê-lo? Será o que me motiva? Afinal este retrocesso não é novo. Já aconteceu. Quem pensou que tínhamos conquistado uma sociedade de direitos garantidos e crescentes, enganou-se ou foi enganado. Bem enganado e agora bem esganado.
As últimas manifestações organizadas por todos o país tiveram como lema "Não há becos sem saida", porque nos dizem todos os dias que não existe outro caminho, mesmo vendo todos que não é um caminho, é mais um precipício. E este precipício para que nos conduzem não é um precipício escolhido por nós. Nem tivemos sequer a oportunidade de discutir e de dizer qual o percurso que pretendemos tomar. A democracia que nos apregoam é apenas formal. O governo foi eleito porque garantiu que não continuaria a aumentar impostos, a baixar salários nem pensões. Que se limitaria a cortar nas despesas intermédias do estado. Depois de eleito continuou e aprofundou a política anterior, agravando-a em intensidade e velocidade. As pessoas manifestaram a sua indignação de todas as formas e de nada valeu. Assistimos a farsas que se repetem e repetem vezes sem conta que misturam a mentira, a incompetência e a corrupção. E no entanto nada acontece. Deixou de haver vergonha. Falam-nos em protectorado, de falta de independência. Nada irá acontecer enquanto alguma coisa de novo não ocorrer.
É verdade que não há becos sem saída mas parecemos estar numa situação politicamente e socialmente bloqueada.
Todos os becos têm saídas mas o que fazer para pelo menos podermos escolher a saída que queremos? Para percebermos que todas as saídas que temos neste momento como possíveis têm riscos e sacrifícios, mas que tem de haver alguma saída mais digna do que esta, que é deixarmo-nos estrangular pelas mãos de quem nos diz representar e que representa os nossos carrascos?
Como abrimos a porta a esta gente?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Amor é um Fogo| ./wikiImages/amor1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Amor é um Fogo'' em Rebordelo, Outubro de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
...
@@}}}}}}
Volto a fotografar [[o mesmo incêndio | https://www.facebook.com/media/set/?set=a.518392468178284.138467.100000226070829&type=1&l=22ca6ff271]] que fotografei em 2012
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Prensa| ./wikiImages/prensa1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, uma imagem da [[série ''Prensa''|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.531074870243377.141992.100000226070829&type=1&l=49977eb124]], Rebordelo 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''O Mar Parece Azeite''
A poesia começa quando um idiota diz, a respeito do mar: «o mar parece azeite». Não é, facto, uma descrição exacta de um mar bonançoso, mas o prazer de ter descoberto a semelhança, a exactidão de um liame misterioso, a necessidade de gritar aos quatro ventos que de tal nos apercebemos.
//Cesare Pavese, O ofício de viver - Diário 1935//@@}}}}}}
A ''Prensa'' é [[uma pequena série|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.531074870243377.141992.100000226070829&type=1&l=49977eb124]] sobre um lagar de azeite que pertencia à família Carvalho em Rebordelo, que foi desactivado ainda no fim da década de 70. Agora quase não se produz azeite na aldeia. As oliveiras, muitas delas, já nem varejadas são, para apanhar a azeitona.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Poderia ser de novo um regressar às séries antigas| ./wikiImages/objectoAC.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, poderia ser uma imagem da série ''Objecto insólito pousado na paisagem'', Torre, Novembro de 2013@@//}}}}}}
Poderia justificar-me uma vez mais com novo regresso àquela série antiga de objectos pousados na paisagem. Mas não, o que atraiu nesta imagem misteriosa(?) é a ambiguidade deste branco, que tanto nos parece ser augúrio de morte, como se nos lembrasse a cor do lençol que amortalha o defunto, como nos rejubila, como se fora um vestido de noiva bela e formosa, ou um campo coberto de flores de esteva. É silêncio e logo ruído de trovão. É luz do sol e noite que se anuncia. É mistério e coisa banal. É encanto e desolação.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Regressar às séries antigas| ./wikiImages/objectoAB.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''Objecto insólito pousado na paisagem'', Mora, Novembro de 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...
Detive-me na ponte, debruçado,
Mas a ponte era falsa - e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar á sua beira...
-Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes -
Um outro que eu não posso acorrentar...
//Mário de ~Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'//@@}}}}}}
Regressei a uma série muito antiga nesta espécie de blog. Regressar é sempre atravessar uma ponte...
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[AS CASAS| ./wikiImages/casas.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''As Casas'', 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Natal 2013| ./wikiImages/postal2013.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Natal 2013'', fotografia da série ''Arca de Noé'', 2013@@//}}}}}}
Tenho afirmado em Natais anteriores, nesta minha espécie de blog, que tenho cada vez mais dificuldade em entender as mensagens e os postais natalícios, onde tudo acontece como se nada estivesse a acontecer. Como se vivêssemos num mundo de sombras, tal como no mito da caverna de Platão, incapazes de rodar as nossas cabeças e de olhar para fora e enfrentar a luz do sol.
Perguntarão então: "Porque persisto?". E eu, não sabendo o que dizer, respondo com este texto do Alberto Pimenta
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;não me canso de dizer que cada coisa
pode ser o contrário do que é.
quando digo que cada coisa pode ser
o contrário do que é, sei perfeitamente
o que digo e é isso que quero dizer
e não o contrário, embora o contrário
também esteja certo, porque cada
coisa também pode ser o que é.
a função das coisas é ser aquilo
que se quer que elas sejam..
//Alberto Pimenta//@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Eusébio e a Novilíngua| ./wikiImages/eusebio.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, 2013@@//}}}}}}
Abstive-me até hoje de dizer, quer no Facebook quer aqui nesta espécie de blog, o que quer que fosse sobre a morte do Eusébio, porque me pareceu que o pudor e o bom senso assim o exigiam. Agora que a histeria acalmou, deixem-me tentar expressar o que sinto.
Eu vi jogar o Eusébio e era de facto um magnífico jogador, embora me sinta completamente incapaz de dizer se foi o melhor de todos os tempos. Terá sido o que obteve mais visibilidade, até porque foi o primeiro a consegui-la, pois até aí nenhum jogador português a tinha alcançado, mas isto também porque Eusébio teve a sorte de pertencer a uma geração de outros magníficos jogadores, a maioria indiscutivelmente do Benfica dos anos 60. Não o conheci pessoalmente, como é óbvio, mas quando o vi ou ouvi na tv ou na rádio, pareceu-me sempre simpático. Não sei se era um homem “bom”, mas também não tenho motivos para duvidar de tanta gente que o afirma. Até estou disposto a aceitar que ele não teve consciência da forma vergonhosa como foi utilizado pelo regime fascista para criar uma imagem de integração nas colónias, que não existia. Para ele o importante seria jogar e ganhar e não compreenderia que ao mesmo tempo acontecia uma guerra colonial injusta, onde se morria e onde inclusive se massacravam as populações a que ele pertencia.
Por tudo isto me parece que, perante a sua morte, devemos respeitar a sua memória: Eusébio foi jogador de futebol e foi um dos melhores, como muitos portugueses foram igualmente excelentes em muitas áreas diversificadas. Até se poderia entender um pouco mais de visibilidade mediática perante a sua partida, pela publicidade que obteve ao longo dos anos, sobretudo quando jogava. Mas como compreender aquilo a que assistimos? Invoca-se o que Portugal lhe deveria, que Eusébio teria sido muito importante para Portugal, mas ninguém consegue explicar em que consiste essa dívida para além de histórias do tipo “Íamos ao estrangeiro, e toda a gente pronunciava o nome de Eusébio”. Qual é a dívida? Os golos? O 3º lugar no campeonato do mundo de 1966? Ou a sua contribuição, ainda que involuntária porque inconsciente, para a propaganda do regime colonialista?
Como compreender então o histerismo colectivo, a transmissão contínua e em directo, em todos os canais, do velório e do funeral, durante dois dias, e quase ininterrupta? Como compreender o choro, os gritos de gente que nunca o viu jogar? Como interpretar esta pressa dos políticos em ser visto, e até em transladar o corpo para o Panteão? Não sei quais os critérios estabelecidos para essa cerimónia, e até sei que no Panteão há algumas companhias pouco recomendáveis mas, independentemente disso, este frenesim tem de ser interpretada politicamente.
Será que tudo isto começa a perceber-se melhor num quadro de recalibração dos valores e dos princípios, onde as palavras deixam de significar o que significaram: desemprego é requalificação, e até, na última audição do presidente da administração dos ENVC na AR, ele afirma, sem aparentemente qualquer embaraço, que a administração de que faz parte não conhece a palavra despedimento, o que eles estão a fazer é um plano social, nenhum trabalhador será despedido mas reintegrado socialmente…
Quando se recalibra com esta sanha, precisa-se de heróis capazes de simbolizar uma pretensa unidade nacional, a mesma unidade nacional a que a EU, a Troika e o PR tanto apelam. Eusébio, veio a jeito, e é utilizado uma vez mais, sem ter feito nada por isso, como objecto de propaganda. A Novilíngua precisa de caras simpáticas que a personifiquem.
A não ser assim, como compreender toda esta proporção de declarações e de homenagens, se compararmos por exemplo com o que aconteceu há bem pouco tempo com o professor Albino Aroso, a quem Portugal indubitavelmente muito mais deve, pois foi o principal mentor do Sistema de Planeamento Familiar e assim responsável pela diminuição espectacular da mortalidade infantil em Portugal. Poder-se iam invocar muitos outros nome, mas o nome de Albino Aroso impede uma acusação fácil de sectarismo: Albino Aroso foi militante do PSD e membro de um governo PSD.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Mais um EspantaOQuê?| ./wikiImages/espantaComCafeteira.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, Janeiro 2014@@//}}}}}}
"Encontramos muitas vezes em ~Trás-os-Montes plásticos, farrapos e até peças de vestuário, dependurados dos ramos das árvores, desfraldados ao vento, muitas vezes em castanheiros.
Não é clara a razão desta prática. Pergunto. Há quem refira a função de espantalho, mas os pássaros não atacam os ouriços nos soutos. Espantar o quê? Os fotógrafos também não assustam, muito pelo contrário. Serão uma forma de sinalizar o terreno, de marcar a passagem? Um ritual? Tal como a fotografia sinaliza a minha passagem.
E não sei porquê, mesmo os plásticos, que me ferem tanto, se abandonados no solo, assumem, assim amarrados nos ramos, um lado simbólico, quase religioso, que me atrai."
O texto atrás "roubei-o" aqui nesta minha espécie de "blog", de um "post" de Fevereiro de 2010, quando iniciei esta série a que chamo "OS ~ESPANTA-O-QUÊ?"
Parece que há ainda quem não acredite que de cada vez que vou a ~Trás-os-Montes caço uns quantos.
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|bgcolor(#ffffff):[img[a fotografia ajoelha-se perante a poesia| ./wikiImages/ajoelha.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Imagem da série ''A fotografia ajoelha-se perante a poesia'', Correntes de Escritas 2014, Póvoa de Varzim 2014@@//}}}}}}
Naquele dia eu virei-me para ele e afirmei com um tom convincente “Para mim, a poesia é a forma de expressão mais próxima da fotografia”. Ele torceu o nariz e, com aquele ar provocador que lhe era habitual, desafiou-me “Tu não consegues provar isso!”
Então eu tirei do bolso o livro de Manoel de Barros, que trazia comigo, e abri-o na página marcada. Li.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Um monge descabelado me disse no caminho: eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma imagem. Uma imagem que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: a palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como um lírio pode nascer de um monturo*.E o monge se calou descabelado.@@}}}}}}
Ele calou-se e eu sorri. Ele não sabia que eu tinha feito batota. Ou melhor, limitara-me a brincar com as palavras. Continuámos o nosso passeio. Mais a frente ele virou-se para mim e disse “Se assim for, a fotografia ajoelha-se perante a poesia”.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Então o Senhor Deus criou o homem do barro| ./wikiImages/oleicola.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Cerâmica da Marofa, Figueira de Castelo Rodrigo, 2011@@//}}}}}}
{{indent{@@font-size:11px;"Então o Senhor Deus criou o homem do barro e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente." @@}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//(Génesis 2, 7)//@@}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Uma das recordações mais antigas de Figueira de Castelo Rodrigo é a de um oleiro, cuja olaria ficava à entrada do povoado, para quem vinha de sul, de Almeida ou de Pinhel. Não me recordo do seu nome. Lembro-me de que o visitávamos e que ele nos dava pequenos pedaços de barro, com que moldávamos bonecada. Ele desapareceu e foi entretanto criada a Cerâmica, não sei em que data, que com certeza usava o mesmo barro com que esculpi galos e cães, para moldar tijolos e telhas, que vendia para todo o lado. A crise da construção em Portugal fez com que em 2011, quando a visitei, quase não produzisse. Em 2013 fui lá de novo e a situação não evoluíra. Tinha apenas 4 pessoas no activo, que se entretinham a fazer limpezas e arrumações.
No âmbito de outro projecto revisitei as imagens e criei um [[álbum|https://www.facebook.com/media/set/?set=a.830089607008567.1073741845.100000226070829&type=1&l=e4198b7709]] no Facebook para quem tiver curiosidade.
Nota: por informação de um amigo de Figueira, seria o 'Forno dos Pucarinhos", e o oleiro chamar-se-ia Wilson.
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|bgcolor(#ffffff):[img[restrictions and limitations| ./wikiImages/proibido5.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''restrictions and limitations'', Serralves, em Fevereiro 2014@@//}}}}}}
Serralves tem mantido uma política de liberdade de fotografar nas suas instalações e mesmo nas exposições que tem organizado. Curiosamente as excepções de que me lembro, e contra as quais sempre protestei, nomeadamente nesta minha espécie de blog, foram exposições de fotografia. Lembro-me do caso do Augusto Alves da Silva e do Thomas Struth. Hoje visitei em Serralves a exposição da fotógrafa palestiniana Ahlam Shibli e, para minha surpresa, quando fazia uma imagem fui imediatamente informado de que era proibido. Perguntei onde estava essa informação, mostraram-me o "placard" e fotografei-o, mas com a imediata admoestação do funcionário, pois nem o aviso poderia fotografar. Era proibido fotografar tudo no espaço da exposição...Mesmo tudo: durante a visita perguntei se podia fotografar o jardim através da janela, pois havia um efeito de luz na cortina que me atraiu o olhar e, uma vez mais, a proibição foi expressa com veemência. No fim da visita, na recepção, informaram-me de que a proibição era por ordem expressa da fotógrafa. Confesso que tenho pouca paciência para esta sonsice. A menos que me expliquem como pode uma fotógrafa, que tem fotografado tudo em todo o lado, proibir-me de fotografar em Serralves. Para além de contraditório é estúpido, pois hoje há meios de fotografar tudo sem ninguém dar por nada!
E já agora outra questão: A pergunta inquieta-me, desde o dia em que visitei essa exposição em Serralves. A pergunta é simples. O que é necessário para transformar o trabalho de um(a) foto-jornalista em arte contemporânea? Não pretendo pôr em causa a qualidade do trabalho de Ahlam Shibli, apenas pergunto a quem me saiba responder porque é o trabalho desta foto-jornalista arte contemporânea?
|bgcolor(#ffffff):[img[Barthes e a fotografia misteriosa| ./wikiImages/mae.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, fotografia da minha mãe, que fiz em 2007, para uma Quintas de Leitura com Maria de Rosário Pedreira@@//}}}}}}
Publiquei recentemente no Facebook aquela que penso ser a minha fotografia mais antiga. É uma belíssima imagem da minha mãe grávida, já perto do final do tempo, no quintal da casa dos meus avós no Passeio das Fontainhas, onde os meus pais viviam e onde eu iria nascer. A fotografia foi feita pelo meu pai, que nesses tempos se dedicava às práticas fotográficas com entusiasmo, e que iria abandonar alguns anos mais tarde misteriosamente, entregando a câmara à minha mãe, que passou a ser a repórter de serviço para a família. Quando fiz dezasseis anos ele ofereceu-me a sua câmara, uma Zeiss de fole, que continuava a pertencer-lhe, e que ainda conservo.
Essa minha imagem no Facebook foi com certeza das que provocaram maior número de reacções, e um amigo comentou que ela lhe recordara a fotografia da mãe de Barthes, de que o autor fala muitas vezes no seu livro ''Câmara Clara'', sem no entanto nunca a revelar. O livro de Barthes pretende ser uma reflexão profunda sobre a essência da fotografia. Barthes ocupa grande parte do ensaio a classificar as fotografias em dois grandes grupos. As fotografias com //studium// como ele diz, e as fotografias com //punctum//. As fotografias como //studium// seriam aquelas que nos interessam por qualquer razão. Por exemplo, se nos interessarmos por história do século XX, as fotografias da implantação da República em Portugal serão //studium// para nós. As fotografias com //punctum// são fotografias de que gostamos porque nos ferem, para utilizar a terminologia de Barthes.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O primeiro é visivelmente uma área que eu reconheço facilmente, em função do meu saber, da minha cultura…a palavra existe em latim: é o studium…é pelo studium que me interesso por muitas fotografias...O segundo elemento vem quebrar (ou escandir) o studium. Desta vez não sou eu que vou procurá-lo, é ele que salta da cena. Existe uma palavra em latim para designar essa ferida, essa picada…A este segundo elemento, que vem perturbar o studium, eu chamaria, portanto, punctum.
Roland Barthes, //Câmara Clara//@@}}}}}}
E para ilustrar o conceito de //punctum// Barthes apresenta ao longo do ensaio um pequeno portfólio de fotografias que o ferem, fotografias com //punctum//, e refere em particular a tal célebre e misteriosa fotografia da sua mãe ainda criança, de que fala sempre, mas que nunca mostra.
O ''Câmara Clara'' é com certeza um dos muitos livros que deveriam ser, não só de leitura, mas também de reflexão obrigatória, em todas as escolas de fotografia. Vivemos num tempo de muitas imagens, mas de muito pouca reflexão. Miríades de imagens, que circulam a grande velocidade, até se evaporarem no éter virtual. Fotógrafos que fotografam, ou que até dizem com prosápia que não fotografam, mas que se apropriam da fotografia ou que utiizam a fotografia como ferramenta, mas que não pensam ou parecem não pensar. Um tempo que me sugere aquela pequena mas notável história de Jorge Luís Borges ''Funes ou a Memória'', acerca daquele homem que tinha uma memória tão prodigiosa, capaz de fixar todos os pormenores de todos os objectos, que era incapaz de abstractizar, incapaz de pensar.
E a fotografia, e cada vez me convenço mais disso, é muito mais pensamento do que colecções de imagens, registadas com equipamento mais ou menos sofisticado.
Para os interessados, tenho disponível na internet [[um texto de reflexão pessoal | http://www.scribd.com/doc/211120233/Camara-Obscura]] sobre o livrinho de Roland Barthes. O livro de Barthes adquirem-no com facilidade e até encontram versões gratuitas na internet.
Ao preparar este post, colocou-se-me logo uma questão. Deveria colocar aqui a imagem que divulguei no FB? A questão é pertinente, pois uma das regras que me impus a mim mesmo nesta espécie de blog é de usar sempre fotografias feitas por mim. Ora essa é uma fotografia minha, mas não fui eu quem a fiz. Decidi por isso não quebrar a regra, pois poder-me-ia arrepender um dia mais tarde da minha fraqueza, e resolvi pois usar aqui outra fotografia da minha mãe, uma que fiz em 2007, para uma sessão das Quintas de Leitura com a poetisa Maria de Rosário Pedreira.
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|bgcolor(#ffffff):[img[DO QUASE INVISÍVEL| ./wikiImages/doQuaseInvisivel.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque,capa do livro ''DO QUASE INVISÍVEL'', 2014@@//}}}}}}
@@font-size:12px;Eu nunca tinha pensado em fotografar nu, até o meu amigo Jorge Pedra me convidar para o fazer num armazém de tecidos em Passos Manuel, no centro do Porto. Um espaço que pertencera à sua família e que iria fechar para ser remodelado e albergar uma empresa de novas tecnologias. Aceitei o desafio, como costumo fazer, ainda sem saber o que poderia resultar daquela experiência.
O processo de gestação foi longo, com avanços e com recuos, mas à medida que o tempo passava foi ficando claro que não queria(mos) fazer exactamente um projecto fotográfico de nu. Claro que num sentido físico, material, os corpos de mulher estão nas imagens, mas procurei(amos) que a nudez, tal como ela é entendida na civilização ocidental de inspiração cristã, lá não estivesse. O que era preponderante era aquele espaço e aquele momento no tempo. Dai o título "DO QUASE INVISÍVEL" que marca um território vago entre a nudez e a não-nudez.
Sabia que atravessávamos um território arenoso, onde os pés se enterram e a marcha é difícil, onde por vezes somos obrigados a parar para encher o peito de ar antes de retomar a marcha. Mas cruzámos esse território e aqui chegámos com o livro nas mãos. Onde chegámos exactamente, não consigo dizer.
No texto de introdução ao livro procuro justificar a minha(nossa) posição de que "DO QUASE INVISÍVEL" não é um projecto de nudez, utilizando como abrigo um conhecido texto de Giorgio Agamben chamado precisamente //Nudez//.
Juntaram-se a nós a Patrícia Lino e a Regina Guimarães com textos poéticos e o Rui Canedo que fez o desenho do objecto. Optámos por experimentar uma impressão digital, que nos permite ultrapassar as dificuldades logísticas da distribuição. Quem pretender [[adquirir o livro|http://br.blurb.com/b/5091343-do-quase-invisivel]] pode fazê-lo no site da blurb; fazendo uma encomenda, recebê-lo-á pelo correio.@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[DO QUASE INVISÍVEL| ./wikiImages/barbaros.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Fábrica do Sabão'', Porto, 2012, fábrica entretanto demolida@@//}}}}}}
@@font-size:12px;Apercebi-me hoje que tenho mantido esta espécie de blog em silêncio há muito tempo. Não, não creio que seja grave, pois a minha voz tem andado a dizer coisas por aí. Mas hoje veio-me este poema do Kavafis à cabeça e tinha de o publicar aqui.@@
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
''À ESPERA DOS BÁRBAROS''
O que esperamos nós em multidão no Forum?
Os Bárbaros, que chegam hoje.
Dentro do Senado, porque tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haveriam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.
Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?
Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o Imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.
E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?
Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.
E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?
Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.
Porque, sùbitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?
Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.
E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.
Konstantinos Kaváfis (tradução Jorge de Sena)
@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Cachão Caché| ./wikiImages/cacao01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem do PROJECTO FOTOGRÁFICO ''CACHÃO CACHÉ'', Lanor, Lavadouro de Lãs do Nordeste, Cachão, Mirandela, 2014@@//}}}}}}
O Complexo ~Agro-Industrial do Cachão foi criado na década de 60, com o propósito declarado de valorizar a região transmontana, através do lançamento de um conjunto de projetos que modernizassem as explorações agro-pecuárias, assegurassem a qualidade da produção e contribuíssem para o seu escoamento no mercado interno e externo. Camilo de Mendonça, o seu mentor, defendia que para se desenvolver esta região era necessário implementar o ensino superior e criar núcleos industriais dispersos pelo distrito, amparados e orientados por técnicos competentes e complementados com um apoio financeiro orientado para uma reconversão cultural e uma mecanização da agricultura.
Independentemente de muitas críticas que poderão ser feitas, eventualmente justas, e que me ultrapassam, parece-me indiscutível que havia no conceito um enorme potencial. O Cachão pretendia ser um projecto agro-industrial integrado para toda a região. Na década de 80 definhou, desintegrou-se e morreu: lembram-se dos fundos que então entraram da UE e das contrapartidas que exigiram? Hoje o complexo do Cachão consiste no essencial em ruínas e em muitos edifícios abandonados. Existem apenas alguns espaços parcialmente ocupados por pequenas indústrias quase-familiares. No complexo chegaram a trabalhar mais de 1000 pessoas, hoje trabalharão lá quando muito algumas dezenas.
Uma das unidades a funcionar é uma fábrica de lavagem de lãs que emprega uma dezena de pessoas. As lãs tosquiadas às ovelhas são lavadas, separadas e empacotadas para vender à indústria de lanifícios. A pequena empresa emprega uma dezena de pessoas.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[CACHÃO CACHÉ| ./wikiImages/cachao03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Frechas, Cachão, imagem da série ''CACHÃO CACHÉ'', 2014@@//}}}}}}
@@font-size:12px;A fotografia é como um véu que parece que descobre mas que cobre a realidade.
Na conferência que proferiu na Academia Francesa, em 1926, para comemorar o centenário da invenção da fotografia, Paul Valéry dissertou sobre as relações entre a fotografia e a literatura. Apesar de admirar Baudelaire, ao contrário dele, que tecera críticas duríssimas ao processo fotográfico, que responsabilizara pela degradação da pintura em França, Valéry manifestou uma posição de admiração pela fotografia. A determinada altura da sua conferência referiu a capacidade de ilusão e até de mentira, em que a fotografia parece não ficar atrás da palavra.@@
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Nas publicações a imagem é tão ciosa de suplantar a palavra que lhe rouba alguns dos seus vícios mais deploráveis: a facilidade e a prolixidade. E ouso acrescentar que, inclusivamente, não há mentira, essa grande e sempre florescente especialidade da palavra, que a fotografia não ouse praticar.
Paul Valéry@@}}}}}}
@@font-size:12px;Ou seja, pensamos muitas vezes que a ideia de associar a fotografia à mentira é muito //CONTEMPORÂNEA//, mas o poeta Paul Valéry já a expressou de modo muito claro há quase 100 anos atrás.@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Memórias| ./wikiImages/prensa7.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, imagem da série ''MEMÓRIAS''@@//}}}}}}
@@font-size:12px;Publico aqui um conjunto de pequenas citações dispersas sobre fotografia, sem qualquer preocupação de encontrar coerência entre elas, e que poderão até parecer em certos aspectos contraditórias entre si. São de vários autores, cujos ensaios me passaram recentemente pelas mãos. Abordam muitas questões pertinentes, que continuam a ser fonte de muitos equívocos e mal-entendidos: a relação da fotografia com o documento; a relação da fotografia com a verdade; a relação da fotografia com a literatura; a relação da fotografia com a pintura; a fotografia e a memória; a fotografia e a arte. Para propiciar, a quem possam interessar, reflexões durante o tempo de verão. Aconselho, como é óbvio, a leitura integral dos textos de onde provêm.
Nota: a fotografia acima é de uma série dedicada à memória, ainda sem título definitivo, sobre a qual reflicto no presente.@@
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
//Documentary? That’s a very sophisticated and misleading word. And not really clear. You have to have a sophisticated ear to receive that word. The term should be documentary style. An example of a literal document would be a police photograph of a murder scene. You see, a document has use, whereas art is really useless. Therefore art is never a document, though it certainly can adopt that style.//
{{indent{Walker Evans, 1971, when he was asked whether “photographs can be documentary as well as works of art" (//American Suburb X//, 2011)}}}
//Nas publicações a imagem é tão ciosa de suplantar a palavra que lhe rouba alguns dos seus vícios mais deploráveis: a facilidade e a prolixidade. E ouso acrescentar que, inclusivamente, não há MENTIRA, essa grande e sempre florescente especialidade da palavra, que a fotografia não ouse praticar.//
{{indent{Paul Valéry, //Centenário da fotografia//, conferência que proferiu na Academia Francesa em 1926.}}}
//I am convinced that all of this – William M. Ivins refers to the rupture art movements which erupted in the turn of the XIX to XX century - has taken place very largely because the photograph and photographic processes have brought us knowledge of art that could never have been achieved so long as western European society was dependent upon the old graphic processes and techniques for its reports about art. The syntaxes of engraving had held our society tight in the little local provinciality of their extraordinary limitations, and it was photography, the pictorial report devoid of any linear syntax of its own, that made us effectively aware of the wider horizons that differentiate the vision of today from that of sixty or seventy years ago.//
{{indent{William M. Ivins, //Prints and Visual Communication//, 1953}}}
//Os sistemas complexos adaptativos, como o cérebro, encontram-se numa região de funcionamento que está entre a ordem e o caos. Sem memória, não somos humanos (a perda de memória é a antecâmara da morte). Quando a memória é hipertimésica (i.e., síndrome da supermemória), estamos num estado ultra-humano, e por isso também com défice de humanidade. A fotografia, hoje, é hipertimésica, vivemos num caos de imagens que, cada vez mais, contrai o tempo e aproxima o passado do presente. Perder a memória é perder o passado. "Ganhar" uma supermemória também. A condição humana está entre as duas regiões.//
{{indent{Carlos M. Fernandes, 2014}}}
//In the photographic world today there are recognized three classes of photographers: the ignorant, the purely technical, and the artistic.//
{{indent{Alfred Stieglitz, //Pictorial Photography//, 1899}}}@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[NOVA VISÂO| ./wikiImages/visao.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, em 10-09-2013@@//}}}}}}
@@font-size:12px;Nos anos 20 do século passado, assistimos a uma ruptura profunda na estética fotográfica. Este rompimento está claramente associada às transformações sociais, políticas e culturais do pós-guerra. O pictorialismo do século XIX e até o naturalismo do grupo de Stieglitz nos EUA e de outros grupos congéneres na Europa, como o Photo Club de Paris ou o Linked Ring no Reino Unido, eram postos em causa. O naturalismo, no fundo, limitava-se a contrapor ao pictorialismo "exagerado" e anti-natural, um pictorialismo "moderado", que se impusesse a si próprio como fronteira não ultrapassar os limites dos processos fotográficos.
Essa ruptura é muito vezes caracterizada genericamente pela procura de uma "nova visão" ou epitetada frequentemente como "straight photography". A designação "nova visão" deve-se realmente a László ~Moholy-Nagy, um artista ligado à Bauhaus e que defendia o papel da fotografia na descoberta de uma completamente nova forma de ver.
Múltiplos movimentos surgiram nos anos 20, de que podemos destacar a Nova Objectividade, a Nova Visão e o Construtivismo na Europa, e o grupo f.64 no EUA. Em todos estes grupos, a ideia de beleza está associada predominantemente a essa “nova visão”, que a fotografia revela.
A exposição //~FiFo (Film und Foto)// , em Estugarda na Alemanha, em 1929, coordenada por László ~Moholy-Nagy, Edward Steichen e Edward Weston, e que reuniu fotógrafos europeus e alemães, pode ser considerada como a primeira grande mostra da fotografia europeia e americana que traduz as ideias artísticas desta “nova visão”.
Em paralelo com os grupos referidos também explodem movimentos com características diferentes, como o surrealismo e o dadá, onde a fotografia desempenhou um papel fundamental.
Nota: este tiddler reutiliza algum texto de um ensaio em finalização, sobre Fotografia e Beleza, a publicar na colecção //REFLEX// do //The Portfolio Project//.@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e Beleza| ./wikiImages/interruptor.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //cada objecto, condição, combinação ou processo específico exibe beleza//, 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Como se explica que quase todos os homens estejam de acordo em que existe o belo; que haja tantos entre eles que o sentem vivamente onde ele se encontra, e que tão poucos saibam o que o belo é?
Diderot, Traité du Beau, 1772, trad. autor@@}}}}}}
@@font-size:13px;Há mais de um ano que tenho entre mãos a escrita de um livo sobre fotografia e beleza, que deverá sair ainda este ano, publicado na colecção REFLEX, se não surgirem atrasos imprevistos.
O principal objectivo definido desde o princípio para esse livro era passar a escrito uma reflexão pessoal sobre beleza e fotografia, inspirada na leitura do livro de Susan Sontag //On Photography//, publicado em 1977, e que integra um conjunto de ensaios da autora sobre fotografia.
No ensaio //America, Seen Through Photographs, Darkly//, Sontag utiliza a utopia romântica da poesia de Walt Whitman, perante o conceito de beleza, como referência para posicionar a fotografia americana, desde o século XIX até à década de 70.@@
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Eu não duvido que a majestade e a beleza estão latentes em qualquer pedacinho do mundo… eu não duvido que existe muito mais em trivialidades, insectos, pessoas, escravos, anões, ervas daninhas, recusas rejeitadas, do que eu supunha…
Walt Whitman Leaves of Grass, 1855, trad. autor@@}}}}}}
@@font-size:13px;Na opinião de Sontag, a partir de 1915, os fotógrafos reunidos à volta de Alfred Stiglitz, do grupo ~Photo-Secession e da sua revista //Camera Work// passam a estar em completa sintonia com as palavras do poeta de //Leaves of Grass// //"cada objecto, condição, combinação ou processo específico exibe beleza"//. A fotografia mostrava ser capaz de conferir beleza a todos os objectos e a todas as coisas. Esta "qualidade" da fotografia só seria questionada nas décadas de 50/60.
O livro irá contar tudo isto, e tentará alargar a análise ao que sucedeu na Europa entretanto e ao que aconteceu depois dos anos 70, com o conceptualismo e a chamada fotografia contemporânea. Faz ainda uma contextualização da beleza na fotografia na história do "belo" desde o Classicismo ao Contemporâneo, percorrendo a história desde Platão aos nossos dias.@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[NOVA VISÂO| ./wikiImages/memoria01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto sobre a Memória, 2012-2014@@//}}}}}}
@@font-size:14px;''O que é uma "boa" fotografia?''@@
@@font-size:12px;A qualidade de uma fotografia era avaliada tradicionalmente por critérios técnicos e por critérios estéticos. Há certamente outros critérios, históricos, científicos, sociais ou políticos, mas eram sobretudo os dois tipos enunciados que permitiam a alguém afirmar que uma determinada fotografia era uma “boa" fotografia.
Os critérios técnicos parecem ter sido herdados em grande parte da história da fotografia e das inovações tecnológicas, sobretudo no campo da óptica e da química, que foram rapidamente corrigindo “limitações” do processo fotográfico primitivo, e que possibilitaram muito cedo imagens bem focadas, muito nítidas, capazes de reproduzir com enorme exactidão o real e com um grande equilíbrio tonal, desde os negros aos brancos, com todas as gamas de cinzentos. Sem estas inovações, o naturalismo de Alfred Stieglitz, de Edward Steichen ou de Paul Strand não teria sido possível, e muito menos a Nova Visão de László ~Moholy-Nagy, a Nova Objectividade de August Sander ou a fotografia directa de Walker Evans.
Os critérios estéticos, se esquecermos para já o pictorialismo que se baseava em critérios herdados da pintura, estiveram quase sempre associados ao que se poderia definir genericamente como uma “nova visão” que a fotografia permitia revelar.
Temos portanto técnica e visão, como os dois vectores em que a “boa” fotografia se apoiava. O domínio da técnica e uma visão apurada dotavam um fotógrafo dos meios necessários para fazer “boas” imagens e possibilitavam a sua avaliação criteriosa e justa pelo público e pelos companheiros de actividade.
Poder-se-á argumentar que a contemporaneidade alterou esta realidade e que a chamada fotografia/arte contemporânea teria introduzido e até tornado quase única uma terceira componente na “qualidade” da fotografia: o pensamento, muitas vezes designado como conceito. As transformações tecnológicas, sociais, culturais e artísticas do final do século XX teriam tornado o pensamento a componente mais importante de uma fotografia que pretende assumir uma intervenção artística contemporânea.
Será verdade?
Observa-se facilmente que na maioria dos casos tal facto não é nada evidente. Na realidade, muita da chamada fotografia contemporânea, paradoxalmente, parece valorizar pouco a reflexão ou o pensamento, oferecendo-se-nos, ora sem quaisquer critérios, ora, surpreendentemente, novamente a sobrevalorizar critérios técnicos, ainda que sob novas roupagens.
Será esta a razão por que a técnica e a visão continuam no presente a ser os alicerces fundamentais da formação académica em fotografia?@@
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e Beleza| ./wikiImages/axa01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Durante visita de exposições em Edifício AXA, Porto, Julho 2014@@//}}}}}}
@@font-size:13px;Hegel afirma na sua obra //Licões sobre Estética//: @@
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//Não é na conformidade a regras que reside a produção de obras de arte.//@@}}}}}}
@@font-size:13px;Mas também diz:@@
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Na arte, como no pensamento, é a verdade que procuramos. [...]
//Evocar em nós todos os sentimentos possíveis, penetrar a nossa alma de todos os conteúdos vitais, realizar todos esses momentos interiores por meio de uma realidade exterior que da realidade só tem a aparência, eis no que consiste o particular poder, o poder por excelência da arte. //@@}}}}}}
@@font-size:13px;A esse poder chamamos nós por vezes beleza.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Regresso aos Objectos Pousados na Paisagem| ./wikiImages/objectoAD.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Objecto Pousados na Paisagem'', Valverde, Valpaços, Novembro2014@@//}}}}}}
Há uns anos fui publicando aqui uma série a que chamei "Objectos Insólitos Pousados Na Paisagem". Razões várias justificam(?) um meu maior afastamento desta minha espécie de blog. Tive hoje vontade de regressar com uma nova imagem para essa série, que fiz no dia de ~Todos-os-Santos, ao anoitecer, em Valverde, a caminho de uma pedra fantástica, como há tantas por essas bandas.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Regresso aos Objectos Pousados na Paisagem| ./wikiImages/objectoAE.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Objecto Pousados na Paisagem'', Rebordelo, Novembro de 2014@@//}}}}}}
|vertical-align:top;{{indent{ <br>Minha mão está suja.@@color(#ffffff):>>>>>>>>>@@<br>@@color(#000000):Preciso cortá-la.<br> Não adianta lavar.<br> A água está podre.<br> Nem ensaboar.<br> O sabão é ruim.<br>A mão está suja,<br>suja há muitos anos.<br><br>A princípio oculta<br> no bolso da calça,<br> quem o saberia?<br> Gente me chamava<br> na ponta do gesto.<br> Eu seguia, duro.<br> A mão escondida<br> no corpo espalhava<br> seu escuro rastro.<br> E vi que era igual<br> usá-la ou guardá-la.<br> O nojo era um só.<br><br>@@}}}|vertical-align:top;{{indent{<br>Ai, quantas noites@@color(#ffffff):>>>>>>>>>>>@@<br> @@color(#000000):no fundo da casa<br> lavei essa mão,<br> poli-a, escovei-a.<br> Cristal ou diamante,<br> por maior contraste,<br> quisera torná-la,<br> ou mesmo, por fim,<br> uma simples mão branca,<br> mão limpa de homem,<br> que se pode pegar<br> e levar à boca<br> ou prender à nossa<br> num desses momentos<br> em que dois se confessam<br> sem dizer palavra…<br>A mão incurável<br> abre dedos sujos.@@}}}|vertical-align:top;{{indent{<br>E era um sujo vil,@@color(#ffffff):>>>>>>>>>>>>@@<br> @@color(#000000):não sujo de terra,<br> sujo de carvão,<br> casca de ferida,<br> suor na camisa<br> de quem trabalhou.<br> Era um triste sujo<br> feito de doença<br> e de mortal desgosto<br> na pele enfarada.<br> Não era sujo preto<br>– o preto tão puro<br> numa coisa branca.<br> Era sujo pardo,<br> pardo, tardo, cardo.<br><br>@@}}}|vertical-align:top;{{indent{<br>Inútil, reter @@color(#ffffff):>>>>>>>>>>>>>>>@@<br> @@color(#000000):a ignóbil mão suja<br> posta sobre a mesa.<br> Depressa, cortá-la,<br> fazê-la em pedaços<br> e jogá-la ao mar!<br><br>Com o tempo, a esperança<br>e seus maquinismos,<br>outra mão virá<br>pura – transparente –<br>colar-se a meu braço.<br><br>//Carlos Drummond de Andrade//@@}}}<br>|
{{indent{{{indent{...Com o tempo, a esperança
e seus maquinismos,
outra mão virá
pura – transparente –
colar-se a meu braço...}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Árvore para Manoel de Barros| ./wikiImages/arvoreLapa.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Árvore para Manoel de Barros'', Novembro de 2014@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;''Árvore''
Um passarinho pediu a meu irmão para ser uma árvore.
meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol,
de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore, aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casa vazia de cigarra,esquecida no tronco das árvores só serve para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores
são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão
se transformara,envaidecia-se quando era nomeada para o
entardecer dos pássaros e tinha ciúmes da brancura que os
lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com as borboletas.
//MANOEL DE BARROS//@@}}}}}}
Nota: Depois de Manoel de Barros me ter oferecido tantas fotografias, achei que deveria dedicar-lhe esta árvore que fotografei uma destas noites à Lapa.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Bom ano 2015| ./wikiImages/Postal2014.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''BOM ANO 2015'', Rebordelo, 2014@@//}}}}}}
A festa de Natal faz parte de uma tradição muito antiga de festejar o Solstício de Inverno, como uma celebração de um renascimento, de uma renovação anual que o sol nos oferece, de um novo ciclo, de uma Primavera que se anuncia.
Mas esse renascimento, que nos é proporcionado pelo sol, tem de ser muitas vezes defendido por nós, contra aqueles que estão ao serviço de um inverno prolongado, de uma noite sem amanhecer.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Há alternativas ao peru| ./wikiImages/outrosPerus.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Há alternativas ao peru'', Rebordelo, Dezembro 2014@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;''O PERU''
Glu! Glu! Glu!
Abram alas pro peru!
O peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão
O peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão
O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando, foi dizendo
Que beleza de pavão
Foi dormir e teve um sonho
Logo que o sol se escondeu
Que sua cauda tinha cores
Como a desse amigo seu
//Vinicius de Moraes//@@}}}}}}
Nota: em lembrança de todos os perus que se armam em pavão...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Regresso aos Espanta o Quê?| ./wikiImages/espanta2014_12.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Espanta O Quê?'', Rebordelo, Dezembrode 2014@@//}}}}}}
Estava no tempo de regressar aos meus Espanta O Quê?
Porquê?
Para espantar o quê!
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|bgcolor(#ffffff):[img[Oferendas a Tétis| ./wikiImages/iemanja.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Oferendas a Tétis'', Rio de Janeiro, 31 de Dezembro 2014@@//}}}}}}
No meu último //tiddler// nesta minha espécie de blog escrevi "O Brasil é um país em que nos reconhecemos e onde nos estranhamos. Estranhamos para logo depois entranharmos, como dizia Pessoa acerca da coca-cola.
A mistura "natural" que os brasileiros conseguem fazer entre o cristianismo e os cultos africanos é do que mais estranheza nos causa e que com maior dificuldade entranhamos.
No final do ano fotografei muitas cerimónias e muitas oferendas a Iemanjá, nas praias do Rio e de Niterói; essas imagens poderiam constituir uma série de per si, a que chamo provisoriamente "Oferendas a Tétis", em homenagem a essa criatura divina grega, com papel relevante na Ilíada de Homero. Tétis, a deusa de pé prateado, (do Grego antigo Θέτις), era uma ninfa do mar, uma das cinquenta Nereidas, filhas do antigo deus marinho Nereu. Teve vários filhos, entre eles, Aquiles, o grande herói grego da guerra de Tróia. Tétis oferece a Aquiles a escolha entre uma vida curta e valorosa, se decidisse partir para Tróia onde morreria, e uma vida longa, sossegada e feliz. Aquiles parte para Tróia e os Gregos vencem a guerra.
PS - Espero que o Gregos voltem a vencer esta guerra, talvez ainda mais cruel, em que estão envolvidos.
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|bgcolor(#ffffff):[img[As meninas| ./wikiImages/meninas.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''As Meninas'', MASP, S. Paulo, Janeiro 2015@@//}}}}}}
Depois de uma viagem de três semanas ao Brasil, onde percorremos um imenso território, do Rio e Niterói a Iguaçu, de Iguaçu a Curitiba, de Curitiba a Florianópolis e à ilha de Sta. Catarina, regressando por S. Paulo, chegamos a Portugal cheios de imagens na nossa cabeça. Lemos então para o nosso computador as muitas e muitas centenas (alguns milhares de facto!) de fotografias realizadas e procuramos organizá-las. Seleccionamos algumas, um pouco à sorte, damos-lhe uma rápida edição e vamos compartilhando-as no Facebook, que nos serve como primeiro suporte desses rascunhos ainda mal-pensados e incoerentes.
Depois de tudo isto, tendo identificado várias séries que poderiam ter pernas para andar, como a série dos museus, ou a série das cidades e das gentes, ou a série dedicada a Iemanjá, sabemos que o mais provável é todas estas imagens irem para um caixote, que há uns anos era realmente um caixote, mas a que agora se dá o nome pomposo de disco duro de //backup//.
Algumas notas breves desta viagem, sem preocupação de ordem ou de exaustão: 1. Ficamos estupefactos ao verificar que a maioria dos brasileiros não identifica a língua portuguesa quando falamos coim eles. Pensam que somos espanhóis, argentinos ou uruguaios. 2. Há no Brasil, independentemente de todos os problemas que se continuam a fazer sentir, um sentimento positivo. Ao contrário da prostração e da descrença absoluta que existe em Portugal, no Brasil as pessoas acreditam que as coisas hão-de (e estão a) melhorar. 3. O Brasil é um país em que nos reconhecemos e onde nos estranhamos. Estranhamos para logo depois entranharmos, como dizia Pessoa.
Quando visitamos um país como este como "turistas", sem tempo para verdadeiramente o conhecer, olhamos para ele no fundo como os visitantes de um museu olham para as obras dependuradas nas paredes. Admiramos as pinturas ou as esculturas, mas desconhecemos os seus autores. Vemos as obras e observamos os outros visitantes e julgamos que vimos tudo. Isto justifica ter usado esta imagem, a que por razões óbvias chamei //''As Meninas''//, da série que dediquei aos vários museus que visitámos, o MAC de Niterói, o MAM do Rio, o MON de Curitiba, o MASP e o MLP de S. Paulo, como "ilustração" do álbum descomprometido e algo anárquico //''[[REGISTOS DE UMA VIAGEM AO BRASIL |https://plus.google.com/photos/114896269543768506710/albums/6107314644116533905]]''//, que divulgo aqui, como registo rascunhado dessa viagem. As fotografias estão meramente organizadas por ordem cronológica, pelos vários locais da nossa visita, sem qualquer preocupação de coerência na sequência.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Nada mais me ocorre dizer| ./wikiImages/acrediteAgora.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Nada mais me ocorre dizer acerca das eleições na Grécia'', S. Paulo, Janeiro 2015@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Mataram os pássaros| ./wikiImages/passaro2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Mataram os pássaros'', Rebordelo, 2014@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//Cortaram as árvores, mataram os pássaros e nós, em que ficamos?//@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Tom Jobim @@}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Dois argumentos, por quem se coloca de uma forma mais ou menos recatada do lado da Alemanha, na crise a que assistimos, em particular depois das eleições na Grécia, são recorrentes e parecem ser relativamente sólidos e razoavelmente sustentados, e parecem convencer muita gente. São no entanto argumentos parciais e nalguns aspectos até distorcidos. A sua relativa solidez e sustentabilidade não serão surpreendentes, pois assentam por um lado no que de pior as pessoas e os povos têm, e porque se fundamentam em alguns factos e, como sabemos, boas justificações sempre tiveram de ser suportadas, pelo menos em parte, na verdade, ou no que parece ser verdade.
O primeiro argumento é de que a Alemanha e os alemães - as formigas - não podem continuar a pagar o estado social e a crise na Grécia ou em Portugal - as cigarras. Este argumento parece ser sólido, Pois a Alemanha é o pais mais rico e Portugal e a Grécia os países mais pobres, mas é em grande parte falacioso. De facto, se analisarmos o que aconteceu na Europa desde a integração, na CEE e depois na UE, da Grécia e de Portugal, verificamos que houve fluxos de dinheiro e de vantagens nos dois sentidos. Ou seja, entrou muito dinheiro em Portugal e na Grécia, e temos de reconhecer que em muitos casos foi mal aplicado, mas também houve grandes proveitos para a indústria e para a banca alemãs ao entrar muito mais facilmente nos novos mercados. Houve claramente custos mas também proveitos e para todos. Mesmo se reconhecermos, e não nos custa fazê-lo, que houve períodos em que os chamados países do sul saíram de certa medida beneficiados no "negócio", tal teve como contrapartida uma perda significativa de soberanias, como é o caso do que se passou com a agricultura e com as pescas em Portugal, de que beneficiaram os países mais fortes. E todos os números indicam, contra aquilo que se propaga,que também a Alemanha, e em particular a banca alemã, estão a ganhar com esta crise artificial das dívidas soberanas. E mesmo se tivesse havido verdadeira solidariedade dos países ricos para com os países pobres, e terá aqui e ali acontecido, pôr esse modelo em causa, com o argumento que analisamos aqui, seria pôr em causa os princípios fundacionais da UE. O mesmo raciocínio levar-nos-ia com facilidade a pôr em causa a solidariedade das zonas mais desenvolvidas de Portugal para com o interior, por exemplo. Por que razão hão-de os lisboetas pagar o estado social da gente de ~Trás-os-Montes, das Beiras ou do Alentejo? Alargar um pouco mais esse argumento poder-nos-ia levar até a questionar o próprio estado social. Por que hão-de os ricos pagar a saúde ou o desemprego dos pobres? Por que razão têm de pagar mais impostos? Ora, um dos papéis do Estado democrático, talvez o principal, é de garantir um desenvolvimento equilibrado e harmonioso, assegurando direitos fundamentais para todos. Esse é o papel do estado português mas também da UE no quadro europeu. A não ser assim, chegamos direitinhos ao ultra-liberalismo de direita e ao "estado mínimo", que não é mínimo, mas é o estado ao serviço dos poderosos.
O segundo argumento é menos económico e mais moral, ainda que se possa interpretar apenas como uma forma diferente, mais moralista, de apresentar o argumento anterior. Dizem esses: os gregos receberam muito dinheiro e, em vez de investir correctamente, desbarataram-no em vigarices, engendraram todo o tipo de processos para receber dinheiro do estado e por isso merecem este castigo. Os Gregos são culpados, ainda mais do que os Portugueses, por viveram acima das suas possibilidades, e, se são culpados, têm de expiar essa culpa.Todos sabemos que houve na Grécia muitos esquemas e que houve quem os utilizasse para obter dinheiro fácil. Aliás, o mesmo se passou noutros países e em particular em Portugal. Bastaria referir os dinheiros desbaratados em subsídios para agricultores, que serviam para comprar //jeeps// topo de gama, ou as pseudo-formações, de que curiosamente a empresa //Tecnoforma// de Passos Coelho é um exemplo muito bom, com as suas acções de formação para especialistas em aeroportos. Poderíamos juntar a esse saco de fundo muito fundo as compras obscuras de material militar, onde curiosamente Portugal e a Grécia estão novamente juntos, os estudos técnicos, os pareceres, as consultorias, ou os muitos contratos mais ou menos ruinosos, onde o estado alimentou todo o tipo de gente ligada ao poder. A história do BPN ou a do BES são exemplares e demonstram como o concluio funcionava. Tudo isso é verdade, mas também é verdade que esses esquemas existiram com a conivência e muitas vezes até com a cumplicidade da UE, onde eram os mesmos políticos e tecnocratas, ou da mesma seita, que pululavam nas comissões e em outros organismos. E a questão é, perante esta realidade, que não se nega, o que se deve fazer é castigar todo um povo, destruindo a sua economia e pulverizando o seu estado social, e curiosamente permitindo à mesma seita enriquecer, ou criar condições para que o modelo de desenvolvimento seja outro e todos aqueles que roubaram e que muitas vezes são hoje os mais acérrimos defensores destes "castigos" sejam desmascarados?
Estão a matar os pássaros e nós, em que ficamos?
|bgcolor(#ffffff):[img[Mataram os pássaros| ./wikiImages/passaro3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Mataram os pássaros'', Rebordelo, 2014@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//Seul l’acte de résistance résiste à la mort, soit sous la forme d’une œuvre d’art, soit sous la forme d’une lutte des hommes.//
Deleuze, Conférences@@}}}}}}
Porque a Grécia é hoje a Europa
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fragile Angel| ./wikiImages/ASfragile.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, fotografia do vídeo da montagem da exposição de Annemarie Schwarzenbach na Gulbenkian em Lisboa@@//}}}}}}
Uma pergunta para cuja resposta o artigo //[[“Sem Ítaca, não terias partido”|https://www.academia.edu/11570672/Sem_%C3%8Dtaca_n%C3%A3o_terias_partido]] // procurou contribuir é se a sua fotografia de Annemarie Schwarzenbach poderá vir a ser considerada como um objecto artístico autónomo da escrita, no quadro daquilo a que se costuma chamar fotografia/arte contemporâneas. Ou seja, será possível adivinhar o interesse da chamada contemporaneidade pela obra fotográfica de Annemarie Schwarzenbach?
O artigo apresenta quatro argumentos que indiciam a possibilidade de isso acontecer; em particular realça a riqueza da //metadata// em torno da obra da autora que, para além do mais, é motora do interesse e da curiosidade crescentes por Annemarie Schwarzenbach.
Ora, uma das características essenciais de toda a arte chamada contemporânea reside no facto dela ser distinguida em grande medida pela chamada //metadata//. Ou seja, o que diferencia um objecto como objecto artístico, deixa de ser o objecto propriamente dito, para ser a chamada //metadata// que circula à volta dele: os sítios onde foi mostrado, as críticas que recebeu, as notícias que foram escritas, as polémicas suscitadas, a vida do autor. Será difícil com certeza encontrar um(a) autor(a) que possa dotar a sua obra de uma //metadata// mais rica e mais polémica do que Annemarie Schawarzenbach.
É isso que explica que façamos essa pergunta àcerca da fotografia de Annemarie Schawarzenbach e não da fotografia das suas companheiras de viagem, Marianne Bresllauer ou Ella Maillart, que, provavelmente, num plano estritamente fotográfico, seriam mais valiosas.
Assim, não podendo dar uma resposta definitiva à pergunta que formulámos, pois não somos capazes de prever muitas das condições objectivas e subjectivas que poderão influenciar o que vai acontecer, podemos, no entanto, a partir de alguns dos atributos da fotografia de Annemarie Schwarzenbach, que identificámos, afirmar que ela reúne um conjunto de condições favoráveis para poder vir a transformar-se numa obra com relevo em projectos dentro da chamada fotografia contemporânea, sobretudo numa sua vertente importante, ligada ao documental e ao real.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Vilar de Ouro| ./wikiImages/vilarOuro01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Vilar de Ouro'', Rebordelo, 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//Imagens são mediações entre homem e mundo. O homem “existe”, isto é, o mundo não lhe é acessível imediatamente. Imagens têm o propósito de representar o mundo. Mas, ao fazê-lo, entrepõem-se entre mundo e homem. Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos.//
Flusser, //Ensaio sobre a fotografia//
//Assim, a fotografia, muito ao contrário de registrar automaticamente impressões do mundo físico, transcodifica determinadas teorias científicas em imagem, ou para usar as palavras do próprio Flusser, «transforma conceitos em cenas».//
Arlindo Machado, a propósito do //Ensaio sobre Fotografia// de Flusser@@}}}}}}
A minha pergunta ingénua é: Como se pode compreender que, depois disto, o World Press Photo ainda peça os ficheiros RAW para garantir o "real" das fotografias?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Um Anjo Devastado| ./wikiImages/anjoAS.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, a partir de retrato de Annemarie Schwarzenbach, da autoria de Marianne Breslauer@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{//Um anjo pousou
puxou de um cigarro
fumou
bateu as asas
voou
e desapareceu sem rasto
Foram espalhados cartazes pelos muros da cidade, oferecendo uma recompensa a quem pudesse dar informações sobre a localização do anjo.//}}}}}}
Annemarie Schwarzenbach foi uma jornalista, escritora e fotógrafa, que nasceu na Suíça em 1908. Morreu jovem, com apenas trinta e quatro anos de idade, mas foram trinta e quatro anos percorridos a uma velocidade próxima da velocidade da loucura.
{{indent{{{indent{//À velocidade da loucura, os sonhos no coração não ocupam espaço, duram um tempo infinito, e têm uma massa também infinita.//
Albert Eintraum, //O sonho e o espaço-tempo - Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos//}}}}}}
Quando morre, em 1942, em resultado de uma queda da bicicleta, já tinha visitado a Pérsia, várias repúblicas soviéticas, a Turquia, o Afeganistão, os EUA, o norte de África, alguns países da África Central e grande parte da Europa, tendo passado inclusive por Portugal. Como o destino pode ser irónico, para respeitar os versos de Pessoa //“Os deuses amam os que morrem jovens”//…
Adivinhamos nos seus escritos uma necessidade quase obsessiva de viajar e de procurar alguma coisa, que ela mesma confessa muitas vezes não saber o que é. //“A viagem é uma forma de vida particularmente intensa”//, escreve a autora. A viagem não tem um destino, é uma //"forma de vida"//. Um fado. A vida como errância. Liberdade como condenação. Em verdade, a viagem parece ser muitas vezes mais uma fuga do que uma procura. Annemarie refere-se ela própria a essa compulsão para a viagem como uma //“maldição de fuga”//. Foge da Europa que se autodestrói, foge do nazismo, foge da família, foge da mãe, foge dela própria. E no fim, desiludida, fala de uma liberdade desbaratada. E de cada viagem sente a necessidade de regressar a casa, de voltar à Europa.
Muitas vezes, ao longo da sua vida, esta mulher fascinante, com um rosto misterioso que de imediato nos cativa, foi associada à figura de um anjo. //“Um anjo devastado”// como a descreveu Thomas Mann, pai dos seus dois maiores amigos de juventude, e que por ela ficou fascinado quando a conheceu, ou //“Ela não era nem um homem nem uma mulher, mas um anjo, um arcanjo”//, como afirmou Marianne Breslauer, que foi sua amiga e sua companheira de viagens, uma fotógrafa suíça de prestígio, que é a autora da imagem que nós usamos para criar o nosso anjo.
A própria Annemarie Schwarzenbach dedica dois capítulos inteiros do seu livro //Morte Na Pérsia// à descrição de duas visões de um anjo. Quem é esse anjo? Um anjo da guarda? A sua mãe, Renée, protectora, mas ao mesmo tempo dominadora? A própria Annemarie? A escrita, que lhe serve de confidente? Não sabemos. Mas este anjo, com quem ela conversa, como que com um amigo íntimo, talvez nos possa revelar o que norteou a sua vida e a sua obra. No primeiro encontro ficamos a saber que o anjo a salvara no último momento, pois Annemarie tinha procurado voluntariamente a morte. Porquê? Ela própria responde ao anjo que não sabe. Porque é fraca, responde.
{{indent{{{indent{//– Vi como sofrias, vi como te atormentavas, já contra toda a razão, e como depositavas a tua última esperança num milagre. O que era que te faltava?
– Não sei – disse eu.(…)
– Porque tu és fraca – disse ele - estás entre os mais fracos, mas és sincera. (…)
– Não estou descontente – respondi eu, arriscando um reparo – sinto-me apenas tão só, e já não sei onde posso encontrar um abrigo, encontrar amparo. (…)
– Tenho medo – disse eu e fitei o anjo nos olhos.(…)
Com um cansaço que era já uma morte disse: «Não aguento mais.»
Ele respondeu apenas: - És sincera até à obstinação.
//Annemarie Schwarzenbach, //Morte na Pérsia//}}}}}}
Angústia, solidão, medo, morte. Mas também sinceridade, sinceridade até à obstinação. O segundo encontro acontece quase no fim do livro, e é ainda mais marcado pela ideia de morte.
Poderá este anjo simbolizar o que Annemarie Schwarzenbach procura na viagem, o que ela procura na escrita. Poderá simbolizar também a sua busca, ainda mais incerta, na fotografia?
Chamar-se-á esse anjo Ítaca?
Nota: Este //“tiddler”// (re)utiza excertos do artigo //[[“Sem Ítaca, não terias partido”|https://www.academia.edu/11570672/Sem_%C3%8Dtaca_n%C3%A3o_terias_partido]] // que escrevemos para a Jornada Internacional ANNEMARIE SCHWARZENBACH E A LITERATURA DE VIAGENS NOS ANOS 30, organizada pelo Instituto de literatura comparada da FLUP. Fizemos neste nosso //“tiddler”// também uma coisa que nunca fizéramos antes. Utilizámos uma fotografia que não era da nossa autoria. Não era, mas passou a ser: um retrato de Annemarie Schwarzenbach, da autoria de Marianne Breslauer, que nos serviu para construir o anjo que a autora escondia (mostrava?). Esta experiência pode também servir como homenagem aos surrealistas, tentando imitar aquilo que eles definiam por acaso-objectivo, prática que lhes permitia transformar os acasos do dia a dia em criações artísticas.
|bgcolor(#ffffff):[img[Rascunhos para Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira| ./wikiImages/CO_01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rascunhos para um Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira, Praia da Tocha, Abril 2015@@//}}}}}}
Carlos Oliveira é um poeta visual, mesmo quando lhe observamos um “adensamento da linguagem”. Por vezes quase nos atreveríamos a dizer que ele é um poeta quase-fotográfico. Por isso, a ideia de um ensaio fotográfico, a partir da sua poética, foi quase imediata. E a ideia consolidou-se com o passar do tempo.
A sua poesia é uma poesia quase sempre bordada pela memória. Sobretudo a memória de infância, que se materializa muitas vezes em casas, tantas vezes casas abandonadas, casas arruinadas.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//A casa de meu avô, hoje destruída, para que a infância (como lhe compete) habite pouco mais que a memória.//
Carlos de Oliveira, //Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
Carlos de Oliveira, como escritor da “realidade que o cerca”, é um escritor das gentes, das coisas e das paisagens. Toda a sua obra é marcada fortemente pelo território onde cresceu: a Gândara , uma zona litoral localizada a sul de Aveiro e a norte da Figueira da Foz, à volta de Cantanhede; constituída por terras planas muito pobres, arenosas, onde predomina o cultivo do pinhal; polvilhada por colinas calcárias, onde se fazia a exploração da pedra e a extracção da cal; limitada pelo mar a oeste, atravessada no interior por lagoas pantanosas. Terra de névoas prolongadas carregadas de humidade e de sal. Terras fartas de água mas parcas de recursos e, por isso, as suas gentes viviam em condições de grande precariedade.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Perguntam-me ainda porque falo tanto da infância. Porque havia de ser? A secura, a aridez desta linguagem, fabrico-a e fabrica-se em parte de materiais vindos de longe: saibro, cal, árvores, musgo. E gente, numa grande solidão de areia. A paisagem da infância que não é nenhum paraíso perdido mas a pobreza, a nudez, a carência de quase tudo.
Desses elementos se sustenta bastante toda a escrita de que sou capaz, umas vezes explícitos, muitas outras apenas sugeridos na brevidade dos textos. E disse sem querer uma palavra essencial para mim. Brevidade. //
Carlos de Oliveira, //Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
//Micropaisagem// será talvez o mais visual de todos os seus livros, e assim ele deveria servir-nos de porta de entrada. Teríamos de ser nós a desbravar o caminho e a descobrir a porta de saída, sem sabermos quando partimos aonde iríamos arribar.
Ainda não sabemos
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|bgcolor(#ffffff):[img[Rascunhos para Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira| ./wikiImages/CO_02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rascunhos para um Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira, Forno de Cal, Gândara, Abril 2015@@//}}}}}}
Carlos de Oliveira é um escritor da memória. Toda a sua obra é marcada fortemente pelo território onde cresceu: a Gândara, uma zona litoral localizada a sul de Aveiro e a norte da Figueira da Foz, à volta de Cantanhede; constituída por terras planas muito pobres, arenosas, onde predomina o cultivo do pinhal; polvilhada por colinas calcárias, onde se fazia a exploração da pedra e a extracção da cal; limitada pelo mar a oeste, atravessada no interior por lagoas pantanosas. Terra de névoas prolongadas carregadas de humidade e de sal. Terras fartas de água mas parcas de recursos e, por isso, as suas gentes viviam em condições de grande precariedade.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px; //Este junho que lembra um forno de cal na gândara, ao meio-dia. Nunca viram? Pois coze pedra, desidrata-a ou lá o que é, transforma-a em blocos duros de pó.//
Carlos de Oliveira, //Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Rascunhos para Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira| ./wikiImages/CO_04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rascunhos para um Ensaio sobre a Poética de Carlos de Oliveira, Casa Gandaresa, Gândara, Abril 2015@@//}}}}}}
Há cerca de dois meses que os livros de Carlos de Oliveira me acompanham. Perante a visualidade da sua poesia, tinha decidido partir para um ensaio fotográfico sobre a sua poética, em particular no seu livro //Micropaisagem//. Essa viagem continua, não sei ainda nem até quando nem até onde.
Com o Carlos de Oliveira na cabeça, as palavras um dia surgiram-me (de onde?). Poderia afirmar, como um dia Sophia escreveu, que "completamente imóvel e mudo ouvira aquele poema, que o próprio ar continha em si."? Bem, se ouvi não dei por nada, o que poderá dever-se à labirintite que me apanhou desprevenido há alguns anos e que me afectou desde aí a audição. Sophia recomendava “mudo” e não “surdo”.
Não, as palavras não me foram sopradas do ar, sei apenas que senti um impulso para as procurar, para as reunir e para depois as cortar, até construir aquele quase quase-soneto, deixem-me atrever a quase chamar-lhe assim, tal como ~Gastão-Cruz chamou aos poemas do poeta em //Micropaisagem//.
{{indent{{{indent{ ~QUASE-QUASE-SONETO
Aproximei a mão,
dedos abertos
em forma de tesoura
e cortei rente
a palavra,
a palavra pobre,
a palavra certa
que breve
caiu
precária,
carente,
na areia.
Desaparece
coberta de cal.}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arca01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
//''Arca de Noé''// é um projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos sobre a memória, em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade, e da sua perecibilidade.
É construido a partir de dois espaços, as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, em Figueira de Castelo Rodrigo.
Mistura imagens de objectos e de espaços que de facto se materializam fisicamente com as recordações, nomeadamente fotografados nas próprias casas dos meus avós, com outros objectos e outros espaços que, não se identificando fisicamente com as memórias distantes, sugerem e se acabam misturando com elas. Porque
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;As memórias são bichos domesticados que guardamos dentro de casa.
As memórias são bichos dóceis que alimentamos carinhosamente na mão.
As memórias são bichos amáveis que dormem connosco na nossa cama.
As memórias são bichos brincalhões que nos afagam a cabeça e nos arranham o peito, exactamente por cima do coração.
As memórias são bichos de focinho colado ao chão, à procura dos cheiros primordiais.
As memórias são bichos de dentes arreganhados que guardam as portas do passado.
As memórias são bichos em perigo de extinção.@@//}}}}}}
O livro vai estar disponível em breve, espero...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arca02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{//– Era uma casa – como direi? – absoluta//.§
Era outra casa – como direi? – também absoluta. Era uma casa voltada ao fim do dia sobre os comboios que chegavam do outro lado do rio. Era outra casa onde os comboios nos levavam. Era uma casa de luz ao centro. Era outra casa que rangia à noite de dor e de medo do escuro. Era uma casa onde os nossos dedos se prolongavam num fio comprido, ao longo das escadas, até à porta da rua. Era outra casa onde o cheiro da argila húmida nos ficava pegado nas palmas das mãos. Era uma casa. Era outra casa com cachos de uvas murchas, dependurados de pregos retorcidos, pregados nas traves velhas do tecto.
//– Era uma casabsoluta – como direi? – um sentimento onde algumas pessoas morreriam… Ter amoras, folhas verdes, espinhos com pequena treva por todos os cantos//.§
Era outra casabsoluta – como direi? – um lugar onde algumas pessoas morreriam…Ter balões, fogos de artifício e, em dia de festa, taças de espumante barato que íamos buscar à cave, cheiro a mofo por todos cantos. Ter maçãs-bravo-de-esmolfe a encher-nos os bolsos antes de amarelecerem nos lábios. Ter ovos numa cesta de vime debaixo da cómoda da sala do rés-do-chão.
§Verso glosado do poema "Minha Cabeça Estremece" de Herberto Hélder}}}}}}
@@font-size:10px; Nota: Arca de Noé é um projecto fotográfico, que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade, e da sua perecibilidade. É construido a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, a outra na Beira Alta, em Figueira de Castelo Rodrigo. Mistura imagens de objectos e de espaços que de facto se materializam fisicamente com as recordações, nomeadamente fotografados nas próprias casas dos meus avós, com outros objectos e outros espaços que, não se identificando fisicamente com as memórias distantes, sugerem e se acabam misturando com elas.@@
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|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arca03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
Construímos com paciência muitas arcas; arcas pequenas, arcas médias, arcas grandes, onde guardamos as memórias e, por um momento, breve, quase acreditamos que podemos ser Noé. Ingénuos, cremos que as resgatámos, mas um dia olhamos e já não temos o bicho, mas apenas uma ossada, uma pegada que se adivinha marcada na pedra, ou um belo fóssil desenhado nos sedimentos finos da rocha.
''Arca de Noé'' parte da dor causada por essa evidência de que as memórias dos meus avós e das suas casas, onde vivi uma parte feliz da minha infância, me morrem um pouco todos os dias. Transformam-se, deformam-se, desvanecem-se e vão-se extinguindo gradualmente até um dia desaparecerem comigo, como bichos fiéis que não suportam a ausência do dono.
As palavras e as imagens são assim meros epitáfios desses bichos em processo acelerado de extinção.
@@font-size:10px; Nota: Arca de Noé é um projecto fotográfico, que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade, e da sua perecibilidade. É construido a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, a outra na Beira Alta, em Figueira de Castelo Rodrigo. Mistura imagens de objectos e de espaços que de facto se materializam fisicamente com as recordações, nomeadamente fotografados nas próprias casas dos meus avós, com outros objectos e outros espaços que, não se identificando fisicamente com as memórias distantes, sugerem e se acabam misturando com elas.@@
|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arca04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
''//Arca de Noé//'' é um projecto fotográfico, que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória. Constrói-se em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade, da sua perecibilidade.
É elaborado a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, a outra na Beira Alta, em Figueira de Castelo Rodrigo. Mistura imagens de objectos e de espaços que de facto se materializam fisicamente com as recordações, nomeadamente fotografados nas próprias casas dos meus avós, com outros objectos e outros espaços que, não se identificando fisicamente com as memórias distantes, sugerem e se acabam misturando com elas.
Era tempo de materializar esse projecto. O meu amigo Rui Costa, professor de Design na UA, desafiou-me para propor o objecto-livro "Arca de Noé" como um trabalho de concepção de um livro de autor na sua turma. O desafio seduziu-me e como resultado desta iniciativa resultaram oito livros distintos que materializam o projecto.
Oito objectos muito diferentes, a partir do mesmo conjunto de imagens, do mesmo texto que escrevi para o livro, e a partir do mesmo conceito, que discuti com cada um dos grupos.
|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arca05.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
Escolhi uma das propostas, que vai ser editada em processo de "//crowd-funding//", ou seja, será utilizada uma plataforma para possibilitar a pré-aquisição do livro, de modo viabilizar financeiramente a sua publicação, garantindo que cada um dos cúmplices do projecto receberá o seu exemplar. Informarei como participar, quando o processo estiver no terreno.
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|bgcolor(#ffffff):[img[O quarto da minha avó| ./wikiImages/arca06.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Projecto e Livro ''Arca de Noé''@@//}}}}}}
Regressei ao planalto, a Figueira de Castelo Rodrigo, à terra dos meus avós, e as memórias não deixaram de me apoquentar.
Recolhi mais uns bichos em extinção para a minha //Arca de Noé//.
Porque
{{indent{//@@font-size:11px;As memórias são bichos domesticados que guardamos dentro de casa.
As memórias são bichos dóceis que alimentamos carinhosamente na mão.
As memórias são bichos amáveis que dormem connosco na nossa cama.
As memórias são bichos brincalhões que nos afagam a cabeça e nos arranham o peito, exactamente por cima do coração.
As memórias são bichos de focinho colado ao chão, à procura dos cheiros primordiais.
As memórias são bichos de dentes arreganhados que guardam as portas do passado.
As memórias são bichos em perigo de extinção.@@//}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[A adrenalina não engana| ./wikiImages/adrenalina.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque,Viana do Castelo, Agosto de 2015@@//}}}}}}
Pergunto-me muitas vezes sobre o que é a fotografia. Não o que é a fotografia no plano técnico, não o que é a óptica ou a química, o digital ou o software que a possibilitam, mas qual o seu espaço, como se relaciona com outras formas de expressão, com a escrita, com a literatura, com a poesia, com a pintura, com o cinema. Por vezes quase acredito que chego a uma resposta, mas ela logo se esvai. Talvez tenha de ser assim e não haja uma resposta definitiva, o que não quer dizer que não seja essencial formular a pergunta e perseguir a resposta que não existe. Quanto mais não seja para recusarmos respostas fáceis.
Talvez afinal a melhor resposta esteja numa intuição, que se desenvolve à custa destas perguntas e das respostas que se não conseguem. Talvez a resposta esteja numa espécie de adrenalina que nos excita no momento de disparar e no momento de pensar sobre a imagem que fizemos. Talvez só essa intuição e essa adrenalina nos permitam fotografar o silêncio, o perfume de jasmim, a existência da lesma, o perdão em tons de azul, o sobre, a nuvem de calça e o poeta.
{{indent{//@@font-size:11px;''O Fotógrafo''
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros,Ensaios Fotográficos@@//}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Continuo a tentar fotografar o silêncio| ./wikiImages/ervasSilencio01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série "Continuo a tentar fotografar o silêncio...", Tuizelo, Vinhais, Agosto de 2015@@//}}}}}}
Esta fotografia, muito recente, pertence a uma série que recomeço em cada visita a ~Trás-os-Montes. Talvez faça sentido contar como tudo começou.
Entre 2000 e 2003 andei envolvido num projecto fotográfico, sobre a minha ligação sensorial, afectiva à terra, às plantas, à paisagem. Esse projecto reunia sobretudo fotografias de campos e de ervas emTrás-os-Montes, numa área que ia de Bragança até ao Douro. Nessas imagens predominavam os tons dourados, apesar de haver fotografias realizadas em todas as estações do ano. Por isso. chamei a esse projecto //"D'ouro d'Alendouro"//. Alendouro é a forma como costumo designar ~Trás-os-Montes; "d'ouro", e não "douro", porque o epíteto deve remeter para a cor que domina e não para o rio, ainda que a ambiguidade sonora não fosse desinteressante, pois o Douro era afinal a fronteira. O Jorge Sousa Braga escreveu um conjunto de pequenos textos para um livro, que seria publicado em 2003, para acompanhar uma pequena exposição com fotografias e poemas que, entre 2003 e 2004, percorreu alguns concelhos de ~Trás-os-Montes. Finalmente em 2004 houve uma exposição no CPF com vídeo e fotografia.
Foi de facto o Jorge Sousa Braga quem me demonstrou que aquilo que eu tentara fotografar era o silêncio. Foi ele quem escreveu "Nestas ervas/ só o silêncio / se pode deitar". Por isso, a exposição no CPF se chamou [["Paisagens do silêncio"|http://www.renatoroque.com/paisagens_silencio/FrameSet.htm]]. E ele parece ter-me rogado uma praga, pois, desde então, em cada retorno ao Alendouro, sou atraído pelas ervas, mergulho e deito-me nelas, ao lado do silêncio que tento fotografar.
E desculpem lá, mas sou obigado a repetir aqui o poema de Manoel de Barros que entretanto me serve de guia nesta tarefa obsessiva de fotografar o silêncio.
{{indent{//@@font-size:11px;''O Fotógrafo''
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros,Ensaios Fotográficos@@//}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[E o verão tão à beira de acabar| ./wikiImages/moledo2015.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Moledo, Agosto de 2015@@//}}}}}}
A cada novo ano do meu entardecer, o verão parece passar cada vez mais a correr. De Maio a Setembro o verão acelera, como os sonhos no coração, e o tempo contrai-se, de acordo com a segunda lei da Teoria da Relatividade Restrita do Sonhos de Albert Eintraum. O tempo só parece travar quando Outubro se anuncia. É o tempo das maçãs.
{{indent{@@font-size:10px;//Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo//@@}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Sophia de Mello Breyner Andresen@@ }}}}}}
{{indent{@@font-size:10px;//As cores da maçã assada aberta
pelo fim do verão antecipam no palato
uma emergência de outono.
...//@@}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;João Luís Barreto Guimarães@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[E o verão tão à beira de acabar| ./wikiImages/arcaNoe08.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto ''Arca de Noé'', em Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2013@@//}}}}}}
Faço as malas para regressar à casa dos meus avós em Figueira de Castelo Rodrigo.
O planalto, a Beira Alta, aquela terra dourada, encravada entre o Douro, o Coa e o Águeda, eram o meu destino nos longos verões da minha infância e juventude.
Viagens longas de comboio na linha do Douro, de S. Bento à Barca de Alva, com atrasos constantes, cheias de peripécias. Depois, quase duas horas de viagem numa camioneta velha, para fazer pouco mais de 20 kms. O motor protestava montanha acima até Escalhão, numa paisagem de sufoco, ameaçava falhar, exigindo uma paragem a meio da escalada para beber um pouco de água e arrefecer. De Escalhão à Mata de Lobos era já uma pressinha, em pleno planalto, em estrada de terra batida. Da Mata a Figueira a estrada já estava meia alcatroada e a torre da igreja com o ninho das cegonhas, ao longe, era o primeiro sinal de que estávamos a chegar.
As viagens de automóvel exigiam longa preparação, havia enjoos e paragens forçadas, eram pretexto para descobrir restaurantes, que repetíamos nos anos seguintes, se o horário o aconselhasse.
Mas há muitos anos que Figueira de Castelo Rodrigo é apenas o destino do meu fim de verão. Acompanho a minha mãe para passarmos uns dias na casa dos meus avós.
Mergulho directo na nostalgia.
Figueira pertence há alguns anos ao meu tempo das maçãs. Não as maçãs bravo de esmolfe, que eu comia deliciado, depois de trepar às árvores na vinha dos meus avós, e que me deixavam um cheiro intenso nos bolsos, mas as maçãs que "antecipam no palato uma emergência de outono".
Nota: A imagem de Figueira pertence ao meu próximo projecto fotográfico, sobre as memórias de infância, a editar em breve em livro por "//crowdfunding//", chamado [[Arca de Noé |https://www.facebook.com/ArcadeNoeRR?pnref=story]]
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[E o verão tão à beira de acabar| ./wikiImages/anibal.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2015@@//}}}}}}
O Sr. Aníbal é nosso vizinho em Figueira. Trabalhou quase toda a vida na secretaria da câmara municipal. Ao reconhecer-me, quando saía da casa dos meus avós, cumprimentou-me com simpatia e disse-me assim de repente: "Sabe, eu era muito amigo do seu pai, um homem afável e simpático. Gostava muito de conversar com ele. Encontrava-o muitas vezes no café Sardinha. Já do filho não posso dizer a mesma coisa. Esse era um rebelde!". E com um sorriso nos lábios contou-me então uma história de que eu, sinceramente, me não recordava. Miúdo, eu teria entrado na secretaria da câmara para pedir a carta de condução de velocípedes, como então se chamava ao documento que permitia andar de bicicleta na via pública. "Mas quando o informei de que para obter a carta teria de obter uma permissão por escrito do pai, ele virou-se para mim e com veemência protestou: «Esta falta de liberdade da juventude um dia vai ter de acabar! E saiu...»; o Sr Aníbal aprofundou o sorriso maroto, mas ao mesmo tempo terno, que sobrevoara toda a história e eu pedi-lhe para o fotografar; ele aceitou.
Mais uma memória para a minha [[Arca de Noé |https://www.facebook.com/ArcadeNoeRR?pnref=story]].
Nota: Eu recebi a minha bicicleta Vilar, como presente, quando fiz a quarta classe; registei-a em Figueira, onde era mais fácil fazê-lo.Possuo ainda a chapa de identiicação nº 827. Em Figueira também fiz o exame para obter a tal licença de condução de velocípedes. Deveria ter portanto entre 9 a 10 anos de idade.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[E o verão tão à beira de acabar| ./wikiImages/ribeira01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Ribeira de Escalhão, Setembro 2015@@//}}}}}}
A Ribeira de Escalhão era um dos locais míticos da nossa infância. Figueira de Castelo Rodrigo não é atravessada por nenhum curso de água. No verão a secura dói. Mas a Ribeira fica a cerca de 4 km de Figueira e, no regresso, o que dói são as pernas, pois é preciso trepar um bom pedaço do trajecto. O Côa, era outro possibilidade, com mais água, mas era ainda mais longe e o trajecto era ainda mais acidentado.
Muitas vezes atravessei a Ribeira, nas minhas viagens de bicicleta, de Figueira para Escalhão, para me encontrar com um grupo de amigos. Longas tardes, em que todos nos esforçávamos por "aumentar o que não acontecia". E de novo a Ribeira, de lá para cá, ao fim do dia, para voltar a casa dos meus avós. Segundo me conta a minha mãe, era a este moinho, hoje em ruínas, que o meu avô trazia as azeitonas para fabricar o azeite, para casa e para vender, como um dos sustentos da família.
Memórias para a minha [[Arca de Noé |https://www.facebook.com/ArcadeNoeRR?pnref=story]].
{{indent{@@font-size:10px;//Por forma que a nossa tarefa principal
era a de aumentar
o que não acontecia.
(Nós era um rebanho de guris.)
A gente era bem-dotado para aquele serviço
de aumentar o que não acontecia.
A gente operava a domicílio e pra fora.
E aquele colega que tinha ganho um olhar
de pássaro
Era o campeão de aumentar os desacontecimentos.
Uma tarde ele falou pra nós que enxergara um
lagarto espichado na areia
a beber um copo de sol.
Apareceu um homem que era adepto da razão
e disse:
Lagarto não bebe sol no copo!
Isso é uma estultícia.
Ele falou de sério.
Ficamos instruídos.
Manoel de Barros//@@}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[E o verão tão à beira de acabar| ./wikiImages/rodelo01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rodelo, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2015@@//}}}}}}
O tempo das maçãs era tão longe quando eu tinha 13 anos...
{{indent{@@font-size:10px;//Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.
Manoel de Barros//@@}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Enquanto se não extinguir a luz| ./wikiImages/luz01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Enquanto se não extinguir a luz'', 2015@@//}}}}}}
{{indent{@@font-size:10px;//''Faz-se Luz''
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
Mário Cesariny, in Pena Capital//@@}}}
Ao fim e ao cabo a luz é a matéria de que são feitas todas as coisas, mesmo as sombras.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Resistência| ./wikiImages/resiste01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Seul l’acte de résistance'', Outubro 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
//Seul l’acte de résistance résiste à la mort, soit sous la forme d’une œuvre d’art, soit sous la forme d’une lutte des hommes.//
Deleuze, Conférences@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Escrito com Cal e com Luz| ./wikiImages/CO05.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, a casa de Carlos de Oliveira na Gândara, do ensaio ''Escrito com Cal e com Luz'', Outubro 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Trago a janela de muito longe, da casa do meu avô, e abro-a nesta parede cega virada a poente. Junto-lhes a lembrança das janelas a faiscar no outro lado da rua. Consigo assim a mesma mancha de sol, as mesmas nuvens coloridas de então.//
Carlos de Oliveira, //Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
O ensaio fotográfico ''Escrito com Cal e com Luz'' foi desenhado a partir da obra literária de Carlos de Oliveira, em especial dos seus livros Micropaisagens e Finisterra.
Partindo da casa de família do escritor em Febres, na Gândara, do seu espólio mobiliário e literário, coberto por plásticos protectores ou armazenado em caixotes de cartão numerados, à espera de poder ocupar o espaço que lhe pertence na casa, deambulando pela paisagem, em torno das lagoas, das pedreiras, das casas abandonadas e dos pinhais e percorrendo o ciclo da cal.
Estou à procura de condições para editar o ensaio.
Entretanto o projecto [[''Arca de Noé'' foi lançado por crowdfunding.|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]
|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/Arca_LOGO.jpg]]|
Gostava de ter o [[vosso apoio para o tornar possível|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]. Registem-se para comprar antecipadamente o livro, se acharem que vale a pena. O pagamento, na realidade, só se efectua quando o projecto for concretizado em termos de publicação e o custo será inferior ao preço de venda posterior.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Tempo das Maçãs''| ./wikiImages/algas.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Afife, 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O outono vem vindo, chegam melancolias,
cavam fundo no corpo,
instalam-se nas fendas; às vezes
por aí ficam com a chuva
apodrecendo;
ou então deixam marcas; as putas,
difíceis de apagar, de tão negras,
duras.//
Eugénio de Andrade, in //O Outro Nome da Terra//@@}}}}}}
Quando as maçãs se foram, então este tempo de Outono, antes do Natal, me apodrece as melancolias, me deixa marcas, difíceis de apagar, cavadas fundo no corpo, instaladas nas fendas, que nem a chuva consegue lavar...As putas, sujas, duras...
--------------------------------------------------------------------------
Estamos nos 40% do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]'.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Arca de Noé''| ./wikiImages/arcaNoe09.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Na casa dos meus avós em Figueira de Castelo Rodrigo, em livro ''Arca de Noé'', 2015@@//}}}}}}
''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo.
É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Características técnicas: capa dura, 100 páginas, reunindo um conjunto de fotografias a cor e a preto e branco e um texto do autor em português e inglês.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Arca de Noé''| ./wikiImages/arcaNoeA.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Paisagem em Figueira de Castelo Rodrigo, em livro ''Arca de Noé'', 2015@@//}}}}}}
Já atingimos 20% do valor necessário para a publicação do livro ''Arca de Noé''.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo.
É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Características técnicas: capa dura, 100 páginas, reunindo um conjunto de fotografias a cor e a preto e branco e um texto do autor em português e inglês.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Arca de Noé''| ./wikiImages/arcaNoeB.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Tantas vezes o meu quarto na casa dos meus avós em Figueira de Castelo Rodrigo, 2015@@//}}}}}}
Verifico que publiquei 77 posts, nesta minha espécie de //blog//, em que aparece, de alguma forma, a questão da "memória". Ou seja, mais de 10% das minhas publicações aqui, desde 2005, quando iniciei esta espécie de //blog// questionam a memória. Nada de especialmente estranho, pois a fotografia, desde que o processo foi inventado, sempre esteve ligada, de uma forma muito metafórica mas também muito física à memória. Daguerre curiosamente definia a fotografia, para gente que ainda a desconhecia, como “um espelho com memória”, ou seja, capaz de transformar o “isto é” do espelho, num mágico e misterioso “isto foi”, misturando, tal como argumenta Barthes, a realidade com o passado.
Mas a fotografia, ou melhor, as fotografias transformam-se elas próprias em memórias, memórias que se confundem com outras memórias e que se fundem com o realmente vivido. ''Arca de Noé'' mistura memórias com memórias de memórias. Memórias salvas com memórias perdidas.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;...ao equacionar as fotografias apenas na medida em que lhe podem ser úteis como instrumento da memória, Proust interpreta um tanto erradamente o que de facto elas são: muito mais uma invenção ou um substituto da memória do que um seu instrumento. O que as fotografias tornam imediatamente acessível não é a realidade, são as imagens. "
Susan Sontag, //Ensaios sobre Fotografia// @@}}}}}}
Já atingimos quase 30% do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]'.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Arca de Noé''| ./wikiImages/arcaNoeC.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto ''Arca de Noé'' Figueira de Castelo Rodrigo, 2010@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Perguntam-me ainda porque falo tanto da infância. Porque havia de ser? A secura, a aridez desta linguagem, fabrico-a e fabrica-se em parte de materiais vindos de longe: saibro, cal, árvores, musgo. E gente, numa grande solidão de areia. A paisagem da infância que não é nenhum paraíso perdido mas a pobreza, a nudez, a carência de quase tudo.//
Carlos de Oliveira, //Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
Tal como Carlos Oliveira também eu poderia escrever, "Perguntam-me ainda porque falo tanto da infância. Porque havia de ser?". Os meus materiais de memória são outros: a argila, as ervas, sempre as ervas, o silêncio, as pedras, o granito, o xisto, os lagares, as uvas, as maçãs bravo de esmolfe, mas, tal como a escrita dele, a fotografia acaba por estar sempre focada nessa paisagem da infância.
Estamos perto dos 40% do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]'.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Bom 2016| ./wikiImages/Postal_2015.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Bom 2016'', Rebordelo, Dezembro, 2015@@//}}}}}}
Pergunto-me, de cada vez, porque continuo eu a fotografar ervas. Poderia com certeza alargar a minha dúvida e perguntar porque continuo a fotografar. Talvez tenha encontrado a resposta. Talvez eu não precise de fazer razão...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''INFANTIL''
O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do
menino
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
E eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.//
Manoel de Barros@@}}}}}}
Desejo a todos os meus amigos tudo o de melhor: amor e luta.
Nota: estamos a chegar aos 80 % do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]'. Quem se apressar pode ainda receber o livro antes do Natal. Entrego-o dia 23/Dezembro aos subscritores.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Peça muito frágil| ./wikiImages/fragil.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Auto-retrato frágil porque estou sem eternidades'', Fundação Eugénio de Almeida, Évora, Dezembro, 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Os deslimites da palavra''
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas//
Manoel de Barros@@}}}}}}
Grande parte da criação artística terá como motivação a procura de uma eternidade. A vida escapa-nos e a arte parece ser uma forma engenhosa de não morrermos completamente. Parece haver em toda a arte uma luta desesperada contra o tempo. Sabemos que, em última análise, essa eternidade é sempre uma ilusão. Numa escala de milhares de milhões de anos o cosmos perecerá. Mas, mesmo numa escala temporal humana, a eternidade muitas vezes parece ser de uma enorma fragilidade, e onde, tantas vezes, o acaso parece ser a força determinante para que não soçobre. Das mais de duas centenas de tragédias escritas por Sófocles e Ésquilo, conhecemos apenas sete de cada um. Muitas vezes afirma-se que essas serão as obras-primas e que essas terão sobrevivido, por terem sido mais vezes representadas e mais vezes copiadas. Mas ninguém pode garantir que não se tenham perdido as verdadeiras obras-primas, nem que outros autores desconhecidos, ou de que se perderam todas as obras, não tivessem escrito obras extraordinárias.
Deixem-me contar uma história verdadeira porque ela pode ser exemplar, na forma como materializa a fragilidade da eternidade, ao mesmo tempo que ilustra muitas das questões pertinentes naquilo que se convencionou chamar arte ou fotografia contemporâneas.
Ernest Joseph Bellocq foi um fotógrafo comercial americano (nascido em 1873, membro de uma família abastada em Nova Orleães, e falecido em 1949). Bellocq realizou no princípio do século XX (por volta de 1912) uma série de retratos de nus de prostitutas em Storyville. Pouco se sabe das razões que o motivaram, como aliás pouco se sabe sobre a sua vida. Ele era completamente desconhecido até uma caixa de negativos de vidro, bastante deteriorados, ter sido descoberta e adquirida por Lee Friedlander, que gostou tanto do que que viu que imprimiu integralmente esses negativos e os expôs no MOMA em Nova Iorque. Essas imagens foram de imediato aclamadas como obras de arte extraordinárias e Bellocq foi considerado como um fotógrafo genial, que teria sido autor de uma nova e revolucionária abordagem do nu. Ora, muitas das características dessas imagens, que as tornam particularmente misteriosas, não são da responsabilidade de Bellocq. Para além dos elementos estéticos que resultaram do envelhecimento dos negativos, que o tempo, algumas agressões, de autoria duvidosa, e as condições deficientes de armazenamento provocaram: manchas, riscos, degradação da emulsão, sabe-se que Bellocq pretenderia imprimir as imagens sem fundo, ou com fundo esbatido, e em formato oval, ou seja, muito de acordo com uma estética pictórica dominante na altura. E, se o tivesse feita, estaria tudo estragado.
Esta história, que afinal reproduz tantas histórias equivalentes, pode levar-nos a pensar que, com enorme probabilidade, existirão muitos Bellocqs que nunca foram descobertos por um Friedlander, talvez porque também esse Fridlander não tenha sido descoberto por quem descobriu o Lee.
A eternidade ilusória de Bellocq construiu-se à volta da fragilidade e do acaso.
O livro ''Arca de Noé'' existe porque me reconheci tão frágil e "sem eternidades".
Estamos a ultrapassar os 60 % do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]' e vamos publicá-lo antes do Natal.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Livro ''Tempo das Maçãs''| ./wikiImages/arcaNoeD.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Afife, 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Elegia da Lembrança Impossível''
O que não daria eu pela memória
De uma rua de terra com baixos taipais
E de um alto ginete enchendo a alba
(Com o poncho grande e coçado)
Num dos dias da planície,
Num dia sem data.
O que não daria eu pela memória
Da minha mãe a olhar a manhã
Na fazenda de Santa Irene,
Sem saber que o seu nome ia ser Borges.
O que não daria eu pela memória
De ter lutado em Cepeda
E de ter visto Estanislao del Campo
Saudando a primeira bala
Com a alegria da coragem.
O que não daria eu pela memória
Dos barcos de Hengisto,
Zarpando do areal da Dinamarca
Para devastar uma ilha
Que ainda não era a Inglaterra.
O que não daria eu pela memória
(Tive-a e já a perdi)
De uma tela de ouro de Turner,
Tão vasta como a música.
O que não daria eu pela memória
De ter sido um ouvinte daquele Sócrates
Que, na tarde da cicuta,
Examinou serenamente o problema
Da imortalidade,
Alternando os mitos e as razões
Enquanto a morte azul ia subindo
Dos seus pés já tão frios.
O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz. //
Jorge Luis Borges@@}}}}}}
O que não daria eu pela memória do paladar das maçãs bravo de esmolfe que tirava do bolso dos calções. O que não daria eu pela memória da visão daqueles céus cobertos de bandos de estorninhos. O que não daria eu pela memória daquele cheiro a terra molhada ou a palha. O que não daria eu pela memória do chiar das rodas dos carros puxados pela Ruça e pela Vermelha. O que não daria eu pela memória do toque do feijão carrapato estendido ao sol.
Estamos perto dos 50% do valor necessário para a publicação do livro [[''Arca de Noé'|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]]' e vamos publicá-lo antes do Natal.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;''Arca de Noé'' é um livro de fotografia, baseado num projecto fotográfico que venho desenvolvendo há uns anos, sobre a memória, sobretudo em torno das recordações de infância, da sua resistência, da sua fragilidade e da sua perecibilidade. É construído a partir de dois espaços: as casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, e a outra na Beira Alta, perto da raia, em Figueira de Castelo Rodrigo. É um projecto sobre a memória e sobre a perda que a memória implica.
Para editar o livro iniciei uma campanha de "crowdfunding". Quem quiser apoiar faz uma reserva antecipada do livro, realiza um pagamento via MB, e recebe depois o livro pelo correio. Se por qualquer razão, o projecto não for concretizado, o dinheiro desta reserva será devolvido. O preço da reserva será inferior ao preço de venda, depois de terminada a campanha.
''Para apoiar'' basta ir ao [[site PPL|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], onde está toda a informação sobre o livro e sobre o autor, e seleccionar a opção pretendida das 3 existentes: 1) comprar postal, 2) comprar livro, 3) comprar livro com uma fotografia original, e seguir as instruções, para obter uma referência MB. Se houver alguém que queira reservar o livro e tenha dificuldades em fazê-lo, bastará dizer-mo, que eu lhe envio o código MB por email, para fazer o pagamento.}
Ver [[vídeo do livro aqui!|https://vimeo.com/144176224]]@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Pode um poema aflorar| ./wikiImages/inverno02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, Janeiro, 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Este Inverno é longo gélido
E confuso
Na varanda só o vento passa
E o vento olha-nos de esguelha quando passa
Nenhum poema aflora
Entre linhas finas e aéreas
Da página em branco//
Sophia de Mello Breynner Andresen@@}}}}}}
Se tivesse de escolher um tempo, não hesitaria, e escolheria os dias cheios de luz do verão, as longas tardes, as temperaturas altas, as noites amenas. Mas, por vezes, uma certa magia do inverno toca-me docemente os olhos. Esta magia estará certamente associada àquela renovação que ali, naquele momento único se adivinha, à gravidez da terra que anuncia um novo despertar, aos dias que crescem ante nós, como um feto em gestação.
Não, o inverno não é só "longo gélido", e "da página em branco" pode um poema aflorar.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Pode um poema aflorar| ./wikiImages/palco.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Escalhão, Setembro, 2015@@//}}}}}}
Porque a memória é como um palco de cortinas fechadas.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Agora que escurece, impregnam-me
a carne os sucos da memória, essa memória
que, pela sua força unicamente,
a ergue entre os destroços e a alumia
como uma lamparina
onde as lembranças fossem o azeite. //
Luís Miguel Nava, //Vulcão//@@}}}}}}
Agora que a //Arca de Noé//, carregada de bichos-memórias, se apronta para acostar em Matosinhos, pela mão dos timoneiros Jorge Velhote e Marisa Matias, "essa memória a ergue entre os destroços e a alumia como uma lamparina onde as lembranças fossem o azeite".
Apresentação do livro em Matosinhos, Biblioteca Florbela Espanca, dia 19, sexta-feira, pelas 18 horas.
|bgcolor(#ffffff):[img[Pode um poema aflorar| ./wikiImages/arcaNoeF.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Bichos
bichos à beira da extinção
bichos
bichos assombrados
bichos que me vêm comer à mão
bichos meigos, dedicados@@}}}}}}
A //''Arca de Noé''//, carregada de bichos-memórias, apronta-se para acostar em Matosinhos, pela mão dos timoneiros Jorge Velhote e Marisa Matias.
Apresentação do livro na Biblioteca Florbela Espanca, dia 19 de Fevereiro, sexta-feira, pelas 18 horas.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Pode um poema aflorar| ./wikiImages/arcaNoeG.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Figueira Castelo Rodrigo, 2013@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.
//Manoel de Barros@@}}}}}}
{{indent{{{indent{Deito-me
numa terra-bicho que afago
e ela-ele adormece a meus pés.
Regresso.
Bichos-lesmas, bichos-memórias
agarrados às paredes das casas:
duas casas absolutas.
Silêncios no pêlo afagado do bicho,
silêncios dentro das casas,
silêncios dentro de minha casca
que procura um bicho
para lhe dar abrigo.}}}}}}
A //''Arca de Noé''//, carregada de bichos-memórias, apronta-se para acostar em Matosinhos, pela mão dos timoneiros Jorge Velhote e Marisa Matias.
Apresentação do livro na Biblioteca Florbela Espanca, dia 19 de Fevereiro, sexta-feira, pelas 18 horas.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Fronteiras da Impureza| ./wikiImages/impureza.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Fronteiras da Impureza'', Rebordelo, Serro, Fevereiro de 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
...
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar//
In //You are welcome to Elsinore//, de Mário Cesariny @@}}}}}}
Há palavras que untam as mãos, palavras falsas, palavras que repetem o que as paredes ecoam, palavras gémeas de outras palavras, palavras que se querem sempre muito correctas, muito limpas, muito puras, palavras redondas e sem arestas. Eu prefiro aqueles que nos falam palavras vivas, palavras novas, palavras menos correctas, palavras que rompem, palavras nas fronteiras da impureza, em nome do nosso dever de falar e de pensar.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Abel Salazar| ./wikiImages/AbelSalazar.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Bata de Abel Salazar, Casa Museu Abel Salazar, Dezembro de 2015@@//}}}}}}
Estou a colaborar no II Congresso //''SNS: Património de Todos''//, como responsável pela fotografia, para o livro a publicar e a apresentar no dia 18 de Março de 2016, data de abertura do congresso no teatro Rivoli, no Porto.
Abel Salazar é um dos grandes vultos da cidade em torno do qual o livro se organiza. Porque temos necessidade de homens assim.
A bata, fotografada na [[Casa Museu Abel Salazar |http://cmas.up.pt/index.php]], uma visita que aconselhamos, vestia-a quase sempre, quer na prática da medicina e da investigação médica, quer no seu atelier, onde se dedicava à pintura e a outras actividades artísticas.
Polímato, renascentista, era homem de todos os interesses, que iam da ciência e da medicina, à arte e à literatura, mas que nunca se inibiu de ser um cidadão responsável e interveniente e que, por tal coragem, pagou um preço elevado.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//"Efectivamente, dado que não aceita as limitações que querem impor-lhe e se revela altamente insubmisso perante o sistema, é mandado, em 1934, num exílio disfarçado, para Paris, onde trabalha no laboratório do Prof. Champy. Neste meio, porém, persiste nas suas actividades de cidadão de corpo inteiro, ao lado de grandes figuras da cultura francesa. Com Marcel Prenant, George Cogniot, Henry Wallon e outros, toma parte em manifestações contra a acção repressiva que se exerce em Portugal.
Mais incómodo em Paris do que em Portugal, é-lhe retirada a bolsa concedida, e Abel Salazar regressa em Agosto desse mesmo ano.
Em 1935 é, por fim, “desligado do serviço” (Portaria de 5 de Junho) numa acção retaliadora e persecutória do salazarismo, acção que atinge, também, outras grandes figuras da cultura portuguesa como Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima, Norton de Matos, etc.
Abel Salazar, Professor Universitário, Investigador Científico, Criador de Ciência, fica daí para diante em forçada inocupação, sendo-lhe vedada, até, a biblioteca da sua Faculdade. E não só: quando pretende ausentar-se do país, correspondendo a convite do British Council, vê recusada pelas autoridades essa possibilidade, impedimento que não será único."
//em site de [[Casa Museu Abel Salazar |http://cmas.up.pt/index.php]] @@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[VICTORIA| ./wikiImages/vitoria.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, O Tempo, Lisboa, Março de 2016@@//}}}}}}
O tempo nunca vencemos, mesmo se ingenuamente acreditemos que somos capazes de o fazer. Nem o grande Homero o derrubou. O que resta de Homero são palavras. Algumas, poucas, palavras, pois Homero não existe. E um dia as próprias palavras apagar-se-ão...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O homem, ao morrer, apaga
com o último suspiro
o mundo em que viveu.//
Teixeira de Pascoais@@}}}}}}
Cada vitória nossa há-de ser tragada por esse dono disforme, que nos engorda como a um bicho doméstico, que ceva com esperança no futuro, preparando já a matança.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Seiscentos e sessenta e seis''
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil
das horas. //
Mário Quintana, em //Esconderijos do tempo//@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Novo Ciclo| ./wikiImages/fogoBeleza.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Novo Ciclo'', Rebordelo, Abril de 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Habituámo-nos quase todos a aceitar sem hesitação que o conceito de beleza apareça naturalmente associado à ideia de arte. A arte teria mesmo como supremo objectivo a criação de beleza, imitando dessa forma a criação divina. No entanto, esta ideia, que parece à maioria das pessoas tão óbvia, talvez para nossa surpresa não existiu sempre.
...
A associação da criação artística com o conceito de beleza só foi expressa claramente a partir do Renascimento e, em particular, com o Romantismo no fim do século XVIII: tinha chegado o tempo de exaltação da criação artística, como a busca da beleza e do sublime. E assim continuou, de uma forma mais ou menos pacífica, esta associação entre beleza e arte, até à ruptura da chamada arte contemporânea.
...
O que define um objecto como objecto artístico na chamada arte contemporânea não é o objecto propriamente dito, mas a metadata à volta dele: os sítios onde foi mostrado, as críticas que recebeu, as notícias que foram escritas, as polémicas suscitadas. Segundo os seus mentores “Arte passa a ser tudo aquilo que o artista afirme como arte”. Ou seja, tudo pode ser arte, mesmo fezes de um qualquer artista, se ele o quiser, como de facto já aconteceu, ou um bocado de lixo retirado de uma lixeira municipal se apresentado numa galeria ou num museu. E se tudo pode ser arte, a beleza na criação chamada contemporânea devém supérflua ou mesmo um empecilho.
...
Na verdade, até à chamada arte contemporânea, a beleza na arte nunca foi posta em causa, quando muito cada movimento, cada vanguarda punha em causa com maior ou menor veemência a beleza de movimentos anteriores e procurava uma beleza diferente.
em ''Fotografia e Beleza - Espelho meu, espelho meu'', colecção REFLEX//@@}}}}}}
Será realmente assim?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//... em nossa opinião, a posição pretensamente “arrojada” de alguns artistas e curadores contemporâneos, defendendo a espuriedade da beleza na arte, parece ser insustentável. E a história da arte parece prová-lo.
...
Concluindo: um objecto artístico, e portanto também um objecto fotográfico enquanto tal, deve incorporar beleza, provocar prazer estético, deve romper o caos e apontar utopias, repetindo uma vez mais as palavras de Deleuze e de Sousa Dias. Este deveria ser o critério e não outro, quer se lhe chame arte contemporânea ou outra coisa. Mas tal implicaria rever o conceito de arte contemporânea.
em ''Fotografia e Beleza - Espelho meu, espelho meu'', colecção REFLEX//@@}}}}}}
O livro //''Fotografia e Beleza - Espelho meu, espelho meu''// é apresentado dia 6 de Maio, sexta-feira, às 21.45, na livraria [[''Flâneur''|http://www.flaneur.pt/sobre/]], no Porto, por ''Sousa Dias''.
APAREÇAM e DIVULGUEM!
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e Beleza| ./wikiImages/capa.jpg]]|
{{indent{//@@font-size:9px;©Renato Roque, capa do livro ''Fotografia e Beleza - Espelho meu, espelho meu''@@//}}}
O livro "Fotografia e Beleza - Espelho meu espelho meu" é uma reflexão sobre a beleza, sobre a sua história e sobre a beleza na fotografia; reúne 4 ensaios inspirados em histórias populares do universo infantil. Está disponível para [[reserva|https://theportfolioproject.shopk.it/product/fotografia-e-beleza-de-renato-roque]] a edição especial - 50 exemplares - com um desenho original de JAS.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/LV01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', Porto, Abril de 2016@@//}}}}}}
Muitas vezes tenho enveredado por caminhos que antes me eram muito longínquos ou até desconhecidos. O acaso, ou o que parece ser o acaso, a empurrar-me para onde ele quer que eu vá. Foi assim com o poeta Carlos de Oliveira e com a Gândara. Foi assim com Ricardo Jorge e com as fotografias da peste de Aurélio da Paz dos Reis. Está a ser assim com José Leite de Vasconcelos, homem notável do final do século XIX e do início do século XX, que foi médico, escritor, filólogo, linguista, etnógrafo, arqueólogo e muitas outras coisas que me poupo de incluir nesta lista. Leite de Vasconcelos que era sempre nomeado carinhosamente pelos seus colaboradores e pelos seus discípulos como "Mestre Leite", ou simplesmente como "O Mestre".
A linguística românica conduziu-me ao mirandês e esta língua extraordinária, encravada bem no nordeste de Portugal, protegida de um lado pelas montanhas e do outro pelas arribas do Douro, levou-me até Leite de Vasconcelos. Não tinha como dizer não. É certo que o João Veloso me deu um pequeno empurrão.
E assim parti à descoberta.
Tenho lido bastante, tomado notas quanto baste nos meus canhenhos, construindo assim os meus "verbetes" para uso futuro. Esta espécie de blog passa a ser, a partir de hoje, mais um canhenho para notas.
Fiz esta primeira série de fotografias quando procurava a casa onde Leite de Vasconcelos terá morado no Porto - a morada fora-me dada pelo professor Ivo Castro da FLUL - antes de partir, primeiro para o Cadaval, para ocupar um lugar de subdelegado de Saúde, e logo a seguir para Lisboa, para se tornar conservador da Biblioteca Nacional e começar (deveria dizer continuar) a sua longa e hercúlea caminhada de investigação da história e da cultura portuguesas.
A sua obra multifacetada, que abrangia inscrições, escritos, línguas, dialectos, modos de falar, monumentos, objectos, trajares, lendas, usos e costumes - e aí reside grande parte da sua originalidade - tinha como objectivo compreender o seu povo e encontrar o sentido que a nossa história e a nossa cultura nos transmitem como seus continuadores.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Tudo o que servia a explicar a índole do povo e as estruturas profundas do trabalho e da crença o comovia e mobilizava.
//Vitorino Nemésio, // Leite de Vasconcelos//, 1958, //Livro do Centenário//@@}}}}}}
''Afinal, qual o sentido?'' perguntava todos os dias o Mestre, ao reflectir sobre as notas que fizera nos muito milhares de verbetes, onde escrevinhava tudo aquilo que recolhia e cogitava nas suas visitas de campo.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/LV02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', Porto, Abril de 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.//
Luís Vaz de Camões, //Sonetos//@@}}}}}}
Gosto muito desta fotografia. Poderia pertencer ao livro [[''Arca de Noé''|http://ppl.com.pt/pt/prj/arca-de-noe]], que publiquei há poucos meses.
Fui à procura de Mestre Leite. Afinal, a casa no Porto, onde morou Leite de Vasconcelos, fica a umas escassas centenas de metros da casa dos meus avós, onde nasci. Passado um ano do meu nascimento, a minha mãe achou que devia procurar um espaço independente para morarmos, e mudámos para o primeiro andar deste edifício, na esquina entre Alexandre Herculano e a rua das Fontainhas, não muito longe, a menos de cem metros da casa dos meus avós. Aqui vivi até à idade de ir para a escola primária.
A procura do Meste está a revelar-se uma procura de mim mesmo, como aliás teria sempre de ser.
|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/Miranda01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', Sendim, Miranda do Douro, Maio de 2016@@//}}}}}}
Em 1882 Leite de Vasconcelos estava no Porto e descobriria o mirandês através de um colega de ~Duas-Igrejas que falava a "lhéngua". Mestre Leite visitaria a região várias vezes à procura dessa língua mágica. Ele conta na sua Philologia a sua aventura, da primeira vez que visitou o planalto. A viagem durou cinco dias.
E eu fui à procura dele. Ouvi dizer a alguém que ele se esconde por entre as "erbicas", nas arribas, à conversa com Amadeu Ferreira.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Saímos ambos do Porto em meados de Agosto; e só chegámos a ~Duas-Igrejas, termo da
nossa viagem, passados cinco dias! Até o Pinhão tivemos comboio. Ahi tornou-se-nos
necessário esperar pela diligencia que seguia para ~Macedo-de-Cavalleiros. O Pinhão fica
no ~Alto-Douro, nas margens do rio, entre montanhas. Nunca estive em terra mais quente:
não se podia chegar á janella com o calor; parecia a zona tórrida. Finalmente chocalharam
na rua as campainhas da diligencia, e nós continuámos nella a nossa viagem até Macedo,
subindo a Íngreme estrada de Favaios debaixo das frechadas ardentes do sol,
atravessando aos fins da tarde os vinhedos de Alijó, e passando, já de noite, por Murça, a
da célebre porca, e, ao romper da madrugada, por Mirandella, de que o cocheiro disse,
segundo o provérbio, «mira-a de longe, e foge d'ella», não sei com que fundamento, a não
ser o da allitteração e da rima, pois a villa, estendida nas margens do Tua, é pittoresca, e
tinha, para matar a fome e a sede dos passageiros, boa vitella e melhor vinho-verde. [...]
Em ~Macedo-de-Cavalleiros, por falta de conducção pronta, dormimos uma noite, e
estivemos, parte de dois dias, aquartelados na estalagem da Braguesa,[...] De Macedo
seguimos em burros, levando duas moIheres e um rapaz por arreeiros. [...] A estrada é
sempre bastante accidentada, mas nas ladeiras vizinhas ao rio Sabôr e ao rio de Maçãs é
que ella se torna muito difficil: só se pôde caminhar a pé. Ambos os rios ficam em fundos
valles; o do rio Sabôr, todavia, é realmente majestoso! Uma serie de montanhas altas,
primeiro; depois um immenso declive, apenas com um carreiro tortuoso para se passar;
por fim lá em baixo o rio, escuro e soturno. [...] Atravessámos tristes lugarejos, como
Limãos e Gralhes. Os habitantes estranhavam a comitiva, mas cortejavam-nos quando
passávamos. A gente transmontana, como diz um documento do sec. xv, citado por
Viterbo, é simplez. [...] Já cansado do caminho, eu perguntava de vez em quando ao rapaz
se ainda faltava muito para chegarmos á Matella, aonde íamos pernoitar. O rapaz
respondia a princípio: inda falta um cacho bem bó!; depois: inda falta um cacho; por fim,
querendo com o diminutivo suavizar a minha agrura: só falta um cachico. [...] Ao anoitecer
entravamos na Matella, cujas ruas, por ser occasião de ceifas e malhas, estavam cobertas
de palhiço. Dormimos em casa de uns benévolos camponeses, commodamente, em boas
camas de lençoes de linho, ao som do canto estridulo dos ralos e do coaxo das rans, que
velavam lá fora no campo da porta. Da Matella partimos no dia seguinte para Duas-
Igrejas, passando por ~Campo-de-Víboras e S. ~Pedro-da-Silva. A nossa demora em S. Pedro-
da-Silva foi muito curta. Quando cheguei aqui, respirei com os pulmões completamente á
vontade, porque em fim, “post tot tantosqiue labores”, entrava na ~Terra-de-Miranda, e
podia á farta ouvir fallar o maravilhoso e enfeitiçado dialecto dos meus amores.
//Leite de Vasconcelos, //Estudos de Philologia Mirandesa, Vol I//, 1901@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/Miranda02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', Palaçoulo, Miranda do Douro, Maio de 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Mal toquei na flor da esteva,
logo ela se desfez,
frágil como névoas de Verão.
A corola branca
desconjuntou-se em pétalas dispersas
como flocos de neve fora de tempo
pousando com cautela sobre a terra.
Passou assim a haver
no campo um astro a menos.
Mas passou a haver também
um odor a esteva nos meus dedos.
Ficou ela por ela.
//A M Pires Cabral, //Gaveta do Fundo//@@}}}}}}
A esteva é uma uma planta que cresce e se multiplica profusamente em terrenos muito pobres, onde quase nada mais pode crescer. Por isso o povo diz "Terra de estevão é terra que não dá pão". A esteva é um arbusto de pequeno porte, mas incómodo, porque suja as mãos com um líquido viscoso que baba das folhas. Mas, em Abril ou Maio, as suas flores magníficas cobrem os campos de branco. Leite de Vasconcelos dedica um dos seus famosos verbetes à esteva e nele escreve precisamente uma versão daquele ditado popular.
|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/LV03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;Verbete de Leite de Vasconcelos. Digitalização cedida por Mário Costa@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/LV04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', FLUL, Junho de 2016@@//}}}}}}
Leite de Vasconcelos, quando morreu em 1941, com 83 anos de idade, deixou em testamento o seu espólio dividido em parcelas, cada uma ao cuidado de um dos seus colaboradores mais próximos, a quem atribuiu a tarefa de organizar e de publicar uma série de trabalhos, que ele não tivera tempo para terminar, apesar de ter dedicado os últimos anos da sua vida a juntar e a publicar material disperso. Esse espólio gigantesco, que reúne todo o tipo de papéis, acabou finalmente dividido entre duas instituições, onde Leite de Vasconcelos tivera papel de relevo: a FLUL, onde Mestre Leite leccionara, e o museu de Arqueologia, de que Mestre Leite fora fundador e director. Uma parte desse espólio foi separada e organizada em caixas próprias para acondicionar documentos, outra parte espera ainda pela possibilidade de ser analisada e guardada devidamente.
Na FLUL encontrámos este cartão de visita misterioso, enviado por Amália Leite Pereira de Mello, assinalado como sendo da Columbeira, freguesia do Cadaval, onde residia parte da família de Leite de Vasconcelos e onde ele próprio trabalhara, depois de sair do Porto. Amália Leite Pereira de Mello será provavelmente uma prima de Leite de Vasconcelos, a que há uma recorrente menção em muita correspondência, por exemplo com o amigo e também arqueólogo Joaquim Fontes, onde a prima é frequentemente designada por Sr.ª D. Amália. Esta prima de Leite de Vasconcelos teria mesmo vivido, enquanto solteira, em casa do Mestre, de acordo com Fernando de Almeida in Actas II Jornadas Arqueológicas (Lisboa, 1972). Essa prima envia-lhe um cartão com parabéns - em 1916? pelo aniversário?, por outra qualquer razão? - mas esse cartão de visita exibe no verso um retrato masculino, de quem?, com a data de 1916, e onde se lê Laurograff - Armazéns do Chiado, e que exibe ainda o número 43. A partir do conteúdo das cartas de Joaquim Fontes, que estão publicadas e disponibilizadas na internet, e que assim pudemos consultar, confirmámos que Amália, em 1916, parece viver com o Mestre Leite em Lisboa. O que poderá significar então o cartão?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O que os moralistas exigem a uma fotografia é aquilo que ela nunca poderá fazer: falar. A legenda é a voz ausente e de que se espera a verdade. Mas mesmo uma legenda absolutamente rigorosa é apenas uma interpretação, necessariamente limitada da fotografia a que se refere. A legenda é uma luva que se põe com facilidade. Não pode impedir que qualquer argumento ou alegação moral baseado numa fotografia (ou conjunto de fotografias) seja minado pela pluralidade de significados que qualquer fotografia supõe.
//Susan Sontag, //Ensaios sobre Fotografia, 1977//@@}}}}}}
Mais uma vez somos confrontados com a incapacidade da fotografia para contar histórias, de nos revelar o real. Ao contrário do que quase todos pensam...
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|bgcolor(#ffffff):[img[À procura do Mestre Leite| ./wikiImages/LV05.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À procura do Mestre Leite'', FLUL, Junho de 2016@@//}}}}}}
Como se encontra alguém que morreu há 75 anos? Leite de Vasconcelos faleceu em Lisboa, em 1941, deixando um espólio documental enorme, grande parte ainda por tratar e publicar. Percebemos, num ápice, que as palavras de Teixeira de Pascoaes são pesadas como chumbo e nos forçam a descer ao pó, ou leves como o ar e nos obrigam a trabalhar no reino da ilusão.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O homem, ao morrer, apaga
com o último suspiro
o mundo em que viveu.//
Teixeira de Pascoaes@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Teo, O apanhador de desperdícios| ./wikiImages/desperdicio01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O apanhador de desperdícios'', Rebordelo, Chairas, Julho 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''O apanhador de desperdícios''
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
//Manoel de Barros@@}}}}}}
Afinal o que é um fotógrafo, mais do que um apanhador de desperdícios, um respigador, que mete ao bolso o que outros deixam espalhado à frente do olhar? Ou um caracol que encontra o anel da rainha, debaixo de um castanheiro, sem ter a certeza sequer de que o procurava?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Teo, O burro que não quis ser obra de arte contemporânea| ./wikiImages/teo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O burro que não quis ser obra de arte contemporânea'', Morille, PAN 2016@@//}}}}}}
Provavelmente, se alguém está agora a ler o que escrevi aqui, foi com toda a certeza atraído pela estranheza do título; “Teo, o burro que não quis ser obra de arte contemporânea” parecerá a muitos, pelo menos à primeira vista, um título algo bizarro. Qual poderá ser a relação entre Teo, um burrico de Morille, simpático, meigo, que nos procura imediatamente, quando nós nos aproximamos do estábulo onde o seu dono, César de Miguel, o guarda, e a chamada arte contemporânea?
Antes de explicarmos como tudo isto faz afinal todo o sentido, teremos de afirmar que, em rigor, o espanto perante tal título é que deveria ser, outrossim, razão de espanto verdadeiro. Bastaria argumentar que já houve obras, da chamada arte contemporânea, porventura muito mais estranhas do que um simples espécime de //Equus Africanus Asinus//, uma subespécie de mamíferos perissodáctilos, a que correspondem muitos nomes populares: burro, asno, jumento, ou jerico.
Se quiséssemos começar pelo princípio, poderíamos lembrar o urinol do Duchamp, ou as latinhas de 30 gramas de “merde d’artiste” de Manzoni, mas não queremos agora ir à origem de tudo, porque não temos tempo para tal. E realmente, o que nós queremos é apenas contar uma história verdadeira e não discutir a essência ou a valia da chamada arte contemporânea. E começar em Duchamp obrigar-nos-ia a gastar muita tinta. Tinta é um modo de falar, porque tinta é algo que já ninguém usa e há-de chegar o tempo em que as crianças já nem sabem o que é. Realmente, Duchamp e Manzoni já são quase clássicos. Bastará lembrar que o urinol de Duchamp, transvestido em fonte, vai fazer no próximo ano a provecta idade de 100 anos. Vai haver certamente celebrações de arromba. E ainda bem, pois muitas festas se têm organizado, às suas custas, que o Duchamp tem as costas largas. Vamos, por isso, esquecer para já a //Fonte// e as latinhas de merda e lembrar coisas do nosso tempo, por exemplo o cavalinho de corrida que Mark Wallinger apresentou na Reynolds Gallery em 1994 e a que chamou “Uma Verdadeira Obra de Arte”. Há quem diga e escreva que foi por isso que ele receberia o Turner Prize no ano seguinte, e quem sou eu para os desmentir. Ainda não estão convencidos de que um burro, como obra de arte, é afinal muito natural? Vejamos então: Maurizio Cattelan também exibiu um cavalo, em 1997, mas empalhado e dependurado do tecto no Castello di Rivoli em Turim. Chamou-lhe "Novecento". Também houve, estarão lembrados, em 1989, o tubarão de Damien Hirst, conservado em formol e apresentado numa vitrina. Enorme sucesso. Também receberia o Turner Prize, naturalmente. E se lhes contasse que Tracey Emin, outro Turner Prize, expôs em 1999 na Saatchi Gallery, não um bicho, mas a cama onde dormia; a cama por fazer, ressalto, porque este pormenor deve ser importante. //My Bed// terá sido comprada por Charles Saatchi, o dono da galeria, por 150.000,00 Libras, tendo instalado essa cama num quarto que lhe foi dedicado em sua própria casa. E a a cama nunca foi feita. Poderíamos estar aqui a encher muitas páginas de papel em branco com histórias verdadeiras de todo o tipo de bichos e de objectos, transformados por um qualquer rei Midas em arte contemporânea. Páginas de papel é uma vez mais uma forma de falar, e, por um lado, ainda bem, ou não haveria árvores que nos chegassem. E se houve cavalos, tubarões, gatos, cães, qual a surpresa afinal de um burro poder ser considerado como uma obra de arte contemporânea? Se tudo pode ser arte, como se costuma dizer, contemporânea //bien-sur//, "pourquoi pas un âne"? Admito que, hoje, isto ficaria melhor em língua inglesa, porque “A língua inglesa fica sempre bem / E nunca atraiçoa ninguém”, como cantam os Clã. Corrijo, então: “If everything can be art, why not a donkey?”. Mas, como esclareci atrás, o meu objectivo não é agora discutir aqui, nesta espécie de blog, a essência da chamada arte contemporânea, mas muito simplesmente contar uma história breve, verdadeira, uma história de Teo, um burro que não quis ser uma obra de arte contemporânea, e já gastámos demasiadas linhas a justificar o título, e a provar, espero, que ele não é tonto, como alguns poderiam ter pensado, quando o leram.
Vamos então à história.
O PAN é um Festival de Poesia(P), Arte(A) e Natureza(N). Ao mesmo tempo PAN é Pan(Pão) e é Pan, filho de Zeus, deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores. Todos os anos o PAN acontece em Morille, uma pequena aldeia, a cerca de 15 km a sul de Salamanca. Em 2016 realizou-se a sua 14ª edição. No PAN juntam-se todos os anos poetas, escritores, cantores, músicos, pintores, fotógrafos, vindos dos dois lados da raia: portugueses, castelhanos, galegos, etc. Durante 4 dias, de 5ª a domingo, trocam-se as línguas num corrupio de concertos, conferências, exposições e leituras poéticas. E conversa, muita conversa...
Um dos momentos altos do festival é, no domingo, a procissão da obra de arte a sepultar no chamado //Cementerio de Arte//. Treze obras enterradas desde 2003. Este ano, pela primeira vez, não houve enterramento. Porquê? Ora lá vamos nós, finalmente, e não era sem tempo, à nossa história.
Como dissemos, Teo é um burro afável, vive em Morille e é bem conhecido de todos os Morillenses, pois esses bichos, ao contrário do que acontecia há uns bons anos, são hoje relativamente raros. Teo tem já alguma idade e, há algumas semanas, aparentava estar muito doente e anunciava-se-lhe morte próxima. Um dia, o seu dono deu com o burro deitado, já sem conseguir levantar-se, e com grande dificuldade em respirar. Augurou-se-lhe o passamento para os dias seguintes. Talvez não chegasse a amanhã. O alcaide de Morille, Manuel Ambrosio Sánchez, que também é o grande dinamizador do festival, decidiu enterrar o Teo no //Cementerio de Arte//, homenageando-o e transformando-o, com o seu gesto, em obra de arte. O burro seria assim o "urinol" do Manuel, que com o seu gesto artístico assinaria no lombo do burro com o seu //R. Mutt//, que é como quem diz //M. Sanchez//. A "obra" já tinha lugar reservado no //Cementerio//, tudo estava preparado para as exéquias ao animal, quando o dono do burro. meio consternado, meio feliz, veio avisar o Manuel de que o burro se erguera, já comia e já bebia. No dia seguinte parecia rejuvenescido.
O raio do burro pura e simplesmente recusava-se a ser uma obra de arte contemporânea.
|bgcolor(#ffffff):[img[Não, este não é o Teo, o burro que recusou ser obra de arte contemporânea| ./wikiImages/teo2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Freixeda de Torrão, Setembro de 2016@@//}}}}}}
Aqueles que me acompanham nesta minha espécie de blog, no que vou publicando no FB, ou que leram os meus dois livrinhos publicados na colecção REFLEX, [[Fotografia e Curadoria - Queijo Curado é Outra Coisa|http://cargocollective.com/tpp_editions/REFLEX-02]] e [[Fotografia e Beleza - Espelho Meu, Espelho Meu...|http://cargocollective.com/tpp_editions/REFLEX-06]], sabem que tenho dedicado alguns textos a fazer uma reflexão crítica sobre a chamada arte contemporânea. Alguns poderão mesmo ser levados a pensar, erradamente, que me situo numa posição de oposição frontal a esse tipo (genre) de arte. Não é verdade, aliás eu própro tenho ousado trilhar alguns caminhos que parecem atravessar esses territórios ardilosos. E, precisamente por me aperceber que esses são territórios perigosos, que suscitam facilmente grandes ambiguidades e que nos oferecem com grande descaramento gato por lebre, senti necessidade de reflectir o que era afinal essa espécie de arte, a que alguns negam até o epíteto de arte, propõem por exemplo //non-art//, recorrendo a uma palavra sugerida por Duchamp, e realmente com argumentos de peso, porque a chamada arte contemporânea rompe com os princípios fundacionais do que se chamava arte antes.
Na chamada arte contemporânea tudo pode ser arte. Teo podia mas não quis. Estava no seu direito. Não queria morrer tão cedo. Não há portanto na chamada arte contemporânea uma fronteira entre objectos de arte e objectos utilitários, ou até seres vivos ou mortos. Esta realidade implica que desapareça o conceito de obra, que se perca o chamado "objecto de arte", um objecto com qualidades intrínsecas para merecer essa classificação. O objecto, a obra, eram o foco da arte e o foco de todas as teorias estéticas. Ora, a chamada arte contemporânea centra-se no conceito, na informação, na metadata. E tem obrigatoriamente de desconstruir de alguma forma a arte anterior. A arte tal como a conhecíamos esfuma-se, a arte, se quisermos manter este termo, torna-se gasosa, para citar Yves Michaud.
Esta diferença fundamental, esse corte ontológico, faz com que o modelo de apreciação de um objecto artístico, a que estávamos habituados, não sirva. É inoperante. A chamada arte contemporânea não tem, por exemplo, pretensões estéticas, não se destina à contemplação. É necessário olhar e criticar a chamada arte contemporânea utilizando outro paradigma. Existem várias propostas, de vários pensadores americanos e europeus, ainda que nenhuma seja satisfatória.
Não perceber esta diferença total é, quanto a mim, o erro de muitos daqueles que depreciam a chamada arte contemporânea, pois, para exercermos o direito de crítica, temos de jogar no terreno dessa chamada arte contemporânea e de acordo com as regras do seu jogo, impedindo mesmo que essas regras mudem a meio, artifício usual nestes terrenos escorregadios.
E para nos guiarmos neste terreno minado, se o quisermos atravessar e chegar são e salvos ao outro lado, sem garantias, será preciso entender, para além do que reside num plano artístico ou não-artístico, como preferirem, como se relaciona ele com a alta finança, com os mercados globais e até com a geopolítica internacional. E podem crer que não faltam relações. E provas disso...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Casa dos Meus Avós| ./wikiImages/casaFigueira.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Casa dos Meus Avós, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro de 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Oh as casas as casas as casas''
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
//Ruy Belo, //Todos os Poemas//@@}}}}}}
Esta não é a casa dos meus avós, esta é outra casa
Esta não é a casa dos cheiros, dos sons, dos sabores, esta é outra casa
Esta não é a casa dos longos verões, esta é outra casa
Esta não é a casa, esta é outra casa
Oh as casas as casas as casas
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|bgcolor(#ffffff):[img[Exposição de um artista que perdeu a aura| ./wikiImages/aura.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Exposição de um artista que perdeu a aura''@@//}}}}}}
Tenho escrito algumas vezes que os melhores textos, ou os melhores qualquer outra coisa, são para mim os que me inquietam e depois me desinquietam, e que, por isso, me obrigam a fazer alguma coisa. Não são normalmente os habitualmente considerados como melhores, podem até parecer à partida bastante inofensivos. São aqueles que me acordam os bichinhos carpinteiros, os que me fazem cócegas, os que me beliscam, os que me pontapeiam e me obrigam a levantar do sofá, os que me forçam a dar uma resposta.
Fazer alguma coisa, disse eu, portanto não apenas pensar, pois isso é coisa de somenos e que acontece muitas vezes. É mesmo, mesmo, fazer alguma coisa: e fazer pode ser escrever, pode ser fotografar. Tenho de construir um objecto contundente que atire à cara do quem me picou...
Para explicar melhor esta "picadela" talvez possa recorrer ao modelo proposto por Barthes no seu livro //A Câmara Clara//, quando classifica as fotografias de que gosta em dois grandes grupos. As fotografias com //studium// e as fotografias com //punctum//, termos latinos que ele utiliza para as etiquetar. As fotografias com //studium// seriam aquelas que nos interessam, que nos dizem alguma coisa, por qualquer razão. Por exemplo, se estudamos a história do século XX, as fotografias da implantação da República Portuguesa terão essa característica de //studium// para nós. As fotografias com //punctum// são pelo contrário fotografias de que gostamos especialmente porque nos ferem, ou picam, para utilizar a terminologia de Barthes, mesmo que não saibamos porquê. //Punctum// pode significar em latim, precisamente corte, ferida...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O studium é o campo amplo do desejo negligente, do interesse diversificado, do gosto inconsequente: gosto/não gosto… achamos bem...O segundo elemento vem quebrar (ou escandir) o studium. Desta vez não sou eu que vou procurá-lo, é ele que salta da cena... Existe uma palavra em latim para designar essa ferida, essa picada…A este segundo elemento, que vem perturbar o studium, eu chamaria, portanto, punctum.
//Rolland Barthes, //A Câmara Clara//@@}}}}}}
Para ilustrar o seu pensamento, Barthes apresenta ao longo do ensaio um pequeno portfólio de fotografias que o ferem, exemplo de fotografias com //punctum//, em particular a tal célebre fotografia da sua mãe ainda criança, de que fala sempre, mas não mostra.
Poderei roubar a classificação de Barthes e dizer que os textos que me ferem, e me obrigam a procurar a cura para essa ferida, são os que têm //punctum//?
Tudo isto me veio à cabeça a propósito de um pequeno texto de Baudelaire, de um livro que tinha lido há muito, mas que agora, ao ouvi-lo, me feriu de imediato e me obrigou a reagir...Aqui vai, Baudelaire que me perdoe:
{{indent{{{indent{''A PERDA DA AURÉOLA (AURA)''
- Eia! Tu aqui, meu caro? Tu, num lugar reles! Tu, o bebedor de quintessências! Tu, o saboreador de ambrósia! Na verdade, há nisto qualquer coisa que me surpreende.
- Meu caro, conheces o meu pavor dos carros e dos autocarros. Há pouco, ao atravessar a avenida a toda a pressa, e ao saltar na lama, através desse caos movimentado, onde a morte avança a galope de todos os lados ao mesmo tempo, a minha auréola, num movimento brusco, caiu-me da cabeça, na lama do macadame. Não tive coragem para a apanhar. Julguei menos desagradável perder as minhas insígnias do que partir os ossos. E depois, disse comigo mesmo, há males que vêm por bem. Agora, posso passear incógnito, cometer más ações, e entregar-me à crápula, como os simples mortais, E eis-me aqui, semelhante a ti, como vês!
- Devias ao menos mandar anunciar essa auréola, ou fazê-la reclamar pelo comissário.
- Por coisa alguma! Acho-me bem aqui. Só tu me reconheceste. Para mais a dignidade aborrece-me. E também penso com satisfação que algum //comissário// a vai apanhar e cobrir com ela //algum mau artista// impudentemente. Fazer alguém feliz, que alegria! E sobretudo um feliz que me fará rir! Ora pensa em X ou em Z. Hein? Como será divertido!
A partir de "A Perda de Auréola" em //Spleen de Paris// de Charles Baudelaire, com base na tradução de António Pinheiro Guimarães (micro-intervenções em itálico)}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Quando o meu olhar ilumina a paisagem| ./wikiImages/ilumina01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Quando o meu olhar ilumina a paisagem'', Rebordelo, Outubro de 2016@@//}}}}}}
Talvez o título desta pequena série de fotografias, que realizei ao cair da noite em Rebordelo, devesse ser escrito como uma interrogação: //Poderá o meu olhar iluminar a paisagem?//
A ideia de que cada fotografia acontece porque já existia aquilo que a fotografia mostra, a ideia, em suma, de que a fotografia representa afinal apenas a evidência de alguma coisa que estava lá, à espera de ser fotografada, o chamado referente, continua hoje dominante. Caberia ao fotógrafo escolher o que fotografar (o chamado enquadramento) e quando fotografar (o chamado momento decisivo). E se podemos encontrar muitos autores/pensadores contempoâneos (aqui contemporâneo significa mesmo do nosso tempo) que têm evidenciado a subjectividade do acto fotográfico e demonstrado a forma como a fotografia equilibra/mistura documento com ficção, aquela ideia da fotografia associada/presa a uma técnica, a um acto essencialmente mecânico, continua a prevalecer, e não nos admiramos que tal aconteça. De facto, a massificação desmesurada dos aparelhos de captação de imagem, a sua enorme evolução qualitativa e a sua automatização têm contribuído para adensar essa ideia, tão antiga quanto o daguerreótipo. Poderemos talvez descobrir nesta massificação de imagens fotográficas, tecnicamente evoluídas, uma razão para a procura crescente do livro de fotografia por parte dos fotógrafos. Talvez sejamos aqui obrigados a não evitar o anglicismo e a escrever mesmo //photobook//, em vez de "livro de fotografia", pois o livro de fotografia, que é quase tão antigo quanto a própria fotografia, tem vindo a deixar de ser uma série/colecção de boas fotografias, como acontecia até há bem pouco tempo, para se transformar com o chamado //photobook// numa construção de ficções. Ficções que cada fotografia contém em si realmente, mas que muitas vezes é incapaz de revelar.
''Algumas notas sobre a incapacidade ficcional da fotografia'': esta ideia constituiu o principal argumento daqueles que ao longo dos séculos XIX e XX depreciaram a fotografia. Os artigos de Baudelaire (ver "Salon de 1859", que se encontra facilmente na //net//) são paradigmáticos, mas as palavras de Campos Lima, em nome do neorealismo português, num artigo publicado na revista Vértice nº 148/149 de 1956, também podem ser invocadas aqui. Para Campos Lima, a fotografia é uma arte menor, de quem se limita a “dar ao botão da Kodack, um decalque mecânico, um golpe de olho, a agilidade da mão”. E acrescenta ele:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//A arte fotográfica ou naturalista procura dar o conteúdo da vida tal como ela é, transplantar sem alteração para a tela da arte a pura imagem da vida, que se colhe num momento, sem mudança de um pormenor, de tal sorte que a forma desejada desta arte é já a própria forma preexistente na vida e o valor de um artista (do ponto de vista do naturalismo) afere-se pela sua capacidade de saber copiar.
//Campos Lima//, “O retrato e a fotografia”, revista Vértice nº 148/149 de Jan/Fev de 1956//@@}}}}}}
Reconhecemos no artigo de Campos Lima os mesmíssimos argumentos anti-fotográficos de Baudelaire, que acabariam por estar na base do aparecimento dos chamados pictorialistas. Mas podemos também reconhecer em Campos Lima a velha tese, tão grata a alguns neorealistas, de combate a uma arte decadente porque formalista, a uma arte sobrevalorizasse a forma ao conteúdo. Nas palavras do autor, uma "arte decadente", de que o abstraccionismo seria o mais digno representante, mas a que a fotografia não escaparia, como uma técnica de expressão formalista.
Os argumentos de Campos Lima permitem-nos porventura entender a desconfiança e a ambiguidade, que poderia à priori espantar-nos, que os neorealistas em Portugal sempre mantiveram em relação à fotografia.
Retomo por isso a pergunta; //Poderá o meu olhar iluminar a paisagem?//
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|bgcolor(#ffffff):[img[Retratos de Leite| ./wikiImages/RetratoNLV.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Retratos de Leite''@@//}}}}}}
Leite de Vasconcelos, a quem colaboradores e amigos chamavam com ternura Meste Leite, ou simplesmente Mestre, tem ocupado uma parte significativa das minhas horas, desde há cerca de dois anos, quando me foi apresentado. E surpreendentemente, foi o escritor Carlos de Oliveira quem mo apresentou, mas isso é outra história, e teremos de a contar noutra altura.
Reencontrei o Mestre, cerca de um ano mais tarde, ao embrenhar-me na //Lhéngua Mirandesa//, no âmbito de um estudo de //Linguística Românica// na FLUP, e, desde então, a figura de Leite de Vasconcelos fascinou-me de vez. Foi quando percebi que teria de partir de malas e bagagens à sua descoberta. Tal decisão significava obviamente estudá-lo, lê-lo, mas também, para mim, encontrá-lo num sentido literal, utilizando como ferramenta dessa materialização a fotografia. A fotografia como uma máquina mágica que nos permite viajar no espaço e no tempo.
A procura de Mestre Leite levou-me a muitos locais, por onde ele andou, ou onde deixou vestígios: Porto, Lisboa, Ucanha, Terras de Miranda, sempre em busca de rastos da sua passagem. Tem sido uma viagem com muitas etapas. Tem sido uma aventura com muitos episódios. E sempre com a câmara dependurada ao pescoço, como bússola, guiando essa caminhada.
Ora, numa das estações desse percurso, ao abrir pacotes do espólio de Leite de Vasconcelos guardados na FLUL, encontrámos bastantes fotografias do Meste, de seus familiares, de conhecidos e de amigos, pequenos e grandes álbuns, e foi essa descoberta inesperada que nos convenceu de que teríamos de organizar uma exposição. Para mais, em 2016 perfazem-se 75 anos da morte do Mestre, que aconteceu em 1941.
A exposição, que relembra Mestre Leite, intitulada ''Leite de Vasconcellos 75 anos depois'', será mesmo realizada na Biblioteca da FLUL e abrirá no dia 6 de Dezembro de 2016.
O meu projecto fotográfico ''À procura de Mestre Leite'' integra essa exposição. ''À procura de Mestre Leite'' regista uma das etapas da minha viagem: a busca da casa, onde Mestre Leite morou no Porto, durante cerca de um ano, depois de concluir aí o curso de Medicina na Escola ~Médico-Cirúrgica.
O vídeo ''Retratos de Leite'', que também irá ser mostrado, foi construído com os retratos do Mestre no espólio da FLUL e envolve a leitura, pela poetisa Adília Lopes, do poema de apresentação de Leite de Vasconcelos, chamado "Epistola", onde ele se apresenta e descreve ao seu amigo Hugo Schuchardt, para que o professor e linguista alemão o pudesse reconhecer, quando ele chegasse no comboio, pois aquele iria ser o seu primeiro encontro.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Bom Natal e Bom 2017| ./wikiImages/postal2016.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Postal 2016'', Dezembro 2016@@//}}}}}}
PS: desculpem-me por favor, mas podendo escolher a árvore que vou ser, escolho naturalmente um castanheiro...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Retratos de Leite| ./wikiImages/tresReinos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Fraga dos Três Reinos'', Moimenta, Dezembro 2016@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.//@@}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Manoel de Barros@@}}}}}}
A Fraga dos Três Reinos é um local simbólico, perto de Moimenta, em pleno Parque de Montesinho. É, como tantos que por aqui abundam, um penedo escultural. Deve o seu nome a ter sido o marco medieval que delimitava três reinos: de Portugal, da Galiza e de Leão. Hoje está na linha de fronteira entre Portugal e Espanha, no caminho de Vinhais para a Sanabria. Conta a lenda que havia uma disputa antiga e acirrada deste território, sobretudo devido a uma fonte próxima, situada em território português, que nunca secava, e a que os pastores dos três reinos se viam obrigados a recorrer durante o verão. Para resolver essa disputa, o rei D. Afonso III de Portugal, numa visita ao território, terá convocado para esta fraga um encontro dos três monarcas, que decidiram nesse dia, para terminar com a questão, criar um território livre, de cerca de 1000 m2, onde todos pudessem aceder livremente, para dar de beber ao gado. Diz a lenda também que celebraram no local, com comida e com bebida fartas o acordo feito, e que pronunciaram nesse dia uma frase que se tornaria famosa: “Bebemos da mesma fonte; comemos à mesma mesa, cada um com a cara voltada para o seu reino”. A pedra tem gravadas três cruzes, cada uma delas virada para cada um dos antigos reinos que memorizam esse acordo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Bom Natal e Bom 2017| ./wikiImages/cesario01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Flaneur'', Dezembro 2016@@//}}}}}}
Cesário Verde, tal como eu, era um flâneur. Percorria Lisboa e escrevia versos... Sempre triste, não se sabe bem porquê...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...//
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos"@@}}}}}}
Ora, eu tenho andado nas últimas semanas às voltas com a poesia de Cesário e a determinada altura senti necessidade urgente de escrevinhar estes versos. Achei que os deveria partilhar aqui; são pelo menos um pretexto para lembrar Cesário.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Eu caminho na cidade,
A tristeza à minha beira.
Mas queria ter saudade
De tristeza verdadeira.
Ai se a tristeza chegasse
Quando eu dela preciso!
E se ela não precisasse
De se disfarçar com riso...
Não há tristeza tão triste
Como a tristeza que rói,
Uma tristeza que existe
Que se não vê, mas que dói.
Só tristeza pura e dura
É tristeza que acera,
Porque a tristeza só cura
Se for tristeza sincera.//@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Cerâmica da Marofa em Figueira de Castelo Rodrigo| ./wikiImages/grosz01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Cerâmica da Marofa em Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2011@@//}}}}}}
Nos anos 20, George Grosz foi objecto de críticas duras por parte de alguns elementos ligados ao movimento comunista alemão, por não produzir uma obra indivitavelmente optimista, eufórica, uma obra que propagandeasse de uma forma clara o mundo novo, justo e feliz, que o movimento operário traria dentro de si. A resposta de Grosz seria publicada na revista Prozektor nº 4 em 1928.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...Often comrades who think they are particularly clever object to my depictions of workers on the grounds that my proletarians are not, in their view, real proletarians, they are artificial figures, the product of the petty bourgeois, as the anarchistic artist Grosz sees them. What they mean is that since the working class is growing one should show the growing proletariat as a 'positive idea'. But I don't think it is necessary to meet the requirements of a 'Hurrah- Bolshevism', that sees the proletariat as always neatly brushed and combed in the old hero's dress. I at least cannot imagine the proletariat any other way than the way I draw it. I still see them as oppressed, at the bottom of the social scale, badly dressed, badly paid, in dark, stinking housing and very often dominated by the bourgeois desire to 'get to the top'. Apart from that I very definitely don't believe that one can only serve by following a one-sided and false idealization of the propaganda, singing praises. There are other ways of showing the worker than with his sleeves rolled up showing a strong biceps, in the style of the agit posters. You can't proceed from so sentimental an idea and say that my image is false from the standpoint of the propaganda ... You have to remember that the mass of the German proletariat has not yet become so aware of his strength as the worker in the Soviet Union. To help the workers to understand their oppression and suffering, force them to admit openly to themselves that they are wretched and enslaved, awaken their self-confidence and stir them to the class war, that is the task for art, and it is the task I serve. //
Tradução de Eileen Martin em inglês para o catálogo //Prints and Drawings of the Weimar Republic//, Stuttgart, 1985@@}}}}}}
Não devemos por isso estranhar que alguns neorealistas, como Carlos de Oliveira ou Mário Dionísio, tivessem sido objecto da mesma crítica. Mário Dionísio escreveria:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Há uma pergunta que se impõe: pode-se ser feliz e despreocupadamente optimista nos dias que vivemos? […] É que não só o grito e ingenuidade juvenil são sinais de luta. A amargura, o desespero, a raiva contida e até o desencanto de certos momentos fazem parte do processo dos que a vivem de dentro. […] Toda a obra nova é difícil, leva tempo a ser aceite, incomoda. Os que só querem encontrar nos livros o que já sabiam reagem desagradavelmente ao esforço que lhes é exigido. Mas... para que lêem romances? Um romance não é uma obra de divulgação ou de propaganda, comercial ou política, não é verdade? E é isto que sempre opôs e oporá os artistas aos que supõem poder dirigir a criação artística. Por mais culto e bem intencionado que seja o orientador, como poderia ele saber antecipadamente o que vai ser descoberto e como lá se chegará? Por mais que queira proteger as artes, não mais fará que atrofiá-las, porque lhes nega ou lhes restringe a sua condição primeira, que é a liberdade total.//@@}}}}}}
Há também um célebre poema de Carlos de Oliveira, publicado em1948, chamado //Soneto//, que responde igualmente a quem o acusava de ser triste e pessimista.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.//@@}}}}}}
Todos conhecemos bem as consequências trágicas daquela ortodoxia monolítica, que desaguou no conservadorismo e reaccionarismo artístico chamado realismo socialista.
A propósito, a fotografia do operário, que parece estar sorridente e tão feliz, foi feita na Cerâmica da Marofa, uma unidade industrial de Figueira de Castelo Rodrigo, pujante até à crise financeira que rebentou neste século. Quando fotografei a Cerâmica em 2011 já só tinha 4 trabalhadores, que mais não faziam do que ir arrumando o material, à espera do fecho, que entretanto aconteceu.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Toda a Paisagem é Cenário| ./wikiImages/cenario01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Toda a Paisagem é Cenário'', Rebordelo, Fevereiro 2017@@//}}}}}}
Esta fotografia integra uma série, que iniciei em 2016, a que chamo ''Toda a paisagem é cenário''. Este título é o resultado de uma reflexão que venho fazendo há algum tempo sobre a relação entre fotografia e documento.
Parece-me que podemos identificar em todas as fotografias duas componentes fundamentais: documento e ficção, ainda que a importância de cada um desses componentes, possa variar muitíssimo de imagem para imagem.
{{indent{I. ''Documento'': uma componente indicial, documental, que resulta do processo de registo do real, inerente ao processo fotográfico:
No Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss podemos ler: Documento – qualquer objecto – fotografias, escritos, peças, filmes, etc. que elucide ou prove algum facto ou acontecimento. De facto o conceito de documento é muito amplo e engloba qualquer registo que contenha indícios de algo que aconteceu. Estamos na presença do tal referente, a que se referia Barthes:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Uma determinada foto não se distingue nunca do seu referente… Não há foto sem alguma coisa ou alguém … Uma foto é sempre invisível: não é a ela que nós vemos. Em suma o referente adere.//
//Câmara Clara//, Roland Barthes@@}}}}}}
@@font-size:10px;Nota: Podemos, porventura, pôr de lado, pelo menos para já, imagens artificiais construídas com recurso a ferramentas digitais, ainda que mesmo neste caso possamos talvez identificar outro tipo de documento, que revela o processo de construção dessa imagem virtual.@@
II. ''Ficção'': uma componente ficcional ou simbólica, associada a um processo de construção da imagem pelo autor.
Cada fotografia revela, através da opções na sua realização e na sua produção, opções subjectivas que poderão ser associadas à área da ficção.}}}
Parece existir assim em cada imagem um equilíbrio instável entre estes dois elementos. Instável, não só porque esse equilíbrio depende do leitor/observador, mas porque se move ao longo do espaço/tempo. Como paradigma dessa instabilidade no tempo poderíamos referir a fotografia de Atget, que foi tão (des)considerada durante muito tempo, como desinteressante, precisamente porque era “demasiado” documental, e que surpreendentemente foi “descoberta” pelos surrealistas e ganhou um novo conteúdo simbólico, que a tornou numa das fotografias mais relevantes, e mesmo, no presente, idolatrada no seio da chamada fotografia contemporânea.
Cada fotografia vai ser sujeita, assim, a dois processos de subjectivação:
{{indent{1. Um processo de construção de uma representação, da responsabilidade dos autores, que engloba factores técnicos e factores culturais/ideológicos.
2. Um processo de interpretação por parte de cada leitor/observador, com a intervenção de agentes como os media, onde mais uma vez serão relevantes aspectos culturais e ideológicos.
Assim, a partir do real, temos a fotografia criada pelo autor, onde os dois componentes que referimos dialogam e se completam, e temos a imagem vista por cada um de nós, onde o equilíbrio desses dois componentes irá ser diverso.}}}
E cada paisagem vai poder ser transformada num cenário.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Toda a Paisagem é Cenário| ./wikiImages/cenario02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''L'arbre qui brule'' da série ''Toda a Paisagem é Cenário'', Rebordelo, Fevereiro 2017@@//}}}}}}
Durante o Renascimento predominavam modelos estéticos inspirados nos clássicos, que privilegiavam a imitação e exigiam cumprimento de regras rígidas e um decoro absoluto no recurso a artifícios embelezadores da obra.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Na boa imitação e uso, que o fero
engenho abranda, ao inculto dá arte,
no conselho do amigo douto espero//
António Ferreira em Carta VIII do Livro I a Diogo Bernardes@@}}}}}}
Durante o século XVI, por razões várias no plano social, económico, cultural e religioso, esses modelos estéticos começam a ser postos em causa, valorizando-se a componente de prazer e de deleite na obra de arte, instituindo o que se chama hoje habitualmente o Maneirismo, e que dará lugar durante o século XVII, por uma nova evolução estética, ao Barroco.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Não basta que o poeta cumpra com as obrigações da arte, se a obra não for pathetica, que é o mesmo que dizer comovedora, de modo que há-de mover a algum afecto, ou a tristeza, ou a alegria ou a semelhante.//
D. António de Ataíde em //Arte Poética//@@}}}}}}
Talvez possamos encontrar nesta dupla visão da obra do século XVI e XVII algum paralelismo com aquilo que escrevemos no nosso post anterior sobre a dualidade documento-ficção na fotografia.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Simulacro| ./wikiImages/simulacro01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Simulacro'', Figueira de Castelo Rodrigo, Fevereiro de 2018@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Um poema para Marielle
Morreu a preta da maré,
a negra fugida da senzala
que foi sentar com os "dotô" na sala
e falar de igual para igual com "os homi".
A negra que burlou a fome de se saber,
que fez crescer dentro dela o conhecimento.
Aquela, que por um momento de humanidade,
sonhou com a justiça, lutou por liberdade
e ousou ir mais alto,
do que permitia sua cor.
"Mas preta sabida, não pode!
Muito menos pobre! Não tem valor."
Diziam as más línguas na multidão.
E ela ousou tirar seus pés do chão.
Morreu.
Morreu a "preta sem noção",
que falava a verdade na cara do patrão,
que carregava a coragem, como bagagem,
no coração.
O tiro foi certo,
acertou com maldade,
ecoando seco no centro da cidade//
Anielli Carraro- Poeta de Volta Redonda@@}}}}}}
E enquanto matam os melhores de nós, nós continuamos a nossa vidinha, como se nada de grave se passasse, neste nosso simulacro de liberdade.
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|bgcolor(#ffffff):[img[O caminho| ./wikiImages/caminho2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Vale de Gouvinha'', ~Trás-os-Montes, Abril 2017@@//}}}}}}
Há para mim, quase sempre, na fotografia um eterno retorno a Ítaca, onde o importante é o caminho e não a chegada. "Ítaca deu-te essa viagem esplêndida/ Sem Ítaca, não terias partido."
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Quando partires de regresso a Ítaca,
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e de experiências.
Cíclopes, Lestrogónios, e mais monstros,
um Poseídon irado - não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho,
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Cíclopes, Lestrogónios, e outros monstros,
Poseídon em fúria - nunca encontrarás,
se não é na tua alma que os transportes,
ou ela os não erguer perante ti.
Deves orar por uma viagem longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
quando, com que prazer, com que deleite,
entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter-te
para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes quanto possas.
E vai ver as cidades do Egipto,
para aprenderes com os que sabem muito.
Terás sempre Ítaca no teu espírito,
que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
Terás compreendido o sentido de Ítaca//
Kavafis, tradução de Jorge de Sena@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Páscoa| ./wikiImages/Pascoa2017_02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serro, Rebordelo, ~Trás-os-Montes, Páscoa 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Esse baxel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.
Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse estio em vesúvios encendido
Foi Zéfiro suave em doce agrado.
Se a nau, o sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,
Olha, cego imortal, e considera
Que és rosa, primavera, sol, baxel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.//
Francisco de Vasconcelos Coutinho (1665-1723)@@}}}}}}
O tempo inexorável, o seu engano, a sua ilusão, o tempo que tudo transforma e degrada, o tempo que nos conduz à morte, é tema preferencial de toda a poesia maneirista e barroca em Portugal, quase sempre num registo pessimista e muito melancólico. O baxel que naufraga, o sol que se apaga em noite e em eclipse, a rosa que se transforma em cinza, a Primavera que se veste de estio e de "vesúvio encendido", como metáforas do tempo no poema de Francisco Vasconcelos. As transformações políticas, sociais, mas sobretudo religiosas - vivíamos os tempos da ~Contra-Reforma - transformariam o optimismo renascentista num desânimo, onde muitas vezes também predomina uma faceta mística, tão adequada à celebração pascal. Efectivamente, a cruz e o sofrimento da Paixão são elementos que se repetem em muitos poemas.
O tempo é também o cerne da fotografia. Em minha opinião, muito mais do que no espaço, a fotografia situa-se no tempo, na subjectividade do tempo, na descontinuidade do tempo. O tempo (ver //tag//) e a fotografia tem sido tema de vários //posts// nesta espécie de blog.
Esta Páscoa, em Rebordelo, estava sentado num sofá e reparei num belíssimo (á moda do barroco, tão apreciador dos latinismos, talvez devesse dizer pulcríssimo) reflexo de luz no tecto da sala. Rapidamente, esse reflexo começou a apagar-se. Corri para ir buscar a câmara e fazer a fotografia à réstia de luz que pouco depois já desaparecera.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Páscoa no Serro| ./wikiImages/giestaPascoa.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serro, Rebordelo, ~Trás-os-Montes, Páscoa 2017@@//}}}}}}
Que dizer face à ostentação? Que palavras usar perante tal luz e tal escuridão?
Talvez só o silêncio seja capaz de responder...
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|bgcolor(#ffffff):[img[À Procura de Mestre Leite| ./wikiImages/forca.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Maio, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
Mas o que há-de apertar o meu pescoço
Em lugar de ser corda de bom linho
Será do teu cabelo um menos grosso//
Cesário Verde@@}}}}}}
Participei no último fim de semana em Valpaços num encontro ibérico bastante interessante sobre os chamados Lagares Rupestres. Houve dois dias de conferência com apresentações diversas e no último dia fizemos dois passeios, a partir de Santa Valha, em que visitámos várias dessas estruturas, que basicamente são rochas graníticas escavadas, muitas vezes aproveitando o próprio desenho anterior da rocha, para supostamente criar uma cavidade onde pisar as uvas - Lagar ou Calcatorium - e onde, frequentemente, também encontrámos outras cavidades, por exemplo possíveis recipientes para receber o mosto - Lagarete ou Lacus - e outras cavidades de utilização muitas vezes misteriosa.
A natureza desses objectos é ainda polémica, parece-me difícil ter produzido vinho nalguns deles, mas encontrar 101 "lagares rupestres" deste tipo no concelho de Valpaços tem com certeza algum significado.
O primeiro passeio foi ao longo da margem direita do rio Calvo, do lado de Vilarandelo, e este foi um dos lagares que visitámos. É um lagar com alguma profundidade e com um aproveitamento notável do espaço para conseguir construir o Calcatorium e o Lacus na mesma rocha.
|bgcolor(#ffffff):[img[À Procura de Mestre Leite| ./wikiImages/lagar02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Lagares Rupestres'', Valpaços, Maio, 2017@@//}}}}}}
Algumas estruturas destas têm sido datadas entre o século III e século V, podendo portanto corresponder à ocupação romana, que poderia ser responsável pela introdução da cultura da vinha, no entanto será possível classificá-las, na sua singeleza, como romanas?
Depois desta curta explicação, perguntar-se-ão o que tem a ver a primeira imagem com tudo isto. Nada e tudo, responderei. E explico: fiz a fotografia no pavilhão multiusos de Valpaços, onde foi organizada a conferência. Porque afinal as imagens andam por aí à nossa espera, e nós não sabemos que elas lá estão. Muitas das melhores fotografias são feitas por acaso, ou no que parece ser um acaso de //flâneur//.
E aquela imagem ficará para sempre ligada aos lagares rupestres, como uma corda que não há-de servir para apertar o meu pescoço mas para ligar ligar as minhas memórias.
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|bgcolor(#ffffff):[img[À Procura de Mestre Leite| ./wikiImages/LV06.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''À Procura de Mestre Leite'', 2016@@//}}}}}}
Foi o escritor Carlos de Oliveira quem me apresentou Leite de Vasconcelos, mas isso é outra história e terei de a contar noutra altura. Reencontrei o Mestre, cerca de um ano mais tarde, ao embrenhar-me na //Lhéngua Mirandesa//, no âmbito de um estudo de Linguística Românica na FLUP, e, desde então, a figura de Leite de Vasconcelos tem andado misturada com a minha vida. Foi quando percebi que partiria de malas e bagagens à sua descoberta. Esta decisão significava obviamente, não só estudar e ler o Mestre, mas também ter de encontrá-lo num sentido literal, utilizando como ferramenta dessa materialização a fotografia. A fotografia como uma máquina mágica que nos permite viajar no espaço e no tempo.
A procura de Mestre Leite levou-me a muitos locais, por onde ele andou, ou onde deixou vestígios: Porto, Lisboa, Ucanha, Terras de Miranda, sempre em busca de rastos da sua passagem. Tem sido uma viagem com muitas etapas. Tem sido uma aventura com muitos episódios. E sempre com a câmara dependurada ao pescoço, como bússola, guiando essa caminhada.
O projecto fotográfico “À Procura de Mestre Leite” integra a exposição que relembra os 75 anos da morte de Leite de Vasconcelos e regista uma das etapas dessa viagem: a busca da casa onde Mestre Leite morou no Porto, durante cerca de um ano, depois de concluir o curso de Medicina na Escola Médica Cirúrgica do Porto.
A exposição ''Leite de Vasconcelos 75 Anos Depois'' inaugura ''6ª feira, dia 5 de Maio, às 18 horas'', na ''Reitoria da UP'' aos Leões. Vai poder ser visitada até dia 22 de Maio. Apareçam por lá.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografar o acto de fotografar| ./wikiImages/hermitage01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Acto de fotografar um Leonardo'', 2017@@//}}}}}}
Desde há muitos anos que gosto de fotografar o acto de fotografar. Um registo de um registo? Um espelho de um espelho? Ou até, talvez, um auto-retrato, onde, em vez de capturar o meu corpo físico, aprisiono a imagem do acto fotográfico de que procuro o significado.
Muitas vezes, sinto buscar nestas fotos um equilíbrio, um jogo, uma dança, um movimento, talvez um momento especial, mágico, que a procura das imagens proporciona. Talvez seja a minha experiência pessoal do que Bresson chamou momento decisivo, apesar de esse ser um conceito que cada vez mais me oferece interrogações.
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografar o acto de fotografar| ./wikiImages/hermitage03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, 'O momento decisivo(?) no acto de fotografar', 2017@@//}}}}}}
Há muitos anos fiz uma série grande de retratos com japoneses na Alemanha. A viagem recente à Rússia, S. Petersburgo e Moscovo, permitiu-me revisitar o tema. Agora os grupos que mais me fascinam e sugestionam imagens são os grupos de chineses, recém-chegados ao turismo de massas. A movimentação em grupo parece ser semelhante à que relembro dos japoneses, mas o automatismo fotográfico que o tm oferece acelerou o processo. Vi um elemento de uma destas excursões que fotografava meticulosamente cada peça, cada pintura, em cada sala do museu em que entrava.
Na sala do museu Hermitage em que fiz a primeira fotografia deste //post//, cada visitante, alertado pelo(a) guia, fotografa uma obra de Leonarda da Vinci - existem dois quadros atribuídos a Leonardo no Hermitage. Muitos fotografam apenas porque lhes dizem que a //Madonna Lita// é de um valor incalculável.
Fotografam a pintura sem condições razoáveis de luz, empurrados de lado pelos vizinhos e de trás pelos que os seguem, fotografam com múltiplos reflexos de luz no vidro, que adulteram ou escondem a obra. Encontrariam certamente melhores imagens em livros, postais ou mesmo na Internet. Disparam sobre a pintura. Dedicam à obra apenas o tempo desses poucos disparos. Quem vem atrás, na mole humana que se forma, pressiona, pois quer ter a oportunidade de fotografar. No olhar, não distinguem realmente este Leonardo de outras obras.
|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografar o acto de fotografar| ./wikiImages/hermitage02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Acto de fotografar um Leonardo'', 2017@@//}}}}}}
Eu próprio, na minha ignorância de pintura, sem a legenda, saberia apenas dizer que, para além da sua beleza singela, me parecia um quadro renascentista, do século XV ou XVI. Leonardo, talvez... E de facto, concluo que mesmo os especialistas de Leonardo polemizam sobre a autoria desta obra: Leonardo ou um dos seus seguidores? Pode até ser - e há grande probabilidade que seja - uma cópia do original, guardado em segurança no cofre do museu.
Nota: reuni no Google um álbum, a que chamei //[[DUAS CIDADES|https://goo.gl/photos/d35NpJyG8HUshozk7]]//, que reúne um conjunto de imagens obtidas nesta curta viagem a S. Petersburgo e a Moscovo. É um conjunto, onde não procurei um critério uniforme, coerente, escolhendo uma imagem aqui a preto e branco, outra ali a cores, uma porque gosto dela, outra porque pertence à tal série de “fotografias de gente a fotografar”, que persigo há bastante tempo e que esta visita me proporciou ampliar, outra ainda porque me parece importante por qualquer razão, mesmo que pouco consciente. Não tendo descoberto um conceito que me permitisse seleccionar e ordenar com maior rigor as fotografias, elas são apresentadas afinal por uma ordem muito próxima da ordem cronológica.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Há um castanheiro que excede a fotografia de um castanheiro| ./wikiImages/castanheiro01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Há um castanheiro que excede a fotografia de um castanheiro'', 2017@@//}}}}}}
"Há um azul que excede a palavra azul" , (re)escreve Pedro Eiras no seu ensaio //Alumiação//, convocando os limites da linguagem, na palavra de Rosa Maria Martelo em //Matéria//.
"Há um castanheiro que excede a fotografia de um castanheiro", poderia escrever eu, convocando os limites da fotografia. Mas também poderia escrever "Há uma fotografia de um castanheiro que excede um castanheiro", convocando os mundos novos que a fotografia revela. Fotografia é documento; fotografia é ficção.
"Mas nunca poderei dizer isto, a ponte afunda-se no rio", (re)escreve Pedro Eiras, convocando de novo o poema de Rosa Maria Martelo.
Eu vou fotografar a ponte a afundar-se no rio e, depois de a fotografar, já posso escrever "a ponte afunda-se no rio"...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Incêndio no Serro| ./wikiImages/fogoSerro01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, série ''Incêndio no Serro'', Junho 2017@@//}}}}}}
Há uns anos publiquei uma série a que chamei [["FOGO SOBRE FOGO SOBRE FOGO"|https://get.google.com/albumarchive/114896269543768506710/album/AF1QipOKhCdm-P5e_AlKGSLkhQ-hqHVP6i6aWR0HwpyL/AF1QipN2d2RRvyTdx8NUclrCZ0kXazG3vqKPKm4K0GR1]]. Nela explico a origem deste título. Confessava então a minha perplexidade perante a beleza que conseguia descobrir na destruição pelo fogo. Essa tem sido uma capacidade perturbadora da fotografia desde há muito tempo: descobrir beleza em tudo (ver o ensaio de Susan Sontag "A AMÉRICA VISTA ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS, SOMBRIAMENTE", sobre a beleza na fotografia americana, ou o livrinho que publiquei inspirado nesse ensaio, a que chamei //Beleza e Fotografia - Espelho Meu, Espelho Meu...//).
Depois do incêndio arrasador, que queimou o pinhal do Serro num fim de semana de Junho, que queimou tudo desde o rio Rabaçal em Vale de Armeiro até ao rio Tuela em Nozedo de Baixo, confesso com angústia a mesma perturbação... Mas continuo a fotografar e a descobrir beleza, onde tal beleza só me perturba e desinquieta.
PONTO DE SITUAÇÃO DA PROCURA DE CÚMPLICES PARA A EDIÇÃO DO LIVRO DE FOTOGRAFIA SOBRE A POÉTICA DE CARLOS DE OLIVEIRA, //''ESCRITO COM CAL E COM LUZ''//: Já reuni nestes dias cerca de 20 cúmplices, mas gostaria de conseguir pelo menos 50. Agradeço a vossa colaboração e divulgação.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Ervas nas Chairas| ./wikiImages/ervasCheiras01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Chairas, Rebordelo, Julho 2017@@//}}}}}}
Estive nas Chairas com o Sr. Bernardo, que tem comigo um contrato de manutenção de uma pequena plantação de freixos e de carvalhos, e ele comprometeu-se a lá ir cortar a erva que crescera entre as árvores.
Confesso que cortar ervas tão belas, cama do silêncio, me fez sentir culpado...
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//QUANDO A ERVA CRESCER EM CIMA DA MINHA SEPULTURA
Quando a erva crescer em cima da minha sepultura,
Seja esse o sinal para me esquecerem de todo.
A Natureza nunca se recorda, e por isso é bela.
E se tiverem a necessidade doentia de « interpretar» a erva verde sobre a minha sepultura,
Digam que eu continuo a verdecer e a ser natural.
//Alberto Caeiro@@}}}}}}
PS: A pré-venda do meu livro de fotografia //Escrito com Cal e com Luz//, dedicado a Carlos de Oliveira, continua.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Escrito com Cal e com Luz| ./wikiImages/capaCO.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, capa do livro de fotografia //Escrito com Cal e com Luz//, Setembro 2017@@//}}}}}}
O livro de fotografia //''Escrito com Cal e com Luz''//, um ensaio fotográfico sobre a poética do escritor Carlos de Oliveira, vai ser apresentado no Museu do ~Neo-Realismo em Vila Franca de Xira no dia 14 de Outubro, pelas 15 horas. A edição integra-se num conjunto de eventos dedicados aos escritor ao longo de 2017.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Nota: A pré-venda cúmplice do livro continua. Quem for cúmplice, subscrevendo a pré-venda em curso, receberá um livro assinado e numerado, com uma fotografia original, em séries numeradas e assinadas de 10 exemplares. A subscrição da pré-venda é de 25 euros, que incluem, para além do livro e da fotografia original, os portes do correio, se tal for necessário. //''Escrito com Cal e com Luz''// é um livro de fotografia com capa dura e com 88 páginas. Será vendido ao público por 30 euros cada exemplar.
Quem quiser ser meu cúmplice nesta edição, deve enviar-me um email, para combinarmos a forma de pagamento.@@}}}}}}
Grande abraço e desde já bem-hajam pela vossa cumplicidade.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Escrito com Cal e com Luz| ./wikiImages/Cal&Luz02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto //Escrito com Cal e com Luz//, praia da Tocha, 2015@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos.
Carlos de Oliveira, “Dunas”, em //Sobre o Lado Esquerdo//@@}}}}}}
Nota: o livro //Escrito com Cal e com Luz - Ensaio Fotográfico Sobre a Poética de Carlos de Oliveira// vai ser apresentado dia 14/10 às 15 horas no Museu do ~Neo-Realismo em V.F. Xira, e a apresentação será seguida de uma visita guiada à exposição no Museu dedicada ao escritor, dia 28/10 na Livraria Flâneur no Porto, dia 4/11 na Centésima Página em Braga, dia 17/11 na Livraria ~Traga-Mundos em Vila Real, dia 25/11 na Casa da Achada em Lisboa. Apareçam por lá!
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|bgcolor(#ffffff):[img[Poderia ser uma imagem do livro Arca de Noé| ./wikiImages/candeeiro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2017@@//}}}}}}
Fiz esta fotografia há cerca de duas semanas, na casa dos meus avós, em Figueira de Castelo Rodrigo. Poderia muito bem ter integrado o livro //Arca de Noé//, que publiquei recentemente, construído em torno das memórias das duas casas de meus avós: paternos e maternos.
Recordo sempre Figueira com luz eléctrica, não sou do tempo anterior à electrificação da vila, mas lembro-me bem de o sistema de distribuição de energia ser frágil, de a luz falhar muitas vezes e durante muito tempo. E quando acontecia, lá acendíamos os candeeiros a petróleo e as velas.
Esta é uma fotografia escrita com luz e com sombra, como todas as fotografias, mas também escrita com cal, podendo assim, curiosamente, constituir uma espécie de metáfora visual do livro //Escrito com Cal e com Luz//, dedicado à poética de Carlos de Oliveira, que vai ser apresentado a 14 de Outubro, em Vila Franca de Xira, no Museu do Neorrealismo.
Nota: o livro //Escrito com Cal e com Luz// continua em processo de pré-venda, para quem quiser ser cúmplice e o pretender adquirir (contactar-me para rroque@renatoroque.com)
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Douro, Agosto 2017| ./wikiImages/passeioDouro04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Douro, Agosto 2017@@//}}}}}}
Num passeio de barco, que fiz recentemente com um grupo de amigos, entre o Pinhão e a Régua, para além de fotografar a paisagem e as pessoas que comigo viajavam, fui fazendo fotografias de fotografias. Quem segue com alguma regularidade esta minha espécie de blog, onde vou reflectindo sobre fotografia e a sua relação com o mundo, sabe que eu gosto de fotografar cenas com gente a fotografar, apesar de essas imagens até hoje apenas me terem servido para publicar nesta espécie de blog ou no FB. Não estranharão, por isso, a imagem acima, que hoje publico. Já, por diversas vezes, aqui e noutros lugares, tentei desenvolver argumentos e porventura descobrir as várias motivações que poderão explicar tais impulsos. Tento talvez fotografar a fotografia no momento de ser feita, descobrindo movimentos e relações corporais que me seduzam. Fotografia materializada em tensões e jogos corpóreos. Fotografar porventura o instante decisivo daquela(s) fotografia(s).
Neste caso, confesso, aquelas cenas dentro do barco, também me trouxeram à memória a célebre fotografia de Augusto Alves da Silva, com que ele participou no BES Photo 2006. A relação parece ser óbvia...
|bgcolor(#ffffff):[img[Augusto Alves da Silva, BES Photo 2006| ./wikiImages/AAS2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Augusto Alves da Silva, BES Photo 2006@@//}}}}}}
Até que o barco entrou na eclusa. Lá dentro fui, antes de mais, atraído pelas mudanças da luz. Aquela caixa de sombra, depois do sol intenso que nos queimara desde a partida do Pinhão, cada vez mais funda, à medida que descíamos com o nível da água, criava uma iluminação estranha, que me pareceu a determinado momento mágica, talvez fruto das várias reflexões da luz solar nas quatro paredes daquela caixa em betão, onde o barco se enfiou.
|bgcolor(#ffffff):[img[Douro, Agosto 2017| ./wikiImages/passeioDouro03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Douro, Agosto 2017@@//}}}}}}
Continuei portanto a minha série; fiz algumas imagens, onde vários passageiros do convés fotografavam a eclusa. O ambiente era descontraído, os grupos conversavam, riam, fotografavam. De repente, um tipo sentado numa das cadeiras, ao lado de uma mulher, e que tinha ficado enquadrado nalgumas das minhas imagens, em que eu mal reparara, saltou sobre mim, agarrou-me a câmara com violência e, muito agitado, vociferava, questionando-me porque estava eu a fotografar a sua mulher. A surpresa de tal atitude começou por me deixar sem reacção, depois tentei acalmá-lo, explicando o que me movia, dispondo-me a mostrar-lhe as imagens, mas de nada servia. Continuava a puxar a máquina e a tentar exercer a defesa do seu território, que por alguma razão considerara ameaçado. E se outros passageiros, que comigo viajavam, se não tivessem posto no meio e o não tivessem obrigado a largar o aparelho, teria talvez tentado chegar a vias de facto. No fim da viagem, já no cais da Régua, ainda pensei na possibilidade de me aproximar dele para lhe falar, e tentar de novo clarificar aquele equívoco, mas ele desapareceu rapidamente. Não sei, se me teria ouvido.
Depois, ao ver as imagens que tinha feito, ao olhar a imagem exactamente anterior ao momento desse salto do sujeito sobre mim, pude ver no seu olhar o instante em que ele parece ter decidido afirmar a sua dignidade de macho, perante aquela ameaça exterior, que inventara ao sentir-se fotografado.
Posso afirmar que, fotografando na rua há décadas, muito poucas vezes me senti minimamente ameaçado, ou mesmo objecto de agressividade por parte dos fotografados, e, quando isso aconteceu, quase sempre consegui ultrapasssar essas tensões, conversando com as pessoas e, em último caso, respeitando a sua vontade, e não fotografando. Mas, como se sabe, quem anda à chuva, um dia, pode mesmo ficar molhado.
PS: hesitei se deveria publicar realmente algumas das imagens que originaram o conflito, nomeadamente aquela que refiro acima, onde o olhar acossado do homem pode ser identificado, mas decidi publicar outras, que fiz durante essa viagem, contando a história, que me parece digna de registo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Escrito com Cal e com Luz| ./wikiImages/citacoes.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//La vie est à peine un peu plus vieille que la mort.//
Paul Valéry, //Tel Quel//
//A vida é apenas um pouco mais velha do que a morte.//
Gastão Cruz, //Existência//
//A fotografia é apenas um pouco mais nova do que aquela hora da vida, mas sobreviverá à sua irmã mais velha//
Renato Roque, //Aqui nesta espécie de blog//@@}}}}}}}}}
Nota: os melhores livros são os que suscitam reacção.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Escrito com Cal e com Luz| ./wikiImages/silencio5.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto //Escrito com Cal e com Luz//, praia da Tocha, 2015@@//}}}}}}
Nada mais misterioso do que aprendermos com as leituras que os outros fazem daquilo que nós construímos. Aconteceu assim em Braga, na Centásima Página, na apresentação do livro //Escrito com Cal e com Luz - Ensaio Fotografico sobre a Poética de Carlos de Oliveira// com Isabel Cristina Mateus.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;O livro, qualquer livro é uma proposta feita à sensibilidade, à inteligência do leitor: são elas que em última análise o escrevem. Quanto mais depurada for a proposta (dentro de certos limites claro está), maior a sua margem de silêncio, maior a sua inesperada carga explosiva. A proposta, a pequena bomba de relógio, é entregue ao leitor. Se a explosão se der ouve-se melhor no silêncio".
Carlos de Oliveira, em "Micropaisagem, //O Aprendiz de Feiticeiro//@@}}}}}}
O silêncio, sempre o silêncio...
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Caminho da Lua| ./wikiImages/luaEstrela.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serra da Estrela, Dezembro, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//
...Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.//
Cesário Verde
//O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.//
Alberto Caeiro@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Uma História de Natal| ./wikiImages/postal2017.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.//
Carlos Drummond de Andrade@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Natal 2017| ./wikiImages/natal2017.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Nozedo, Dezembro, 2017@@//}}}}}}
Desenvolvo uma série fotográfica, há muitos anos, em ~Trás-os-Montes, que podem descobrir aqui, nesta espécie de blog, a que chamo "Espanta o Quê?".
Talvez, afinal, se possa ver o Natal como uma forma de espantar o que quer que seja...
Para todos vós, neste Natal, o espanto que vos aprouver!
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Em Nozedo| ./wikiImages/redes.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Nozedo, Dezembro, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
//Manoel de Barros@@}}}}}}}}}
Eu poderia dizer, dobrando as palavras do poeta:
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, fotografo.
Eu queria ser visto pelas pedras.
As imagens me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as imagens me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.//@@}}}}}}}}}
Nota: Há cerca de 30 anos fiz uma série sobre redes. Redes de pesca de imagens. Em Nozedo, em ~Trás-os-Montes, agora, reencontrei-as...
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Uma História de Natal| ./wikiImages/natal2017B.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, 25 de Dezembro 2017@@//}}}}}}
//Posts// anteriores terão denunciado, desde há alguns anos, uma relação um pouco difícil da minha parte, ponhamos as coisas assim, com o Natal. A preparação desta muito inocente e improvisada pecinha de teatro, com a Rita, com a Raquel e com a Renata, talvez tenha contribuído para uma reaproximação.
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Uma História de Natal// é uma história simples de dois irmãos, a Anita e o Pedrito, e da sua relação natural com os animais.
É a primeira produção da companhia teatral 10 e''RR''es. Pretende ser uma experiência a repetir todos os Natais. Vamos a ver se o conseguimos.
Ficha técnica:
{{indent{Texto - RR
Encenação - 10 e''RR''es
Cenários - RR
Figurinos – RR
Produção: 10 e''RR''es, Dezembro 2017}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[10 eRRes| ./wikiImages/natal2017C.jpg]]|
Actores:
{{indent{Anita – Renata Reis
Lazuda, Felpudo e Pantufa – Raquel Reis
Narrador e Pai – Renato Roque
Pedrito e Mãe – Rita Reis
Directora de Cena - Rosa Reis}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[10 eRRes| ./wikiImages/logo_sh.jpg]]|
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|bgcolor(#ffffff):[img[Homenagem a Karl Bloßfeldt | ./wikiImages/blossfeldt1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Homenagem a Karl Bloßfeldt '', Dezembro de 2017@@//}}}}}}
Karl Bloßfeldt teve uma formação clássica em Belas Artes. Estudou escultura e frequentou depois a Escola de Artes Aplicadas de Berlím, onde viria a ser professor. A sua admiração por formas naturais, levou-o a fotografar, de uma forma nunca antes vista, elementos da natureza: folhas, flores e frutos, e a utilizar essas imagens, surpreendentes na altura, como material de apoio às suas aulas de desenho. Com essas fotografias, mostradas pela primeira vez em 1926, numa galeria em Berlim, tornar-se-ia um dos elementos preponderantes de um movimento inovador, designado como //Neue Sachlichkeit// - //Nova Objectividade// - que integraria fotógrafos famosos como Albert ~Renger-Patzsch e August Sander. O seu primeiro livro //Urformen der Kunst// - //As formas originais da Arte// - publicado en 1928, transformar-se-ia rapidamente num clássico. A //Nova Objectividade// faria parte de uma panóplia de movimentos revolucionários na fotografia, bastante diferentes entre si, que surgiriam ao longo dos anos 20 e 30, designados muitas vezes genericamente como //Nova Visão//, recorrendo a um epíteto proposto por ~Moholy-Nagi para designar as potencialidades artísticas da fotografia. A exposição ''~FiFo'', realizada em 1929 em Estugarda, pelo //Deutscher Werkbund//, associação artística fundada por Peter Behrens, Walter Gropius e Mies Van der Rohe, pode ser considerada como a primeira grande mostra de uma fotografia modernista, europeia e americana, que consubstanciava as ideias artísticas dessa //Nova Visão//.
Nota: a internet disponibiliza muita informação e muitas fotografias, a quem tiver curiosidade em conhecer um pouco mais sobre Bloßfeldt, sobre a //Nova Objectividade// e sobre a //Nova Visão//.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Louvado seja| ./wikiImages/louvemos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Louvadas sejam as romarias'', Rebordelo, Festa da N. Srª de França, Agosto de 2017@@//}}}}}}
Participei nas Quintas de Leitura deste mês no TCA com fotografias, para dançarem com os poemas do Rui Lage.
Bem sei que costumo evitar aqui, neste espécie de blog, textos tão grandes, mas neste caso não pude evitar, pois queria mesmo publicar este poema do Rui Lage.
Louvado seja ele por mo ter dado a ouvir...
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''LOUVOR DA VIDA NO CAMPO''
Louvado seja o granito de fábrica, as fontes marmorizadas
com sereias a gorgolejar,
as águias intrépidas e o gnomo a sorrir às visitas
nos relvados onde há carroças
e arados a desbotar.
Louvados os lavadouros cimentados, obrados
pelas juntas de freguesia, louvadas as alminhas
em redoma iluminada, os ecopontos,
as tampas de saneamento que fazem trác-trác
sob as berlinas ataviadas de cromados
que surdem a bombar os últimos sucessos.
Louvadas as turbas de sandália e calção
em demanda da natureza, turismo forense
com smartphones de autopsiar. Louvados os furgões
da Santa Casa e as marmitas de plástico duas vezes por dia,
e louvados os que velam no Governo
pelos últimos velhinhos do interior, e provêm ao campo
fixando a mocidade
com feiras ovinas e mostras do melhor que há na região,
e os que subsidiam ofícios arcaicos, ensinados
em centros de formação,
e louvados os congelados comprados nos hipermercados
das sedes de concelho, e as alegrias e folias dos macacos
da TV que dão às gentes crescido orgulho
na terra tão aterrada tão esperançada no mirtilo, no eucalipto,
no kiwi.
Louvadas as moto-quatro ensandecidas que escorraçam a passarada
e livram de razia o cerejal — louvada
a sua estridência que nos coage à penitência
e nos proíbe o ócio mental.
Louvadas as barragens e as eólicas que fazem magia verde
no curso dos rios
e ciscam nos cumes o altíssimo e os sacos lacrimais dos quixotes
enlutados, mais os painéis fotovoltaicos abrasados
de sol a sol, por vestirem as searas de lantejoulas,
e vós as cólicas dos tractores que entram pelos valados a sugar,
vampíricos, os cachos,
e vós ó vibradores atrozes de escachar o púbis às oliveiras
e vós ó ceifeiras-debulhadoras com cabina climatizada.
Louvados os centros interpretativos
de legendar as alfaias e os castigos
de que viveram os que já não estão vivos,
e os núcleos museológicos que nos recebem nos castros
de muralhas refeitas com pedra nova
e lustrosa, limpa de musgos
e ervas daninhas.
Louvados os adubos da Fertor e os fundos comunitários.
Louvada a insurgência que tirou a tosse ao sino
que o dia todo repicava sem tino
estragando a sesta ao emigrante,
e louvadas as capelas revelhas arrasadas a buldózer
em prol de templos mais modernos
mais dignos de temor.
Louvadas a PAC e as DRAP, as rotas do azeite e dos vinhos,
as quotas leiteiras, os herbicidas,
e louvado o festival do cogumelo e do enchido,
os torneios medievos, os sabats performativos
em sexta-feira 13.
Louvadas as auto-estradas e à conta delas as serras
esfoladas,
e os passadiços sobre elas estendidos para o lobo
passar fome, pois que tudo foi caçado,
e os planos de ordenamento que protegem as florestas
dos inimputáveis, dos maluquinhos.
Louvados mais que tudo os postes de iluminação
que extinguem o firmamento
e cancelam o recato dos quinteiros penumbrosos
e bem assim dos quelhos
outrora acossados por lobisomens e génios caprinos.
As estrelas dão-se a morte lá no alto,
e só nelas, nas suas vastas e atrozes parcelas,
no seu mudo e disperso povoamento,
ainda há vida no campo.//
Rui Lage em ESTRADA NACIONAL@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[O Caminho para o Prado da Minha Avó| ./wikiImages/prado02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''O Prado da Minha Avó'', Figueira de Castelo Rodrigo, Fevereiro de 2018@@//}}}}}}
Nos longos verões de antigamente em casa dos meus avós, em Figueira e Castelo Rodrigo, quase todos os dias íamos até à horta e ao prado, situados no fim das eiras, a caminho do Convento Sta Maria de Aguiar. No prado pastava quase sempre a burra e regressar montados nela era outro motivo de festa. Mas o tanque de rega e de lavar a roupa, que lá havia, era o principal motivo do regozijo do passeio. Hoje admiro-me como cabíamos tantos dentro de um reservatório com menos de 2 por 2 metros, como conseguia mergulhar da beira inclinada, onde a Felicidade batia a roupa enquanto ia ralhando connosco, para a água, que não tinha mais de dois palmos de altura.
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//
...
Quando depois de muito mar, de muito amor
Emergindo de ti, ah, que silêncio pousa
Ah, que tristeza cai sobre o mergulhador!
Vinicius de Moraes//@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Memórias de Ferrite do NCR 4100| ./wikiImages/memoria02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Homenagem a Rogério Nunes, 50 anos do NCR Elliot 4100'', Biblioteca da FCUP, Abril de 2018@@//}}}}}}
Mnemosine ou Mnemósine pertence à primeira geração de deuses na mitologia grega. É a deusa que personifica a memória na Grécia Clássica.
Para os gregos tudo provinha do Caos. O Cosmos proveio do Caos. E os deuses são oriundos do Cosmos. Primeiro nasceram Urano (Céu), Gaia (Terra) e Eros (Amor). Os filhos do Céu e da Terra são os Titãs e as Titânides. Mnemósine era uma das seis Titânides. Cronos, um dos Titãs, revoltou-se contra a tirania do pai, a pedido da mãe, e tornou-se senhor do Universo. Zeus seria filho de Cronos e de Reia, um Titã e uma Titânide. E a história repetir-se-ia, Zeus rebelar-se-ia contra Cronos, com a ajuda da mãe e, depois de uma luta sem tréguas e com muitas peripécias, onde Prometeu e Hércules, entre muitos, seriam protagonistas, Zeus conquistaria o poder e os Titãs seriam renegados para o Tártaro.
As nove musas são filhas de Mnemósine com Zeus, portanto, de tia e sobrinho. Relações incestuosas são comuns entre os deuses.
Sendo as Musas as inspiradoras das artes, sem Mnemósine, não teríamos poesia, nem música, nem teatro. Fotografia, não sei, mas desconfio que também não existiria. Aliás, a fotografia é talvez a forma de arte(?) mais próxima da memória. Portanto, tem de ser filha dela, com certeza. Chamemos-lhe Foto, a décima musa, talvez filha de pai ilegítimo e, por isso, escondida por Mnemósine até 1839, quando se revelou incapaz de manter o segredo.
Memória. Fotografia. Daguerre descrevia o processo fotográfico como "um espelho com memória". Quando o processo fotográfico foi inventado, considerou-se que seria um método infalível de memorização de tudo. Tal era a convição de Talbot e expressou-a no primeiro livro da História da Fotografia, //The Pencil of Nature//, publicado em 1844.
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//The articles represented on this plate are numerous: but, however numerous the object, however complicated the arrangement, the Camera depicts them all at once.
//William Henry Fox Talbot,// The Pencil of Nature, PLATE III. ARTICLES OF CHINA//@@}}}}}}}}}
Nota: A fotografia mostra um elemento de Memórias de Ferrite do computador NCR 4100 e um retrato de Rogério Nunes, um dos pioneiros dos computadores em Portugal. Fotografei a exposição //Homenagem a Rogério Nunes, 50 anos do NCR Elliot 4100// por convite do meu amigo Francisco Calheiros.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Homenagem a Hippolyte Bayard| ./wikiImages/Bayard.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Homenagem a Hippolyte Bayard'', Abril de 2018@@//}}}}}}
Nota: a data oficial da invenção da fotografia corresponde normalmente à data de apresentação formal do daguerreótipo perante a Academia das Ciências e a Academia das Artes, reunidas em conjunto em Paris, por iniciativa de François Arago. Nesse mesmo ano, o estado francês tinha já atribuído a Daguerre uma pensão vitalícia de 6000 francos anuais pelo invento e tinha-o sagrado cavaleiro da //Ordre National de la Legion d’Honneur//.
Bayard estudava um processo alternativo ao daguerreótipo, baseado em negativo em papel. O conhecido auto-retrato de Bayard, morto por afogamento, que ele realizou em 1840, no ano seguinte ao da consagração de Daguerre, é um dos primeiros auto-retratos da história da fotografia. Bayard fê-lo como protesto contra a discriminação de que sentia ter sido alvo relativamente a Daguerre. O retrato tem por trás um texto escrito pelo punho de Bayard em que justifica o seu acto.
O auto-retrato de Bayard é especialmente interessante pela sua singularidade, traduzida na dramatização introduzida, na ficção que materializa, que podem estabelecer um elo com o auto-retrato na contemporaneidade
|bgcolor(#ffffff):[img[ O mito de Narciso| ./wikiImages/Narciso01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Mito de Narciso'', pero de Almeida, Abril de 2018@@//}}}}}}
Estive em Figueira de Castelo Rodrigo, terra de minha mãe e de meus avós, no último fim-de-semana, por razões ligadas a actividades culturais raianas. Porquê evocar o mito de Narciso, quando, ao chegar, olhava campos como este?
O mito de Narciso tem, como quase todos os mitos, diferentes e contraditórias versões. A versão mais conhecida é a de Ovídio nas suas //Metamorfoses//, em que Narciso, depois de rejeitar a ninfa Eco e muitos outros e outras apaixonados(as), se apaixona pela sua imagem num espelho de água e morre, transformando-se na flor. Mas há uma versão muito menos conhecida, que Edith Hamilton conta no seu livro //A Mitologia//, sem referir a fonte, que também explica a criação da flor:
Teria sido Zeus a criar um campo coberto de narcisos, para ajudar o seu irmão Hades a raptar Perséfone, filha de Deméter. Quando Perséfone, a passear no campo, se deteve, a olhar, extasiada e entorpecida, as mais belas flores que alguma vez tinha visto, teria sido facilmente raptada por Hades e conduzida aos Infernos. Narciso, a flor-narcótico (narké, entorpecimento, sonho induzido, raiz de narkissos, conforme o sugere Plutarco), tornou-se assim um marco da ida sem regresso no sombrio mundo da morte.
A mim, essa flor-narcótico agarrou-me pelos colarinhos, puxou-me para dentro de si, e obrigou-me a olhá-la e a fotografá-la. Tive a sorte de Hades não ter aparecido desta vez.
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|bgcolor(#ffffff):[img[O Sr. Sousa| ./wikiImages/sousa01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Mito de Narciso'', pero de Almeida, Abril de 2018@@//}}}}}}
Lembro-me bem de ter ouvido falar pela primeira vez de Gonçalo M. Tavares num artigo, julgo que com entrevista, num número da Revista LER. Gonçalo ainda era um novo escritor, quase desconhecido. Lembro-me que, curioso, comprei o livrinho "Sr. Valéry", que foi um dos livros que mais me desafiou nesse tempo, levando-me a inventar novas histórias, desse senhor irrequieto e absurdo, por exemplo para questionar aspectos ligado à chamada [[arte contemporânea|https://www.renatoroque.com/rroque/SrValery.htm]] ou à chamada [[arte multimédia|https://www.renatoroque.com/novesforanada/index.html]]. Só mais tarde me cruzaria realmente com o Gonçalo, que chegou a escrever um texto para uma fotografia desta espécie de blog, numa série chamada Cumplescritas.
Achei que esta fotografia, de uma série que fiz na Galeria Municipal de Matosinhos, poderia servir de pretexto para uma série, que me atreveria a intitular "Sr Sousa".
O Sr Sousa já tem uma história curiosa para contar. Talvez um dia a conte por aqui...
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|bgcolor(#ffffff):[img[As Águas Iniciam os Pássaros| ./wikiImages/aguasPassaros01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''As Águas Iniciam os Pássaros II'', Matosinhos, Junhode 2018@@//}}}}}}
Há dois anos a Renata aprendeu a nadar. Eu acompanhei esse processo de aprendizagem e fotografei-o. O resultado dessa cumplicidade, foi um pequeno livro, que intitulei //As Águas Iniciam os Pássaros//, titulo roubado a um poema de Manoel de Barros, que lhe ofereci este ano, pelo aniversário.
Estou agora a acompanhar e a fotografar a aprendizagem da Raquel.
A edição do livro para a Renata permitiu-me viajar no tempo, relembrar histórias esquecidas, encontrar fotografias que desconhecia dos anos 50 e 60, muitas delas enviadas por amigos com quem fui procurando as minhas memórias remotas.
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Lembro-me bem daquele dia da minha infância. Teria cinco, seis anos? Sete? Mais? Não sei ao certo. Recordo aquela sensação, que era nova, e que era maravilhosa. Flutuar. Quase voar! Conseguir pela primeira vez controlar os movimentos à superfície da água.
A água iniciara-me pássaro.
Tinha havido antes uma tentativa frustrada de aprendizagem. À força, tinham-me dependurado de um gancho, com um colete à moda daquele tempo, em cortiça, amarrado à volta da barriga. Tinha sido na antiga piscina do Sport Club do Porto, localizada, surpreendentemente, num 1º andar da Rua de Santa Catarina no Porto. Rejeitei, sem apelo nem agravo, tal processo traumático de iniciação à natação. Recusei-me a voltar lá.
Aprendi depois a “nadar” sozinho, ou pelo menos a boiar à tona da água, na Foz do Porto, na praia do Homem do Leme, durante a maré-cheia, quando o mar era muito calmo, quase sem ondulação, e onde a maior densidade da água salgada ajudava à flutuação. Depois aperfeiçoei o “estilo” na antiga piscina do Clube Sportivo Nun’Álvares, construída nos terrenos da Fábrica Têxtil Aviz, na Avenida da Boavista.
Era realmente, tal como a piscina do Sport, um tanque, pouco profundo, mas que na altura nos arregalava os olhos, com os seus 33,3 metros de comprimento. Aí, com as minhas irmãs e outros rapazes e raparigas da Fonte da Moura e de Pereiró, passei pelas mãos carinhosas do senhor Bessa, homem da Ribeira que, dizem, teria ensinado a nadar meia miudagem da beira-rio. No fim de cada aula, um ritual que se repetia. Sabíamos que o senhor Bessa, para o nosso renovado espanto, mergulharia e atravessaria a piscina, debaixo de água, de ponta a ponta, como um peixe.
...//
in //As Águas Iniciam os Pássaros//, Abril 2018@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Prometeu| ./wikiImages/teogonia1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Prometeu'', Rebordelo, Maio de 2018@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Prometeu - //Que difícil te seria suportar as minhas penas! A mim, os fados não consentem a morte; seria essa a libertação de meus tormentos.//
in //Prometeu Agrilhoado// de Ésquilo @@}}}}}}
Tempos há em que os fados não nos consentem a morte...
A história de Prometeu, filho de Titãs,de Jápeto e Clímene, e portanto "primo" de Zeus, que era filho de Cronos e Reia, é-nos contada na //Teogonia// e no //Trabalho e Dias//. São com certeza dois textos fundacionais da cultura grega e consequentemente de toda a cultura ocidental. Foram escritos por Hesíodo, que se auto-nomeia como autor nos versos: "Foram elas que ensinaram a Hesíodo um belo canto" (v. 22 in //Teogonia//), na sua evocação às Musas. Não restam dúvidas portanto quanto à autoria, mas não se sabe ao certo de que ano datam, ainda que a maioria dos estudiosos acredite que Hesíodo será posterior a Homero, ou melhor terá vivido algum tempo depois da invenção da //Ilíada// e da //Odisseia//, de que segue fielmente o modelo poético. Talvez, portanto, por volta do século VII a. C.
A //Teogonia// é um longo texto (conhecem-se 1022 versos, mas o fim do poema perdeu-se), escrito em hexâmetros dactílicos (métrica igual aos dos poemas homéricos), que nos conta a origem do mundo e dos deuses. Curiosamente, a origem do homem é pouco clara no poema, ainda que pareça ter sido Prometeu quem criou a raça humana, e que por amor dela seria castigado por Zeus: acorrentado e torturado por uma águia, que lhe debica o fígado, suplício que a peça de Ésquilo nos mostra.
Na //Teogonia// são relatadas várias linhas genealógicos divinas, a par da linha principal, da qual descende Zeus e os outros deuses e deusas que o acompanham no Olimpo. Não sabemos qual o número exacto de deuses e deusas mencionados no poema, certamente algumas centenas, alguns claramente antropomorfizados, outros que parecem corresponder a entidades abstractas como o //Terror// ou a //Harmonia//. Tudo começa no Caos e por sucessivas gerações de entidades divinas, de deuses e de deusas, se irá chegar à idade dos deuses olímpicos e à idade do ferro para os homens na Terra, que era o tempo do poeta. Deuses que lutam sanguinariamente entre si, combates que só não são teocidas porque os deuses não morrem - por isso, Prometeu não pode acabar com o seu sofrimento, morrendo, e se lastima da sua sorte - sendo reservado aos vencidos uma prisão nas profundidades da Terra, mergulhados no Tártaro. Foi o destino dos Titãs, derrotados por Zeus e guardados pelos Hecatônquiros, monstros de cem mãos e cinquenta cabeças.
Na Teogonia é o cosmos que cria os deuses e não o contrário e, por isso, também os deuses têm de obedecer às leis do universo, nomeadamente à lei da morte.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Gosto&Desgosto| ./wikiImages/gosto&desgosto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, 1ª sessão do ciclo ''Gosto&Desgosto'' no Ácer, Matosinhos/Maia, Junho de 2018@@//}}}}}}
Há uns meses atrás assisti a um espectáculo integrado no ciclo DDD (Dias Da Dança) em Matosinhos que considerei realmente deprimente. Sem ritmo, sem estética, sem dança. Resumindo, chato, quanto baste... No fim, cansado do tempo em que estive sentado a assistir, fiz aquilo que achei que deveria fazer: não aplaudi. Verifiquei, no entanto, que toda a gente à minha frente, ao meu lado e atrás de mim, aplaudia, muitos até com o que parecia ser genuíno entusiasmo. Portanto, das duas uma, ou a sensação de frustração, perante o espectáculo que me ofereceram, era só minha, ou toda a gente aplaude mesmo aquilo de que não gostou. Acredito mais na segunda hipótese, pois conheço muitos casos em que tal pude verificar. Resolvi começar por contar esta história, para ilustrar os motivos que nos levaram a optar pelo formato Gosto&Desgosto, para um ciclo de “conferências” no Ácer, em torno da fotografia e de fotógrafos.
O formato proposto consiste em desafiar cada participante a apresentar as razões por que gosta muito de um autor e não gosta nada de outro autor. Se possível, deverão ser escolhidos autores conhecidos e até de grande visibilidade. Na primeira sessão deste ciclo, M. Carmo Serén, que há muito pensa a fotografia em Portugal, escolheu dois fotógrafos portugueses: José Afonso Furtado e Jorge Molder. Com a coragem que a caracteriza – explicarei à frente porque falo de coragem - confessou as razões por que não gosta da fotografia de Molder. Pela repetição, pela monotonia, pela frieza, pela encenação forçada, sobretudo por Molder ter constituído para ela uma decepção pelas expectativas que anunciara quando apareceu. M. Carmo Serén aliou às razões fotográficas, estéticas e éticas, as suas razões emocionais, afectivas, forjadas ao longo da sua experiência pessoal a acompanhar o trajecto fotográfico do fotógrafo.
Porque nos parece este formato pertinente? Porque vivemos num tempo de aparente liberdade de opinião e de expressão, mas em que existe uma tendência generalizada para aceitar as propostas que nos são apresentadas, desde que nos sejam oferecidas em locais que prestigiam e valorizam essas propostas. Num tempo em que artistas chamados contemporâneos se atrevem(?) a afirmar que “Arte é aquilo que eu digo que é arte” e que como tal podem, por exemplo, como realmente aconteceu, colocar numa sala de museu a cama onde dormem, ver a obra “My Bed” da premiada Tracey Emin, ou reclamar que quando caminham no seu estúdio fazem arte, os frequentadores de museus e de exposições sentem-se impotentes para discutir as obras que enfrentam nos planos estéticos, sociais, culturais. A partir do momento em que bastaria a palavra do artista para validar a obra, de nada valem outras palavras. Esta “Arte é aquilo que eu digo que é arte” tem como outra face da mesma moeda a ideia generalizada de que a arte se resume ao “gosto, não gosto”. Quantas vezes ouvimos este argumento: ”para mim arte é assim, ou gosto ou não gosto”, como se a arte, tal como a ciência ou a filosofia, para evocar as três grandes áreas do conhecimento humano, como as elencou Deleuze, não pudesse ser objecto de validação e de discussão. Uma obra de arte pode e deve ser discutida. Essa discussão fundamentada é parte fundamental do processo de evolução artística.
Certamente, a prática da crítica obriga a trabalho e a tempo. A ignorância é muitas vezes a mãe da subserviência. E essa ignorância é em muitos casos incentivada pelo sistema de arte contemporâneo, voltado para o entretenimento e para o espectáculo. Quem quiser ter uma atitude crítica tem de estudar a obra do autor, conhecê-la bem, ler sobre ela, ler sobre o contexto em que se desenvolve e reflectir sobre tudo isso, para poder dizer efectivamente “gosto por isto” e “não gosto por aquilo”, para ser capaz de separar o trigo do joio, em vez de comer tantas vezes gato por lebre, e no fim dizer que adorou a lebre, para ver o rei nu e ser capaz de dizer que ele vai nu, em vez de elogiar as rendas e os veludos. Esta atitude crítica, céptica até, pelo menos à partida, é a única atitude séria, mas também difícil e arriscada num tempo de celeridades e efemeridades, onde quem criticar Molder ou Sherman poderá arriscar a ostracização. Por isso falei de coragem. Quem aceitar o desafio do Ácer terá de a ter.
Em suma, o ciclo FOTOGRAFIA:GOSTO&DESGOSTO pretende contrariar a tendência contemporânea de aplauso consensual a todos os autores consagrados, desafiando os participantes a confrontar dois fotógrafos (re)conhecidos que lhes provocam sentimentos antagónicos: gosto & desgosto.
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|bgcolor(#ffffff):[img[PAN 2018| ./wikiImages/PAN01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, PAN 2018, Vilarelhos, Alfândega da Fé, Julho de 2018@@//}}}}}}
O festival PAN [[(Poesia Arte y Naturaleza) | http://www.morille.es/pan]] surgiu em Morille, há 16 anos. Morille é uma pequena aldeia, a cerca de 15 km a sul de Salamanca. O PAN nasceu por iniciativa corajosa do seu presidente de Junta (Alcaide em Espanha), por acreditar que era possível realizar em meios rurais, em processo de desertificação, com populações envelhecidas, festivais culturais e artísticos, onde se integrassem todos os tipos de expressão artística: poesia e literatura, artes plásticas e fotografia, cinema, teatro e música. Mas arte e cultura envolvendo as comunidades. O PAN procura chamar as forças vivas culturais e artísticas do lugar: bandas de música, coros, grupos musicais ou poéticos, historiadores, autores literários. Arte e cultura na defesa do património rural. O festival realiza-se todos os anos, em Julho, durante um fim-de-semana prolongado, em que todos os dias, de manhã à noite, alguma coisa, mais ou menos inesperada, está a acontecer.
Conheci o PAN em 2012, quando a convite da organização levei a Morille uma exposição de fotografia, e desde esse momento já longínquo fui cativado por aqueles dias de amizade, poesia, arte, natureza e espanto.
Desde há três anos o festival tem tido uma extensão em Portugal, o que era imperioso, já que um dos vectores do festival foi sempre a cooperação e a troca de experiências entre os artistas/criadores e as culturas dos dois lados da raia. Por isso, o PAN recebeu desde o início o epíteto de festival raiano e congregou desde 2003 autores e fazedores de coisas dos dois lados da linha virtual chamada raia. O português e o mirandês, o castelhano, o galego, o leonês e o catalão são línguas que se cruzam, sem necessidade de tradução, durante os três dias do festival.
Este ano o festival, do lado de cá da raia, teve lugar em Vilarelhos, freguesia do concelho de Alfândega da Fé e a experiências foi tão arrebatadora que já ficou marcada a sua reedição em 2019.
Este ano participo no PAN XVI com a exposição fotográfica //''À Procura de Mestre Leite''//, que irá propiciar certamente uma conversa animada entre estudiosos dos trabalhos de Leite de Vasconcelos e das várias línguas dos dois lados da fronteira.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Porque fotografo esta coisa?| ./wikiImages/ervasSerro07.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, Serro, Agosto de 2018@@//}}}}}}
Perguntei da última vez que escrevi aqui, nesta espécie de blog, "porque fotografo esta coisa e não aquela?" e fui incapaz de dar uma explicação satisfatória sem a ajuda do poeta. Pois poderei também perguntar por fotografo sempre as mesmas ervas em ~Trás-os-Montes, de cada vez que lá vou. Porque regresso sempre à mesma fotografia, como se regressa ao leito de uma amante antiga? Porque razão, depois do livro //D'ouro d'Alendouro// e da exposição com o mesmo nome, que percorreu muitos dos concelhos de ~Trás-os-Montes e do Alto Douro, depois da exposição //Paisagens do Silêncio// no CPF, depois de ter decidido tantas vezes não voltar a fotografar ervas douradas, regresso sempre a elas e mergulho no seu silêncio?
O que me diz desta vez o poeta? Será porque procuro imagens que sirvam na boca dos passarinhos?...
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
...
//Manoel de Barros@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[PAN 2018| ./wikiImages/PAN02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, PAN 2018, Morille, Salamanca, Julho de 2018@@//}}}}}}
Talvez vos pareça, à primeira vista, que a imagem que escolhi nada tenha a ver com o festival PAN, mas realmente tem tudo a ver.
No dia anterior ao início do festival PAN, quinta-feira, estava a chegar a Morille; a noite caía rapidamente e este é um momento mágico para mim; é a hora do dia qie mais me fascina. O dia que acaba e a noite que se inicia, e durante esses fugazes momentos a luz fica a brincar nos meus olhos. Sobretudo no Verão. Parei para fotografar e aproveitei para telefonar ao Manuel Ambrosio e perguntar se contavam comigo para jantar, ou se deveria procurar abrigo nalgum bar ou restaurante; ele respondeu-me que estavam sentados à mesa na Tenada Municipal, à minha espera, para começar.
Para mim, e estou convencido de que talvez não consiga dizer porquê, esta imagem de ervas maduras, douradas, na beira da estrada, à espera de ser segadas, materializa o espírito do PAN.
Para vos explicar, talvez deva pedir ajuda ao poeta que está ali sempre, paciente, à minha espera:
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Aqui: ardo e maduro.
Compreendo as azinheiras.
Compreendo a terra podre e fermentada
De raízes mortas.
Compreendo a presciência do fruto
Na carne intocada.
E assisto crescerem
Frescos, nessa carne, os teus dedos.
Compreendo esse garfo na terra
A germinar ferrugens
Sob laranjais…
E o grão que semearam na pedra.
E mais: os troncos rugosos
Pendendo suas bocas para as águas.
//Manoel de Barros@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Porque fotografo esta coisa?| ./wikiImages/chaves01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Chaves, Boavista, Cabo Verde, Agosto de 2018@@//}}}}}}
Pergunto-me com frequência porque fotografo isto e não fotografo aquilo. Porque me atrai um rosto, um olhar, uma paisagem, uma porta, uma janela, e não me atrai outro rosto, outro olhar, outra paisagem, outra porta ou outra janela. Tantas vezes, amigos me chamam, porque dizem, tenho de fotografar isto ou aquilo, e nisto e naquilo nada descubro para fotografar.
No caso desta fotografia, que fiz recentemente em Cabo Verde, sei que o que me atraiu foi aquela mancha verde vivo, a emergir no meio do tom pastel da areia. Caminhava junto ao mar, quando vi ao longe aquele verde nas dunas, e logo caminhei na sua direcção. Afastei-me do fresco da água do mar, para mergulhar os pés na areia mole e quente, atravessar as dunas e fazer esta fotografia. Poderia, pois, neste caso. dizer que fotografei atraído por aquele verde improvável no meio da areia. Mas, se pensarmos bem, isso nada responde, pois teria de saber dizer por que razão aquela mancha verde me atraiu e de alguma forma me obrigou a fotografar e tantas outras coisas por que passei nada me fizeram.
Permanece o mistério. Se calhar tem de ser assim. Resta-nos porventura a poesia, como refúgio das respostas às perguntas por responder:
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
O movimento das folhas
O silêncio de onde acabas de voltar
E a luz que divide o corpo do nascente
São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
São os pássaros assustados, assustados,
Tuas mãos que descobrem o convite da terra
E os poemas como ilhas submersas…
São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
Sou eu apreensivamente
Solicitado pela inflorescência
Redescoberto pelo bulir das folhas…
//Manoel de Barros@@}}}}}}
A poesia permite-me dizer que foi o verde surpreendente daquela planta no meio areia branca da duna, que me escutou. Afastei-me da orla do mar e aproximei-me das dunas para bulir naquelas folhas que me tinham escutado.
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|bgcolor(#ffffff):[img[STOP URANIO| ./wikiImages/Deugenia.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Retortillo, Julho de 2018@@//}}}}}}
No regresso do PAN 2018, em Morille, Salamanca, em que participei com um projecto fotográfico sobre Leite de Vasconcelos, //À Procura de Mestre Leite//, decidi fazer um trajecto alternativo à auto-estrada, e assim passar por Retortillo, que não conhecia, e continuar por essa estrada para entrar em Portugal por Barca de Alva.
Em Retortillo parei num bar, chamado //Casa Blanca//, nome sugestivo, um pouco antes do parque, onde estão os edifícios das termas. Sim, porque há em Retortillo umas termas afamadas (Los Baños de Retortillo), onde muita gente, nomeadamente da região, passa períodos de cura e de repouso. O termalismo é aliás a principal área de actividade e de emprego da região, para além da agricultura e da pecuária.
Tinha sido Manuel Ambrosio Sánchez, alcaide de Morille e organizador do PAN, quem me recomendara a paragem no //Casa Blanca// e eu pensara aí comer alguma coisa, pois a hora de almoço já não estava longe.
Entrei e fui logo bem recebido. A proprietária do //Casa Blanca//, a D. Eugénia, contou-me a história daquele estabelecimento, onde viveu e trabalhou toda a vida. O //Casa Blanca// fora "comedor" prestigiado, mas hoje já não serve refeições. Limitei-me por isso a beber uma "clara", para combater o calor, e a dar dois dedos de conversa com alguns usufrutuários das termas, que como eu bebiam e descansavam na esplanada.
Naturalmente, veio à baila o tema da mina de urânio, que a empresa australiana Berkeley pretende abrir a céu aberto, mesmo ali à beira. Angustiada, D. Eugénia mostrou-me o pino da plataforma "STOP URANIO" e ficou feliz por lhe pedir para a fotografar. Os meus companheiros de refresco, de Ciudade Rodrigo, manifestaram a sua indignação com o negócio criminoso.
D, Eugénia falou-me da filha, Raquel, que trabalha numa pequena loja mesmo ao lado do bar, onde vende artigos de mercearia e recordações aos veraneantes, e que é a actual presidente da plataforma ''STOP URANIO''.
|bgcolor(#ffffff):[img[STOP URANIO| ./wikiImages/raquelRetortillo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Retortillo, Julho de 2018@@//}}}}}}
A Raquel vive perto, em La Fuente de San Esteban. Conversei com ela sobre as consequências trágicas da mina para a região e para as populações. As termas fecharão, naturalmente. E, a mina esgotada, a Berkeley irá para outro lado. Contou-me das ilegalidades da Berkeley, que têm por exemplo cortado mihares de sobreiros sem licença, e da forma como corrompeu os decisores políticos na região e em Madrid, e das iniciativas cidadãs para os parar.
Mas em Retortillo passa um pequeno rio, chamado Yeltes. É o rio das termas, e e onde imaginam que ele desagua? No Douro. Ora, assim, é exactamente ao Douro que irão parar as águas tóxicas libertadas pela mina, porque a mina vai precisar de muita água e já começou a abrir reservatórios, sem licenças inclusive, como me contou Raquel.
|bgcolor(#ffffff):[img[STOP URANIO| ./wikiImages/yeltes.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rio Yeltes e Los Baños, Retortillo, Julho de 2018@@//}}}}}}
Está o governo português realmente preocupado com o que possa acontecer à produção de vinho na região do Douro? E porque não ouço um clamor constante, nomeadamente da parte das populações e dos produtores de vinho do Doro? Andam distraídos?
|bgcolor(#ffffff):[img[STOP URANIO| ./wikiImages/douro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Douro, Barca de Alva, Julho de 2018@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Amar Ofa| ./wikiImages/ofa02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Prado da minha avó, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro de 2018@@//}}}}}}
Estive em Figueira na primeira semana de Setembro, tal costumo fazer todos os anos. Desta vez, antecipei em alguns dias a minha viagem, por causa de um convite para participar numa iniciativa fotográfica, no contexto de uma festa em Castelo Rodrigo, inspirada na lenda de Ofa.
Segundo a lenda, teria havido uma bela judia, de nome Ofa, filha de um abastado judeu, de nome Zacuto, que se teriam regugiado em Castelo Rodrigo, depois de serem expulsos de Castela pelos reis católicos. Um jovem nobre português, de nome Luís, apaixonou-se pela bela rapariga, e contra tudo e contra todos e graças a um conjunto de peripécias, acabou por conseguir o consentimento da mãe e do sogro para casar. No meio da tragédia das famílias judias, também em Portugal, os dois foram felizes e tiveram muitos filhos, sendo portanto uma lenda com um final feliz. Ora, ainda durante o secretismo do namoro, Luís, quando saía para os encontros amorosos clandestinos com a amada, diria aos amigos que ia "Amar Ofa", indo encontrar-se com a judia em terrenos, que pertenciam ao velho judeu, perto da serra, hoje serra da Marofa. Da expressão "Amar Ofa" teria derivado o nome da serra. Uma explicação simples e credível.
Há realmente em Castelo Rodrigo e na região muitos sinais da presença de judeus e de cristãos-novos: estrelas de David, cruzes gravadas nas pedras das casas, restos de possíveis sinagogas, etc, o que prova as bases históricas da lenda. Mas, para ser sincero, eu só ouvi esta lenda, que explicaria o nome da Marofa, recentemente, e nem tenho a certeza se não poderá ser uma lenda apócrifa, uma invenção do nosso tempo, de alguém com boa imaginação, capaz de construir uma história curiosa, que explicasse um nome que parecia ter perdido o sentido original.
A minha ligação a Castelo Rodrigo e a Figueira, terra dos meus avós e da minha mãe, destino de tantos verões na infância e juventude, obrigou-me de imediato a aceitar o desafio, e até a levar comigo um grupo de amigos, que partilham comigo a prática da fotografia. O desafio consistia em fazer entre 10 a 20 imagens na área de Castelo Rodrigo e da Marofa, que fossem inspiradas na lenda.
Dada a minha situação particular, pensei em como responder ao repto da organização, colocando na minha resposta de alguma forma as minhas memórias e a minha ligação afectiva ao território.
Ora, de entre as propriedades dos meus avós, havia uma, perto de Figueira, a que chamávamos a horta, que tinha ao seu lado um prado, onde íamos quase todos os dias. Íamos com a minha avó, que todos os dias tinha algo a fazer naquele terreno que sustentava a nossa casa em legumes e alguma fruta. Íamos com a Felicidade, que lavava a roupa da casa no tanque. Íamos no verão para tomarmos banho naquele reservatório, hoje coberto de silvados, que servia para as barrelas familiares, para o nosso divertimento e para a burra e as vacas dos meus avós se dessedentarem. Ora, a horta e o prado ficam no sopé do monte de Castelo Rodrigo, de onde se vê muito bem a aldeia acasteladas e a serra da Marofa, um pouco mais ao longe.
|bgcolor(#ffffff):[img[Amar Ofa| ./wikiImages/ofa01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Horta da minha avó, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro de 2018@@//}}}}}}
Decidi assim centrar o meu projecto na horta e no prado da minha avó, chegando a intervir na propriedade com sinais de presença judaica, assumindo assim fotograficamente a minha mais que certa ascendência judia, por mais distante que ela possa ser.
A lenda de Ofa transformou-se numa Ofa fantasmagórica, misturada com memórias de infância e com Castelo Rodrigo e a Marofa ao longe.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Amar Ofa| ./wikiImages/belezaFoto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Beleza, Beleza Onde Estás Tu?'', EI Braga, Museu Nogueira da Silva, Outubro de 2018@@//}}}}}}
Estive nos Encontros da Imagem de Braga para participar numa conversa sobre o conceito de Belo, sobre a Beleza na Arte e na Fotografia, com o Vitor Moura do Departamento de Filosofia da Universidade do Minho. A conversa foi animada; o livro //Fotografia e Beleza - Espelho Meu, Espelho Meu...//, que publiquei em 2017, foi um ponto de partida.
Ao longo da História, desde Platão, o primeiro pensador que autonomizou o conceito de beleza, que muitos filósofos, artistas e pensadores têm tentado definir beleza e obra de arte. A princípio eram dois conceitos distantes, a partir de determinada altura associaram-se, mais tarde separar-se-iam novamente. Percorrendo esta história de procura de definições, a primeira conclusão que podemos tirar é que todas elas acabaram por provar não servir. Efectivamente, todas acabaram por se mostrar ou restritivas, não considerando obras unanimemente classificadas como arte, ou demasiado tolerantes, obrigando a aceitar objectos inaceitáveis. A situação complicou-se com o advento do modernismo na transição do século XIX para o século XX. Tornou-se insuportável com a chamada arte contemporânea. Perante este aparente beco sem saída, houve duas tentativas de resposta, no final do século XX. Alguns autores propõem que os conceitos de arte e de beleza não são conceitos fechados, o que quer dizer que não os podemos definir, pois não possuem qualquer qualidade essencial que os distinga do resto. Propõem, recorrendo à ideia de conceito aberto, proposta por Wittgenstein que as obras de arte vão sendo consideradas como tal, ao longo da história, com base em alguma relação de semelhança com obras de arte anteriores. Outros autores recorrem a teorias institucionais ou intencionistas. Os institucionais argumentam que a obra de arte se define pelo contexto em que se insere e não por qualidades intrínsecas. São as instituições ligadas ao mundo da arte que conferem a um objecto esse estatuto de obra artística (ver por exemplo George Dickie). Os intencionistas defendem que há obra, se o autor tiver intenção fundamentada de a criar e se a basear em características artísticas de obras anteriores, reconhecidas como arte. Por isso às vezes estas teorias também são designadas como históricas (ver por exemplo Jarold Levinson). Estes dois tipos de teorias, designadas também como processuais, podem parecer interessantes à primeira vista, mas são afinal bastante frustrantes, pois, ao fim e ao cabo, permitem dar o epíteto de obra de arte a quase todas as coisas, desde que o processo de atribuição do estatuto proposto seja respeitado. Limitam-se afinal a descrever vagamente o procedimento de admissão de uma obra no chamado mundo da arte. Ora, a atribuição do estatuto de obra de arte é sempre valorativo e qualquer definição meramente classificativa é insatisfatória.
Temos de aprender a viver sem a definição de arte? Posso confessar que hoje me inclino para aceitar a proposta defendida por wittgensteinianos, como Morris Weitz, de ver a arte como um conceito aberto e como tal indefinível. Aceitar esta proposta implica termos porventura desistir de definições abrangentes de beleza ou de obra de arte, e dedicarmos as nossas energias à discussão de cada obra, de cada autor ou de cada movimento. Perante obras de arte específicas seremos capazes discutir a forma como a beleza nelas é encarada ou não. E se não é possível definir arte ou obra de arte, é no entanto possível definir a arte que nos interessa. A arte quer nos fere, que se comporta como um //punctum//, para usar o termo proposto por Roland Barthes, no seu livro //A Câmara Clara//, para as fotografias que o perturbavam.
Para mim, a arte que me interessa é aquela que me obriga a pensar, que me incomoda a princípio, mas que me pode estimular a seguir, e sobretudo aquela que me obriga a fazer coisas: escrever um ensaio, um poema, um conto, fotografar. Claro que esta é uma definição muito pouco útil, sobretudo para os outros, pois só depois do confronto com cada obra posso dizer se aquela é das tais...
|bgcolor(#ffffff):[img[Amar Ofa| ./wikiImages/mapplethorpe.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Robert Mapplethorpe em Serralves, Novembro de 2018@@//}}}}}}
Deixei acalmar um pouco a polémica e a publicidade que gerou na comunicação social, para garantir uma visita mais tranquila, e fui finalmente visitar a exposição, que tanto brado tem gerado, em Serralves. Não me digam que não esperavam que eu dissesse alguma coisa sobre o assunto. Centremo-nos para já nas questões fotográficas e na exposição propriamente dita e esqueçamos as questiúnculas (constato que pareço, e não queria, parafrasear Rui Rio) entre a administração, o tribuno Pacheco Pereira, o curador revolucionário e os seus apoiantes inflexíveis.
Na sequência da visita referida, publiquei alguns //posts// no FB, um deles com esta imagem, que é, em minha opinião, uma das mais belas, de todas as que podemos ver na exposição. E escrevi nesse //post"//, a acompanhar a fotografia da fotografia de Mapplethorpr: "Porque as fotografias singelas do Mapplethorpe são muito mais provocadoras do que aquelas em que procura provocar..."
Em resumo, tenho alguma dificuldade em compreender a curadoria desta exposição:
Não percebi bem o critério utilizado para escolher algumas imagens, para as mandar para a sala de acesso restrito. Vi fora dessa sala imagens porventura "chocantes", vi dentro da sala reservada imagens que me pareceram inofensivas.
Muitas das imagens de acesso restrito pareceram-me pouco interessantes, grosseiras mesmo, pouco cuidadas fotograficamente - meros iscos para atrair público? - e acho que a exposição ganharia se não as incluísse. Muitas, tenho dúvidas que Mapplethorpe as teria feito para as mostrar em exposição. Poderiam fazer sentido, se a exposição tivesse um cunho biográfico ou antológico, que não vislumbro. Realmente, a exposição parece-me ser uma mera escolha de imagens sem grande critério, para além do gosto de quem escolheu, obviamente, e atravessando algumas das séries mais conhecidas do autor ao longo dos anos. Tal conceito de projecto de exposição, ainda que bastante simples, é legítimo, mas não se coaduna com as tais imagens, que acabaram por ter até um estatuto de maior visibilidade, que seria sempre expectável.
Dou finalmente uma ideia, a quem a possa fazer chegar a Serralves. Faria sentido organizar uma exposição das 20 recusadas, como fizeram os impressionistas do século XIX em Paris, depois da polémica gigante em torno dessa recusa. Quem as recusou e porquê? O que foi realmente recusado? Uma curadoria para qual eu me ofereço graciosamente.
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Morte das Fotografias| ./wikiImages/morteFoto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, A Morte das Fotografias, 2018@@//}}}}}}
Tenho cada vez mais a consciência de que assistimos em directo ao que eu poderia chamar a morte das fotografias. À morte da magia e do fascínio das fotografias, curiosamente, mas não por acaso, ao mesmo tempo que fotografias antigas, muitas vezes de gente morta, ganham uma aura luminosa.
Eu escrevi "morte das fotografias" e não "morte da fotografia". Não é a mesma coisa.
Como falar de morte das fotografias, quando no presente toda a gente traz consigo uma câmara, fotografa tudo e mais alguma coisa, inunda as redes diariamente com biliões de imagens? Como falar de morte das fotografias, quando nesses biliões de imagens há com certeza milhões de boas fotografias? Belos retratos, belas paisagens. Belas imagens do mar e do deserto, de crianças e de velhos, de humanos e de animais, de arquitectura e de vida selvagem, de guerra e de paz, de riqueza e de pobreza. Imagens tecnicamente perfeitas, a cores e a preto e branco. Imagens que hoje são tão fáceis de obter. Belas, perfeitas, certamente, mas que nos parecem ser imagens que já vimos, e que vamos ver de novo no dia seguinte. Por isso, os concursos, as revistas, as colectivas parecem cada vez fazer menos sentido.
Como o pobre sapo, que queria ser como o boi, as fotografias incharam tanto, que parecem poder vir ter o mesmo destino trágico.
Alguns perguntarão, como concilio o que escrevi com o que continuo a praticar? A participar em algumas iniciativas fotográficas ou a "postar" fotografia quase diariamente no FB, por exemplo. Faço-o, porventura na percepção da minha incoerência, porque, apesar de tudo, continuo a sentir prazer em ver uma bela imagem e ainda mais prazer em fazê-la. Mas, ao mesmo tempo, tenho consciência de que cada uma delas pouco ou nada traz de realmente novo, para além do entretenimento ligeiro ou de um prazer subtil, como quando comemos uma laranja sumarenta ou contemplamos um pôr-do-sol de outono. Ou seja, as fotografias,cada fotografia quero eu dizer, perdeu a dimensão de utopia, que a arte deve conter, a capacidade de ferir realmente quem as vê.
O "punctum" é um animal em vias de extinção.
Quando pela primeira vez, eu li a ideia de Joan Fontcuberta de que que a fotografia, com o digital, acabara, e de que assistíamos ao que ele chamava a pós-fotografia, discordei, pois parecia-me que o digital não alterara a essência da fotografia. Mas hoje percebo que não foi o digital que compôs a marcha fúnebre, foi tudo aquilo que o digital permitiu, ao conduzir à ubiquidade e à vulgaridade do momento fotográfico.
Porque escrevi "morte das fotografias" e não "morte da fotografia"? Porque me parece que há ainda um território, onde a fotografia pode encontrar terreno para se exprimir de uma forma nova e assim procurar alcançar a dimensão da utopia. Refiro-me ao chamado "photobook". Acredito que esta poderá ser uma explicação para a adesão de cada vez mais fotógrafos ao livro e ao abandono da publicação em revistas, ou mesmo a participação em exposições.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Postal 2018| ./wikiImages/postalNatal2018.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Postal 2018@@//}}}}}}
Tal como confessei em anos anteriores, o Natal é para mim, nesta fase da minha vida, uma fonte de sentimentos confusos e até contraditórios. Mas, tal como em anos anteriores, acho que devo desejar a todos, aqui, nesta minha espécie de //blog//, um Feliz Natal e um ano de 2019 cheio de projectos realizados.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Outros Retratos e Auto-retratos| ./wikiImages/outrosRetratos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''Outros Retratos e Auto-retratos'', 2019@@//}}}}}}
Compreendi imediatamente, quando o desafio me foi colocado pelo projecto ~SCREEN_DR do INESC TEC, que estava a embarcar num barco de tipo novo, para um destino completamente desconhecido. Mas, como escreveu Kavafis, o que importa é a viagem, não o destino nem o meio de transporte. “Deves orar por uma viagem longa”, escreveu ele no seu conhecido poema chamado “Ítaca”. O que importa é partir, porque sem partir não se pode chegar. E mesmo se não chegarmos, teremos sempre a viagem, teremos sempre Ítaca no horizonte.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Ítaca deu-te essa viagem esplêndida. Sem Ítaca, não terias partido. // (Kavafis)@@}}}}}}
Embarquei pois, pronto para a viagem.
Seria a primeira vez que eu me proporia construir um projecto fotográfico com imagens que não realizara, a primeira vez que recorreria ao conceito tão relevante na contemporaneidade: a apropriação. Imagens do fundo do olho humano, de olhos sãos e de olhos doentes, recolhidas no âmbito do projecto ~SCREEN_DR, com o objectivo de encontrar soluções que possibilitem a automatização de algumas das tarefas médicas de observação e de triagem dessas imagens, por detecção automática de possíveis sintomas de retinopatias. O desafio consistia em construir objectos com significado fotográfico e artístico a partir de imagens captadas com fins estritamente médicos.
Às imagens primárias do fundo do olho, decidi juntar como material de construção outras imagens, obtidas por processamento digital, com algum do software utilizado pela equipa de projecto, por exemplo para detectar os vasos na imagem da retina ou para desses vasos distinguir as artérias e as veias, ou até para construir artificialmente a imagem da retina a partir do desenho dos vasos.
Editar, somar, subtrair, imaginar, criar novos objectos.
O facto surpreendente de as imagens do fundo do olho serem identificadoras de cada um de nós, podendo mesmo ser utilizadas como parâmetros biométricos, à semelhança das impressões digitais, sugeriu-me imediatamente centrar o projecto na questão da identidade, que já me ocupara no projecto de dissertação do mestrado multimédia, chamado Espelhos Matriciais/Arquivo de Babel. As imagens do fundo do olho ou do desenho dos vasos são realmente únicas, apesar de parecerem quase iguais ao olho humano, especialmente preparado pela evolução da espécie e treinado para distinguir faces.
Essa ideia de identidade, associada às imagens do fundo do olho e a outras imagens obtidas a partir delas, levou-nos com naturalidade a pensar este projecto como um conjunto de retratos dos colaboradores do projecto SCREEN_DR, usando imagens das suas retinas do olho esquerdo e direito, e como um conjunto de auto-retratos, utilizando diferentes tipos de imagens, construídas a partir das fotografias das minhas duas retinas.
O projecto ''Outros Retratos e Auto-retratos'' será apresentado no MIRA FORUM, no dia 23 de Fevereiro, e poderá ser visitado até 16 de Março.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Outros Retratos e Auto-retratos| ./wikiImages/outrosRetratos2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''Outros Retratos e Auto-retratos'', 2019@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{''PROGRAMAÇÃO'' da EXPOSIÇÃO e CONFERÊNCIAS ASSOCIADAS de 23/02 a 16/03 no ''MIRA FORUM'', Porto
@@font-size:10px;{{indent{23 FEV 16:00
{{indent{''Inauguração e visita guiada à exposição''}}}
9 MAR 16:00
{{indent{//''A cegueira como forma de visão na poesia e fotografia''//
Renato Roque
//''Pode a arte dar a ver?''//
António Gonçalves
//''A imagem médica. Abordagem histórica''//
Manuel Valente Alves}}}
16 MAR 16:00
{{indent{//''A imagem médica e o rastreio''//
Fernando Tavares
//''A imagem médica e a inteligência artificial''//
Aurélio Campilho
//''Ver a saúde com outros olhos''//
Constantino Sakellarides}}}}}}@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[A fotografia é sempre uma ilusão| ./wikiImages/ilusao.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, em Entrudo de Vilar de Amargo, 2 de Março 2019@@//}}}}}}
Aquilo que nós vemos é sempre uma ilusão e, por maioria de razão, será uma ilusão aquilo que fotografamos.
Em particular a noção de cor, que todos consideramos tão real, é realmente uma construção fantástica, mas artificial, do nosso cérebro, a partir da informação que recebe de três tipos de células que existem na nossa retina, respectivamente mais sensíveis a baixas, médias e altas frequências do espetro visível. Realmente, no fundo do olho não existe uma imagem, tal como acontece nas câmaras, e o que é transmitido ao cérebro também não é uma imagem. O que temos na retina são células sensíveis à luz, que transmitem informação ao cérebro, que depende da intensidade e da frequência da luz, para ser processada. É desse processamento complexo no nosso cérebro que resulta a sensação de visão, que inclui a ideia de cor.
O que existe na natureza não é cor, mas combinações de frequências luminosas, reflectidas pelos objectos, combinações que dependem das características do objecto e do espectro da luz que o ilumina. E é o sistema celular tripartido original, que partilhamos com poucos primatas, e que resulta da especialização de células para detectar gamas diferentes do espectro, que permite ao nosso cérebro construir essa noção virtual de cor. Todos os outros animais vêem tudo a preto e branco (sem cor), se podemos falar assim em seu nome.
Assim, por um lado não podemos afirmar que cada um nós, quando fala de um azul, de um vermelho ou de um verde, que está a ver, tenha efectivamente as mesmas sensações de cor, por outro lado cada um de nós pode realmente "ver" a mesma cor mas essa cor corresponder a combinações espectrais diferentes, em virtude do sistema visual que possuímos não detectar as frequências espectrais reflectidas, mas dar um resultado final que combina as leituras de cada tipo de célula.
E não será de estranhar que os sistemas tecnológicos desenvolvidos ao longo do tempo para obter imagens coloridas, tais como a fotografia ou a televisão, "copiem" a originalidade do sistema celular tripartido humano.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Primeiro Retrato| ./wikiImages/merces01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''O Meu Primeiro Retrato'', Passeio das Fontainhas 18, Porto, 1952@@//}}}}}}
De acordo com a versão da história, que me foi contada há muitos anos, a fotografia teria sido "inventada" há 180 anos, mais precisamente a 19 de Agosto de 1839, quando por iniciativa de François Arago, Daguerre apresentou o daguerreótipo, perante as Academia das Ciências e das Artes, reunidas em conjunto, em Paris, e deixou todos os seus membros de olhos arregalados pela qualidade das cópias do mundo real que obtivera. O reconhecimento do estado francês, depois da sua apresentação anterior, perante a Câmara dos Deputados de França, também em Paris, em 30 Julho de 1839, já lhe merecera uma renda vitalícia e diversas honras de estado. Mas, constatamos facilmente que histórias diferentes têm também sido tentadas, com mais ou menos sucesso, que atribuem o "invento" da fotografia a outros protagonistas: a Nièpce, também francês e sócio de Daguerre até 1833, data em que Nièpce faleceu, a Hippolyte Bayard, francês igualmente, e protagonista do célebre auto-retrato em que encena um suicídio, precisamente como protesto contra os privilégios atribuídos a Daguerre, ao inglês William Henry ~Fox-Talbot, que tentou desde 1839, por diversos meios, reclamar a sua primazia, ao sentir-se ultrapassado depois do anúncio em Paris, havendo até quem tentasse atribuir o "invento" da fotografia a um investigador/fotógrafo alemão, de nome Johann Heinrich Schulze. E apesar de, há muito tempo, quase todos terem reconhecido que a história da fotografia não pode ser contada de uma forma linear, e que nela houve diferentes protagonistas que contribuíram para que o processo fotográfico fosse revelado ao mundo e desenvolvido, a partir dos anos 30 do século XIX, a verdade é que, se consultarmos diferentes histórias da fotografia que existem no mercado à venda, verificámos que cada uma delas acaba quase sempre por acentuar o papel de uns e por esquecer o papel de outros. Verifica-se facilmente que estas diferentes versões da história são quase sempre marcadas por preconceitos, que podem ser de diferente tipo, nomeadamente uma intenção mal escondida de sobrevalorizar os contributos dos fotógrafos/investigadores do país de quem nos conta a história.
Talvez possamos afirmar que falta ainda contar a história da fotografia de uma forma realmente rigorosa. Talvez nunca o consigamos fazer plenamente.
E constatamos que, 180 anos depois do "invento" oficial da fotografia, esses tempos de descobertas extraordinárias constituem, mais do que nunca, uma reserva de enorme curiosidade, que faz com que muita gente continue a deixar-se fascinar por fotografias e histórias fantásticas desses pioneiros e das suas descobertas. Os métodos e os processos primitivos, num tempo do digital, atraem cada vez mais pessoas. Continua a haver muita gente a procurar as "primeiras fotografias": a primeira imagem fotográfica, o primeiro retrato, a primeira fotografia de rua, a primeira fotografia de estúdio, a primeira fotografia em Portugal, em Espanha, etc. A história de Helmut Gernsheim é paradigmática. Gernsheim coleccionou toda a vida muitos objectos e entre eles fotografias: durante anos a fio, procurou uma imagem que teria sido feita por Nièpce, de que tinha referência em registos de uma viagem que o pioneiro francês fizera a Inglaterra em 1827. Encontrou essa fotografia perdida, finalmente, em 1952, comprou-a, e "provou" assim ter sido aparentemente Nièpce a obter a primeira fotografia estável, a célebre vista da janela de sua casa em Le Gras. Mas Gersheim acabou por vender o seu espólio ao Harry Ranson Center (HRC) na Universidade de Austin (Texas) em 1963. Depois de muitos anos de grande invisibilidade, houve quem percebesse a atracção que tal objecto despertaria no público e, em 2003, ao reabrir o HRC com uma nova biblioteca e um novo museu, essa imagem transformou-se numa atracção central e num objecto de culto, juntamente com uma Bíblia de Gutenberg. Os dois objectos são expostos no //hall// de entrada do museu, constituindo a principal razão de visita de quem procura o centro.
Participando neste movimento de paixão por ''primeiras fotografias'', e porque o dia de hoje é chamado dia da mãe, apresento aqui aquele que julgo ser o meu ''primeiro retrato'', feito pelo meu pai, no jardim da casa dos meus avós, no Passeio das Fontainhas, no Porto.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Primeiro Retrato| ./wikiImages/aurora1.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''~DIABO-MOR'', Rebordelo, Maio 2019@@//}}}}}}
Tudo começou com as máscaras em ferro do Vítor Sá Machado e com o repto que ele logo me colocou, naquele dia em que as vi pela primeira vez. Convocou-me para fazer dramatizações, usando as suas máscaras. A ideia dele era escrever curtos diálogos, onde a sátira fosse dominante e a comicidade das histórias um elemento central. Andei durante meses às voltas com aquele desafio, sem saber o que fazer, e, a cada encontro, o Vitor perguntava: "Então, já escreveste alguma coisa?". E eu confessava que não sabia por onde começar. Até que a leitura do //Nascimento da Tragédia// de Nietzsche me aconteceu como um raio que me iluminou o futuro. A resposta poderia estar na tragédia, em vez da comédia, poderia estar no recurso ao coro grego e às máscaras, como elementos centrais da tragédia ática. A partir desse momento, percebi que iria andar às voltas com a //Antígona// de Sófocles, para mim, de todas e desde sempre, a mais genial das tragédias.
Assim nasceu //Aurora//, que decidimos materializar num pequeno filme que terá uma duração de cerca de 30 minutos. Entretanto encontrámos muitos cúmplices generosos: para as vozes, para as personagens, para a música, para os adereços, para a edição áudio e vídeo. Vamos estrear ''AURORA'' no festival PAN, este ano, em Vilarelhos, Alfândega da Fé, no dia 5 Julho de 2019, pelas 22 horas.
Estão pois todos convidados a passar por Vilarelhos no dia 5/7.
//Aurora// é a história de uma mulher que ousa enfrentar o poder dos homens, e que, por isso, vai enfrentar a morte; é realmente uma história sobre o que está acontecer hoje na Europa, ainda que seja inspirada na //Antígona// clássica do século V a.C., adoptando uma narrativa construída em paralelo com a da //Antígona// sofocliana.
A história é-nos contada por dois coros, um coro de diabos e outro de anjos, que tal como acontecia na tragédia clássica grega utilizam máscaras, que os identificam. As máscaras que foram realmente o início desta aventura. Esses dois coros transmitem-nos duas perspectivas diferentes sobre a condição humana, que por vezes nos parecem antagónicas, mas que são sempre, certamente, complementares.
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
Perante os deuses e os reis
há que baixar o olhar;
cada um com seus papéis
cada um em seu lugar." (Coro de anjos, in //Aurora//, 2019)
Que sempre que aconteceu
mulher contestar o poder,
se a razão não lhe valeu,
menos lhe valeu ser mulher (Diabo-mor in //Aurora//, 2019)@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[A procura da luz| ./wikiImages/pirilampo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''A procura da luz'', Rebordelo, Maio 2019@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Ah querem uma luz melhor que a do sol!
Querem campos mais verdes que estes!
Querem flores mais belas que estas que vejo!
A mim este sol, estes campos, estas flores contentam-me.
...//
in Alberto Caeiro@@}}}}}}
O que é a fotografia senão uma procura constante da luz e das sombras...
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|bgcolor(#ffffff):[img[O regresso de Beuys| ./wikiImages/restaArte.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''O que Resta da Arte - Jeder Mensch ist ein Künstler'', Milão e Corunha, 1996@@//}}}}}}
Em 1996, em Milão, a publicidade de uma exposição de Joseph Beuys chamou-me a atenção.
Conhecia a personagem, mas em Portugal nunca vira nada dele. Fiquei, naturalmente, curioso. Fui visitar essa exposição, que estava montada numa sala da Universidade. Ao entrar, um conjunto de taipais grafitados chamou-me a tenção, e andei à volta deles durante horas. E, realmente, a exposição de Beuys pouco tempo e atenção me ocupou.
Essa experiência, verdadeiramente contemporânea, a que se juntaria uma parede grafitada da Corunha, daria lugar a um projecto a que chamaria "O QUE RESTA DA ARTE - CADA PESSOA 'E UM ARTISTA" (Jeder Mensch ist ein Künstker), que mostrei na galeria Arménio Losa em S. Mamede, Matosinhos (galeria municipal que entretanto fechou), e posteriormente em Lisboa na Abril em Maio e na Bienal de V.F. Xira (ver https://www.renatoroque.com/resta/galeria.html)
Hoje tive uma experiência semelhante na Galeria Municipal de Matosinhos, com uma exposição que reúne peças do espólio da Fundação de Serralves e da Fundação ~Luso-Americana para o Desenvolvimento, onde estão representados alguns dos mais consagrados autores portugueses da chamada arte contemporânea.
Chamarei assim a este díptico //Pedro Cabrita Reis e non-Pedro Cabrita Reis - JEDER MENSCH IST EHRLICH EIN KÜNSTLER, STIMMT, GENAU//
|bgcolor(#ffffff):[img[O regresso de Beuys| ./wikiImages/PCR.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:12px;©Renato Roque, ''Pedro Cabrita Reis e non-Pedro Cabrita Reis'', Matosinhos, 2019@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Cemitério de Arte em Morille| ./wikiImages/cemiterio01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Enterramento da peça de José Figueira, Cemitério de Arte de Morille, PAN 2018@@//}}}}}}
1 - O Cemitério de Arte de Morille é um projecto artístico com alguns anos, que parece ter como objectivo fundamental obrigar-nos a questionar a arte no comtemporâneo.Tem desafiado muitas dezenas de artistas, ao longo do tempo, a enterrar peças suas, transformando cada obra de arte, mesmo as mais clássicas, numa performance efêmera, de que resulta uma obra invísivel, escondida, imaginada, apenas assinalada por uma lápide, enterrada debaixo de alguns palmos de terra.
2 - Hippolyte Bayard foi um dos pioneiros da fotografia no século XIX. Ao mesmo tempo que Daguerre criava, com o contributo do seu sócio Nièpce, o daguerrótipo, Bayard desenvolvia técnicas alternativas, que eram baseadas na obtenção de um negativo fotográfico. Em 1839, data da oficialização do invento, a fixação das imagens fotográficas ainda estava por resolver por Bayard, impedindo o seu sucesso e de outros autores que pescavam nas mesmas águas, como William Fox Talbot. Quando Daguerre, nesse ano, em grande medida por intermediação política do seu amigo Jean Arago, perante o parlamento francês e as duas academias em Paris, reunidas para o efeito, recebe o reconhecimento do estado francês, que se materializou num conjunto significativo de benesses, Bayard resolveu protestar contra uma discriminação que considerava inaceitável porque injusta. E para protestar fez em 1840 uma coisa que lhe traria a notabilidade que lhe queriam recusar. Fez um auto-retrato, simulando um suicídio por afogamento, acompanhado de uma carta, onde apresentava como razões para tal trágica decisão o esquecimento do estado francês relativamente aos seus esforços para aperfeiçoar um processo que, ironia das ironias, a história se encarregaria de transformar no futuro da fotografia, fazendo esquecer o processo positivo, chamado daguerrótipo. E ao fazê-lo, Bayard fez algo de extraordinário, pois criou, apenas um ano depois do ano oficial da invenção da fotografia, a primeira fotografia-ficção, mostrando como a fotografia servia para ficcionar e até para mentir.
A história da humanidade e também a história da fotografia está prenhe de homens e de mulheres notáveis que a história esqueceu. Se Bayard encontrou uma forma de contestar a injustiça da história, muitos autores permanecem escondidos pela bruma das histórias contadas por quem quer contar a história de certa maneira.
Perante estes factos, decidi, este ano, 2019, ao ser convidado a participar no Cemitério de Arte de Morille, organizar o meu próprio funeral, enterrando-me, pretendendo desta forma evocar e homenagear Bayard e todos os grandes pioneiros e fotógrafos, que a história, ou quem a escreve, quis esquecer. Vai ser com certeza o primeiro funeral de um fotógrafo, que ele próprio regista em fotografia.
''Apareçam para a minha última despedida, dia 21 de Julho, em Morille...''
|bgcolor(#ffffff):[img[Enterramento de Monsieur Roque| ./wikiImages/MrRoque01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Enterramento de Monsieur Roque, Cemitério de Arte de Morille, PAN, 21 de Julho de 2019@@//}}}}}}
Quem olhar para a acção de enterramento //Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque//, que realizei no último dia de festival PAN em Morille, poderá pensar, ao ver o caixão, o auto-retrato no seu interior, cortejo e a canção fúnebres e finalmente o enterramento, que o foco desta "performance" está na morte. Poderá até pensar que se trata de uma intervenção sem sentido, de mau gosto, lúgubre e até tétrica. No entanto, tal análise parece-me ser muito superficial. O foco desta acção nunca foi a morte, mas sim a arte e a política cultural, a fotografia e a história. E se a morte lá está, enquanto personagem fundamental de um cemitério, ainda que de arte, ela é antes de mais uma forma de afirmar a vida, ao apresentar a arte e a sua expressão, como uma das formas de lutar contra a morte e contra o esquecimento.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Seul l’acte de résistance résiste à la mort, soit sous la forme d’une œuvre d’art, soit sous la forme d’une lutte des hommes.//
Deleuze, //Conférences//@@}}}}}}
Na [[série de fotografias|https://photos.app.goo.gl/GWciCx5mhsKU8yWX8]] que publiquei sobre o a acção escrevi tentando contextualizar a performance ““Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque” no PAN deste ano no Cemitério de Arte em Morille:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;
1 - O Cemitério de Arte de Morille é um projecto artístico com alguns anos, que parece ter como objectivo fundamental obrigar-nos a questionar a arte no contemporâneo. Tem desafiado muitas dezenas de artistas, ao longo do tempo, a enterrar peças suas, transformando cada obra de arte, mesmo as mais clássicas na aparência, numa performance efémera, de que resulta uma obra invisível, escondida, imaginada, apenas assinalada por uma lápide, uma obra enterrada debaixo de alguns palmos de terra.
2 - Hippolyte Bayard foi um dos pioneiros da fotografia no século XIX. Ao mesmo tempo que Daguerre criava, com o contributo do seu sócio Nièpce, o daguerreótipo, Bayard desenvolvia técnicas alternativas, que eram baseadas na obtenção de um negativo fotográfico. Em 1839, data da oficialização do invento na pessoa de Daguerre, a fixação das imagens fotográficas ainda estava por resolver por Bayard, impedindo o seu sucesso e de outros autores que pescavam nas mesmas águas, como William Fox Talbot. Quando Daguerre, nesse ano, em grande medida por intermediação política do seu amigo Jean Arago, perante o parlamento francês e as duas academias em Paris, reunidas para o efeito, recebe o reconhecimento do estado francês, que se materializaria num conjunto significativo de benesses, Bayard resolveu protestar contra uma discriminação que considerava inaceitável, porque injusta. E, para protestar, fez em 1840 uma coisa que lhe traria em parte a notabilidade que lhe queriam recusar. Fez um auto-retrato, simulando um suicídio por afogamento, acompanhado de uma carta, onde apresentava como razões para tal trágica decisão o esquecimento do estado francês relativamente aos seus esforços para aperfeiçoar um processo que, ironia das ironias, a história se encarregaria de transformar no futuro da fotografia, fazendo esquecer o processo positivo, chamado daguerreótipo, por este ser muito complexo e por apenas permitir obter uma imagem. Mas ao fazê-lo, Bayard fez realmente algo de extraordinário, pois criou, apenas um ano depois do ano oficial da invenção da fotografia, a primeira fotografia-ficção, mostrando como a fotografia servia para ficcionar e até para mentir.
A história da humanidade e também a história da fotografia está prenhe de homens e de mulheres notáveis que a história esqueceu. Se Bayard encontrou em certa medida uma forma de contestar a injustiça da história, muitos autores permanecem escondidos pela bruma das histórias contadas por quem quer contar a história de certa maneira.
Foi perante estes factos que decidi este ano, ao ser convidado a participar no Cemitério de Arte de Morille, organizar o meu próprio funeral, enterrando-me na forma de um auto-retrato, pretendendo desta forma evocar e homenagear Bayard e todos os grandes pioneiros e fotógrafos, que a história, ou quem a escreve, quis esquecer.
Vai ser com certeza o primeiro funeral de um fotógrafo, que ele próprio regista em fotografia. O primeiro funeral onde o fotógrafo ajuda a carregar o caixão do fotógrafo falecido.
{{indent{{{indent{Monsieur Roque}}}}}}@@}}}}}}
Nota final: quando comecei a preparar a [[série de imagens sobre o enterramento em Morille|https://photos.app.goo.gl/GWciCx5mhsKU8yWX8]] pensava usar apenas o PB, mas depois, o dourado mágico do fim de dia no planalto obrigou-me a usar algumas imagens a cores.
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|bgcolor(#ffffff):[img[ Landscape Without Memory| ./wikiImages/landscape01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Landscape Without Memory//, Rebordelo, Agosto 2019 @@//}}}}}}
Esta "paisagem", fabricada por mim, continua a ser paisagem, mesmo se o referente de que parti, porque há sempre referente, tenha sido desconstruído?
//Landscape Without Memory//?, porque é uma paisagem que realmente eu nunca vi, que não foi realmente fotografada (de que não tenho por isso memória), mas que resultou numa paisagem fotografada(?).
Tal como no conhecido projecto fotográfico(?) de Fontcuberta //Landscapes Without Memory//, em que ele construiu paisagens fantásticas virtuais, dando como //input// a um SW cartográfico todo o tipo de imagens, em vez dos dados 2D, que o SW esperava receber, para esse SW construir uma imagem 3D.
Vivemos num tempo em que a fotografia já é outra coisa? Faz sentido falar de pós-fotografia, em vez de fotografia, como Joan Fontcuberta nos propõe?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Fontcuberta’s series Landscapes Without Memory is deceptive; these aren't photographs but computer-generated images created by software renderers that are designed to produce 3D images based on cartographical data. Fontcuberta decided to explore the possibilities of the technology by feeding it misinformation: instead of giving it a map to read, he fed it the visual data contained in famous paintings or pictures of different parts of his anatomy. The results are these "landscapes without memory"//@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Marc Feustel, //Interview: Joan Fontcuberta, Landscapes without memory//, 2010@@}}}}}}}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Parece obvio que padecemos una inflación de imágenes sin precedentes. Esta inflación no es la excrecencia de una sociedad hipertecnificada sino, más bien, el síntoma de una patología cultural y política, en cuyo seno irrumpe el fenómeno postfotográfico. La postfotografía hace referencia a la fotografía que fluye en el espacio híbrido de la sociabilidad digital y que es consecuencia de la superabundancia visual.
…
Allí donde la realidad se transforma en simples imágenes, las simples imágenes se transforman en realidad» (Guy Debord). Estamos instalados en el capitalismo de las imágenes, y sus excesos, más que sumirnos en la asfixia del consumo, nos confrontan al reto de su gestión política.
...
Si la fotografía ha estado tautológicamente ligada a la verdad y a la memoria, la postfotografía quiebra hoy esos vínculos: en lo ontológico, desacredita la representación naturalista de la cámara; en lo sociológico, desplaza los territorios tradicionales de los usos fotográficos.
...
Una fotografía construida mediante un mosaico de píxeles directamente intervenibles desbarataba los mitos fundacionales de indexicalidad y transparencia que habían sustentado el consenso de credibilidad en los productos de la cámara. Para la fotografía digital la verdad constituía una opción, ya no una obstinación.
...
Básicamente, la postfotografía rubrica la desmateralización de la autoría al disolverse las nociones de originalidad y propiedad. Pero apunta también, actualizando a Benjamín, a repensar el estatu de la obra de arte en la época de la apropiabiliclad digital. Además, la revolución digital trae consigo otra desmaterialización, la de los contenidos, y su difusión por internet confiere a las obras un carácter de fluidez que desborda los canales existentes. En este contexto, la apropiabilidad no es solamente una característica de los contenidos digitales, sino que se impone como el nuevo paradigma de la cultura postfotográfica… lo que podríamos llamar la «estética del acceso».
//@@}}}}}}
{{indent{{{indent{{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Joan Fontcuberta, //La Furia de las Imágenes//, 2016@@}}}}}}}}}}}}
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{{indent{{{indent{Era segunda-feira de manhã. Estávamos a sair de Morille, a caminho da raia e de Portugal, depois daquele fim de semana intenso do festival PAN.
- O Vitor, pára aí, porque tenho que fazer uma fotografia para o meu amigo Jorge Sousa Braga!}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Girassóis em Morille| ./wikiImages/girassoisMorille1.jpg]]|
|bgcolor(#ffffff):[img[Girassóis em Morille| ./wikiImages/girassoisMorille2.jpg]]|
{{indent{{{indent{-Feito, Vitor, podemos ir!}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Serro| ./wikiImages/barros01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serro, Agosto 2019 @@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[ Sempre o Serro| ./wikiImages/serro001.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Sempre o Serro//, Serro, Rebordelo, Agosto 2019 @@//}}}}}}
O Serro é um local especial em Rebordelo - ainda que um pouco afastada da aldeia, pois fica a cerca de 3 ou 4 km de distância - por que me apaixonei, desde que o visitei pela primeira vez, há muitos anos atrás: mais de quarenta... É sem dúvida o meu local com mais imagens por m^^2^^. De cada vez que viajo até Rebordelo, visito o Serro e fotografo. Fotografo as ervas, as pedras, os campos, as árvores, as flores. Fotografo-me a mim. As folhas e os pássaros... E espanto-me de ainda conseguir fotografar. E espanto-me de olhar para as mesmas ervas e de ver coisas diferentes.
Foi no Serro que fotografei os diabos e os anjos de //Aurora//. Poderia ter sido noutro sítio?
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
O movimento das folhas
O silêncio de onde acabas de voltar
E a luz que divide o corpo do nascente
São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
São os pássaros assustados, assustados,
Tuas mãos que descobrem o convite da terra
E os poemas como ilhas submersas…
São mil coisas impressentidas
Que me escutam:
Sou eu apreensivamente
Solicitado pela inflorescência
Redescoberto pelo bulir das folhas//
Manoel de Barros@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[As Câmaras do MK| ./wikiImages/CasaAchada3.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //As Câmaras do MK//, Casa da Achada, 10 anos, 26 de Setembro 2019 @@//}}}}}}
No 10º aniversário da ''Casa da Achada'' foi inaugurada uma pequena exposição, onde se mostram algumas das muitas câmaras fotográficas (são centenas), que o Maçariku foi coleccionando ao longo da sua vida. Eram sobretudo instrumentos de afecto, escolhidos sem ter em conta o valor ou a raridade. Esta exposição e a presença de Giusepe Morandi, amigo de longa data da Casa e que, ao longo de décadas, sempre usou câmaras emprestadas para fotografar a gente da sua terra, serviram de pretexto para uma conversa intitulada //Ser fotógrafo e não ter máquina, ter máquinas e não ser fotógrafo//, em que se pretendia reflectir sobre o acto de fotografar. ''Fotografar o quê? Fotografar para quê?'' eram as questões a que teríamos de tentar dar respostas.
A Eduarda Dionísio convidou-me a participar nessa conversa sobre fotografia. A minha admiração por ela e pelo trabalho da Casa da Achada, sendo esse um assunto a que tenho dedicado algum do meu esforço, nem sempre com sucesso, reconheço, não me permitiriam recusar. No primeiro dia das comemorações sentamo-nos todos, alguns praticantes da fotografia, numa grande roda e começamos por ouvir o Giusepe. A certa altura fui intimado a falar. Falei. Mas no fim fiquei com a sensação clara de ter sido completamente incapaz de transmitir as minhas dúvidas e a as minhas angústias perante a fotografia, a dos outros e, nomeadamente, perante aquela que teimo repetidamente em fazer. Tentarei, por isso, neste e noutros /posts// seguintes revisitar essas minhas dúvidas e angústias e esforçar-me por as tornar mais transparentes e compreensíveis.
Creio que a primeira pergunta //Fotografar o quê?" é de fácil resposta. Desde há muito que a própria história da fotografia demonstrou que TUDO pode ser fotografado, e bem. Fotografar gentes e coisas, animais, plantas e pedras, água, terra e ar, cenas de rua e encenações, fotografar as próprias fotografias. Não só a fotografia pode fotografar tudo, mas surpreendentemente (?) revelou ser capaz de descobrir beleza em tudo. Segundo Susan Sontag, uma imagem bastante conhecida de Edward Steichen, uma fotografia a preto e branco de 1915, sem grandes artifícios estéticos, uma fotografia de duas simples garrafas de leite colocadas numa escada de incêndio de um prédio em Manhattan, Nova Iorque, representa essa mudança, rompendo definitivamente com o chamado pictorialismo. E a fotografia pareceu nesse momento passar a estar em completa sintonia com as palavras de Walt Whitman, para quem cada objecto, condição, combinação ou processo específico exibe beleza.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Eu não duvido que a majestade e a beleza estão latentes em qualquer pedacinho do mundo… eu não duvido que existe muito mais em trivialidades, insectos, pessoas, escravos, anões, ervas daninhas, recusas rejeitadas, do que eu supunha…//
Walt Whitman //Leaves of Grass//, 1855, trad. minha@@}}}}}}
E se havia coisas que a fotografia pioneira era incapaz de fotografar, a rápida evolução da tecnologia deu-lhe a capacidade de fotografar todas as coisas, mesmo as coisas que o nosso olho, naturalmente, não vê. Bastará trazer à nossa memória a célebre fotografia de Daguerre de uma movimentada rua de Paris (c. 1838), em que a cidade parece deserta a uma hora de ponta; na imagem apenas se distinguem duas figuras humanas: um engraxador e o seu cliente; tal peculiaridade resulta de a fotografia ser então incapaz de registar corpos em movimento, pois o processo exigia exposições longas de alguns minutos.
Se a fotografia provou poder fotografar tudo, mesmo objectos inventados, a questão reside apenas em cada um de nós ter de escolher o quê fotografar. Essa escolha vai ser naturalmente condicionada pela pergunta seguinte, aquela que realmente importa. e que é //Fotografar para quê?"// ( a seguir em próximos episódios)
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|bgcolor(#ffffff):[img[Arca de Noé| ./wikiImages/arcaNoeH.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //A casa dos meus avós//, Figueira de Castelo Rodrigo, Setembro 2013@@//}}}}}}
Tendo concluído que a fotografia mostrou ser capaz de fotografar tudo, e mesmo de encontrar beleza em todas as coisas (ver post anterior), resta-nos responder à questão mais difícil: “fotografar para quê?”.
Tentaremos começar a responder a essa questão, ainda que receosos de não conseguir uma resposta definitiva, isenta de dúvidas, de contradições e até de angústias.
Vamos a isso, de qualquer forma!
Os primeiros fotógrafos eram experimentadores, quase sempre associados à indústria, muitos deles com um exacerbado sentido prático. Eram investigadores com ligações efectivas à ciência e à tecnologia, com conhecimentos de física, de química, de óptica e de mecânica. O objectivo da fotografia era ser capaz de fixar as imagens, feitas com luz em material fotossensível, e assim dar a ver o mundo, como se o mundo lá estivesse, não estando.
A fotografia foi assim "inventada" fortemente ligada a dois valores fundamentais: o registo da verdade e o registo da memória.
1) ''A fotografia como verdade''. Ainda que também houvesse quem, desde o primeiro minuto, procurasse na fotografia o domínio da fantasia e da ilusão, bastará, para o demonstrar, recordarmos o célebre auto-retrato de Hippolyte Bayard, de 1840, onde o autor encena a sua própria morte como forma de protesto, imagem que nos serviu de inspiração para o enterramento que fizemos no Cemitério de Arte em Morille ([[ver post de 29/07/2019 Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque|2019-07 - Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque]]), a ideia de verdade e de registo do real são, desde a sua “invenção”, atributos que a fotografia incorpora fundo, dentro de si.
Compreende-se bem porquê. Afinal, a visão sempre foi considerada nuclear para o nosso conhecimento do mundo. Assim, um processo novo, revolucionário, tecnológico e científico, que permitia fazer o registo imagético do mundo real, estabeleceu, com toda a naturalidade, uma ligação umbilical da fotografia com a verdade. Essa ideia de registo rigoroso e objectivo do real pode ser realmente encontrada em quase todos textos sobre fotografia da segunda metade do século XIX. Por exemplo, naquele que é considerado como o primeiro livro de fotografia, //The Pencil of Nature//, o seu autor, William Henry Fox Talbot, escreve:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//They are impressed by Nature's hand… When we have learnt more, by experience, respecting the formation of such pictures, they will doubtless be brought much nearer to perfection… it introduces into our pictures a multitude of minute details which add to the truth and reality of the representation, but which no artist would take the trouble to copy faithfully from nature...copy every accident of light and shade//@@}}}}}}
Em suma, uma representação verdadeira (//truth//) e real (//reality//) dos objectos ou das cenas fotografadas. E capaz de reproduzir todos os pormenores, (//every accident//), superando o próprio olho humano.
Ou seja, a fotografia é apresentada como um processo de desenho automático do real e, como tal, rigoroso e objectivo, como um desenho realizado pela própria natureza, pelo uso da luz. A fotografia permitiria ver tudo o que lá estava e só o que lá estava.
A fotografia como verdade e como registo do real desempenhou um papel fundamental desde os meados do século XIX, ao oferecer, sobretudo através de jornais e de revistas, imagens de locais longínquos, de acontecimentos em qualquer lugar do mundo, de gentes estranhas e de coisas nunca antes vistas. O fotógrafo viajava, carregado com o seu equipamento, registava imagens surpreendentes que, semanas ou meses mais tarde, eram vistas pelos leitores de todo o mundo. A fotografia permitiu visitar Paris, tendo visto antes fotografias dos monumentos da cidade, ou visitar Nova Iorque, não sendo totalmente surpreendido pelos seus arranha-céus. A fotografia tornou mais difícil a sensação de novidade. Mundos para que estivéramos cegos eram revelados a um ritmo alucinante; cada vez mais alucinante.
A chamada fotografia documental constituiu um dos campos mais importantes da fotografia do século XIX e esta missão de registo documental prolongou-se durante grande parte do século XX: basta pensarmos na importância da fotografia na Guerra Civil de Espanha, na segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietname.
2) /''Fotografia como memória''. Se a fotografia era um instrumento da visão e do real visionado transformou-se naturalmente num instrumento da memória. A fotografia permitiria rever, sem qualquer falha de memória, o que um dia teríamos visto; permitiria também ver o que um dia outros teriam visto e tal como eles teriam visto. O retrato e os álbuns de família ganharam importância, quase desde a invenção oficial da fotografia em 1839.
Em resumo, a fotografia permitir-nos-ia ver tudo o que um dia alguém viu. A fotografia como registo de memórias visuais. A fotografia teria de ser, por isso, uma técnica ligada ao passado, pois tudo o que vemos numa fotografia já aconteceu, já foi visto por alguém. É portanto passado.
A missão principal da fotografia, como instrumento da verdade e da memória, era pois nesse tempo fácil de identificar, ainda que desde sempre tivesse havido fotógrafos que procurassem outros territórios, onde a ficção predominava, como dissemos.
Mas tudo se tornou menos claro no final do século XX. Para esta falta de clareza contribuíram diversos factores: os conceitos de arte conceptual e contemporânea, o aparecimento do digital mas, sobretudo, a popularidade dos telemóveis com câmaras fotográficas e as chamadas redes sociais de partilha de imagens, todas essas coisas associadas a transformações disruptivas sociais e culturais. Esta curta parte da história parece ter tido o poder de baralhar tudo e de mudar profundamente a relação da fotografia com a sociedade, tornando aparentemente aqueles valores: verdade e memória, menos valoráveis.
Podemos continuar a fotografar como registo da verdade e como registo da memória? Da mesma forma? (a seguir em próximos episódios)
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|bgcolor(#ffffff):[img[AURORA| ./wikiImages/aurora01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //AURORA//, Serro, Rebordelo, Maio 2019 @@//}}}}}}
''//AURORA//'' é o libreto da curta-metragem que realizámos com o mesmo nome. O texto foi escrito para dois coros: um coro de diabos e um coro de anjos. O livrinho reúne o texto original, fotografias de máscaras e algumas fotografias de cena, realizadas durante as filmagens, em terras de Rebordelo, no concelho de Vinhais, e no Teatro Helena Sá e Costa no Porto
No filme, os dois coros contam-nos a história de Aurora, que vai desenhando uma linha paralela à da narrativa da //Antígona// de Sófocles.
As máscaras são do Vitor Sá Machado, a música é do João Lóio e do compositor polaco Krzysztof Penderecki - a peça //Threnody for the Victims of Hiroshima// interpretada pela //Polish National Radio Symphony Orchestra//, sob a direcção do maestro Antoni Wita - as vozes são do DEMO e do Isaque Ferreira.
O libreto foi editado pela //Lema d'Origem// e vai ser apresentado na Feira do livro no Porto, este domingo, dia 22 de Setembro, às 11 horas da manhã, pela professora Marta Várzeas.
''Apareçam por lá!''
|bgcolor(#ffffff):[img[Viúvas do Entrudo| ./wikiImages/ultimoReduto.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Último Reduto'', encontro Annemarie Schwarzenbach e a Literatura de Viagem na Europa dos Anos 30, FLUP, 2015@@//}}}}}}
Escrevemos no nosso último //post// nesta nossa espécie de //blog//:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;Mas tudo se tornou menos claro no final do século XX. Para esta falta de clareza contribuíram diversos factores: os conceitos de arte conceptual e contemporânea, o aparecimento do digital mas, sobretudo, a popularidade dos telemóveis com câmaras fotográficas e as chamadas redes sociais de partilha de imagens, todas essas coisas associadas a transformações disruptivas sociais e culturais. Esta curta parte da história parece ter tido o poder de baralhar tudo e de mudar profundamente a relação da fotografia com a sociedade, tornando aparentemente aqueles valores: verdade e memória, menos valoráveis. @@}}}}}}
Tentemos então ver, com um pouco mais detalhe, de que forma tudo se baralhou no final do século XX, e como a fotografia, os fotógrafos e os autores que usam fotografia se posicionaram perante essa baralhação. Como resistir à mudança? Manter a fotografia como ''último reduto'' de fotógrafos, que querem continuar a fotografar, mas que querem fotografar com sentido.
Houve realmente desde o final do século XX um conjunto de transformações que influenciaram profundamente a fotografia e a forma como ela se relaciona com as pessoas e com a sociedade. Por um lado algumas inovações tecnológicas: o digital, a //Internet//, o telemóvel com câmara fotográfica incorporada, cada vez com maior qualidade, as redes sociais, onde as fotografias são publicadas logo em seguida a terem sido feitas. Cada ser humano passou a dispor de um dispositivo consumidor, mas também produtor de imagens, imagens que oferece graciosamente à nuvem global, a que todos temos acesso. Todos nos transformámos assim em produtores-consumidores de imagens fotográficas. Transformámo-nos no //Homo Photographicus//, como há quem proponha chamar-nos.
As imagens são hoje tantas, que é difícil fazer imagens que não tenham sido já feitas, "All the great photographs have already been taken", escreveu Erik Kessels. Para quê fotografar belos pôr-do-sol, se na rede há biliões de belíssimas fotografias de pôr-do-sol? (ver projecto[[ Sunset Portraits de Penelope Umbrico|http://www.penelopeumbrico.net/index.php/project/sunset-portraits/]]).
As imagens desmaterializaram-se, o suporte físico - filme e papel - volatizou-se, as imagens transformaram-se em ficheiros, sequências de zeros e de uns, facilmente manipuláveis, sequências que são transmitidas instantaneamente e que ficam imediatamente disponíveis em qualquer lugar do mundo. A desmaterialização das imagens trouxe consigo a desmaterialização da autoria da fotografia e o esboroamento da ideia de verdade associada à fotografia. Houve uma dissolução da noção de propriedade de cada imagem e esta dissolução reforçou a pertinência do conceito de apropriação, justificou-o, forjando aquilo a que alguns chamam uma "estética do acesso".
Vivemos pois, hoje, numa sociedade caracterizada por uma imersão numa imensidão de imagens. Todas as imagens de todos os lugares e de todas as coisas estão acessíveis em cada momento a todos. Surpreendentemente, em 1928, Paul Valéry já imaginara um tal cenário:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Comme l’eau, comme le gaz, comme le courant électrique viennent de loin dans nos demeures répondre à nos besoins moyennant un effort quasi nul, ainsi serons-nous alimentés d’images visuelles ou auditives, naissant et s’évanouissant au moindre geste, presque à un signe.//
Paul Valéry, //La conquête de l’ubiquité//@@}}}}}}
Para além do mais, a tecnologia, o SW, os algoritmos garantem que as nossas imagens respeitem padrões de qualidade técnica e estética cada vez mais sofisticados. Padrões técnicos e estéticos que, realmente, os algoritmos desenhados pelos fabricantes nos impõem e a que dificilmente fugimos. Usamos câmaras "inteligentes" desenhadas para utilizadores completamente ignorantes, que se deslumbram com os resultados de que quase não são responsáveis. Com a actual tecnologia é muito fácil obter "belas fotografias", sem que tal exija grande esforço do fotógrafo. O difícil parece por vezes ser conseguir más fotografias, no sentido clássico desse atributo. Uma realidade que parece questionar a ideia clássica de qualidade fotográfica e de bom fotógrafo.
Perante o cenário descrito, uma resposta possível para os criadores que querem usar fotografia parece poder ser, em vez de obter belas imagens, como se fazia no passado, dotar as imagens de sentido. Já não se trata de produzir novas obras fotográficas, mas de prescrever sentidos novos para obras existentes.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//No hay ni buenas ni malas fotos, hay buenos o malos usos de las fotos?
...
La calidad no depende de valores autónomos de la propia imagen, sino de la adecuación de sus características formales a unos determinados usos. La misma imagen puede ser inadecuada en un contexto y, en cambio, contribuir de forma poderosa a agitar el espíritu del espectador en otro.
...
La noción de autoría basada en la individualidad y en el genio retrocede ante los proyectos en equipo de autoría compartida y no jerarquizada, ante la proliferación de obras colectivas e interactivas, pero, sobre todo, ante la concepción del público, ya no como mero receptor pasivo, sino como coautor... podemos adoptar una imagen como si adopta una idea, una imagen que hemos elegido porque bese un valor determinado: intelectual, simbólico, estético, moral espiritual o político.
...
Para que haya creación que culmine en una obra, hace falta intención; para que haya intención, hace falta voluntad; para que haya voluntad, hace falta conciencia; y para que haya conciencia, hace falta humanidad. En consecuencia, cuando la postfotografía problematiza la autoría no interpela tanto a la teoría estética como a la filosofía de la conciencia y de la condición humana.//
Fontcuberta, //La Furia de Las Imágenes//@@}}}}}}
As transformações tecnológicas acompanharam transformações sociais, provocando-as ou respondendo-lhes, modificando-se profundamente a função social da fotografia. Assim, hoje, o mais importante é a velocidade com que a imagem chega à rede e é disponibilizada aos outros, esvaziando-se por completo o famoso instante-decisivo de ~Cartier-Bresson. O que importa é ser o primeiro a divulgar imagens do que está a acontecer, exactamente quando está a acontecer. Velocidade. Instantaneidade. A fotografia cada vez mais ligada à ideia de presente e menos à ideia de passado. A fotografia como mero registo de presença e não como ideia de memória. As //selfies//, que privilegiam quase sempre aspectos lúdicos, em vez de qualquer ideia de registo ligado à memória. São quase sempre imagens efémeras, que perdem todo o valor no dia seguinte. Efemeridade.
Alguns __''dados interessantes''__ que nos permitem dimensionar algumas das considerações que fizemos:
{{indent{{{indent{1) Em 2014 já era guardado quase um trilião de fotografias na rede //Internet// por ano.
2) Em 2018 havia cerca de quatro mil milhões de utilizadores de telemóveis no mundo (numa população estimada de cerca de oito mil milhões, ou seja uma taxa de penetração de cerca de 50%), e cerca de 70% desses utilizadores usavam a internet
3) Em Portugal a taxa de penetração do telemóvel era de cerca de 97% em 2018 e cerca de 75% dos utilizadores usavam facilidades de //smartphone//.
4) Em 2018 cerca de 93 milhões de //selfies// eram colocadas por dia no //Instagram//, ou seja quase mil por segundo.
5) Em 2010 um jornal de Hong Kong despediu todos os seus foto-jornalistas, decidindo utilizar imagens livres que encontravam na //Internet//, o que foi chamado Síndrome de Hong Kong.}}}}}}
Perante esta situação, muitos autores que usam a fotografia, fotógrafos ou não, escolheram __''estratégias''__ diversas:
{{indent{{{indent{1) Redescobrir ''Métodos Primitivos''
Como resposta à automatização e à inteligência das câmaras, há hoje cada vez mais fotógrafos a redescobrir técnicas pioneiras, como a cianotipia ou a chamada fotografia estenopeica (//pinhole//). É fácil constatar este facto, nomeadamente em Portugal, pois são publicitados inúmeros eventos que usam esses métodos.
2) A ''Apropriação'' (ou Adopção) de imagens fotográficas
Perante a super-abundância de imagens muitos autores recorrem a imagens que descobrem em feiras ou em leilões, ou na própria //Internet// e dão-lhes um novo significado. Bons exemplos seriam os autores/ fotógrafos Erik Kessels, Joan Fontcuberta, Joachim Schmidt,Michael Wolf, Penelope Umbrico ou Sherrie Levine.
3) O recurso controlado a ''SW'' no tratamento/criação de imagens
Em vez de usar câmaras, que outros manipulam, estes autores preferem usar SW próprio, que controlam, para criar as suas próprias imagens. Bons exemplos seriam os autores/ fotógrafos Dalia Chaveau, Joan Fontcuberta, Leandro Berra, Nancy Burson e Thomas Ruff.
4) O ''Photobook''
Uma das formas mais populares, utilizada no presente por tantos fotógrafos/autores, de valorizar e de poder dar sentido a projectos fotográficos, perante a dificuldade de fazer novas imagens, é criar narrativas subjectivas, juntando as imagens num objecto designado como //photobook//, em que as imagens deixam de ser escolhidas pelos critérios tradicionais de qualidade, como acontecia nos tradicionais livros de fotografia, mas para estar ao serviço do sentido novo, que o autor lhes pretende dar no objecto //photobook//.}}}}}}
Feito este curtíssimo introito, que nos situa na fotografia actual, poderemos agora finalmente tentar responder à pergunta "Faz sentido continuar a fotografar como um registo da verdade e como um registo da memória?".
Independentemente de tudo o que escrevemos, teremos de reconhecer de imediato que sim. Para o provar, bastará olharmos para o trabalho do Giuseppe Morandi, que partilhou connosco a conversa sobre fotografia na //Casa da Achada//. Giuseppe, organizado há muitos anos na //Liga de Cultura de Piadena//, continua a fazer uma fotografia completamente comprometida com o seu desejo de adesão a um registo de verdade e de memória das gentes da sua região. Mas Giuseppe fotografa assim há muito tempo e, como tal, "limita-se" a manter uma coerência quase absoluta na fotografia que faz. E, curiosamente, podemos até encontrar no trabalho de Giuseppe um aspecto singular, que parece poder ser fortemente valorizado na contemporaneidade. Giuseppe fotografa sempre com máquinas emprestadas. Giuseppe Morandi não possui equipamentos, o que poderia permitir, de alguma forma, questionar o papel do autor e do equipamento na obra, desde que houvesse quem quisesse dar esse novo sentido ao seu trabalho.
Perante o relativo impasse a que chegámos, na resposta que procurávamos, com Giuseppe Morandi, talvez tenhamos de reformular a pergunta que fizemos, que passaria a ser:"Faz sentido um fotógrafo, que quer começar a fotografar, continuar a procurar uma fotografia como registo da verdade e como registo da memória?".
Teremos de mais uma vez responder que sim, pois a realidade no-lo mostra. E o que é tem muita força. A realidade tem sempre razão. Realmente, encontramos no presente jovens fotógrafos, que se mantêm fiéis a essa tradição de compromisso com a verdade e com a memória, e que continuam a encontrar um campo de criação próprio, com sentido e com coerência. Podemos dar como exemplo, em Portugal, o fotógrafo João Pina, que tem realizado trabalhos fotográficos de denúncia da situação na América Latina, em particular no Brasil, como os projectos //Condor// e //46750//.
Concluímos então que continua a ser possível e até pertinente, ainda que porventura mais difícil, optar por fazer uma fotografia fundada nos critérios tradicionais de verdade e de memória, mas concluímos também que outros caminhos se abriram e continuam a abrir para quem quer usar a fotografia como forma de expressão e de criação.
Chegamos aqui ao ponto porventura mais delicado desta reflexão.
E nós? Ou melhor, e eu? - Adopto a partir daqui um registo na primeira pessoa - Como me coloco eu perante este portfólio de contradições, neste terreno movediço, escorregadio, onde cresce uma fotografia que cada dia, muito rapidamente, deixa de ser o que era ontem. Deixemos esta resposta para o último episódio desta saga, que este //post// já está demasiado longo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fazer Sentido?| ./wikiImages/silencio6.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Fazer Sentido?//, Rebordelo, Serro, Setembro de 2019@@//}}}}}}
Fotografar o quê? "Tudo!"
Fotografar para quê? "Para fazer sentido!"
Escrevi eu, como se fosse realmente capaz de responder às duas perguntas que me foram colocadas na Casa da Achada.
Nada melhor do que esta fotografia simples para ilustrar quão difícil fazer sentido realmente é.
Fotografo ervas, como se fotografasse o silêncio, há muitos anos. Tento muitas vezes convencer-me a não as fotografar mais, mas, de cada vez, páro, olho e não resisto.
Poderia argumentar que as fotografo porque gosto de as fotografar, porque sinto que ao fotografá-las me aproximo da terra. Mas não creio que tal resposta faça muito sentido.
Talvez a resposta humilde seja afinal: "Procurar fazer sentido, sem muitas vezes conseguir fazê-lo"...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Viúvas do Entrudo| ./wikiImages/entrudo02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Viúvas do Entrudo//, Entrudo Vilar de Amargo, 2019@@//}}}}}}
E eu? - perguntei-me no último //post// - Como me coloco eu perante o portfólio de contradições, naquele terreno movediço, escorregadio, onde cresce uma fotografia que cada dia, muito rapidamente, deixa de ser o que era ontem?
Comecei a mostrar as minhas fotografias no final da década de 80 e o caminho fez-se fotografando, vendo muita fotografia, comprando livros de fotografia, lendo, pensando e escrevendo sobre fotografia. Publicando. O caminho fez-se realmente sem uma formação académica em fotografia, que aliás não existia ou era incipiente quando comecei. Mas esse foi o caminho de tanta gente, pelo menos até à década de 80. E continua a ser o de alguns, e ainda bem.
Olhando para trás posso começar por reconhecer que muito ziguezagueei durante estes cerca de trinta anos. Haverá um sentido nesse percurso pessoal, em que o registo de verdade e de memória se vai mostrando aqui e ali, mas não é, creio eu, de forma nenhuma dominante? Para simplificar a análise/reflexão, centremo-nos nos livros publicados, livros que possamos considerar como //photobooks//, esquecendo obras colectivas, catálogos, etc.. E vamos apenas considerar os livros publicados neste século, quando as questões apresentadas em //posts// anteriores desta serie para a fotografia já estavam devidamente servidas na nossa mesa de trabalho.
Tínhamos acabado de entrar no século XXI. Estámos em 2001. Publiquei o livro //Corpos de Cidade//, em que a dimensão documental ainda está bem presente. Essa dimensão parecerá desvanecer-se nos livros seguintes. O livro reúne imagens de fábricas em ruínas, sobretudo no concelho de Matosinhos, todas devidamente identificadas no fim do livro, fortalecendo uma conotação de real e de memória ao livro. Muitos desses espaços desapareceram muito rapidamente e transformaram-se em zonas residenciais para classe-média e alta: o //Milagre das Rosas//, como lhe chamo na pequena história que escrevi para o livro. O texto da Eduarda Dionísio, que acompanha as imagens, ombro a ombro com elas, acentua-lhes a dimensão poética. Atrevo-me a dizer que estamos já num registo documental-poético, que se irá acentuar nos livros seguintes. De facto, nos livros //D'Ouro d'Alendouro// e //12 pm// de 2003 e 2008, respectivamente, acentua-se esse o registo documental-poético. A dimensão de registo documental continua presente mas, mais do que a ideia de verdade ou de memória, predomina uma atitude subjectiva perante a paisagem, a paisagem do Alendouro (epíteto que costumo usar para ~Trás-os-Montes) e dos fiordes na Noruega, que a poesia de Jorge Sousa Braga reforça. O livro //Catedrais de Silêncio//, também de 2004, construído com fotografias de uma grande unidade industrial abandonada e com um texto da Eduarda Dionísio, também se insere nesse registo documental-poético. Não interessa que fábrica era aquela, onde fora construída, qual a sua verdadeira história. O texto poético da Eduarda conta-nos a história de um tempo em que havia operários por ali, um tempo que acabou, e não a história daquela fábrica. Estamos no terreno do documento e da memória subjectivos. O livro //Balada Solitaria//, igualmente de 2004, usa imagens realizadas durante a construção da marginal em Matosinhos. As imagens acompanham um texto de Fran Alonso, que, neste caso, ao contrário dos livros anteriores, foi o ponto de partida para o livro. Mas as imagens no contexto do livro perdem por completo a noção de espaço concreto e de tempo real, abstratizando-se no domínio do espaço e do tempo. Ao longo de todos os livros de que falámos, mantém-se e até se acentua esse registo, que designei por documental-poético, ou talvez possa precisar: acentua-se o poético, vai-se diluindo o documental, nesse binómio que continua, no entanto, a marcar todas as obras.
Passam-se alguns anos e só em 2015 publiquei //Arca de Noé// e em 2017 //Escrito com Cal e com Luz - Ensaio Fotográfico sobre a Poética de Carlos de Oliveira//. O registo documental-poético parece persistir. No primeiro, construído à volta das casas dos meus avós, uma no Porto, nas Fontainhas, outra na ~Beira-Alta, em Figueira de Castelo Rodrigo, a evocação da memória é central, mas nem sempre essa memória é alicerçada no real, e muitas vezes contém uma dimensão ficcional. O segundo livro é construído a partir do universo poético de Carlos de Oliveira. São imagens da Gândara, em que o documental e o poético uma vez mais se sobrepõem.
Poderíamos então dizer que há no meu trabalho uma rejeição continuada da dimensão documental pura, rejeição que até parece acentuar-se ao longo do tempo na sequência de livros apresentada, com a valorização da dimensão subjectiva e poética? Surprendentemente (?) não, pois em 2019 publiquei //Viúvas do Entrudo//, num registo assumidamente documental, quase jornalístico, sobre a festa do Entrudo, uma festa antiga e tradicional, entretanto recuperada em Vilar de Amargo. E tenho de reconhecer que se não existem mais publicações com esta dimensão documental, elas poderiam ter acontecido, se tivesse havido oportunidades, pois fui sempre registando com uma perpectiva documental quase-jornalística muitos dos eventos que presenciei ao longo do tempo. Algumas dessas imagens fui publicando no FB ou nesta minha espécie de //blog//.
Ou seja, mesmo eu, num plano estritamente pessoal, teria de responder que "sim" à pergunta que formulei, sim continua a fazer sentido uma fotografia marcada pela ideia do real e da memória. Se não me fizesse sentido, não poderia ter publicado em 2019 o //Viúvas do Entrudo//, em que existe uma adesão plena a um registo fotográfico marcado por essa ideia de realidade e de memória, não poderia continuar a registar, ao longo do tempo, inúmeros acontecimentos que presencio: viagens, festas, manifestações, encontros, família, amigos, etc., ainda que, é certo, muitas vezes sem ter a certeza de tal registo fazer sentido. Mas continuo...
Para além dos livros publicados, creio justificar-se dizer aqui duas ou três coisas sobre alguns projectos expositivos que realizei e que se identificam, de alguma forma, com algumas das estratégias "contemporâneas" que apresentei acima: //Espelhos Matriciais// de 2009, //Outros Retratos e ~Auto-Retratos// de 2019 e o enterramento no Cemitério de Arte de Morille, [[//Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque//|2019-07 - Qui vous voyez ci-derriére est Monsieur Roque]], também em 2019. //Espelhos Matriciais// é uma exposição fotográfica que integrou um projecto de dissertação de mestrado em Multimédia com o mesmo nome. Pretende ser uma reflexão sobre o retrato de rosto humano, como ideia de identidade, usando uma BD de retratos com 421 rostos, homens e mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos. O projecto utiliza um conjunto de ferramentas informáticas e de tratamento de grandes quantidades de dados, para obter resultados estatísticos e descobrir componentes fundamentais desses retratos, realizando um conjunto de imagens fotográficas de uma beleza surpreendente, que, em vez de serem obtidas por câmaras, foram construídas pelos programas de SW desenvolvidos no projecto. O projecto //Outros Retratos e Auto-retratos// usa imagens de fundo de olho humano, obtidas por câmaras especiais, chamadas retinógrafos, no contexto de um projecto de investigação de engenharia. A partir dessas imagens construí em //photoshop// retratos dos colaboradores do projecto e um conjunto de auto-retratos, a partir da ideia de que a imagem do fundo do olho humano funciona como uma impressão digital, ou melhor, como uma impressão digital melhorada, pois nela é possível, não só ler a identidade, mas obter um conjunto de informação médica de cada um de nós. Finalmente o enterramento em Morille foi uma performance fotográfica que para além de evocar Hippolyte Bayard e todos os fotógrafos esquecidos pela história, permitiu. de alguma forma, colocar muitas das questões relativas à fotografia no presente: o valor da obra, a autoria, a visibilidade, a efemeridade.
Temos portanto, desde 2001, uma linha de documentalismo poético, onde o poético parece acentuar-se ao longo do tempo, desiquilibrando a balança, mas nessa linha um projecto de documentalismo puro e duro imiscui-se em 2019, parecendo criar confusão no trajecto. Ao mesmo tempo, tenho intervenções que parecem adoptar estratégias mais disruptivas, procurando abrir outros campos para a intervenção fotográfica, reflectindo a perplexidade e até a minha angústia perante a incapacidade de responder plenamente às questões que a fotografia hoje me coloca.
Concluindo, fotografar o quê? Tudo! Tudo o que fizer sentido fotografar. Fotografar para quê? Para fazer sentido! Esse sentido pode ser encontrado no acto de fotografar ou no acto de editar e de construir novos objectos com fotografia.
''Fazer sentido'' é a palavra chave.
Nota final: quem ficar curioso pode obter alguma informação sobre os livros e os projectos no meu [[site|www.renatoroque.com]] (nem sempre devidamente actualizado, confesso) e noutras entradas nesta minha espécie de //blog//.
|bgcolor(#ffffff):[img[Auto-retrato Catalão| ./wikiImages/catalan.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Auto-retrato Catalão//, Rebordelo, Serro, Setembro de 2019@@//}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Deitar ao Lado do Silêncio|./wikiImages/serroLua.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Deitar ao Lado do Silêncio//, Serro, Rebordelo, 14 de Setembro 2013 @@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Poesia é...| ./wikiImages/PoesiaEh01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Poesia é//, Rebordelo, Novembro 2019 @@//}}}}}}
O que é a poesia? O que a distingue? Quem a escreve? Como se escreve? Desde a antiga Grécia que muita gente procura respostas. E não encontra, ou se encontra, outros procuram outras...
No seu livro intitulado Íon, Platão apresenta um diálogo entre Sócrates e Íon, um rapsodo de Éfeso, em que conversam sobre poetas e poesia, e a determinada altura Sócrates argumenta:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Os poetas dizem-nos, não é verdade, que é em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas que eles colhem os versos, para, tal como as abelhas, no-los trazerem, esvoaçando como elas. E falam verdade! Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão. Enquanto não receber este dom divino, nenhum ser humano é capaz de fazer versos ou de proferir oráculos. Assim, não é pela arte que dizem tantas e belas coisas sobre os assuntos que tratam, como tu sobre Homero, mas por um privilégio divino, não sendo cada um deles capaz de compor bem senão no género em que a Musa o possui: um nos ditirambos, outro nos encómios, outro, ainda, nos hiporquemas; este na epopeia, aquele no jambo. Nos outros géneros, cada um deles é medíocre, porque não é por uma arte que falam assim, mas por urna força divina, porque, se soubessem falar bem sobre um assunto por arte, saberiam, então, falar sobre todos. E se a divindade lhes tira a razão e se serve deles como ministros, como dos profetas e dos adivinhos inspirados, é para nos ensinar, a nós que ouvimos, que não é por eles que dizem coisas tão admiráveis — pois estão fora da sua razão —, mas que é a própria divindade que fala e que se faz ouvir através deles.// (Platão, in ÍON)@@}}}}}}
Para Sócrates, os poetas quando escrevem não o fazem por arte/técnica ou por conhecimento/ciência. É preciso notar que “arte” tem em Sócrates (//techné// em grego) um significado um pouco diferente do que lhe damos hoje. “Arte” é saber fazer bem. Os poetas são porta-vozes de deuses e de musas e descobrem a sua poesia, os versos que escrevem, “em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas” ou “numa tarde competente para dálias, ou quando ao lado de um pardal o dia dorme antes. ou quando o homem faz sua primeira lagartixa, ou quando um trevo assume a noite, ou um sapo engole as auroras” segundo Manoel de Barros. Claro que Platão desvalorizava a poesia, por se opor à racionalidade do pensamento filosófico. Mas isso já é outra conversa.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Eu, às vezes, tropeço na paisagem
e estatelo-me numa imagem//@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Há os que têm e os que não têm| ./wikiImages/besRevelacao2019.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //A Shot in the Dark? ou Há os que têm e os que não têm//, Serralves, Novo Banco Revelação, Novembro 2019 @@//}}}}}}
Há muito tempo que tenho revelado por aqui a minha perplexidade perante selecções e prémios do ''BES Revelação'', agora chamado ''Novo Banco Revelação''...
O regulamento prescreve que o concurso se destina a autores que "recorram ao medium fotografia". Tenho visto de tudo ao longo dos anos, mesmo de tudo, pois até já vi um seleccionado com uma peça em áudio...
Este ano, nos 3 artistas seleccionados, vi uma única fotografia, colada na parede, por sinal má, não a parede claro está, bem construida e pintadinha de branco, mas que no dizer de quem a seleccionou, não a parede mais uma vez naturalmente, //"jogaria inteligentemente com as (in)capacidades dos aparelhos de vídeo para captar e projetar convenientemente determinadas imagens, ou com a atual ubiquidade da fotografia – numa altura em que todos somos, mais do que meros consumidores, produtores de fotografias –, num projeto em que coleciona e valoriza as fotografias que tiramos acidentalmente com os nossos telemóveis e que são por isso usualmente apagadas."//. Incroyable! Ils sont fous ses romans! Depois vi peças escultóricas, peças minimalistas ready-mades e vídeo. Destacam-se dois documentários. Num deles - //A Shot in the Dark// - pretendem-se descrever experiências num laboratório de física experimental em Munique, para fotografar matéria negra e assim "provar" a sua existência. Entre várias informações sobre a matéria da investigação faz-se neste documentário uma brevíssima e trivial reflexão sobre a relação entre a fotografia e o real. O outro - o 1º prémio por sinal - em que a fotografia parece não transparecer sequer, a não ser porventura nos textos que acompanham e justificam o projecto, talvez se possa considerar como um documentário sobre investigação marinha. E escrevo "talvez", porque, devido à sua mudez, só compreendemos do que se trata, lendo o livro da artista premiada. Realmente, o documentário não contém qualquer texto ou voz off a acompanhá-lo.
Por vezes, pergunto-me se se o BES Revelação se ficou (finou?) pelo Banco MAU... ou melhor se por lá continua...
Claro que há a possibilidade, não de desprezar aceito, de tudo apenas revelar a minha falta de inteligência ou a minha grande ignorância...
Mas sabem qual é a minha maior perplexidade? É o concurso existir há 15 anos e nunca ter visto mais ninguém a querer discutir este assunto, nem sequer a pretender interrogar quem descobre [[coisas como estas |https://www.novobanco.pt/site/cms.aspx?labelid=novobancorevelacao]] nas 3 exposições...
Há os que têm os meios e os que não têm! E o resto pouco parece importar...
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Noiva| ./wikiImages/noiva2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //A Noiva//, Serro, Rebordelo, Dezembro 2019 @@//}}}}}}
Há muito tempo que realizo uma série fotográfica, que intitulei "Espanta o Quê?", fotografando objectos que são deixados nos campos, muitas vezes dependurados das árvores, talvez para espantar pardalada, melros ou espíritos malfazejos, ou, quem sabe, fotógrafos atrevidos.
Algumas dessas imagens estiveram para ser publicadas num livro de um amigo, já há alguns anos, mas o livro evaporou-se e as imagens regressaram ao fundo do baú.
De vez em quando os //Espanta o Quê// dão origem a sub-séries, como esta que realizei em Dezembro, a que chamei "A Noiva".
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
Por fim eu enxerguei a ‘Nuvem de calça’.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakowski – seu criador.
Fotografei a ‘Nuvem de calça’ e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.//
Manoel de Barros, //Ensaios fotográficos//@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Poema de Dia 1| ./wikiImages/poema.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Poema de Dia 1//, 1 de Janeiro de 2020 @@//}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[É a luz| ./wikiImages/poesia2.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //É a luz que escreve os versos na parede//, 2019 @@//}}}}}}
//''É a luz que escreve os versos na parede''//
Defendo há muito tempo que existe uma grande proximidade entre a poesia e a fotografia, maior do que alguma vez existiu, por exemplo, entre a pintura e a fotografia. À medida que o tempo tem passado, tenho reforçado essa convicção.
Em 1917 num artigo famoso intitulado "A arte com um procsso", o formalista russo Viktor Chklovsky escreveu:
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//...
E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objectos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objectivo da arte é dar a sensação do objecto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objectos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O acto de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser prolongado.//@@}}}}}}
Chklovsky falava sobretudo da poesia, e do que chamaria a linguagem poética, mas reparem como tudo o que ele escreve se adequa de uma forma particularmente concreta à fotografia.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Álbum de Retratos| ./wikiImages/mascara.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Entrudo Lagarteiro//, Vilar de Amargo, 22-02-2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.
//Mario Quintana@@}}}}}}
Desde sempre, senti o acto de fotografar como uma espécie de máscara, um disfarce que me escondia, que me protegia e que me permitia movimentar entre as pessoas, sem que soubessem quem eu era. De facto, atrevo-me a ir a sítios e a fazer coisas, que seriam impensáveis sem a câmara a proteger-me. Esta minha relação-fétiche com acto de fotografar e com a câmara não elimina o gosto pela conversa com os fotografados, quando a evolução da situação desenvolve um ambiente que o favorece.
E realmente, até há bem pouco tempo, qualquer câmara portátil, era empunhada pelo fotógrafo e colocada à frente da cara, escondendo-a, e impossibilitando ao fotografado olhar nos olhos o fotógrafo. Talvez por isso, invoco este argumento pela primeira vez, eu continue a preferir fotografar com máquinas "tradicionais", que me obrigam a olhar a cena pelo visor óptico, em vez de usar telemóveis ou outros equipamentos chamados //mobile//.
Também creio existir na chamada fotografia //mobile// - designação que abomino - e em particular nas chamadas //selfies// um efeito de máscara. Mas a diferença é esta: a câmara tradicional esconde-me no acto de fotografar e assim dá-me poderes que não teria sem ela; esses tais equipamentos //mobile// permitem mascarar os fotografados, que vestem as suas fantasias, no acto de publicação efêmera nas plataformas de partilha das redes sociais.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Sombra e Luz| ./wikiImages/sombra&luz.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Sombra e Luz//, Macedo de Cavaleiros, 26-02-2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Faz-se Luz''
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
//Mário Cesariny, in//Pena Capital//@@}}}}}}
Porque a fotografia nada é mais do que sombra e luz.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Álbum de Retratos| ./wikiImages/albumRetratos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Álbum de Retratos//, Encontro de Fotografia, FLUP, 2017@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//
Dans chaque famille se conserve un album, un de ces albums qui nous mettent entre les mains les portraits devenus émouvants, les costumes devenus ridicules, les instants devenus ce qu’ils sont devenus, et tout un personnel de parents, d’amis et d’inconnus aussi, qui ont eu quelque part essentielle ou accidentelle à notre vie.//
1939, Paris, Paul Valéry, orador convidado no centenário da invenção da Fotografia.@@}}}}}}
A fotografia (toda?, alguma?) está, muito rapidamente, a deixar de ser um registo do passado, para se transformar num registo de passagem. Por isso, os álbuns, que tão importante papel desempenharam até há algumas décadas, estão a desaparecer, substituídos por miríades de imagens efémeras lançadas na nuvem.
Nota: no álbum apresentado na fotografia acima podemos reconhecer, para além de Almeida Garrett e de Alexandre Herculano, Luísa Cândida Midosi, com quem Garrett casou em 1822, e Rosa de Montúfar y Infante, Viscondessa de Nossa Senhora da Luz, por muitos considerada como a fonte de inspiração amorosa do livro //Folhas Caídas//. A imagem foi editada a partir da fotografia de um álbum real do espólio de Leite de Vasconcelos, guardado na FLUL, para ilustrar o artigo "Álbum de Retratos - A fotografia a partir de um poema de Almeida Garrett", apresentado no Encontro de Fotografia na FLUP (Novembro 2017). O retrato de Alexandre Herculano utilizado na edição existe, mas, tanto quanto se sabe, não há registos fotográficos de Almeida Garrett.
|bgcolor(#ffffff):[img[Do Quase Inivisível| ./wikiImages/quaseInvisivel.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Do Quase Inivisível//, Março 2020@@//}}}}}}
Uma fotografia recente voltou a trazer-me à memória o livro //Do Quase Invisível//.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Agamben ilustra o seu ensaio sobre nudez com duas fotografias conhecidas de Helmut Newton, onde aparecem quatro modelos em posição idêntica, como que desfilando na passerelle. Mas numa das imagens as modelos estão elegantemente vestidas e noutra despidas, calçando apenas sapatos. Os rostos das quatro modelos parecem demonstrar a mesma enorme indiferença nas duas fotografias. As duas imagens aparecem juntas e são intituladas “They are coming”. E como Agamben afirma: «O efeito singular produzido pelo díptico é que as duas imagens são, contra todas as aparência iguais. As modelos envergam a sua nudez exactamente como na outra imagem envergam as suas roupas. Embora não seja verosímil atribuir-se ao fotógrafo uma intenção teológica, o certo é que o dispositivo nudez/veste parece aqui ser evocado e posto em questão.»
Como Agamben também afirma acerca do díptico de Helmut Newton «não há ali nem vergonha nem glória, nem pudenda nem glorianda». Nas fotografias de Newton há como que uma veste de moda, quer feita de pano, quer de carne. Aparentemente não há nudez no sentido teológico. Esta não-nudez das fotografias de Newton, só pode ser compreendida por contraponto à nudez teológica.
Acreditamos que no nosso projecto //''Do Quase Invisível''//, publicado em livro, também não há «vergonha nem glória, nem pudenda nem glorianda», não há nudez despida de toda a graça, nudez capaz de despertar o desejo. É certo que algumas fotografias do conjunto poderão parecer estar no limiar dessa não-nudez e por isso talvez de devesse afirmar que o projecto se situa entre a não-nudez e a quase-nudez. Uma nudez quase invisível.»//
in //Do Quase Invisível// de M.Jorge Pedra, Patricia Lino, Regina Guimarães, Renato Roque@@}}}}}}
O livro //Do Quase Invisível// continua por aí, disponível, para quem o quiser ver.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Quarentenas| ./wikiImages/quarentena01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Quarentenas'', Março 2020@@//}}}}}}
A fotografia e a escrita como refúgio em tempos de quarentenas.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Quarentenas''
A Maria está de quarentena
O Manel está de quarentena
Está o pai e a mãe e a pequena
Está mais de uma centena
Está Ulisses, está Helena
Está quem amocha e quem ordena
O presidente de quarentena
A beata que ficou sem a novena
E o ministro de quarentena
E a prole que não é pequena
Só tu não estás de quarentena
E é, digo-te, uma grande pena…//
RR, 23-3-2020@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Outras Quarentenas| ./wikiImages/quarentena02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Outras Quarentenas'', 2005@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Sabemos agora que um texto não é feito de uma linha de palavras, libertando um sentido único, de certo modo teológico (que seria a «mensagem» do ~Autor-Deus), mas um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escritas variadas, nenhuma das quais é original: o texto é um tecido de citações, saldas dos mil focos da cultura.
A morte do autor//, Roland Barthes@@}}}}}}
Ainda que na fotografia haja um referente, não há fotografia sem a coisa fotografada, como também Roland Barthes nos ensinou, o corte do tempo, que o acto fotográfico implica, induz igualmente um espaço de dimensões múltiplas e nunca um sentido único, nunca a tal «mensagem» do ~Autor-Deus.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Pedra Sendo| ./wikiImages/pedraMB.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Vilar d'Ouro, Maio 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//
Pedra sendo,
eu tenho gosto de jazer no chão.
Só privo com abelhas e borboletas,
certas conchas se abrigam em mim,
de meus interstícios crescem musgos.
Fotógrafos me usam para afiar seus instrumentos.
Às vezes um me ocupa todo o dia.
Fica louvoso.//
A partir de versos roubados a Manoel de Barros@@}}}}}}
Depois de quarentenado durante tanto tempo, voltei a mergulhar nas terras do Alendouro.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Quando um homem morre| ./wikiImages/slides.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, Maio 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//Antes do alvorecer morrerá, e com ele morrerão e não voltarão as últimas imagens imediatas dos ritos pagãos; o mundo será um pouco mais pobre quando este saxão tiver morrido. Feitos que povoam o espaço e que chegam ao fim quando alguém morre pode maravilhar-nos, mas uma coisa, ou um número infinito de coisas, morre em cada agonia, salvo se existir uma memória do universo, como conjecturam os teósofos. No tempo houve um dia que apagou os últimos olhos que viram Cristo; a batalha de Junín e o amor de Helena morreram com a morte de um homem. Que morrerá comigo quando eu morrer, que forma patética ou inconsistente perderá o mundo? A voz de Macedonio Fernández, a imagem de um cavalo rubro no baldio de Serrano e de Charcas, uma barra de enxofre, na gaveta de uma secretária de acaju?
//in a //Testemunha//, Jorge Luis Borges@@}}}}}}
A minha primeira aproximação à fotografia fi-la ainda na adolescência - os meus pais ofereceram-me o primeiro caixote, como prenda do meu 2º ano no liceu, quando tinha 11 anos - creio que por influência da figura tutelar do meu pai, que tinha andado pelos caminhos da fotografia, e eu sabia disso. Digo sabia, porque, por razões que nunca consegui esclarecer, deixou um dia de fotografar, e as imagens que preencheram os álbuns de família seriam todas feitas pela minha mãe, que herdou a velha câmara de fole, Zeiss, que mais tarde haveria de ser minha.
Depois, houve um período longo em que esqueci a fotografia, outras coisas quew me pareciam mais urgentes me caíram no colo, e só voltei ao reino das imagens na década de 80, quando aconteceu ter recebido a formação elementar de laboratório, do meu amigo Luís Lage. Regressava a casa pela mão do Luís. Comprei então um Nikkormat em 2ª mão e voltei a fotografar. Preto e branco, claro: revelações e impressões na casa de banho. Só mais tarde descobri a cor através dos slides e foi um deslumbramento, e a partir daí comecei a dividir o mundo entre PB e cor. Por isso andava quase sempre com pelo menos duas câmaras na sacola, a que por vezes juntava uma terceira, com filme a cores para registos de família e até a panorâmica para coisas especiais.
Ao longo dos anos fui acumulando slides, imprimindo algumas poucas imagens em Cibacrome, que entretanto descobrira com outro parceiro importante nesta viagem, o Henrique Botelho.
Fiz slides até à primeira década do século XXI, ou seja, acumulei ao longo do tempo milhares de pequenos rectângulos coloridos transparentes, guardados em dezenas de caixas, imagens que registam tudo e mais alguma coisa, em particular os sítios por onde passei. Tudo arrumado cronologicamente, exceptuando um ou outro projecto especial, que ocupam caixas próprias, como por exemplo os slides que usei no projecto //Paisagens de Silêncio// (2004) que mostrei no CPF e as imagens da mesma série do livro //D'ouro d'Alendouro// (2003).
Ora, este fim de semana, decidimos projectar em Rebordelo os slides do meu sogro, que retratam sobretudo a família e as muitas viagens que ele fez. A oportunidade surgiu, depois de termos semi-salvo as imagens de uma inundação na casa onde ele morou, que agora não é habitada, em Matosinhos. No fim da projecção, a família decidiu deitar ao lixo muitos slides, em que ninguém estava interessado. Salvei alguns, que me pareciam captar um olhar especial, mas ao contemplar no fim o balde de lixo cheio de imagens, que certamente recordariam momentos únicos para as pessoas que os viveram, não pude deixar de sentir um pequeno aperto no peito. Também muitos (todos) os meus slides um dia, porventura, irão alimentar os aterros da cidade. Porque
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//O homem, ao morrer, apaga, com o último suspiro, o mundo em que viveu
//Teixeira de Pascoais@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Iluminar o dia| ./wikiImages/Luz.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Luz é a Sombra de Deus'', Rebordelo, Junho2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Faz-se Luz''
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca//
Mário Cesariny@@}}}}}}
A luz, sempre a luz, a luz que ilumina os meus passos, em volta da luz...
<br>
|bgcolor(#aaaaaa):[img[Roque y Yo| ./wikiImages/RoqueYYo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Roque y Yo'', Morille, Julho 2019, Rebordelo, Maio 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''Borges y yo''
Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico. Me gustan los relojes de arena, los mapas, la tipografía del siglo XVIII, las etimologías, el sabor del café y la prosa de Stevenson; el otro comparte esas preferencias, pero de un modo vanidoso que las convierte en atributos de un actor. Sería exagerado afirmar que nuestra relación es hostil; yo vivo, yo me dejo vivir, para que Borges pueda tramar su literatura y esa literatura me justifica. Nada me cuesta confesar que ha logrado ciertas páginas válidas, pero esas páginas no me pueden salvar, quizá porque lo bueno ya no es de nadie, ni siquiera del otro, sino del lenguaje o la tradición. Por lo demás, yo estoy destinado a perderme, definitivamente, y sólo algún instante de mí podrá sobrevivir en el otro. Poco a poco voy cediéndole todo, aunque me consta su perversa costumbre de falsear y magnificar. Spinoza entendió que todas las cosas quieren perseverar en su ser; la piedra eternamente quiere ser piedra y el tigre un tigre. Yo he de quedar en Borges, no en mí (si es que alguien soy), pero me reconozco menos en sus libros que en muchos otros o que en el laborioso rasgueo de una guitarra. Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro. No sé cuál de los dos escribe esta página. //
Jorge Luís Borges@@}}}}}}
Por razões que agora não vêm ao caso tenho andado à volta deste pequenino texto de Borges. O texto poderá parecer à primeira vista paradoxal, à segunda vista poderá parecer trivial, se pensarmos que nos remete para a dualidade conhecida autor-empirico/autor-textual, mas compreendemos de imadiato que o texto nos levanta uma série de paradoxos espaciais e temporais, como Borges gosta de fazer, e apercebemo-nos de que as duas personagens, Borges e Eu, são dinâmicas e se misturam uma com a outra, como uma cobra que se enrola e morde a cauda, comendo-se. Borges alimenta-se do Eu, que escreve como Borges, e o Eu, ao escever, alimenta-se de Borges. Quando o li, percebi de imediato que me suscitava imagens fotográficas, como a que mostro acima, construída a partir de uma imagem que fiz em Morille, no PAN 2019, no enterramento de Mr. Roque no Cemitério de Arte, acção que constituiu uma homenagem ao fotógrafo francês Hippolyte Bayard e aos pioneiros da fotografia, e de um retrato feito pela minha filha Rita, em Rebordelo, em Maio de 2020. Duas personagens? Duas câmaras e dois fotógrafos? Será?
Roque y Yo?
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Iluminar o dia| ./wikiImages/imagine.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Imagine'', exposição O Jardim da Aprendizagem da Liberdadede de Yoko Ono, Serralves, Julho 2020@@//}}}}}}
Em 1964 Yoko Ono publicou um pequeno livro chamado //''Grapefruit'' - A Book of Instructions and Drawings//. Foi na altura uma edição de apenas 500 exemplares. O livrinho contém alguns desenhos, mas sobretudo muitos pequenos textos, difíceis de classificar. Haverá a tentação, porventura, em os classificar como poemas. A ser assim, ficariam na fronteira entre o surrealismo e o //haiku//. Mas os textos assumem sobretudo a forma de relações de instruções de como construir peças de arte. Arte contemporânea, certamente. Cada texto do livro é como uma lista, das que escrevemos, para não esquecer o que temos de fazer. Listas, que poderiam ser perfeitamente coladas em post-its, na porta do frigorífico de um artista, para ele não esquecer como construir uma obra. O livro está organizado em capítulos, dedicado cada um a uma forma de expressão artística: música, pintura, cinema, dança, etc.
Cada texto no livro é assim, de alguma maneira, um pequenino manual de instruções para a construção de uma peça artística. Como escrever uma música, como pintar uma tela, como escrever um poema...
E realmente muitos dos textos desse livro estão actualmente expostos em Serralves na exposição "O Jardim da Aprendizagem da Liberdade". Cada texto sobre uma peça a construir transformado em peça. O milagre do contemporâneo: meta-peça transformada em peça.
No livrinho de Yoko Ono faltava a fotografia, não havia e não há um capítulo a ela dedicado, ainda que houvesse várias referências a ela em alguns dos textos. Tive por isso a ideia de escrever alguns textos inspirados no //Grapefruit//, para um capítulo novo sobre a fotografia.
Neste //post// publico o primeiro desses textos.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//''PEÇA FOTOGRÁFICA DO MOVIMENTO DA TERRA''
Para fotografar o movimento de rotação da Terra
Comecemos a fotografar a Terra às Zero horas do dia X.
(Pode ser a qualquer dia da semana, qualquer dia do mês, qualquer dia do ano)
Façamos uma fotografia por minuto.
Paremos de fotografar às Zero horas do dia X+1.
Montemos as imagens do fim para o princípio.
Sentemo-nos em frente da montagem, sem comer nem beber
Até sentirmos que a Terra roda em sentido contrário.//@@}}}}}}
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Onde Vamos?| ./wikiImages/ondeFicamos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Algarve, Setembro 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;
//A poesia é o resultado espontâneo de sentimentos intensos: tem a sua origem na emoção, recordada num estado de tranquilidade.//
//Prefácio de Baladas Líricas//, William Wordsworth (1798)
//A tarefa do poeta não é procurar novas emoções, mas usar as comuns e transformá-las em poesia, exprimindo sentimentos que não figuram de todo nas emoções originais. E as emoções que ele nunca experimentou servirão o seu fim tão bem como as que lhe são familiares.
...
A poesia não é um modo de libertar a emoção, mas uma fuga da emoção; não é uma expressão da própria personalidade, mas uma fuga da personalidade… é uma expressão de significativa emoção, mas uma emoção que tem sua vida no poema, e não na história do poeta. A emoção da arte é impessoal.//
//Tradição e Talento Individual//, T. S. Eliot (1909)@@}}}}}}
Afinal onde ficamos?
Não ficamos, e ainda bem que não ficamos. Partimos, viajamos, mas nunca chegamos. Assim é na poesia, assim é na fotografia. E se chegássemos teríamos de voltar a partir.
{{indent{{{indent{@@font-size:10px;//
Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído ao caminho.
Agora, já nada tem para te dar.
Ítaca//, Konstantin Kavafis@@}}}}}}
|bgcolor(#ffffff):[img[Fogo que Arde sem se Ver| ./wikiImages/fogoQueArde.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Fogo que Arde sem se Ver'', Rebordelo, ~Trás-os-Montes, Junho 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;
//Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?//
Luís de Camões@@}}}}}}
Ver ou não ver, eis a questão...
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Trinitá| ./wikiImages/Trinita.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''O Trinitá'', Bouça, ~Trás-os-Montes, Setembro 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;
//E COMO ERAS LINDA
E como eras linda cantando e dançando no bar
com as pernas nuas num passo de dança para provocar
eras Mimi ou eras Rosa não me consigo lembrar
sei que ias de mesa em mesa uma valsa cantar
e chegaste ao pé de mim de cigarro na boca
— não achas que a sangria do meu copo já me sabe a pouca?
— encham o copo à menina pode ficar rouca!
e quem nos irá cantar a velha valsa louca?
e disseste-me ao ouvido umas graças obscenas
com risos e abraços com vinte anos apenas
— oh, faz de conta que estamos sós que o patrão não está a ver
que esta valsa maluca nos faça endoidecer
e quando saímos de táxi para uma pensão barata
cheios de amor e álcool como quem se mata
— fecha as cortinas eu peço para me despir...
e nos ouvidos a valsa voltava a surgir
veio a manhã acordar-nos em beijos profundos
o despertar da cidade com ruídos imundos
— oh, façam de mim uma ave mais leve que o ar
que encharque a vida de sonho e me faça cantar!
//letra e música: João Lóio@@}}}}}}
ENCONTROS, um CD de João Lóio || https://www.joaoloio.com/encontros
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografia e Realismo| ./wikiImages/poesiaEh02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Lendas'', Vale Telhas, ~Trás-os-Montes, Outubro 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //A poesia não deve ser. A poesia é, apesar e através do que se quer que ela seja, ou não. O quê? Ontem como hoje, provavelmente amanhã, a criação duma realidade ainda desconhecida na nossa mesma realidade, a necessidade de tornar lúcido e comunicável o que de mais obscuro e, por outros meios, indizível nos opõe ao que julgamos ser e afinal não somos já ou nunca fomos. A função da poesia? Tornar o homem cada vez mais homem. Libertá-lo constantemente da prisão em que ele próprio constantemente se encerra// (Mário Dionísio, //Entrevistas//, editado por Centro Mário Dionísio, 2010)
@@}}}}}}
A poesia deve libertar o homem da prisão em que ele próprio constantemente se encerra. A linguagem libertadora. Como Mário Dionísio afirma nessa mesma entrevista “a poesia é a criação de uma realidade ainda desconhecida na nossa realidade”. Quão distantes estamos aqui da ideia de uma literatura realista que copia o real, de uma poética do espelho. E continua MD:
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //Não consigo interessar-me por uma obra, desde que não reconheça nela um elemento de novidade autêntica. A arte não repete. O seu domínio é o do que ainda se não fez.// (ibidem)
@@}}}}}}
A poesia, tal como a pintura, cria seres que antes não existiam, muitas vezes seres desconhecidos do próprio poeta/ pintor.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //O que o dia todo desenhei/ eu próprio espantado e espantado não sei/ em verdade o que é.// (ibidem).
@@}}}}}}
Dionísio nunca deixou de insistir em que a arte é realista, não por ser reflexo do real, mas por ser a sua deformação, resultado da oficina artística e da imaginação humana por ela desafiada e alargada. A poesia e a pintura como “invenção do concreto”, expressão que adoptaria de Marcel Gromaire.
Eu escrevo agora e aqui que também a fotografia é realista, não por ser reflexo do real, mas por ser a sua deformação, resultado da oficina artística e da imaginação humana por ela desafiada e alargada.
A fotografia como “invenção do concreto".
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|bgcolor(#ffffff):[img[À Procura das Memórias em Tibães| ./wikiImages/tibaes01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''À Procura das Memórias em Tibães'', Mosteiro de Tibães, Outubro 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //A fotografia é um espelho com memória.//
Definição de fotografia de Oliver Wendell Holmes, no século XIX, para explicar o daguerreótipo a quem nao conhecia a fotografia.@@}}}}}}
Reamente a fotografia foi encarada desde a sua descoberta como um registo de memória. Tal como a escrita inaugurou um mundo novo, em que passava a ser possível registar por palavras o que se via, o que acontecia, o que se fazia, o que se pensava, marcando uma fronteira entre um mundo antigo, em grande medida imerso nas sombras, e um mundo moderno iluminado pela escrita, de que pensamos saber muito mais coisas, a fotografia inaugurou um mundo imagético, onde a ubiquidade da imagem nos permite, por um lado ver o que não vemos, por outro lado acreditar plenamente no que nunca vimos. Mesmo se o que virmos nos enganar.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //Contrariamente ao que sugerem os argumentos humanistas a favor da fotografia, a capacidade da câmara para transformar a realidade em beleza deriva da sua relativa insuficiência como meio para veicular a verdade.//
Susan Sonntag, em Ensaios sobre Fotografia@@}}}}}}
Em 1970 acampei com amigos na quinta do mosteiro de Tibaes. Na altura o mosteiro era uma ruína, pois tinha sido destruído por um grande incêndio no século XIX. Regressei entretanto muitas vezes a Tibães, para visitar as exposições dos Encontros da Imagem em Braga. O mosteiro foi entretanto reconstruído e tem sido usado em múltiplos eventos culturais. Este ano voltei para participar no festival Semibreve, com uma peça multimédia, o Randomofone, criado por Luís Ventura e Francisco Leal, a que emprestei imagens dessas memórias longínquas. O Randomofone como uma bússola para um território de memórias, escrevi na sinopse.
Aproveitei o tempo, de que dispunha enquanto o Luís e o Francisco instalavam o Randomofone, para percorrer a quinta, à procura dos espaços de memória, o lugar onde acampáramos, o lago onde tomávamos banhos, os caminhos e os trilhos que percorriamos para descer à aldeia para fazer as compras do dia a dia.
A par de memórias tão nítidas, tão reais, tantas coisas que nos parecem tão estranhas, como se nunca tivessemos estado ali. E os espectros que nos assombram, a cada lugar cheio de recordações...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Chairas ou Cheiras| ./wikiImages/moura02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Mouras e Celtas, Serra da Aboboreira, 2017@@//}}}}}}
Há em Vilar de Amargo, um pequeno povo com algumas dezenas de habitantes, situado no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, a caminho para ~Foz-Côa, uma série de lendas sobre Mouras. Sabemos que essas lendas são comuns no norte e no centro de Portugal e creio que o mesmo acontecerá na Galiza. Essas lendas estão muitas vezes relacionadas com pedras dotadas de propriedades mágicas. As lendas de Vilar de Amargo conheci-as a partir de uma pequena monografia, escrita por Eurico Belchior, que li à procura de memórias das gentes da aldeia, para escrever um conjunto de pequenas histórias de lagartos, para um livrinho a editar no Entrudo de 2021, se tudo correr bem.
Realmente Vilar de Amargo é conhecida como a Terra dos Lagartos, os habitantes são conhecidos por lagarteiros e a associação, que tem tido um papel muito importante na promoção de uma série de actividades culturais na aldeia, nomeadamente ao recuperar o entrudo tradicional, chamado //Entrudo das Viúvas//, chama-se Associação Lagarto.
Teremos aliás um programa cheio de lagartos, envolvendo livros, esculturas e jogos, para Fevereiro de 2021, se o Entrudo puder ser realizado.
Pensava eu, como muita gente acredito, que essas Mouras estariam relacionadas com a ocupação do território por populações vindas do sul, de religião muçulmana. E se essas lendas nada tivessem a ver com os Muçulmanos? E se estivessem relacionadas com os Celtas e com a palavra celta para "mortos" ou "lugar de culto"?
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //A partir das numerosas lendas e dos nomes (pedra dos mouros, casa dos mouros, pedra da moura), por exemplo, demonstra-se que as crenças populares, de que foram seres mágicos, denominados mouras (no feminino) e mouros (no masculino) quem construiu os complexos megalíticos, estão ligadas à raiz céltica *MRVOS, que significa tanto «morto» como «ser sobrenatural» Assim, num quadro de cronologia pré-histórica, pode sublinhar-se que a imagem do «morto» e do «ser sobrenatural» radicada na etimologia céltica de mouro/moura parece reflectir melhor o significado original e autêntico do megalito. // (Alinei, 2006)@@}}}}}}
E a perplexidade poderá aumentar se ouvirmos que, ao contrário do que aprendemos, não houve nenhuma invasão celta da Península, pela simples razão que os Celtas cá estiveram desde o início, ou seja desde o Paleolítico. Segundo a TCP (Teoria da Continuidade Paleolítica), que tem vindo a ser desenvolvida recentemente por um grande número de arqueólogos, antropólogos e linguistas, a Bretanha e a Península Ibérica foram o pólo difusor da cultura celta, que não chegou vinda do leste, mas que pelo contrário se deslocou do oeste para leste e para o norte. Que terá sido da Galiza que os Celtas se moveram para norte, nomeadamente para a Escócia e para a Irlanda. E os climatóogos confirmam que durante as grandes glaciações a Península era um dos poucos refúgios na Europa com condições de sobrevivência.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //During the last glaciation, human habitation is thought to have been largely restricted to refugial areas in southern Europe[…] The recolonization of western Europe from an Iberian refugium after the retreat of the ice sheets 15,000 years ago could explain the common genetic legacy in the area[…] the preservation of this signal within the Atlantic arc suggests that this region was relatively undisturbed by subsequent migrations across the continent. // (McEoy, 2004) @@}}}}}}
Porventura os povos que desenharam as gravuras do Côa eram Celtas.
E a perplexidade aumenta ainda mais, quando somos confrontados com diversos estudos da genética que confirmam a TCP: não houve invasões e há uma continuidade genética entre a Galiza, a Bretanha, a Escócia e a Irlanda. ( a continuar, talvez?)
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|bgcolor(#ffffff):[img[Chairas ou Cheiras| ./wikiImages/chairas01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Nas Chairas em Dia de Nevoeiro, Novembro 2020@@//}}}}}}
Tudo começou com uma pergunta inocente. «Mas afinal, tu ora escreves "Chairas", ora escreves "Cheiras". Como se deve realmente dizer?»
«Vou tentar obter uma resposta!», prometi eu.
Fiz o trabalho de casa e creio ter encontrado alguma coisa.
A palavra "Chaira" está registada em dicionário e quer dizer "terra fraca" ou "terra plana". Provirá do latim "Planaria".
Como foi que "Planaria" deu Chaira em português? Que raio aconteceu para termos tal diferença?
A evolução do som inicial é idêntica a "planum" que deu "chão" ou a "plenum" que deu "cheio". Em galego, e só em galego, que o português começou por ser, a dupla consonântica do latim "pl", difícil de dizer, transforma-se sempre em "ch", ou mais exactamente, com o som "tch", pronúncia que ainda se ouve por terras do norte, chamada uma africada. A evolução "pl" para "ch" faz parte de um processo larguíssimo de evolução, que afectou muitas consoantes, em todas as línguas neolatinas ocidentais, e que em linguística é chamado de palatização. Por outro lado houve a queda do "n" intervocálico, outra caracteristica que diferencia o galego de todas as outras línguas românicas. Por isso dizemos "lua", enquanto os castelhanos dizem "luna", os italianos "luna" e os franceses "lune". Formas antigas anteriores ao século XIV perdem todas os "n", e já agora também, os "l" entre vogais. Regra misteriosa mas respeitada escrupulosamente na evolução. Curiosamente, em português, reintroduziram-se a partir do século XV algumas formas latinizantes, como "pleno" e "plano", que pareciam mais cultas e menos rurais. Estas, hoje, coexistem com as formas antigas, com significados em parte sobrepostos. Muitas, no confronto, desapareceram. Já a pronúncia "tch" foi e é combatida, por preconceito sulista, por ser considerada rural e parola.
Portanto, a palavra latina "Planaria" deu em galego "Chaira", por palatização do "pl" em "ch" e queda do "n" entre vogais, como vimos, e depois por metátase do grupo "ri" transformado em "ir", fenómeno que ainda hoje podemos testemunhar: por exemplo, pessoas a dizer "armairo" em vez de armário". Por um processo idêntico, o adjectivo latino "primaria" deu "primaira", e depois "primeira", por transformação posterior do som do ditongo "ai" em "ei". Realmente o sufixo latino "arius/aria/arium" deu em português dois sufixos: o mais conservador "ario/aria", mas também "eiro/eira", que não existia. No Dicionário Houaiss são registadas 982 palavras em airo/aira e 2625 em eiro/eira. Claro que muitas destas palavras foram construídas já em galego/português, juntando o sufixo eiro/eira.
E já vemos por que razão também existe a forma "Cheira", pois existe uma tendência para o ditongo "ai" evoluir: ai > ei. Mas a forma "Cheira" não parece estar ainda dicionarizada. Mas se perguntarmos a uma pessoa do sul, muito provavelmente ela dirá Chêra". Só no Norte se pronunciam ainda os ditongos "ou" e "ei".
A fotografia é das Chairas, em dia de muito nevoeiro. Espero ter conseguido a dissipar algum.
Pela primeira vez, nesta minha espécie de //blog//, cruzo os territórios da fotografia e da linguística, se descontarmos os //posts// que aqui dediquei a Mestre Leite e ao mirandês.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Lagarto, Lagarto| ./wikiImages/lagarto01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Lagato, Lagarto'', Serro, Rebordelo, 2020@@//}}}}}}
Vilar de Amargo é conhecida como a ''Terra dos Lagartos''. Os vilamarguenses chamam-se lagarteiros. Assim, a Associação Cultural, criada há alguns anos na aldeia, adoptou com naturalidade o nome de Associação Lagarto. O lagarto parece ser animal sagrado, um bicho mágico, naquele território.
Vilar de Amargo fica a poucos quilómetros de Figueira de Castelo Rodrigo, a terra da minha mãe e dos meus avós. E até 2017, Vilar de Amargo era apenas isso: outra aldeia do concelho de Figueira, a caminho de ~Foz-Côa e do Douro, mas nesse ano conheci a Marlene e o Marco e com eles conheci o Entrudo Lagarteiro, o Entrudo das Viúvas, que por acaso fotografei em 2018. E o acaso tem destas coisas, quase sempre tem muita força e orienta as nossas vidas. As fotografias transformaram-se num livro //Viúvas do Entrudo// e numa pequena exposição, que procuram traduzir a importância e o significado extraordinário destas festas tradicionais. E a partir daí o lagarto infiltrou-se no meu sangue. Não só nasceram uma série de projectos com lagartos: um pequeno livro de histórias de lagartos (a publicar), os lagartos da Ana Fernandes e do Vítor Sá Machado (a mostrar), e este Natal até uma pequena peça de Natal, uma brincadeira de família que, desde há alguns anos, faço com a minha filha e com as minhas netas, teria de se chamar //O Natal do Lagarto//, em que o Lagarto, com a Lagartixa, o Coelho e o Sapo decidem pela primeira vez comemorar juntos o nascimento do menino.
Poderá ser obsessão? É que passei a ver lagartos por todo o lado, nas pedras, nas árvores, nos objectos com que me cruzo pelo monte.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //Sape gato, sape gato
Que te atiro c’um sapato
Sape daqui, ó lagarto
Que eu já estou a ficar farto
in CANTIGA do LAGARTO (cega-rega)//, Renato Roque@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Lagarto, Lagarto| ./wikiImages/cicatriz.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Cicatriz'', das primeiras fotografias DC, Janeiro 2021@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //
pernoito
no interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor abre-se
porosa ao contacto dos dedos indica
que não haverá esquecimento ou brisa
para limpar o tempo imemorial da casa
...//
Al Berto, in Vigílas@@}}}}}}
Chega o momento exacto em que apercebemos com precisão da nossa finitude e perecibilidade. E fica a cicatriz a marcar o nosso corpo...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Corpo-Diário| ./wikiImages/corpo01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, da série ''Corpo Cicatriz'', das primeiras fotografias DC, Fevereiro2021@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //
ISTO É O MEU CORPO
O corpo tem degraus, todos eles inclinados
milhares de lembranças do que lhe aconteceu
tem filiação, geometria
um desabamento que começa do avesso
e formas que ninguém ouve
O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
de onde vem este braço que toca no outro,
de onde vêm estas pernas entrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?
Não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar//
José Tolentino Mendonça@@}}}}}}
Em 1992 vi uma exposição extraordinária na Gulbenkian, de um fotógrafo britânico chamado John Coplans. Comprei o belo catálogo intitulado //Um ~Auto-Retrato//. As imagens no museu eram de grande formato, muito grande para o que estávamos habituados na década de 90, todas auto-retratos. Muitas eram múltiplos. Eram auto-retratos num sentido abrangente, já que muitas delas eram de pormenores do seu corpo: mãos, pés, joelhos, barriga, costas; um corpo envelhecido, disforme, flácido, enrugado.
Este "Meu Corpo", esculpido na pedra no Serro, trouxe-me à memória essa exposição.
Nota: primeira foto no Serro DC
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|bgcolor(#ffffff):[img[Fotografar o Silêncio| ./wikiImages/silencio7.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Fotografar o Silêncio, 2020@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //
Eu comparo muito o silêncio àquilo que é o espaço entre as palavras num texto. Se as palavras não tivessem um espaço, não se leriam. Sem o silêncio, a nossa vida não se lê.
//Tolentino Mendonça@@}}}}}}
"Difícil fotografar o silêncio", escreveu Manoel de Barros. Eu sei. Tenho tentado, sem o conseguir. E também sei que o silêncio se deitou agorinha aqui...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Landscapes Without Memory| ./wikiImages/landscape02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, projecto ''Fotografias sem Memória'', 2020@@//}}}}}}
É corrente pensar e dizer que a fotografia implica um referente, ou seja uma memória. Só fotografamos o que um dia aconteceu.
Assim, não haveria uma paisagem fotografada sem uma paisagem na nossa memória.
Será?
O projecto ''Landscapes Without Memory'' de Joan Fontcuberta questiona esta ideia preconcebida.
As minhas ''Paisagens Sem Memória'' são inspiradas nessas estranhas //Landscapes// de Fontcuberta.
|bgcolor(#ffffff):[img[Impaciência do conhecimento| ./wikiImages/montanha01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serro, Fevereiro 2021@@//}}}}}}
Susan Sontag escreve em "Projecto para uma Viagem à China" que "A literatura corresponde pura e simplesmente à impaciência do conhecimento", citando um sábio austríaco judeu anónimo.
Passando por cima desse surpreendente "simplesmente", poderíamos simplesmente perguntar se a mesma questão não poderia ser colocada relativamente à ciência, ou a tudo o que é humano.
Não corresponderá também a fotografia pura e simplesmente à impaciência do conhecimento?
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|bgcolor(#ffffff):[img[Photographer Without Camera| ./wikiImages/withoutCamera01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Retrato sem Câmara, 2020@@//}}}}}}
No contexto de confinamento, temos criado várias propostas, para nos encontrarmos em ambiente virtual, e falarmos sobre fotografia. Foi o Jorge Pedra quem criou um grupo que designa como //Clube Foto Autor//. Na última sessão foi apresentado o trabalho de uma autora chamada KATRIEN DE BLAUWER, que se epiteta como "Photographer Without Camera". Facilmente a encontram na //net//.
Se pensarmos bem, tal designação parece ser um contrasenso. Sem câmara, por muito simples que seja, uma pinhole, ou uma simples câmara escura, não há fotografia. Seria o mesmo que alguém dizer "Sou um ciclista sem bicicleta", pois gosto de vir à rua ver passar a volta.
Se virmos o processo de trabalho de KATRIEN DE BLAUWER, verificamos que ela recorta elementos, nomeadamente fotografias de jornais e revistas e com esses elementos produz colagens. Até aqui diria que KATRIEN DE BLAUWER não é sequer fotógrafa e que não precisa, por isso, de câmara. Mas a seguir ela fotografa, digitaliza, ou manda alguém fotograr, digitalizar a colagem, para produzir imagens fotográficas em grande formato. Portanto das duas uma: ou KATRIEN DE BLAUWER usa uma câmara para fotografar/digitalizar (pode ser um scanner) a sua colagem, ou manda fazê-lo e nesse caso poderá quando muito escrever "Not a Photographer without a Camera".
O que pode ser curioso em tudo isto é observarmos que nas últimas décadas deparávamos com fotógrafos, que fotografavam, imprimiam e expunham as suas fotografias, nas galerias e museus, mas que tinham o cuidado de afirmar e de vincar, sempre que podiam, com todas as letras, que não eram fotógrafos, mas artistas que USAVAM a fotografia, talvez porque a condição de fotógrafos pudesse diminuir o seu valor de mercado. Temos agora alguém, que parece estar interessada em frisar que, apesar de não ter câmara, continua a ser fotógrafa.
Talvez o tempo se encarregue de clarificar esta tendência, se for tendência...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Disse Que Disse| ./wikiImages/adeliaDisse.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, S. Pedro Velho, Mirandela, Abril 2021@@//}}}}}}
Tenho dito!
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|bgcolor(#ffffff):[img[Disse Que Disse| ./wikiImages/naRua.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque,Vouzela, a comer um pastel de Vouzela, a caminho de Fornos de Algodres, Maio 2021@@//}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[As mãos| ./wikiImages/maos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Morille, no PAN PREVIO, Junho2021@@//}}}}}}
O PAN é um festival de cultura e de arte, que acontece todos os anos no mês de Julho, num pequeno //pueblo// a sul de Salamanca, chamado Morille, por iniciativa do presidente do seu //Ayuntamento//: o meu amigo Manuel Ambrosio.
Esta foto fi-la durante a semana em que lá estive, em Junho, no que Ambrosio chama o PAN PREVIO, para fotografar as casas e as gentes da povoação, para o projecto //RANDOMOFONE - As casas as casas as casas//, um projecto multimédia de autoria do Luís Ventura e do Francisco Leal, com imagens minhas, a apresentar no //PAN 2021 - EM CASA// (16 a 18 de Julho), no Centro de Arte de Morille (CEVMO).
O PAN e outras iniciativas, que acontecem ao longo do ano em Morille, constituem a prova viva de que é sempre possível meter as mãos e mexer com as coisas em qualquer região do país, mesmo nas pequenas aldeias do interior
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|bgcolor(#ffffff):[img[Cavalo em Morille| ./wikiImages/cavaloMorille.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Morille, no PAN PREVIO, A caminho de S.Pedro de Rosales, Junho 2021@@//}}}}}}
Em 2021 regressou o PAN a Morille.
O PAN é território livre, é território de cavalgadas. Não por acaso, neste tempo de pensamento castrado, levei este poema do O'Neill, para ler no poetódromo.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //
''A história da moral''
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.//
Alexandre O'Neill
//''A história da moral'' (variações)
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
e pôs-me
a pensar como você.
Que a coisa que pensa o cavalo
É o que está a montá-lo.//
RR@@}}}}}}
O PAN há-de voltar em 2022
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|bgcolor(#ffffff):[img[Ideia de Montanha| ./wikiImages/montanha02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Ideia de Montanha, Serro, Julho 2021@@//}}}}}}
É o Manuel Valente Alves quem nos diz muitas vezes que a paisagem é sempre uma construção humana e, como tal, uma ideia, um conceito e até uma emoção ou um sentimento, como também ele escreveu. E também foi ele quem, ao legendar algumas imagens suas com o epíteto "Ideia de Montanha", me inspirou para uma série em curso, construída no Serro, em Rebordelo, a que chamarei precisamente //Ideia de Montanha//.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; //''A montanha por achar''
A montanha por achar
Há-de ter, quando a encontrar,
Um templo aberto na pedra
Da encosta onde nada medra.
O santuário que tiver,
Quando o encontrar, há-de ser
Na montanha procurada
E na gruta ali achada.
A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade,
Porque a vida é só metade.//
Fernando Pessoa@@}}}}}}
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|bgcolor(#ffffff):[img[Projecto Raia| ./wikiImages/raia01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Projecto Raia'', Ribeira de Tourões, Escarigo, Setembro 2021@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px; // ''A Fronteira''
De um lado terra, doutro lado terra;
De um lado gente; doutro lado gente;
Lados e filhos desta mesma serra,
O mesmo céu os olha e os consente.
O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além;
Uivos iguais de cão ou de alcateia.
E a mesma lua lírica que vem
Corar meadas de uma velha teia.
Mas uma força que não tem razão,
Que não tem olhos, que não tem sentido,
Passa e reparte o coração
Do mais pequeno tojo adormecido.
//Miguel Torga@@}}}}}}
A raia é uma linha imaginária que o homem inventou para delimitar territórios, o nosso e o dos outros. A raia como objecto de materialização de uma separação de diferenças entre nós e os outros.
Por vezes, o traçado da raia aproveitava acidentes geográficos, como rios e montanhas, noutros casos desenhava simplesmente novas linhas na terra.
Para funcionar, essa linha imaginária tinha de ser aceite pelos povos dos dois lados. Quando não era aceite, rebentavam os conflitos e a linha que parecia inamovível podia deslocar-se.
Não sabemos quando foi a raia inventada pela primeira vez, mas a sua necessidade resultou certamente do processo de sedentarização das populações, do desenvolvimento da agricultura e do consequente nascimento de aldeias e de cidades, que criaram a ideia de obrigatoriedade de protecção de outros povos, que quisessem fixar-se no mesmo território. A raia servia para dificultar invasões, guerras e conquistas, mas também para manter o poder dos que mandavam.
A raia é imaginária mas separa, separa homens, separa culturas, separa línguas; a raia é imaginária mas é fonte de cobiça do território do lado de lá e do território do lado de cá.
A raia é imaginária, é esta, mas poderia ser outra. Só a história explica o seu delinear.
O rio Águeda e o seu afluente a Ribeira de Tourões foram, ao longo de séculos, desde o célebre tratado de Alcanizes, assinado por D. Dinis, rei de Portugal, e por Fernando IV, monarca de Castela e Leão, em 1297, linhas de separação entre reinos. Separaram e demarcaram, como se de verdadeiros muros se tratasse, com pequenas flutuações, os territórios dos dois lados.
Este foi um território de invasões e de guerras, por onde palmilharam e morreram muitos soldados portugueses, leoneses, castelhanos, franceses e ingleses, desde a guerra com Leão, travado por D. Dinis, às sucessivas guerras com Castela e às invasões napoleónicas do século XIX, que trouxeram ao território soldadesca francesa e inglesa, obrigando uns e outros à fuga das populações. Fugiam ao roubo e ao estupro, refugiavam-se onde podiam, e algumas aldeias permaneceram desertas durante décadas.
Foram também território de contrabando, curiosamente actividade ilícita e criminosa de aproximação entre os povos, que nasceu fruto da necessidade de sobrevivência de grande parte das famílias raianas, para quem a raia se transformou em fonte de negócio, dispostos a correr o risco de prisão ou de um tiro traiçoeiro da guarda.
Mas a raia, como linha imaginária, pode também ser território de novos imaginários.
O projecto //Fotografar a Raia// pretende mergulhar nesses imaginários.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Projecto Raia| ./wikiImages/raia02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Projecto Raia'', Ribeira de Tourões, Escarigo, Outubro 2021@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
//Carlos Drummond de Andrade@@}}}}}}
Escrevi no //tiddler// anterior que "a raia é uma linha imaginária que o homem inventou para delimitar territórios, o nosso e o dos outros". Mas essa linha, apesar de imaginada e imaginária, muitas vezes materializa-se em coisas muito concretas como rios e ribeiras. É o caso da Ribeira de Tourões, que passa junto a Escarigo, que foi escolhida para limitar dois territórios, ocupados por gentes que nada diferenciava e a quem essa linha pretendeu impor distâncias e diferenças.
Saí de Escarigo sem destino, a fazer horas até que o Senhor António Delegado, que me iria mostrar o caminho antigo para a Malpartida, acabasse de almoçar. Vi uma indicação de Menir dos Quadros e, claro, segui por essa rodeira à sua descoberta. O Menir passou, sem eu o reconhecer, descobri-lo-ia mais tarde coberto de silvas, mas tive a percepção que aquele caminho me poderia conduzir à Ribeira de Tourões. E a ribeira, que é fronteira, a que por aqui se chama sempre raia, é um chamariz irresistível. Fui seguindo e decidindo, a cada entroncamento e cruzamento, qual a direcção a escolher, até que cheguei a um local que me pareceu já próximo das arribas. Adivinhava-se o vale por onde corria o curso de água. Parei o carro, o caminho era cada vez mais acidentado e difícil, e segui a pé. Caminhei e cheguei a uma propriedade cercada, por ser lugar onde gado é guardado; os dejectos bovinos provavam-no. Abri o portão e fui procurando passagem no terreno desenvolvido em socalcos, para descer até à ribeira. Até que o terreno se tornou muito inclinado, pouso de grandes rochas em granito, lisas, ornadas por silvados. Pedregulhos difíceis de trepar. Silvados e giestas, sobreiros, carvalhos e negrilhos. Com paciência e cuidado fui encontrando um trilho e lá cheguei à Ribeira. E fotografei.
A pedra na fotografia poderá simbolizar a ligação entre as duas margens, um rascunho de ponte, materializado naquela pedra pousada no meio da ribeira. Uma pedra no meio do caminho entre nós e eles.
Tinha chegado à raia. A raia estava nos meus pés. Podia pôr um pé de cada lado. Aquela sensação antiga de pôr os pés do outro lado da raia. Em Espanha. Lembram-se?
A grande "aventura", se lhe quisermos chamar assim, foi escalar a encosta de volta para regressar. Tactear passagens entre as pedras, ter de voltar atrás para procurar outro trilho, porque aquele não permitia prosseguir. Ir à volta, sempre à volta. E, depois de um grande esforço físico e mental, passar para lá da entrada na propriedade, sem me ter apercebido disso, e não descobrir o portão por onde entrara na propriedade. Ter de percorrer os limites da propriedade cobertos de vegetação quase impenetrável, certo de que teria de encontrar a saída, para voltar ao trilho e ao carro. De repente, ao sair de uma passagem estreita, pelo meio de giestas, reconheci o portão e respirei de alívio.
Quando cheguei a Escarigo, já o Senhor António esperava por mim na Junta de Freguesia. E, de retinas fatigadas, a minha desculpa foi "tinha uma pedra no meio de caminho"...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Projecto Raia| ./wikiImages/lagarto03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Projecto Lagartos'', Serro, Rebordelo, 2021@@//}}}}}}
Há muito que o Serro é território de inspiração. Reino Maravilhoso, escreveu Torga. De cada vez que mergulho nas ervas ou nas rochas, descubro novas imagens. Não surpreende portanto que, desde que começámos a preparar um conjunto de eventos culturais e artísticos ligados ao lagarto, descubra lagartos por todo o lado.
Fomos inspirados pelo lagarto da Terra dos Lagartos, Vilar de Amargo, pequeno povo do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. É um lagarto da espécie //Timon Lepidus//, também conhecido vulgarmente por Sardão. É um bicho extraordinário, um quase fóssil vivo, que a actividade humana coloca em risco de extinção.
Os lagartos chegarão ao Porto a 8 de Janeiro, com uma exposição das esculturas de lagartos da Ana Fernandes, com fotografia minha e uma intervenção do PAM, no Mira Fórum. Depois haverá um programa cheio, a terminar no Entrudo das Viúvas em Vilar de Amargo, a terra do bicho.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Projecto Raia| ./wikiImages/lagartoVoador.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Projecto Lagartos'', O Lagarto Voador, Serro, Rebordelo, 2022@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;Estávamos no fim de Fevereiro. Era noite cerrada. Soprava um vento fresco, mas o frio a sério, das noites de Inverno, parecia ter acabado. Teria mesmo? Todos sabem que o Inverno muitas vezes regressa em pezinhos de lã, que deveriam proteger do frio, sorrateiro, até Abril, e às vezes até Maio. “Maio, Maio, cerejas ao borralho” avisa, com sabedoria, o povo.
O lagarto dormia sossegado, enfiado na fisga da rocha granítica, onde se refugiara, à espera do calor que haveria de o despertar. Mas ouviu um som forte, metálico, que lhe pareceu de origem satânica, e que o obrigou a abrir os olhos. Nunca tal (ou)vira. Escuro como breu. Nenhuma luz entrava na toca. Nunca a Primavera se anunciara assim.
Rastejou até à entrada da toca e pensou estar a sonhar. Viu uma multidão de gente que se arrastava, ululante, atrás de um tipo enorme, barbudo, com uma barba negra e hirsuta, que soprava como um diabo num instrumento reluzente, com os pulmões todos que tinha e que não tinha. Fora esse o som estridente que o acordara. Atrás dessa figura endemoninhada, um grupo pequeno de humanos marchava junto e parecia transportar uma grande caixa, que só depois identificou como um corpo dentro de um esquife. Muita gente, mais atrás, acompanhava o cortejo, ostentando velas e tochas e gritando lamentos fúnebres. Mulheres vestidas de negro choravam e riam. Viúvas e carpideiras? Que era aquilo? Castigo de Deus? O fim do mundo? Um agoiro malfazejo de que não viria este ano a Primavera?
Toda aquela gente passou à beira da toca do lagarto, que, receoso, apenas manteve a cabeça fora do buraco, para ver aquilo que os olhos lhe mostravam, sem neles acreditar, e seguiu em procissão pela aldeia. Durante muito tempo, o lagarto ainda ouviu, mais e mais ao longe, os lamentos carpidos pelas mulheres e o som daquele instrumento metálico.
O lagarto voltou à toca, mas, depois daquele alvoroço, já não era capaz de voltar a adormecer.
Na manhã seguinte o sol nasceu morno, quase primaveril. Os raios de luz, que entravam pela fisga, rasando a pedra, obrigaram o lagarto desperto a esticar as patas e a sair. Ainda era cedo, mas o dia anunciava-se quente. Era tempo
de voltar à vida acordada. Uma mosca passou perto e o lagarto lançou a língua.
Afinal a profecia não tinha sido do fim do Mundo, mas do fim do Inverno. (in //Histórias do Lagarto//)@@}}}}}}
''Programa Lagarteiro no MIRA FORUM'' (8 de Janeiro a 12 de Fevereiro)
Dia 8 de Janeiro (sábado à tarde)
16.00 horas – Abertura da exposição ''//LAGARTOS, LAGARTOS//'' de Ana Fernandes com fotografia de Renato Roque e lagartários de PAM
Música tradicional com a gaita de foles de Abilio Topa
Dia 14 de Janeiro (sexta à noite)
21.30 horas – Apresentação do livro //''Histórias do Lagarto''// de Renato Roque por Catarina Ginja
''//RAP do Lagarto//'' de João Lóio por Ana Deus e mais umas surpresas
PAM – projecções de acetatos lagarteiros
Dia 22 de Janeiro (Sábado à noite)
21.30 horas – ''Conversa sobre lagartos''. O lagarto na ecologia, na antropologia e na arte com a artista plástica e antropóloga Angélica Lima Cruz e a bióloga Catarina Pinho
Dia 12 Fevereiro (Sábado à tarde)
17 horas – Intervenção artística de Rute Rosas ''//Emtudo Revelação//''
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|bgcolor(#ffffff):[img[Palavras vs Imagens| ./wikiImages/imagens01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Serro, Rebordelo, Dezembro 2021@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//
''Imagens'' não existem
Fora do nosso olhar as
''Imagens'' não assistem
''Imagens'' somos nós//@@}}}}}}
Um jogo de espelhos, uma atracção entre palavras e imagens, entre a poesia e a fotografia, tem-me acompanhado. Constituiu um dos argumentos para defender a proximidade da poesia de Carlos de Oliveira com a fotografia. Está presente no livro //Escrito com Cal e com Luz//.
O poema sobre as palavras, de Gastão Cruz, foi um dos poemas que Jorge Ginja levou para a guerra, pela voz mágica de Mário Viegas, quando foi obrigado a a partir para uma guerra que sabia ser criminosa. Quando o ouvi no Museu Soares dos Reis, na apresentação do livro //Voz Própria//, o reflexo das palavras de imediato gerou imagens.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Língua Portuguesa| ./wikiImages/lingua01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Reflexões sobre uma Língua//, Serro, 2021@@//}}}}}}
Quando olhamos para o território nacional, não nos apercebemos de que nele existe um //continuum// linguístico, a que os linguistas chamam um //continuum// de variação dialectal, que se espraia de norte para sul e de leste para oeste.
Esse //continuum// é demarcado a leste pela raia com ~Leão-Castela, que traça uma separação bem sentida entre o português e o castelhano - o leonês quase desapareceu do mapa - a que alguns chamam impropriamente espanhol, mas a norte esse //continuum// de variação parece prolongar-se para o outro lado da fronteira, sem linhas de separação abruptas. É extraordinário que, passados mais de oitocentos da separação do reino de Portugal da Galiza, de séculos de pressões linguísticas do lado do português do sul sobre o galego original do norte, e de pressões do castelhano sobre o galego dominado e humilhado, continue a ser perceptivel essa sensação de //continnum// linguístico, que passa por cima da fronteira política e administrativa, e que faz com que haja no presente movimentos linguísticos galegos que defendem a ligação do galego ao português e até a mesma norma ortográfica.
Ao contrário do que nos muitas vezes nos querem fazer crer, o falar das gentes muda de sul para norte e de poente para oriente, ao longo do território português. Muda, e muito. E esta mancha linguística mudou também ao longo do tempo. Seria muito diferente há 200 ou 300 anos. Realmente, se falámos a mesma língua, a que chamamos língua portuguesa, é sobretudo porque há factores políticos e culturais, e também normas provenientes do estado – por exemplo um acordo ortográfico e uma gramática – para além de uma norma-padrão do modo de falar, criada e difundida pelo centro difusor de poder a sul - que asseguram a nossa percepção de que falamos todos a mesma língua. Tudo poderia ser bem diferente, se a nossa história tivesse sido outra.
Curiosamente, na língua portuguesa, ao longo de todo o território continental, é possível traçar algumas linhas, a que os linguistas chamam isoglosas, que são como raias do nosso modo de falar (isófonas), ou do vocabulário usado (isoléxicas). Por exemplo é possível descobrir uma isófona que separa a não-pronúncia do “v” a norte com a distinção clara a sul do “b” e do “v”, ou a pronúncia do ditongo “ou” a norte com o som ô a sul. Muitas mais há.
Não é de estranhar que todas essas isoglosas se desenhem entre os leitos do rios Douro e Tejo, ou seja, no território que não falava galego, onde havia várias línguas, para além do árabe e de uma língua de origem latina, que se acredita iria ter uma grande importância na história da evolução linguística, mas de que se sabe muito pouco, chamada moçárabe. O centro e o sul foram sendo conquistados, perdidos e reconquistados, entre o século XII e o século XIV, adoptando a língua dos conquistadores, ainda que transformando-a, como sempre acontece.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Beneficios do Divertimento| ./wikiImages/Maleficios.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Malefícios do Tabaco//, Espaço Mira, Fevereiro 2022@@//}}}}}}
''Relato de uma visita à exposição //Malefícios do Tabaco// no Espaço MIRA''
Quando entramos na exposição //Malefícios do Tabaco// de João Sousa Cardoso, somos confrontados de imediato com o que nos parece ser um espaço cénico.
Como entrar em cena?
Um estendal de roupa branca em cordas, como se tivéssemos um bragal a secar; uma luz ambiente de cor azul; focos coloridos dirigidos, que iluminam recortes de fotografia de imprensa, coladas nas paredes; bacias vermelhas de plástico, algumas vazias, outras com roupa branca, ou com água, uma com um blusão de couro; um banco em madeira com um livro pousado em cima e uma miniatura de uma carrinha Volkswagen Kombi; dois escadotes de alumínio.
Movimentei-me. Sentia-me perdido. Procurei um sentido. Os escadotes sugeriam um espaço ainda em montagem. Seria?
Vou olhar com atenção as fotografias expostas nas paredes, em busca de uma qualquer orientação. Tudo na sala parece sugerir uma cenografia para uma qualquer peça de teatro. Qual? Preguiçoso, procuro então uma folha de sala, que me possa oferecer algumas pistas fáceis. Sou informado de que o autor decidiu prescindir de qualquer informação escrita e que por isso não há folha de sala, nem sequer qualquer informação visível sobre o autor. Reconhecemos a coragem de uma tal opção, no contexto de uma arte chamada impropriamente contemporânea, em que a meta-informação é por norma tão importante, muitas vezes até mais relevante do que a obra propriamente dita. Representará este pedido surpreendente uma posição crítica do autor à arte que se vale, para valer, dessa meta-informação? Não sei.
Movemo-nos no espaço expositivo como se nos movêssemos em cima de um palco, dentro de um cenário. Tenho mesmo vontade de pedir a alguém que dance naquele ambiente para eu fotografar. Como se fosse um bailado. Fotografo e divertimo-nos, como se aquele fosse um espaço lúdico, um espaço de brincadeira, oferecido a cada visitante, para ele poder representar o que lhe der na gana. Estaria na presença de um //Benefícios do Divertimento//?
Mas continuava perdido. Decidi procurar indícios.
O primeiro, e muito forte, que já sugeri ao falar de cenário, é a presença do teatro. Não só o espaço e a iluminação por focos sugerem uma dramaturgia, mas vemos um livro de Bertolt Brecht pousado no banco. E depois, temos o título da instalação, //Malefícios do Tabaco//, que é o nome de uma peça-monólogo conhecida de Anton Tchekov. Mas, parecendo poder ser o título um indicio forte, estranha-se a informação de que o autor optou também por não ter nem sequer o titulo visível no espaço. Realmente, como o título é usado em toda a informação associada à obra e na sua divulgação, a invisibilidade do título só acontecerá para um visitante que não saiba o que veio visitar.
Continuava perdido, fui procurar outros indícios.
Segundo indício: parece que estamos num universo que nos remete para o mundo feminino. Eram as mulheres quem lavava a roupa da casa, eram elas quem estendia a roupa branca a secar. Era uma actividade de convívio e até de divertimento entre elas. Cantavam enquanto lavavam e estendiam a roupa. São essas as minhas lembranças de infância, sobretudo no Portugal rural dos meus avós. São também essas as imagens que a fotografia e o cinema plantaram na minha memória. E esse universo no feminino parece ser reforçado, quando observamos que todas figuras públicas, retratadas em fotografias de imprensa coladas nas paredes, que conseguimos reconhecer, são mulheres.
Terceiro indício: os grupos de imagens, nas paredes, que são iluminados com focos dirigidos, como se fossem personagens em diálogo, numa sucessão de cenas da peça a ser representada. Voltamos assim ao teatro. Cada grupo parece poder estabelecer relações internas: por um lado entre o racismo e a luta pelos direitos Civis nos EUA, Angela Davis e o sinistro ku-klux-klan em imagens, por outro lado entre Hollywood, o cinema e a política, com imagens de uma estrela do cinema e de M. L. Pintassilgo. Não deixa de ser surpreendente a presença aqui de M. L. Pintassilgo, talvez uma das figuras políticas portuguesas menos hollywoodescas. E novamente o cinema e a política, perante uma fotografia de Marylin Monroe e outra de Angela Davis, no único grupo de três imagens, onde a terceira imagem, pouco visível, parece de novo ser de uma acção do ku-klux-klan. Angela Davis é a única personalidade. que aparece duas vezes. Será um indício? Não sei.
Continuava perdido. Fui em busca de mais indícios.
Quarto indício: uma miniatura de uma carrinha Volkswagen Kombi dos anos 60, que nos sugere talvez os movimentos de rebeldia, de libertação e de procura da Natureza da juventude na década do Maio 68 e de grandes revoltas estudantis.
Quinto indício: as cores azul, vermelha e branca. O azul da luz ambiente, o vermelho das bacias plásticas e dos focos, o branco da roupa. Essas três cores podem sugerir a revolução francesa e a bandeira tricolor: a bandeira da igualdade, liberdade, fraternidade. Deliro?
E qual o significado do blusão de couro dentro de uma das bacias? Algum? Nenhum?
O que fazer perante todos os indícios descobertos? Qual é o sentido condutor de tudo aquilo?
Continuava perdido. Será que devo estar perdido? Será o objectivo da instalação desorientar o visitante? Perdê-lo? Será função da arte aturdir quem a contempla?
Se a instalação parece ser uma cenografia para uma peça de teatro, qual poderia ser essa peça? Dificilmente poderia servir para os// Malefícios do Tabaco// de Tchekov. Não sou conhecedor de muito teatro. Veio-me à cabeça que talvez pudesse funcionar bem na peça //À Espera de Godot// de Samuel Becket, com personagens tão perdidas quanto eu, à espera de alguém ou de alguma coisa que nunca há-de chegar. Sentia-me capaz de imaginar Vladimir ou Estragon sentados naquele banco de madeira. À espera, a brincar com o carrinho...
Realmente, uma das características (limitações?) na chamada (repito impropriamente) arte contemporânea é de ela ser propensa a juntar relações, hoje diríamos intertextualidades, que apontam para domínios fora da obra, a chamada meta-informação. Muitas vezes, uma obra quase sem corpo, feita de um mero conjunto de hiperligações, como se de um portal de metarelações se tratasse. A obra justifica-se com outras obras ou com meta-informação sobre aquela obra, ou sobre o autor da obra. No fim, tendemos a ficar decepcionados – eu fico – perante a ausência de um corpo visível, interno à obra. Decepcionados, mesmo quando calamos a decepção.
A chamada arte contemporânea, ao reclamar para si um carácter conceptual, esgota-se rapidamente, esgota-se depois de o conceito ter sido apresentado pela primeira vez. E não é fácil renovar conceitos, para cada obra apresentada.
Volta-me à cabeça a questão de saber qual a peça a representar naquele cenário. E, pensando agora, no célebre monólogo de Tchekov, a única personagem apresenta-se perante o público a pedido da mulher, esclarece, para fazer uma conferência sobre um qualquer assunto. Então decide falar sobre os malefícios do tabaco, tema que parece derivar de ter escrito recentemente um artigo sobre os malefícios de alguns insectos, em particular dos percevejos. Mas a verdade é que se afasta logo do tema e vai falando de outras coisas, relacionadas com a sua vida em família, com o pensionato e a escola de música da mulher, que lhe dá pretexto para tentar vender exemplares de uma brochura por 30 copeks cada uma, ou sobre as filhas que, para sua infelicidade, nunca mais casam. Assim, pensei, porque não fazer uma versão contemporânea de //Malefícios do Tabaco//, em que o tema central da conferência pudesse ser realmente a chamada arte contemporânea?
Naturalmente, o trajecto no espaço da exposição, a procura de um trilho marcado para seguir, tudo isso foi muito pessoal, justificando-se a série de autorretratos que fiz na roupa branca dependurada. Reencontro assim //Benefícios do Divertimento//.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Jogo do Galo| ./wikiImages/jogoGalo.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //Jogo do Galo //, Serro, Março de 2022@@//}}}}}}
Ao olhar para esta guerra, que nos transmitem em directo vários canais de Televisão, tenho por vezes a sensação de que estamos perante uma espécie de Jogo do Galo, em que nenhum dos contendores pode ganhar.
Mas, sabemos que por detrás do tabuleiro do jogo visível, onde os dois jogadores colocam as suas peças, há quem esteja a ganhar, jogando outros jogos: o jogo das armas, o jogo do gás, o jogo do petróleo, e sobretudo o jogo contra a democracia e o livre pensamento.
Nota: à procura de Lagartos no Serro
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|bgcolor(#ffffff):[img[LAFARTOS| ./wikiImages/lagarto04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, //LAGARTOS//, Almofala, Fevereiro 2022@@//}}}}}}
Este "Lagarto" foi visto e fotografado em Almofala, pequeníssima aldeia raiana no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, muito perto do rio Águeda e da Ribeira de Tourões, que fazem fronteira com Espanha.
O projecto //Lagartos, Lagartos// foi concebido a partir de uma realidade muito concreta. Vilar de Amargo, também no concelho de Figueira, é conhecida como a Terra do Lagarto. O lagarto é o símbolo da aldeia, os habitantes chamam-se lagarteiros, a Associação Cultural, de que sou agora sócio, tem o nome de Associação Lagarto. Ao conhecer as esculturas-lagarto da Ana Fernandes, começamos a conversar na livraria ~In-Libris como realizar uma exposição a partir dessas peças. E eu, já há muito, começara a escrever o livrinho //Histórias do Lagarto//. E o projecto dos Lagartos cresceu. E eu fotografei os lagartos da Ana no Serro, em Rebordelo, e, passado algum tempo, comecei a ver lagartos por todo o lado, nas pedras e nos troncos. E com toda a naturalidade a fotografia entrou no projecto. Por fim,entraram os lagartários do PAM. E a exposição //Lagartos, Lagartos// foi mostrada em Janeiro no Mira Forum e foi para Vilar de Amargo no Entrudo das Viúvas e vai em Julho ao festival de artes PAN em Morille, Salamanca. Os lagartos viajam.
Lagartices e Lagartadas.
Só durante o processo de realização do trabalho para a exposição, graças à sabedoria de Angélica Lima Cruz, que fez um doutoramento sobre a tradição de arte popular em barro em Galegos (Bercelos), e que participou numa conversa realizada no Mira durante a exposição, me apercebi da importância do lagarto, ou melhor do sardão, como pelo norte é conhecida esta espécie de lagarto, no sistema de crenças, lendas e mitos populares em todo o norte de Portugal, e acredito que também na Galiza e provavelmente em Leão. Nessa simbologia muito antiga, o sardão aparece como ameaça à virgindade da mulher, como causa de gravidezes não desejadas ou até como elemento perturbador durante a menstruação. O sardão como inimigo da mulher, ameaçador, mas ao mesmo tempo tentador; curiosamente a cobra como aliada da mulher. Para os homens precisamente o contrário. E o que é surpreendente é ainda hoje muitas mulheres no Minho e em ~Trás-os-Montes contarem histórias de encontros indesejados com sardões, para justificar encontros sexuais indesejados ou menos respeitáveis. E contam-nas como se continuassem a acreditar nelas!
Podemos também referir aqui a festa de Santa Luzia, que acontece dia 13 de Dezembro, em Guimarães. Durante a festa há uma troca de doces entre jovens enamorados. São doces com a forma de sardões e de passarinhas. Esses doces são confeccionados com açúcar e farinha de trigo cozida e a sua forma remete claramente para a sexualidade masculina e feminina. Extraordinário que numa sociedade conservadora e muito religiosa, nestes dias de confraternização social os jovens mantivessem essa tradição, certamente antiga, de oferecer "a passarinha" ou "o sardão" à pessoa amada. Caso o amor seja correspondido, o rapaz retribui a oferta com um "sardão" e a rapariga com uma "passarinha". Há também, em alternativa aos doces, as figuras modeladas em barro pelas bonecreiras da região: sardões e passarinhas. Mas também cobras e sardões. E //Mulheres de coragem//, figuras em barro de mulheres com um sardão na barriga.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Jogo do Galo| ./wikiImages/primavera2022.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Despertar da Primavera'', Vale de Telhas, a caminho do rio Rabaçal, Abril de 2022@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//''COM A MANHÃ''
Vem dos lados do rio, as mãos fresquíssimas,
algumas gotas de água ainda nos cabelos.
Com a manhã chega o anónimo respirar do mundo.
Um cheiro a pão fresco invade o pátio todo.
Vem dos lados do rio:
para levar à boca, ou ao poema.
//Eugénio de Andrade@@}}}}}}
Todos os anos uma espécie de relógio geológico-biológico misterioso nos desperta. A natureza parece saber o que tem de fazer, independentemente de termos tido um Inverno mais ou menos frio, mais ou menos chuvoso. O ciclo da Primavera de cada vez irrompe e enche-nos os olhos.
É este ciclo que grande parte das celebrações e festividades antigas celebram. Os Caretos, os Entrudos, os Serrar das Belhas, as Queimas de Judas, todos festejam o fim do Inverno e anunciam o novo ciclo de criação natural. Anunciam a Primavera, as plantações, e depois as colheitas.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Passageiro Clandestino| ./wikiImages/passageiro.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Politização da Arte'', 25 de Abril de 2022, Porto@@//}}}}}}
Mário Dionísio (MD) manteve entre 1950 e e 1989 um registo de tom diaristico a que começou por dar o nome de //Passageiro Clandestino//. Esses escritos de carácter intermitente e usando diferentes suportes estão a ser organizados pela sua filha, Eduarda Dionísio, sendo editados pela Casa da Achada / Centro Mário Dionísio. A Eduarda junta um conjunto de notas, sem as quais muito do seu conteúdo seria quase impenetrável para grande parte dos leitores. É um trabalho hercúleo, pela dimensão, pelo rigor e pela exigência que implica. MD é figura central em muitas das mais importantes polémicas no seio da esquerda portuguesa, em particular na história do PCP, e no interior dos movimentos artísticos em Portugal, em particular no chamado movimento neorrealista – impropriamente assim chamado, na opinião de Mário Dionísio.
Acredito que a consulta destes volumes irá ser fundamental para compreender alguns dos mistérios que adensam parte da história portuguesa nas décadas anteriores ao 25 de Abril.
A Eduarda teve a amabilidade de me convidar para o lançamento do volume III, na Casa da Achada, no dia 24 de Abril, cujo registo se situa entre 9-02-1971 e o 1º de Maio de 1974. São registos sobretudo dedicados à pintura, num período em que Mário Dionísio parece ter-se "zangado" com a escrita e, depois de algumas tentativas, parece desistir. Neste volume, numa entrada de Novembro de 1973, MD escreve, ao questionar-se sobre o porquê de ter de pintar, tal como antes tivera de escrever:
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//A transformar o que sinto e penso (o que sou, para realmente o ser) num objecto. É o que, aliás, define o artista – não o bom, o grande artista, mas qualquer artista, bom ou mau.//@@}}}}}}
Mas esse objecto não pode servir para uma mera satisfação pessoal. MD acrescenta:
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//...sendo por natureza intervencionista, é impossível deixar de comunicar – de apreciar, de ver se será bem isso ou bem assim, de tomar parte, de propor.//@@}}}}}}
A obra de arte é um objecto de intervenção social. MD não concebe a arte fora da política.
MD parece responder com as suas palavras à questão quase tão antiga quanto o mundo – que já nos acompanha pelo menos desde os Gregos, sem haver resposta satisfatória – "O que é a arte? O que é um artista?". Para MD um artista é aquele que tem necessidade de transformar o que sente e pensa, o que o inquieta em objectos. Esses objectos serão então a obra, neste caso a obra de arte. Muito mais tarde, no seio daquilo a que se convencionou chamar arte contemporânea – impropriamente assim chamada, neste caso na minha opinião - haverá quem reduza esta definição ao mínimo dos mínimos: "Arte é o que o artista diz que é arte". Já nem sequer precisa esse objecto de expressar o que artista pensa ou sente. Passa a valer tudo. Até uma cama, em que o tal artista dormiu, ou um copo cheio de água, bebida ou por beber.
Claro que mesmo a resposta de MD deixará muito (quase tudo?) em aberto, de que aliás ele próprio tem a percepção. Pois a grande questão será: "O que é que define o grande artista, a grande obra de arte?" E para essa questão continua a não haver resposta e creio que nunca haverá. Estamos perante um "conceito aberto", cujo conteúdo a história modifica ao longo do tempo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Ad Nauseam| ./wikiImages/adNauseam.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Ad Nauseam'', 10 de Setembro, 2022, Rebordelo@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//...E entre as danças tocadas ad nauseam pela banda de bordo
Debruço-me sobre o mar nocturno e tenho saudades de mim...//
Alvaro de Campos@@}}}}}}
Eu sei que há muito tempo que não viajo por aqui. Preguiças, certamente. Porque manter vivo esta //espécie de blog// dá algum trabalho. E outras andanças, que me mantiveram longe deste //dazibao// pessoal. Surgiu agora a oportunidade. Agarro-a com as mãos. Não a deixo escapar. Deixem-me vos contar esta história.
Estávamos em Trás-os-Montes. Ligamos a televisão para ouvir as notícias. Mas não havia notícias, apenas uma enxurrada, //ad nauseam// de relatos e de comentários sem interesse, sobre as exéquias da rainha. E o mesmo em todos os canais.
A noite estava boa, o firmamento magnifico. Sentámo-nos então cá fora, a receber do alto aquele nascer da lua esplendoroso. A lua quase cheia a aparecer por detrás dos pinheiros ao longe. A subir lentamente. A jogar às escondidas, disfarçando-se por detrás dos farrapos que vagarosamente deslizavam. Deslumbrante. A cerejeira. O pessegueiro. A prensa.
Fiz uma série dedicada a este espectáculo grátis que o céu nos ofereceu. E não perdi nenhuma notícia.
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|bgcolor(#ffffff):[img[A Raia no Serro| ./wikiImages/SerroRaia.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Raia no Serro'', 17 de Setembro, 2022, Serro, Rebordelo@@//}}}}}}
O Serro é delimitado a norte e a sul por afloramentos rochosos naturais. São fronteiras antigas de propriedade.
Toda a nossa vida é de alguma forma marcada por fronteiras, que nos são impostas ou que impomos a nós próprios. Fronteiras políticas, económicas. filosóficas, religiosas e artísticas.
A fotografia foi desde a sua "invenção" marcada por fronteiras muito rígidas, que lhe limitavam o campo de acção. Tem procurado rompê-las. Às vezes...
Porque romper fronteiras implica pôr em causa o //status quo// e como tal traz inevitavelmente resistência, luta e sacrifícios.
Também a nossa língua, ao longo da sua história, foi ora construindo ora destruindo fronteiras com o latim, com o galego, com o leonês, com o moçárabe e com o castelhano, apenas para referir as mais importantes.
Porque a chamada língua portuguesa, dentro das suas fronteiras linguísticas, demarcada das restantes, tem apenas cerca de 500 anos.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//A fronteira entre português antigo e português médio pode ser encontrada algures durante a época em que, finda a produção trovadoresca, se inicia a prosa histórica; em que a elevação ao trono do Mestre de Avis significa a falência da velha nobreza da fundação da nacionalidade e a conversão de Lisboa em centro do estado; mas também em que a ruptura da unidade galego-portuguesa se torna definitiva. Nos anos seguintes a língua sofrerá um processo de koineização e de emergência de ‘forças centrípetas’ (a corte, a literatura, o eixo Coimbra-Lisboa, a nacionalidade) que centralizarão a elaboração de um idioma nacional… as manifestações de nacionalidade reflectir-se-ão numa tendência para a unificação da língua e para a fixação de uma norma linguística. Norma que irá nascer no eixo ~Coimbra-Lisboa, agora centro vital da nação, residência da corte e antigo território moçárabe, terra reconquistada, repovoada e, por isso, receptiva a inovações, principalmente a inovações niveladoras. //(Esperança Cardeira, 2010)@@}}}}}}
''Nota Final'': O //Caderno do Património// nº2, que vai ser apresentado no 3º //Encontro Transfronteiriço//, em Mata dos Lobos, no dia 1 de Outubro, vai ter como tema central a RAIA e conterá um ensaio fotográfico colectivo dedicado à RAIA em ~Escarigo-Almofala, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Estorninhos na Raia| ./wikiImages/estorninhos.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Estorninhos na Raia'', Outubro, 2022, Escalhão, @@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//...
O que quer que tivesse acontecido
fora em sítios inacessíveis às notícias dos jornais
e aos flashes das máquinas fotográficas
voando agora como aves cegas à sua volta.//
{{indent{{{indent{Manuel António Pina}}}}}}@@}}}}}}
{{indent{{{indent{Cai a noite à minha volta
Cai a noite estilhaçada
Era uma imagem, mais nada
E a memória se solta}}}}}}
Lembrava-me bem daqueles bandos gigantescos de estorninhos. Em Setembro, ao fim do dia, escureciam o céu, mesmo antes do sol se pôr.
Era a Figueira da minha infância e da minha adolescência. Depois, subitamente, desapareceram do cenário dos meus olhos. Este ano, reencontrei-os, rasgou-se-me a memória, que deixou sair imagens que estavam presas dentro, por debaixo do tempo.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Cindy Sherman em Serralves| ./wikiImages/cindy01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Cindy Sherman em Serralves'', Dezembro, 2022, Museu de Serralves @@//}}}}}}
A Cindy Sherman nunca me convenceu. Desde que vi pela primeira vez os seus trabalhos, não tenho a certeza em que contexto, talvez quando uma fotografia sua foi apresentada como uma das primeiras aquisições (a primeira?) do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, que me pareceu muito artificial, demasiado plástico. Hoje estou convencido de que Cindy é sobretudo um produto de //marketing//, muito bem embrulhado, para vender, caro com certeza, a museus e a coleccionadores. A Arte como Títulos do Tesouro a ~Arte-Investimento. É uma receita que se repete, e vai continuar a repetir, enquanto houver compradores. Em rigor, em Cindy a fotografia é apenas uma ferramenta para obter aquele produto final, onde o que conta é a maquilhagem, o disfarce, a cenografia e por fim a produção das imagens e a escolha criteriosa dos lugares onde expor. Como boa "contemporânea", Cindy diz que não é fotógrafa e, no caso dela, aceito o argumento.
Não será por acaso que os trabalhos mais interessantes de Cindy são anteriores à enorme projecção que conseguiu com as //Untitled Fillm Stills// de 1977. A partir desse momento, encontrando quem a promovesse, reproduziu e ampliou a fórmula do sucesso. A partir dos //Stills//, Sherman abandona para sempre o preto e branco e trabalha a cores. Segundo Sherman, porque o P/B era muito nostálgico. A fotografia de Sherman comercializava-se de uma forma ultra-profissional.
"[Cindy´s] photographs have a glossy, high-quality finish in keeping with the codes and conventions of commercial photography". (Laura Mulvey in Kline, 1998)
E a história muda, outros dirão a história começa. Em menos de dez anos realizaria mais de 30 exposições individuais em todos os museus importantes dos EUA e da Europa. Tornara-se muito cedo numa //super-star// da chamada arte ou fotografia contemporânea.
A série de 12 retratos de 1981, logo a seguir aos //Stills//, referida muitas vezes como //Centerfolds//, originalmente encomendada para as páginas centrais da revista //Artforum//, pretendendo imitar as folhas centrais das revistas masculinas, seria determinante no seu sucesso. É uma série de retratos de jovens mulheres deitadas, podendo algumas sugerir convite erótico ou um estado de sonho (//rêverie//). Algumas parecem estar em estados emocionais extremos, aterrorizadas, desgostosas ou mergulhadas na melancolia. A proximidade dos retratos com o espectador transforma-nos, segundo Respini, em viewers/voyeurs. Nesta série, como noutras que se seguirão, Sherman assume o papel de corpo feminivo (pin-up girl) e de fotógrafo com olhar masculino (//male’s gaze//). Pela forma como força o olhar do espectador em corpos femininos, a série originou um debate em torno da condição das mulheres na sociedade, debate que aparentemente não estava nas expectativas da autora, mas que passou a estar, pelo menos a partir daí. Sherman, como uma nova Eco, condenada por Juno a duplicar o que ouve: “Eco passou tão só a duplicar as palavras” (Ovídio, v. 366), vai repetir o que dela escrevem, se o que escrevem for interessante:
"[Critics] saw the photographs as a comment on women as an erotic construction and fetish of the male gaze. Well, I know I was not consciously aware of this thing the ‘male gaze.’ It was the way I was shooting, …not my knowledge of feminist theory. (Sherman, 1997, in Respini, 2012)
Quando escreveram que Cindy questionava questões sobre a situação das mulheres e se posicionava no movimento feminista, Cindy passou a ser feminista. E o feminismo parece que aumentou o preço das obras.
“Artist’s accounts of her own intentions often conflict with the scholarly debates about feminism and the role of women in her pictures”. (Respini, 2012)
À pergunta se nos retratos fantasia, Sherman responde: Not really—because if I had fantasies it would be about being rich and not having to take photographs, rather than about looking dirty and ripped up, or beat up, or whatever".
Há uns tempos atrás pensámos iniciar uma série, em que convidávamos pessoas para numa apresentação comparar a obra de dois autores, debaixo da ideia "deste(a) gosto, deste(a) não gosto". Eu aceitei o repto com duas autoras: Claude Cahun e Cindy Sherman. O auto-retrato, a máscara e a representação aproximam-nas, mas tudo o resto as diferencia. Aliás, em Cindy, não se pode falar verdadeiramente de auto-retrato pois o que ela faz são interpretações de personagens-tipo. No fim de uma entrevista a Lisbet Nilson, à pergunta se alguma vez fez um auto-retrato, ela responde: “Not really. ”. Nilson insiste “did you ever want to do a self-portrait in the sense of an artist consciously trying to capture her own persona?” E ela responde liminarmente: “No!” E então Nilson pergunta, se não gostaria um dia de o fazer, e Sherman responde: “It would be harder to do, because I couldn't really want to look bad, you know? You'd start thinking, 'Well, you don't want to look too good, but you do want to look artistic and smart. . . 'That, to me, would just be a big ego trip”.
“I couldn't really want to look bad, you know”, confessa Sherman. Se se retratasse, se o espelho que usa servisse para se olhar, teria que encarar a forma como se representava para os outros a verem, teria de confrontar o mito de Narciso, em vez do mito de Pigmalião, de que parece muito mais próxima.
À pergunta se podemos encontrar narrativas naqueles retratos, Sherman responde que talvez se possam adivinhar pequenas histórias, mas: “But they are not developed stories in the sense of having a beginning, middle, and end.” E à frente acrescenta “My photographs aren't really about any particular story, but about roles.”
Cindy fotografa //roles// e desempenha um //role// naquilo que se chama arte ou fotografia contemporânea. O //role// de Cindy é vender e vender caro, e fazer muita gente ganhar muito dinheiro.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Serro, pois...| ./wikiImages/serro_pois01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Origem do Mundo'', Janeiro 2023, Serro, Rebordelo @@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//...
''A Origem do Mundo''
De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra,
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra; e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.//
Nuno Júdice@@}}}}}}
O Serro tem sido (é?, será?) um território de olhares (im)possíveis, de pesquisas, de ideias, de projectos, mesmo se por concretizar.
Realmente sabemos que Monet pintou nenúfares do seu jardim aquático, em sua casa em Giverny, repetidamente, até à morte.
Não é necessário viajar muito para encontrar o que nos seduz.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Arco Maior, Escola Infante D. Henrique| ./wikiImages/arcoMaior01.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''Arco Maior'', Fevereiro 2023, Escola Industrial Infante D. Henrique, Porto@@//}}}}}}
Enquanto ainda estudava na FEUP, creio que no 3º ano, surgiu a oportunidade de dar aulas de Matemática na Escola Industrial Infante D. Henrique.
Gostava de o fazer e era uma forma de conseguir alguma autonomia financeira, pois na altura o dinheiro no bolso era sempre pouco. Eram aulas especiais; dava aulas à noite, a pessoas com muito mais vida do que eu.
Estive nessa escola até terminar a licenciatura e ser contratado como assistente pela FEUP.
Não me lembro de lá ter voltado a entrar. Estive lá hoje, a convite do António Martins Teixeira, companheiro de viagem no Reino das Imagens, para almoçar e visitar o fantástico projecto educativo [[Arco Maior|https://arcomaior.pt]]
, um projecto que, na minha ignorância, desconhecia.
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|bgcolor(#ffffff):[img[SERRO| ./wikiImages/serro_014.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''SERRO'', Março 2023, Rebordelo@@//}}}}}}
Poderão perguntar e eu pergunto-me também muitas vezes, e já o fiz aqui, porquê regressar ao mesmo sítio, para fotografar as mesmas coisas: as mesmas pedras, as mesmas árvores, as mesmas ervas?
Porque de cada vez que regresso vejo as mesmas coisas de outra forma, como se as mesmas coisas não fossem já as mesmas.
Desde a antiguidade que podemos observar que os filósofos se agrupam em duas grandes correntes. Os que valorizam a essência das coisas, a sua identidade e os que valorizam a sua transformação, a mudança constante. Heráclito e Parménides como representantes maiores destes dois pensamentos.
Talvez ninguém como Camões tenha conseguido expressar essa mudança permanente nas coisas e em nós:
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.//
Luís Vaz de Camões@@}}}}}}
Mudam as coisas, mudamos nós; mudamos nós, mudam as coisas, num ciclo permanente de transformação. E eu regresso ao Serro...
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|bgcolor(#ffffff):[img[Amnesia in Litteris| ./wikiImages/memoria03.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Sobradillo, Espanha@@//}}}}}}
Lembro bem este espaço algo fantasmagórico, no jardim de uma casa esvaziada e longe de tudo em Sobradillo, a caminho do rio Águeda. O dia ameaçava tempestade. Choveu a potes e tivemos de nos abrigar num refúgio de pastor nas arribas do Águeda.
A fotografia e a memória.
Há uns meses que dedico uma parte do meu tempo a registar e a organizar informação sobre os livros da minha biblioteca. Não sabia o que tinha ou sabia que tinha, mas não sabia onde. Comecei pela fotografia, em que creio possuir uma biblioteca razoável, ou mais exactamente pela fotografia e pelo pensamento sobre arte e fotografia, mas conclui que teria de alargar esse registo e organização aos outros livros. Isto obrigou-me a percorrer as prateleiras de todos os móveis, localizados em diversas salas do apartamento e em diferentes locais, uma a uma, retirar os livros e registar a sua informação e localização em folha Excel. É trabalhoso e é moroso, mas o sistema é simples.
E vou encontrando livros de que já não me lembrava e livros que não li.
Esta semana um pequeno livro do autor alemão Patrick Süskind, de que nem me lembrava de ter comprado, atraiu-me a atenção. Gosto de livros pequeninos, para levar comigo nos transportes públicos ou na bicicleta, para ler na viagem ou à sombra de uma árvore. O livrinho de Süskind chamado "Um Combate e Outras Histórias" é muito bom. O último texto chama-se "Amnesia in Litteris" e nessa história o narrador conta a sua experiência com os livros da sua biblioteca. Como percorre as prateleiras, com obras de autores notáveis e como esqueceu o conteúdo de todos esses livros, a menos de um ou outro pormenor insignificante. Livros que leu e releu muitas vezes. Livros sublinhados e anotados por ele, quando os leu e releu no passado. Até que chega a um livrinho, que lhe chama a atenção sem saber porquê, e que retira da prateleira para ler. "Noto que fiz uma boa escolha - uma belíssima escolha, aliás." E vai fazendo elogios ao livro. Até que chega a uma passagem que o exalta. Diz-nos que pegou no lápis para o anotar: "Tens de assinalar isto. Vais escrever na margem um 'Muito Bem' e colocar à frente um enorme ponto de exclamação e anotar com algumas palavras-chave o fluxo do pensamento que este passo desencadeou em ti, como auxiliar de memória e como reverência documentada perante o autor que tão magnificamente te iluminou". Mas quando se prepara para escrever o "Muito Bem", repara que o "Muito Bem" já lá está, com o tal ponto de admiração, e que já registara o resumo de tópicos que aquela passagem lhe despertava.
Continuo a ler a história e, para minha estupefacção, encontro na margem da folha numa passagem à frente sobre a desolação perante o esquecimento de muitas coisas que não queríamos esquecer, um sublinhado meu a lápis dizendo "poderia ter sido eu a escrever isto". Mas, agora sei que, mesmo se o tivesse escrito, poderia igualmente ter esquecido.
A nossa relação com a memória e com o esquecimento é complexa. Sei apenas que a minha fotografia desempenha um papel relevante nessa relação. É mais difícil esquecer o que fotografo, mesmo se coisas aparentemente banais, que se impõem na memória a grandiosidades obliteradas.
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|bgcolor(#ffffff):[img[Eduarda| ./wikiImages/eduarda.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, ''A Eduarda'', 25 de Abril 2022, Lisboa@@//}}}}}}
Há muito que não escrevia nesta espécie de //blog//. São preguiças! Lembro-me de falarmos dele, de cada vez que falava ao telefone com a Eduarda. Ela estava atenta e ia dizendo o que pensava. Achava graça a um engenheiro que escrevia e que fazia fotografia, e que teve interesse pelos chamados neorrealistas e pelo seu pensamento.
No dia de 26 de Maio fui a Lisboa com os olhos no chão. Seria a despedida da Eduarda, uma despedida sentida dos seus amigos, debaixo das copas floridas dos jacarandás no Alto de S. João.
Cheguei com tempo a Santa Apolónia e decidi caminhar até ao local da cerimónia. Não era longe.
Levava comigo a minha pequena câmara. Durante a caminhada fui registando imagens. Com elas construo esta série a que chamo DESVIO (ver link abaixo), porque a vida mais não é do que uma sucessão de desvios no espaço e no tempo, e que dedico à Eduarda, que partiu para Sul com os Flamingos. Até já
https://photos.app.goo.gl/pGsvPoYfDMiQ1Fj49
|bgcolor(#ffffff):[img[Muros e Memória| ./wikiImages/memoria04.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, os Muros de Vilar de Amargo@@//}}}}}}
Não sabia nada ou quase nada de John Ruskin. Era um nome de um inglês, um pensador, um professor de Oxford, associado à Critica de Arte e ligado à História do Pensamento Europeu. Mas ao ler um texto recomendado, no âmbito de um trabalho na FLUP, mordeu-me a pulga atrás da orelha. Ruskin falava de "Verdade" e de "Imitação" na Arte. As suas palavras fizeram soar as campainhas todas. Não teria Ruskin estado de alguma forma ligado à fotografia? Fui à procura. Bingo! Ruskin terá descoberto o daguerreótipo e terá ficado fascinado.
{{indent{{{indent{@@font-size:11px;//Daguerreotypes taken by this vivid sunlight are glorious things. It is very nearly the same thing as carrying off the palace itself: every chip of stone and stain is there, and of course there is no mistake about proportions. . . It is a noble invention - say what they will of it - and anyone who has worked and blundered and stammered as I have done for four days, and then sees the thing he has been trying to do so long in vain done perfectly and faultlessly in half a minute won't abuse it afterwards. // (em carta de John Ruskin de Veneza ao pai, em 7 Outubro de 1845)@@}}}}}}
Parte desse fascínio terá desaparecido com o avançar da idade, mas isso é outra história. Descobriu Itália e sobretudo Veneza, que o encantava. Há uma colecção significativa de imagens de Ruskin, sobretudo daguerreótipos, de Veneza e dos Alpes. E para além de fotógrafo, desenhou e aguarelou com qualidade.
Veneza era um vício e temia que a cidade perecesse perante a degradação crescente da sua arquitectura.
Decidiu então levar a cabo uma missão de fotografar todos os tesouros artísticos de Veneza. Missão que começou a realizar entre 1849 e 1852, em estadias prolongadas em Veneza durante a Primavera. As primeiras imagens seriam publicadas em 1851 num folio chamado //Examples of the Architecture of
Venice//. Voltaria em 1871 com a pretensão de documentar extensivamente a cidade e criar uma colecção destinada ao Museu de St George's em Sheffield, onde encontramos não só os maiores palácios e igrejas de Veneza, mas também detalhes de colunas, mosaicos, esculturas e ainda imagens das ruas estreitas e dos becos da cidade desse tempo.
Ruskin construíra a sua //Arca de Noé//. A fotografia como forma de sobrevivência. Como resistência à morte.
Foram descobertas recentemente mais de cem imagens, que estavam perdidas, de John Ruskin, tendo sido editado o livro //Carrying Off the Palaces: John Ruskin's Lost Daguerreotypes// pelo investigador Bernard Quaritch.
Por coincidência(?), neste último fds, chamou-me a atenção um filme, que tinha passado num dos canais AXN, ao perceber que seria sobre Effie Gray. Euphemie Gray casara com John Ruskin. Divorciou-se do professor de Oxford pouco depois, história que não nos interessa aqui, e casou com John Everett Millais, com quem viveu até à morte. Millais é um célebre pintor, membro do grupo dos ~Pré-Rafaelitas. A conhecida pintura de Ofélia afogada será um retrato de Effie. Curiosamente, no filme aparece também a fotógrafa e pensadora Elisabeth Eastlake, como protectora de Effie, interpretada por Emma Thompson, autora do guião. E há uma cena no filme, breve, de alguns segundos, quase imperceptível, em Veneza, em que Effie traz da rua e mostra a Ruskin um daguerreótipo. Terá sido ela a mostrar-lhe uma imagem fotográfica pela primeira vez? Terá sido aqui o inicio de toda a sua aventura fotográfica?
Desde há uns anos a esta parte tenho ido com mais frequência às terras da Raia, berço dos meus avós e da minha mãe. Os muros em pedra da região de Figueira encantam-me, sem saber bem porquê, e tenho-os fotografado. Soube recentemente que estão a ser desmanchados e vendidos para Espanha, para serem usados na construção. Poderá a fotografia salvá-los da morte definitiva? Do esquecimento? Seremos capazes de construir outra Arca de Noé?
O arquitecto Manuel Correia Fernandes, que nos acompanhou nas ultimas andanças por essas terras da Raia, escreveu um artigo sobre estes muros de encanto, que vai ser publicado no //Caderno do Património// nº3. Mais uma tábua para a Arca que pretendemos lançar à água.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Serralves e a AC| ./wikiImages/regressarSerralves.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Museu de Serralves, 26 de Novembro de 2023@@//}}}}}}
Há muito que mantinha esta minha espécie de //blog// silenciosa.
Mas regressei a Serralves, o que me deu um bom pretexto para voltar ao tema da chamada Arte Contemporânea (AC).
No átrio de entrada do Museu, um espaço sempre reservado para uma peça da exposição, vejo este carrinho, e fico sem saber se é uma obra de arte ou se se trata apenas de um carrinho de apoio a uma nova montagem. Pergunto a um amigo que me acompanha e também não me sabe responder...
Esta situação de ambiguidade/perplexidade é perfeitamente natural no contexto da chamada AC. Realmente, e ao contrário do que acontecia na Arte Clássica e nos vários Modernismos dos séculos XIX e XX, antes da ruptura ontológica que a chamada AC provocou, quando as obras eram avaliadas pelas suas qualidades, as obras de AC não são determinadas por qualidades intrínsecas às obras, mas por um contexto extrínseco, fora da obra.
Se podíamos dizer que até meados do século XX o conceito de obra de arte era aberto, tal como o definiu Wittgenstein e depois Morris Weitz, ou seja, o conceito "obra de arte" expandia-se e propiciava a entrada de novos elementos, que não satisfaziam critérios anteriores, a partir daí o conceito de "obra de arte" passou a ser totalmente escancarado. Escancarado, sim, porque qualquer objecto se pode transformar em obra de arte, desde que devidamente curado. E não é de queijos ou presuntos que aqui falamos. É este curador-criador o novo curador da chamada AC. Assim, uma peça industrial, fabricada aos milhões nos EUA, um simples urinol intitulado //Fountain// (Duchamp), ou um copo de vidro com água intitulado //Oak Tree// (Michael ~Craig-Martin), ou um cavalo real dependurado do tecto intitulado //Novecento// (Maurizio Cattelan), ou pequenas latas cheias de merda //Merde d'Ártiste// (Piero Manzoni), se transformam "miraculosamente" em obras de arte contemporânea e podem atingir valores astronómicos.
A pergunta é pois pertinente. O objecto fotografado pode ser ou não ser uma obra de AC. Tudo depende da iniciativa de um curador, de a considerar como obra, de lhe associar um qualquer conceito, e de obter a cumplicidade do museu para a mostrar.
Os curadores contemporâneos são Reis Midas da chamada Arte Contemporânea. Claro que não falo daqueles que adoptam o titulo de curadores só porque tal título lhes realça a patine.
<br>
|bgcolor(#ffffff):[img[Não sei se não será um risco| ./wikiImages/cerejeira02.jpg]]|
{{indent{{{indent{//@@font-size:10px;©Renato Roque, Rebordelo, Serro, 2023@@//}}}}}}
{{indent{{{indent{@@font-size:12px;//''Poema para um futuro próximo ''
Não sei se não será um risco
Pousares o meu corpo nos ramos mais altos da cerejeira
A cerejeira está velha e frágil
Já quase não dá cerejas
ainda que continuem a ser as melhores cerejas do mundo
Hoje, do cimo da árvore
ao olhar a paisagem, nunca ela me pareceu tão real
Separado o tempo do ser
tudo parece poder ser eterno
//@@}}}}}}
<br>
<<options>>
<<option chkUseInclude>> Include ~TiddlyWikis (IncludeList | IncludeState | [[help|http://tiddlywiki.abego-software.de/#%5B%5BIncludePlugin%20Documentation%5D%5D]])
^^(Reload this ~TiddlyWiki to make changes become effective)^^
Background: #fff
Foreground: #000
PrimaryPale: #8cf
PrimaryLight: #18f
PrimaryMid: #04b
PrimaryDark: #014
SecondaryPale: #ffc
SecondaryLight: #fe8
SecondaryMid: #db4
SecondaryDark: #841
TertiaryPale: #eee
TertiaryLight: #ccc
TertiaryMid: #999
TertiaryDark: #666
Error: #f88
/* NOVAS CORES*/
TitleBackground: #422
Title: #fff
TitleLink: #fff
TiddlerTitle: #000;
TiddlerSubTitle: #999
Link: #963
LinkOverBackground: #963
LinkOver: #fff
Header: #000
HeaderBackground: #fff
Button: #666
ButtonBorder: #fff
ButtonBackground: #fff
ButtonOver: #741
ButtonOverBackground: #FC7
ButtonOverBorder: #FC7
ButtonActive: #741
ButtonActiveBackground: #fc7
ButtonActiveBorder: #Fc7
TabSelected: #741
TabSelectedBackground: #fc4
TabNotSelected: #fff
TabNotSelectedBackground: #422
TabContent: #000 /*texto que não é tag nem tiddler*/
TabContentBackground: #fc4
TabContentBorder: #000
TabItem: #741
TabItemOver: #fff
TabItemOverBackground: #200
SecondTable: #741
SecondTableBackground: #200
SecondTableItem: #d94
SecondTableItemOverBackground: #d94
SecondTableItemOver: #741
SideBar: #000
SideBarBackground: #fff
SideOptions: #000
SideOptionsBackground: #fc4
Message: #fff
MessageBackground: #f10
MessageBorder: #000
TagBackground:#fff
TagBackground2:#fff
Tag: #666
Tag2: #f10
TiddlerTableBorder: #000
InputBorder: #000
SearchBorder: #741
ButtonTop: #fc4
ButtonTopOver: #741
Decidi experimentar uma ferramenta do tipo Wiki, chamada Tiddly Wiki, para desenvolver esta espécie de blog, por me parecer que ela possibilita uma navegação simples e agradável.
A informação está organizada em pequenos pacotes ou ''tiddlers''. A página de entrada contém por defeito os últimos tiddlers, todos os outros podem ser procurados na tabela de busca à direita. Cada tiddler tem associados ''tags'' que permitem a sua fácil procura, por data ou por tipo. Por exemplo todos os pacotes com TAG=2005-08 corresponderão a informação que disponibilizei durante o mês de Agosto de 2005. Todos os pacotes com TAG=Alendouro corresponderão a imagens de ~Trás-os-Montes. Utilizando esta facilidade, (as ~TAGs) ou o mecanismo de //Search//, facilmente se descobrem os pacotes de informação - tiddlers - que se pretendam.
//Se quiserem fazer algum comentário, podem contactar-me por//
[[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]
/***
|Name|CoreTweaks|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#CoreTweaks|
|Version|none|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.2|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides|replaceSelection, restart, config.macros.edit.handler, Story.prototype.closeTiddler, Story.prototype.refreshTiddler, Slider.prototype.tick |
|Description|a small collection of overrides to TW core functions|
This tiddler contains some quick tweaks and modifications to TW core functions to provide minor changes in standard features or behavior. It is hoped that some of these tweaks may be incorporated into later versions of the TW core, so that these adjustements will be available without needing these add-on definitions.
>''//Note: the changes contained in this tiddler are ONLY applicable for the current release of TiddlyWiki. Please view //[[CoreTweaksArchive]]// for tweaks and modifications that may be used with earlier versions of TiddlyWiki//''
----
***/
// // {{groupbox small{
// // calculate version number for conditional inclusion of tweaks below...
//{{{
var ver=version.major+version.minor/10;
//}}}
// // }}}
// // {{groupbox small{
/***
BUG: missing links list includes items contained within "quoted" text (i.e., content that will not render as wiki-syntax, and so CANNOT create any tiddler links, even if the quoted text matches valid link syntax)
FIX: remove content contained between certain delimiters before scanning tiddler source for possible links.
Delimiters include:
{{{
/%...%/
{{{...}}}
"""..."""
<nowiki>...</nowiki>
<html>...</html>
<script>...</script>
}}}
***/
//{{{
Tiddler.prototype.coreTweaks_changed = Tiddler.prototype.changed;
Tiddler.prototype.changed = function()
{
var savedtext=this.text;
// remove 'quoted' text before scanning tiddler source
this.text=this.text.replace(/\/%((?:.|\n)*?)%\//g,""); // /%...%/
this.text=this.text.replace(/\{{3}((?:.|\n)*?)\}{3}/g,""); // {{{...}}}
this.text=this.text.replace(/"{3}((?:.|\n)*?)"{3}/g,""); // """..."""
this.text=this.text.replace(/\<nowiki\>((?:.|\n)*?)\<\/nowiki\>/g,""); // <nowiki>...</nowiki>
this.text=this.text.replace(/\<html\>((?:.|\n)*?)\<\/html\>/g,""); // <html>...</html>
this.text=this.text.replace(/\<script((?:.|\n)*?)\<\/script\>/g,""); // <script>...</script>
this.coreTweaks_changed.apply(this,arguments);
// restore quoted text to tiddler source
this.text=savedtext;
};
//}}}
// // }}}
// // {{groupbox small{
/***
This tweak adds mouseover handling to the "permaview" button, so that HREF can be automatically set to the correct permaview link. This permits use of browser's right-click menu to "bookmark this link..." (or similar).
***/
//{{{
config.macros.permaview.handler = function(place)
{
var btn=createTiddlyButton(place,this.label,this.prompt,this.onClick);
addEvent(btn,"mouseover",function(event) {
var links = [];
story.forEachTiddler(function(title,element) { links.push(String.encodeTiddlyLink(title)); });
var newURL=document.location.href;
var hashPos=newURL.indexOf("#");
if (hashPos!=-1) newURL=newURL.substr(0,hashPos);
this.href=newURL+"#"+encodeURIComponent(links.join(" "));
});
};
//}}}
// // }}}
// // {{groupbox small{
// // This tweak adds URL paramifier handlers for "hide:elementID" and "show:elementID". This is useful for forcing the display state of specific TW page elements, without requiring StyleSheet changes. For example, if your customized StyleSheet hides the sidebar (useful for 'read only' published documents), you can force it to display when you need to edit the document by adding {{{#show:sidebar}}} to the document URL. Alternatively, you might want to supress non-tiddler content when printing by hiding the sidebars and header (e.g., {{{#hide:mainMenu hide:sidebar hide:header}}})
//{{{
if (config.paramifiers) { // check for backward-compatibility
config.paramifiers.hide = { onstart: function(id) { var e=document.getElementById(id); if (e) e.style.display="none"; } };
config.paramifiers.show = { onstart: function(id) { var e=document.getElementById(id); if (e) e.style.display="block"; } };
}
//}}}
// // }}}
// // {{groupbox small{
// // This HIJACK tweak pre-processes source content to convert "double-backslash-newline" into {{{<br>}}} before wikify(), so that literal newlines can be embedded in line-mode wiki syntax (e.g., tables, bullets, etc.). Based on a suggestion from Sitaram Chamarty.
//{{{
window.coreWikify = wikify;
window.wikify = function(source,output,highlightRegExp,tiddler)
{
if (source) arguments[0]=source.replace(/\\\\\n/mg,"<br>");
coreWikify.apply(this,arguments);
}
//}}}
/***
|''Name:''|CryptoFunctionsPlugin|
|''Description:''|Support for cryptographic functions|
***/
//{{{
if(!version.extensions.CryptoFunctionsPlugin) {
version.extensions.CryptoFunctionsPlugin = {installed:true};
//--
//-- Crypto functions and associated conversion routines
//--
// Crypto "namespace"
function Crypto() {}
// Convert a string to an array of big-endian 32-bit words
Crypto.strToBe32s = function(str)
{
var be = Array();
var len = Math.floor(str.length/4);
var i, j;
for(i=0, j=0; i<len; i++, j+=4) {
be[i] = ((str.charCodeAt(j)&0xff) << 24)|((str.charCodeAt(j+1)&0xff) << 16)|((str.charCodeAt(j+2)&0xff) << 8)|(str.charCodeAt(j+3)&0xff);
}
while (j<str.length) {
be[j>>2] |= (str.charCodeAt(j)&0xff)<<(24-(j*8)%32);
j++;
}
return be;
};
// Convert an array of big-endian 32-bit words to a string
Crypto.be32sToStr = function(be)
{
var str = "";
for(var i=0;i<be.length*32;i+=8)
str += String.fromCharCode((be[i>>5]>>>(24-i%32)) & 0xff);
return str;
};
// Convert an array of big-endian 32-bit words to a hex string
Crypto.be32sToHex = function(be)
{
var hex = "0123456789ABCDEF";
var str = "";
for(var i=0;i<be.length*4;i++)
str += hex.charAt((be[i>>2]>>((3-i%4)*8+4))&0xF) + hex.charAt((be[i>>2]>>((3-i%4)*8))&0xF);
return str;
};
// Return, in hex, the SHA-1 hash of a string
Crypto.hexSha1Str = function(str)
{
return Crypto.be32sToHex(Crypto.sha1Str(str));
};
// Return the SHA-1 hash of a string
Crypto.sha1Str = function(str)
{
return Crypto.sha1(Crypto.strToBe32s(str),str.length);
};
// Calculate the SHA-1 hash of an array of blen bytes of big-endian 32-bit words
Crypto.sha1 = function(x,blen)
{
// Add 32-bit integers, wrapping at 32 bits
add32 = function(a,b)
{
var lsw = (a&0xFFFF)+(b&0xFFFF);
var msw = (a>>16)+(b>>16)+(lsw>>16);
return (msw<<16)|(lsw&0xFFFF);
};
// Add five 32-bit integers, wrapping at 32 bits
add32x5 = function(a,b,c,d,e)
{
var lsw = (a&0xFFFF)+(b&0xFFFF)+(c&0xFFFF)+(d&0xFFFF)+(e&0xFFFF);
var msw = (a>>16)+(b>>16)+(c>>16)+(d>>16)+(e>>16)+(lsw>>16);
return (msw<<16)|(lsw&0xFFFF);
};
// Bitwise rotate left a 32-bit integer by 1 bit
rol32 = function(n)
{
return (n>>>31)|(n<<1);
};
var len = blen*8;
// Append padding so length in bits is 448 mod 512
x[len>>5] |= 0x80 << (24-len%32);
// Append length
x[((len+64>>9)<<4)+15] = len;
var w = Array(80);
var k1 = 0x5A827999;
var k2 = 0x6ED9EBA1;
var k3 = 0x8F1BBCDC;
var k4 = 0xCA62C1D6;
var h0 = 0x67452301;
var h1 = 0xEFCDAB89;
var h2 = 0x98BADCFE;
var h3 = 0x10325476;
var h4 = 0xC3D2E1F0;
for(var i=0;i<x.length;i+=16) {
var j,t;
var a = h0;
var b = h1;
var c = h2;
var d = h3;
var e = h4;
for(j = 0;j<16;j++) {
w[j] = x[i+j];
t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),d^(b&(c^d)),w[j],k1);
e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
}
for(j=16;j<20;j++) {
w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),d^(b&(c^d)),w[j],k1);
e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
}
for(j=20;j<40;j++) {
w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),b^c^d,w[j],k2);
e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
}
for(j=40;j<60;j++) {
w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),(b&c)|(d&(b|c)),w[j],k3);
e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
}
for(j=60;j<80;j++) {
w[j] = rol32(w[j-3]^w[j-8]^w[j-14]^w[j-16]);
t = add32x5(e,(a>>>27)|(a<<5),b^c^d,w[j],k4);
e=d; d=c; c=(b>>>2)|(b<<30); b=a; a = t;
}
h0 = add32(h0,a);
h1 = add32(h1,b);
h2 = add32(h2,c);
h3 = add32(h3,d);
h4 = add32(h4,e);
}
return Array(h0,h1,h2,h3,h4);
};
}
//}}}
Cumplescritas é um projecto que iniciei nesta espécie de blog a partir de fotografia. É um projecto para o qual convidei amigos, quase todos [[cúmplices referenciados|http://www.renatoroque.com/rroque/cumplices.htm]] de há muito para todo o tipo de banditagens foto-poéticas. Todos aceitaram enviar um pequeno texto para acompanhar uma fotografia.
É um projecto sem prazo, sem plano, que vai ser desenvolvido à medida das respostas que receber.
A lista ao lado reúne as contribuições que já recebi.
[[Introdução]] [[2024-02 - Não sei se não será um risco]] [[2023-11 - Regressar a Serralves]] [[2023-07 - John Ruskin e a Fotografia como Memória]] [[2023-06 - A Memória e o Esquecimento]] [[2023-06 - Voaste para o Sul com os Flamingos]] [[2023-03- Regressar]] [[2023-02 - Arco Maior]] [[2023-02 - A Origem do Mundo]] [[2023-01 - Olha a Cindy]] [[2022-10 - Estorninhos na Raia]] [[2022-09 - Fronteiras]] [[2022-09 - Ad Nauseam]] [[2022-05 - Passageiro Clandestino]] [[2022-04 - Primavera]] [[2022-03 - Jogo do Galo]] [[2022-03 - Lagartos e Sardões]] [[2022-02 - Língua ou Línguas?]] [[2022-02 - Relato de uma Viagem a uma Exposição]] [[2022-01 - Palavras vs Imagens]] [[2022-01 - Lagarto Voador no MIRA FORUM]] [[2021-11 - Lagartos no Serro I]] [[2021-10 - A Raia II]] [[2021-09 - A Raia]] [[2021-08 - Ideia de Montanha]] [[2021-07- PAN 2021]] [[2021-07 - As MÃOS e o PÃO (PAN)]] [[2021-05 - Que nos resta fazer?]] [[2021-05 - DisseQueDisse]] [[2021-04 - Photographer Without Camera]] [[2021-04 - Impaciência do conhecimento]] [[2021-03 - Fotografias Sem Memória II]] [[2021-03 - Fotografar o Silêncio]] [[2021-02 - Corpo-Diário]] [[2021-02 - Cicatriz]]
/***
|''Name:''|DeprecatedFunctionsPlugin|
|''Description:''|Support for deprecated functions removed from core|
***/
//{{{
if(!version.extensions.DeprecatedFunctionsPlugin) {
version.extensions.DeprecatedFunctionsPlugin = {installed:true};
//--
//-- Deprecated code
//--
// @Deprecated: Use createElementAndWikify and this.termRegExp instead
config.formatterHelpers.charFormatHelper = function(w)
{
w.subWikify(createTiddlyElement(w.output,this.element),this.terminator);
};
// @Deprecated: Use enclosedTextHelper and this.lookaheadRegExp instead
config.formatterHelpers.monospacedByLineHelper = function(w)
{
var lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source);
if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart) {
var text = lookaheadMatch[1];
if(config.browser.isIE)
text = text.replace(/\n/g,"\r");
createTiddlyElement(w.output,"pre",null,null,text);
w.nextMatch = lookaheadRegExp.lastIndex;
}
};
// @Deprecated: Use <br> or <br /> instead of <<br>>
config.macros.br = {};
config.macros.br.handler = function(place)
{
createTiddlyElement(place,"br");
};
// Find an entry in an array. Returns the array index or null
// @Deprecated: Use indexOf instead
Array.prototype.find = function(item)
{
var i = this.indexOf(item);
return i == -1 ? null : i;
};
// Load a tiddler from an HTML DIV. The caller should make sure to later call Tiddler.changed()
// @Deprecated: Use store.getLoader().internalizeTiddler instead
Tiddler.prototype.loadFromDiv = function(divRef,title)
{
return store.getLoader().internalizeTiddler(store,this,title,divRef);
};
// Format the text for storage in an HTML DIV
// @Deprecated Use store.getSaver().externalizeTiddler instead.
Tiddler.prototype.saveToDiv = function()
{
return store.getSaver().externalizeTiddler(store,this);
};
// @Deprecated: Use store.allTiddlersAsHtml() instead
function allTiddlersAsHtml()
{
return store.allTiddlersAsHtml();
}
// @Deprecated: Use refreshPageTemplate instead
function applyPageTemplate(title)
{
refreshPageTemplate(title);
}
// @Deprecated: Use story.displayTiddlers instead
function displayTiddlers(srcElement,titles,template,unused1,unused2,animate,unused3)
{
story.displayTiddlers(srcElement,titles,template,animate);
}
// @Deprecated: Use story.displayTiddler instead
function displayTiddler(srcElement,title,template,unused1,unused2,animate,unused3)
{
story.displayTiddler(srcElement,title,template,animate);
}
// @Deprecated: Use functions on right hand side directly instead
var createTiddlerPopup = Popup.create;
var scrollToTiddlerPopup = Popup.show;
var hideTiddlerPopup = Popup.remove;
// @Deprecated: Use right hand side directly instead
var regexpBackSlashEn = new RegExp("\\\\n","mg");
var regexpBackSlash = new RegExp("\\\\","mg");
var regexpBackSlashEss = new RegExp("\\\\s","mg");
var regexpNewLine = new RegExp("\n","mg");
var regexpCarriageReturn = new RegExp("\r","mg");
}
//}}}
<!--{{{-->
<div class='toolbar' macro='toolbar +saveTiddler -cancelTiddler deleteTiddler'></div>
<br>
<div class='title' macro='view title'></div>
<div class='editor' macro='edit title'></div>
<div macro='annotations'></div>
<div class='editor' macro='edit text'></div>
<div class='editor' macro='edit tags'></div><div class='editorFooter'><span macro='message views.editor.tagPrompt'></span><span macro='tagChooser'></span></div>
<!--}}}-->
/***
|Name|GotoPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#GotoPlugin|
|Version|1.4.0|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides||
|Description|view any tiddler by entering it's title - displays list of possible matches|
''View a tiddler by typing its title and pressing //enter//.'' Input just enough to uniquely match a single tiddler title and ''press //enter// to auto-complete the title for you!!'' If multiple titles match your input, a list is displayed. You can scroll-and-click (or use arrows+enter) to select/view a tiddler, or press //escape// to close the listbox to resume typing. When the listbox is ''//not//'' being displayed, press //escape// to clear the current text input and start over.
Note: ''At any time, you can move the focus directly to the text input field by using the ~ALT-G keyboard shortcut.''
!!!!!Examples
<<<
| //IMPORTANT NOTE:// ''As of version 1.4.0 (2007.04.25), the {{{<<goto>>}}} macro has been renamed to {{{<<gotoTiddler>>}}}'' |
syntax: {{{<<gotoTiddler quiet insert inputstyle liststyle>>}}}
All parameters are optional.
* ''quiet'' prevents //automatic// display of the list as each character is typed. To view the list when ''quiet'', use //down// or //enter//.
* ''insert'' causes the selected tiddler title to be inserted into the tiddler source currently being edited (use with EditTemplate)
* ''inputstyle'' and ''liststyle'' are CSS declarations that modify the default input and listbox styles. Note: styles containing spaces must be surrounded by ({{{"..."}}} or {{{'...'}}}) or ({{{[[...]]}}}).
{{{<<gotoTiddler>>}}}
<<gotoTiddler>>
{{{<<gotoTiddler quiet>>}}}
<<gotoTiddler quiet>>
{{{<<goto width:20em width:20em>>}}}
<<gotoTiddler width:20em width:20em>>
You can also invoke the macro with the "insert" keyword. When used in the [[EditTemplate]], like this:
{{{
<span macro="gotoTiddler insert"></span>
}}}
it allows you to type/select a tiddler title, and instantly insert a link to that title (e.g. {{{[[TiddlerName]]}}}) into the tiddler source being edited.
<<<
!!!!!Configuration
<<<
The following ~TiddlyWiki search options (see AdvancedOptions) are applied when matching tiddler titles:
><<option chkRegExpSearch>> use regular expressions (text patterns)
><<option chkCaseSensitiveSearch>> use case sensitive matching
You can also create a tiddler tagged with <<tag systemConfig>> to control listing of tiddlers/shadows/tags, as well as the maximum height of the listbox. //The default values are shown below://
//{{{
config.macros.gotoTiddler.includeTiddlers=true;
config.macros.gotoTiddler.includeShadows=true;
config.macros.gotoTiddler.includeTags=true;
config.macros.gotoTiddler.listMaxSize=10;
//}}}
<<<
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''GotoPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revisions
<<<
''2007.04.25 [1.4.0]'' renamed macro from "goto" to "gotoTiddler". This was necessary to avoid a fatal syntax error in Opera (and other browsers) that require strict adherence to ECMAScript 1.5 standards which defines the identifier "goto" as "reserved for FUTURE USE"... *sigh*
''2007.04.21 [1.3.2]'' in html definition, removed DIV around droplist (see 1.2.6 below). It created more layout problems then it solved. :-(
''2007.04.01 [1.3.1]'' in processItem(), ensure that correct textarea field is found by checking for edit=="text" attribute
''2007.03.30 [1.3.0]'' tweak SideBarOptions shadow to automatically add {{{<<goto>>}}} when using default sidebar content
''2007.03.30 [1.2.6]'' in html definition, added DIV around droplist to fix IE problem where list appears next to input field instead of below it.
''2007.03.28 [1.2.5]'' in processItem(), set focus to text area before setting selection (needed for IE to get correct selection 'range')
''2007.03.28 [1.2.4]'' added prompt for 'pretty text' when inserting a link into tiddler content
''2007.03.28 [1.2.3]'' added local copy of core replaceSelection() and modified for different replace logic
''2007.03.27 [1.2.2]'' in processItem(), use story.getTiddlerField() to retrieve textarea control
''2007.03.26 [1.2.1]'' in html, use either 'onkeydown' (IE) or 'onkeypress' (Moz) event to process <esc> key sooner, to prevent <esc> from 'bubbling up' to the tiddler (which will close the current editor).
''2007.03.26 [1.2.0]'' added support for optional "insert" keyword param. When used in [[EditTemplate]], (e.g. {{{<span macro="goto insert"></span>}}}) it triggers alternative processing: instead of displaying the selected tiddler, that tiddler's title is inserted into a tiddler's textarea edit field surrounded by {{{[[...]]}}}.
''2006.05.10 [1.1.2]'' when filling listbox, set selection to 'heading' item... auto-select first tiddler title when down/enter moves focus into listbox
''2006.05.08 [1.1.1]'' added accesskey ("G") to input field html (also set when field gets focus). Also, inputKeyHandler() skips non-printing/non-editing keys.
''2006.05.08 [1.1.0]'' added heading to listbox for better feedback (also avoids problems with 1-line droplist)
''2006.05.07 [1.0.0]'' list matches against tiddlers/shadows/tags. input field auto-completion... 1st enter=complete matching input (or show list)... 2nd enter=view tiddler. optional "quiet" param controls when listbox appears.
''2006.05.06 [0.5.0]'' added handling for enter (13), escape(27), and down(40) keys. Change 'ondblclick' to 'onclick' for list handler to view tiddlers (suggested by Florian Cauvin - prevents unintended trigger of tiddler editor). shadow titles inserted into list instead of appended to the end.
''2006.05.05 [0.0.0]'' started
<<<
!!!!!Credits
>This feature was developed by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]]
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.gotoTiddler = {major: 1, minor: 4, revision: 0, date: new Date(2007,4,25)};
// automatically tweak shadow SideBarOptions to add "sendTiddler" toolbar command (following "editTiddler")
config.shadowTiddlers.SideBarOptions=config.shadowTiddlers.SideBarOptions.replace(/<<search>>/,"{{button{goto}}}\n<<gotoTiddler>><<search>>");
config.macros.gotoTiddler= {
handler:
function(place,macroName,params) {
var quiet=(params[0] && params[0]=="quiet"); if (quiet) params.shift();
var insert=(params[0] && params[0]=="insert"); if (insert) params.shift();
var instyle=params.shift(); if (!instyle) instyle="";
var liststyle=params.shift(); if (!liststyle) liststyle="";
var keyevent=window.event?"onkeydown":"onkeypress";
createTiddlyElement(place,"span").innerHTML
=this.html.replace(/%keyevent%/g,keyevent).replace(/%insert%/g,insert).replace(/%quiet%/g,quiet).replace(/%instyle%/g,instyle).replace(/%liststyle%/g,liststyle);
},
html:
'<form onsubmit="return false" style="display:inline;margin:0;padding:0">\
<input name=gotoTiddler type=text autocomplete="off" accesskey="G" style="%instyle%"\
title="enter a tiddler title"\
onfocus="this.select(); this.setAttribute(\'accesskey\',\'G\');"\
%keyevent%="return config.macros.gotoTiddler.inputEscKeyHandler(event,this,this.form.list);"\
onkeyup="return config.macros.gotoTiddler.inputKeyHandler(event,this,this.form.list,%quiet%,%insert%);">\
<select name=list style="%liststyle%;display:none;position:absolute"\
onchange="if (!this.selectedIndex) this.selectedIndex=1;"\
onblur="this.style.display=\'none\';"\
%keyevent%="return config.macros.gotoTiddler.selectKeyHandler(event,this,this.form.gotoTiddler,%insert%);"\
onclick="return config.macros.gotoTiddler.processItem(this.value,this.form.gotoTiddler,this,%insert%);">\
</select>\
</form>',
getItems:
function() {
var items=[];
var tiddlers=store.reverseLookup("tags","excludeSearch",false,"title");
if (this.includeTiddlers) for(var t=0; t<tiddlers.length; t++) items.push(tiddlers[t].title);
if (this.includeShadows) for (var t in config.shadowTiddlers) items.pushUnique(t);
if (this.includeTags) { var tags=store.getTags(); for(var t=0; t<tags.length; t++) items.pushUnique(tags[t][0]); }
return items;
},
includeTiddlers: true, includeShadows: true, includeTags: true,
getItemSuffix:
function(t) {
if (store.tiddlerExists(t)) return ""; // tiddler
if (store.isShadowTiddler(t)) return " (shadow)"; // shadow
return " (tag)"; // tag
},
keyProcessed:
function(ev) { // utility function: exits handler and prevents browser from processing the keystroke
ev.cancelBubble=true; // IE4+
try{event.keyCode=0;}catch(e){}; // IE5
if (window.event) ev.returnValue=false; // IE6
if (ev.preventDefault) ev.preventDefault(); // moz/opera/konqueror
if (ev.stopPropagation) ev.stopPropagation(); // all
return false;
},
inputEscKeyHandler:
function(event,here,list) {
var key=event.keyCode;
// escape... hide list (2nd esc=clears input)
if (key==27) {
if (list.style.display=="none")
here.value=here.defaultValue;
list.style.display="none";
return this.keyProcessed(event);
}
return true; // key bubbles up
},
inputKeyHandler:
function(event,here,list,quiet,insert) {
var key=event.keyCode;
// non-printing chars... bubble up, except: backspace=8, enter=13, space=32, down=40, delete=46
if (key<48) switch(key) { case 8: case 13: case 32: case 40: case 46: break; default: return true; }
// blank input... if down/enter... fall through (list all)... else, hide list
if (!here.value.length && !(key==40 || key==13))
{ list.style.display="none"; return this.keyProcessed(event); }
// find matching items...
var pattern=config.options.chkRegExpSearch?here.value:here.value.escapeRegExp();
var re=new RegExp(pattern,config.options.chkCaseSensitiveSearch?"mg":"img");
var found = []; var items=this.getItems();
for(var t=0; t<items.length; t++) if(items[t].search(re)!=-1) found.push(items[t]);
// matched one item... enter... not *exact* match... autocomplete input field
if (found.length==1 && quiet && key==13 && here.value!=found[0])
{ list.style.display="none"; here.value=found[0]; return this.keyProcessed(event); }
// no match/exact match... enter... create/show it
if (found.length<2 && key==13)
return this.processItem(found.length?found[0]:here.value,here,list,insert);
// quiet/no match... hide list...
list.style.display=(!quiet && found.length)?"block":"none";
// no matches... key bubbles up
if (!found.length) return true;
// down/enter... show/move to list...
if (key==40 || key==13) { list.style.display="block"; list.focus(); }
// list is showing... fill list...
if (list.style.display!="none") {
while (list.length > 0) list.options[0]=null; // clear list...
found.sort();
list.options[0]=new Option(found.length==1?this.listMatchMsg:this.listHeading.format([found.length]),"",false,false);
for (var t=0; t<found.length; t++) // fill list...
list.options[t+1]=new Option(found[t]+this.getItemSuffix(found[t]),found[t],false,false);
list.size=(found.length<this.listMaxSize?found.length:this.listMaxSize)+1; // resize list...
list.selectedIndex=(key==40 || key==13)?1:0;
}
return true; // key bubbles up
},
listMaxSize: 10,
listHeading: 'Found %0 matching titles:',
listMatchMsg: 'Press enter to open tiddler...',
selectKeyHandler:
function(event,list,editfield,insert) {
if (event.keyCode==27) // escape... hide list, move to edit field
{ editfield.focus(); list.style.display="none"; return this.keyProcessed(event); }
if (event.keyCode==13 && list.value.length) // enter... view selected item
{ this.processItem(list.value,editfield,list,insert); return this.keyProcessed(event); }
return true; // key bubbles up
},
askForText: "Enter the text to display for this link",
processItem:
function(title,here,list,insert) {
if (!title.length) return; here.value=title; list.style.display='none';
if (insert) {
var tidElem=story.findContainingTiddler(here); if (!tidElem) { here.focus(); return false; }
var e=story.getTiddlerField(tidElem.getAttribute("tiddler"),"text");
if (!e||e.getAttribute("edit")!="text") return false;
var txt=prompt(this.askForText,title); if (!txt||!txt.length) { here.focus(); return false; }
e.focus(); // put focus on target field before setting selection
this.replaceSelection(e,"[["+txt+"|"+title+"]]"); // insert selected tiddler as a PrettyLink
}
else
story.displayTiddler(null,title); // show selected tiddler
return false;
},
replaceSelection:
function (e,text) { // copied from 2.1.3 core and then tweaked
if (e.setSelectionRange) {
var oldpos = e.selectionStart;
var isRange=e.selectionEnd-e.selectionStart;
e.value = e.value.substr(0,e.selectionStart) + text + e.value.substr(e.selectionEnd);
e.setSelectionRange( isRange?oldpos:oldpos+text.length, oldpos+text.length);
var linecount = e.value.split('\n').length;
var thisline = e.value.substr(0,e.selectionStart).split('\n').length-1;
e.scrollTop = Math.floor((thisline-e.rows/2)*e.scrollHeight/linecount);
}
else if (document.selection) {
var range = document.selection.createRange();
if (range.parentElement() == e) {
var isCollapsed = range.text == "";
range.text = text;
if (!isCollapsed) {
range.moveStart('character', -text.length);
range.select();
}
}
}
}
}
//}}}
<<include "index_Ano_2005_2006.htm">>
<<include "index_Ano_2007.htm">>
<<include "index_Ano_2008_2010.htm">>
/***
|''Name:''|abego.IncludePlugin|
|''Version:''|1.0.1 (2007-04-30)|
|''Type:''|plugin|
|''Source:''|http://tiddlywiki.abego-software.de/#IncludePlugin|
|''Author:''|Udo Borkowski (ub [at] abego-software [dot] de)|
|''Documentation:''|[[IncludePlugin Documentation|http://tiddlywiki.abego-software.de/#%5B%5BIncludePlugin%20Documentation%5D%5D]]|
|''Community:''|([[del.icio.us|http://del.icio.us/post?url=http://tiddlywiki.abego-software.de/index.html%23IncludePlugin]]) ([[Support|http://groups.google.com/group/TiddlyWiki]])|
|''Copyright:''|© 2007 [[abego Software|http://www.abego-software.de]]|
|''Licence:''|[[BSD open source license (abego Software)|http://www.abego-software.de/legal/apl-v10.html]]|
|''~CoreVersion:''|2.1.3|
|''Browser:''|Firefox 1.5.0.9 or better; Internet Explorer 6.0|
***/
/***
This plugin's source code is compressed (and hidden). Use this [[link|http://tiddlywiki.abego-software.de/archive/IncludePlugin/Plugin-Include-src.1.0.0.js]] to get the readable source code.
***/
///%
if(!window.abego){window.abego={};}var invokeLater=function(_1,_2,_3){return abego.invokeLater?abego.invokeLater(_1,_2,_3):setTimeout(_1,_2);};abego.loadFile=function(_4,_5,_6){var _7=function(_8,_9,_a,_b,_c){return _8?_5(_a,_b,_9):_5(undefined,_b,_9,"Error loading %0".format([_b]));};if(_4.search(/^((http(s)?)|(file)):/)!=0){if(_4.search(/^((.\:\\)|(\\\\)|(\/))/)==0){_4="file://"+_4;}else{var _d=document.location.toString();var i=_d.lastIndexOf("/");_4=_d.substr(0,i+1)+_4;}_4=_4.replace(/\\/mg,"/");}loadRemoteFile(_4,_7,_6);};abego.loadTiddlyWikiStore=function(_f,_10,_11,_12){var _13=function(_14,_15){if(_12){_12(_14,"abego.loadTiddlyWikiStore",_15,_f,_11);}};var _16=function(_17,_18){var _19=_18.indexOf(startSaveArea);var _1a=_18.indexOf("<!--POST-BODY-END--"+">");var _1b=_18.lastIndexOf(endSaveArea,_1a==-1?_18.length:_1a);if((_19==-1)||(_1b==-1)){return config.messages.invalidFileError.format([_f]);}var _1c="<html><body>"+_18.substring(_19,_1b+endSaveArea.length)+"</body></html>";var _1d=document.createElement("iframe");_1d.style.display="none";document.body.appendChild(_1d);var doc=_1d.document;if(_1d.contentDocument){doc=_1d.contentDocument;}else{if(_1d.contentWindow){doc=_1d.contentWindow.document;}}doc.open();doc.writeln(_1c);doc.close();var _1f=doc.getElementById("storeArea");_17.loadFromDiv(_1f,"store");_1d.parentNode.removeChild(_1d);return null;};var _20=function(_21){_13("Error when loading %0".format([_f]),"Failed");_10(undefined,_f,_11,_21);return _21;};var _22=function(_23){_13("Loaded %0".format([_f]),"Done");_10(_23,_f,_11);return null;};var _24=function(_25,_26,_27,_28){if(_25===undefined){_20(_28);return;}_13("Processing %0".format([_f]),"Processing");var _29=config.messages.invalidFileError;config.messages.invalidFileError="The file '%0' does not appear to be a valid TiddlyWiki file";try{var _2a=new TiddlyWiki();var _2b=_16(_2a,_25);if(_2b){_20(_2b);}else{_22(_2a);}}catch(ex){_20(exceptionText(ex));}finally{config.messages.invalidFileError=_29;}};_13("Start loading %0".format([_f]),"Started");abego.loadFile(_f,_24,_11);};(function(){if(abego.TiddlyWikiIncluder){return;}var _2c="waiting";var _2d="loading";var _2e=1000;var _2f=-200;var _30=-100;var _31=-300;var _32;var _33=[];var _34={};var _35=[];var _36;var _37=[];var _38;var _39=function(){if(_32===undefined){_32=config.options.chkUseInclude===undefined||config.options.chkUseInclude;}return _32;};var _3a=function(url){return "No include specified for %0".format([url]);};var _3c=function(){var _3d=_35;_35=[];if(_3d.length){for(var i=0;i<_37.length;i++){_37[i](_3d);}}};var _3f;var _40=function(){if(_36!==undefined){clearInterval(_36);}_3f=0;var _41=function(){abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress("","","Done");};_36=setInterval(function(){_3f++;if(_3f<=10){return;}clearInterval(_36);_36=undefined;abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress("Refreshing...","","");refreshDisplay();invokeLater(_41,0,_2f);},1);};var _42=function(_43){var _44;for(var i=0;i<_33.length;i++){var _46=abego.TiddlyWikiIncluder.getStore(_33[i]);if(_46&&(_44=_43(_46,_33[i]))){return _44;}}};var _47=function(){if(!window.store){return invokeLater(_47,100);}var _48=store.fetchTiddler;store.fetchTiddler=function(_49){var t=_48.apply(this,arguments);if(t){return t;}if(config.shadowTiddlers[_49]!==undefined){return undefined;}if(_49==config.macros.newTiddler.title){return undefined;}return _42(function(_4b,url){var t=_4b.fetchTiddler(_49);if(t){t.includeURL=url;}return t;});};if(_33.length){_40();}};var _4e=function(){if(!window.store){return invokeLater(_4e,100);}var _4f=store.getTiddlerText("IncludeList");if(_4f){wikify(_4f,document.createElement("div"));}};var _50=function(_51){var _52=function(){var _53=store.forEachTiddler;var _54=function(_55){var _56={};var _57;var _58=function(_59,_5a){if(_56[_59]){return;}_56[_59]=1;if(_57){_5a.includeURL=_57;}_55.apply(this,arguments);};_53.call(store,_58);for(var n in config.shadowTiddlers){_56[n]=1;}_56[config.macros.newTiddler.title]=1;_42(function(_5c,url){_57=url;_5c.forEachTiddler(_58);});};store.forEachTiddler=_54;try{return _51.apply(this,arguments);}finally{store.forEachTiddler=_53;}};return _52;};var _5e=function(_5f,_60){return _5f[_60]=_50(_5f[_60]);};abego.TiddlyWikiIncluder={};abego.TiddlyWikiIncluder.setProgressFunction=function(_61){_38=_61;};abego.TiddlyWikiIncluder.getProgressFunction=function(_62){return _38;};abego.TiddlyWikiIncluder.sendProgress=function(_63,_64,_65){if(_38){_38.apply(this,arguments);}};abego.TiddlyWikiIncluder.onError=function(url,_67){displayMessage("Error when including '%0':\n%1".format([url,_67]));};abego.TiddlyWikiIncluder.hasPendingIncludes=function(){for(var i=0;i<_33.length;i++){var _69=abego.TiddlyWikiIncluder.getState(_33[i]);if(_69==_2c||_69==_2d){return true;}}return false;};abego.TiddlyWikiIncluder.getIncludes=function(){return _33.slice();};abego.TiddlyWikiIncluder.getState=function(url){var s=_34[url];if(!s){return _3a(url);}return typeof s=="string"?s:null;};abego.TiddlyWikiIncluder.getStore=function(url){var s=_34[url];if(!s){return _3a(url);}return s instanceof TiddlyWiki?s:null;};abego.TiddlyWikiIncluder.include=function(url,_6f){if(!_39()||_34[url]){return;}var _70=this;_33.push(url);_34[url]=_2c;var _71=function(_72,_73,_74,_75){if(_72===undefined){_34[url]=_75;_70.onError(url,_75);return;}_34[url]=_72;_35.push(url);invokeLater(_3c);};var _76=function(){_34[url]=_2d;abego.loadTiddlyWikiStore(url,_71,null,_38);};if(_6f){invokeLater(_76,_6f);}else{_76();}};abego.TiddlyWikiIncluder.forReallyEachTiddler=function(_77){var _78=function(){store.forEachTiddler(_77);};_50(_78).call(store);};abego.TiddlyWikiIncluder.getFunctionUsingForReallyEachTiddler=_50;abego.TiddlyWikiIncluder.useForReallyEachTiddler=_5e;abego.TiddlyWikiIncluder.addListener=function(_79){_37.push(_79);};abego.TiddlyWikiIncluder.addListener(_40);if(config.options.chkUseInclude===undefined){config.options.chkUseInclude=true;}config.shadowTiddlers.AdvancedOptions+="\n<<option chkUseInclude>> Include ~TiddlyWikis (IncludeList | IncludeState | [[help|http://tiddlywiki.abego-software.de/#%5B%5BIncludePlugin%20Documentation%5D%5D]])\n^^(Reload this ~TiddlyWiki to make changes become effective)^^";config.shadowTiddlers.IncludeState="<<includeState>>";var _7a=function(e,_7c,_7d){if(!anim||!abego.ShowAnimation){e.style.display=_7c?"block":"none";return;}anim.startAnimating(new abego.ShowAnimation(e,_7c,_7d));};abego.TiddlyWikiIncluder.getDefaultProgressFunction=function(){setStylesheet(".includeProgressState{\n"+"background-color:#FFCC00;\n"+"position:absolute;\n"+"right:0.2em;\n"+"top:0.2em;\n"+"width:7em;\n"+"padding-left:0.2em;\n"+"padding-right:0.2em\n"+"}\n","abegoInclude");var _7e=function(){var e=document.createElement("div");e.className="includeProgressState";e.style.display="none";document.body.appendChild(e);return e;};var _80=_7e();var _81=function(_82){removeChildren(_80);createTiddlyText(_80,_82);_7a(_80,true,0);};var _83=function(){invokeLater(function(){_7a(_80,false,_2e);},100,_30);};var _84=function(_85,_86,_87,url,_89){if(_87=="Done"||_87=="Failed"){_83();return;}if(_86=="abego.loadTiddlyWikiStore"){_3f=0;if(_87=="Processing"){_81("Including...");}}else{_81(_85);}};return _84;};abego.TiddlyWikiIncluder.setProgressFunction(abego.TiddlyWikiIncluder.getDefaultProgressFunction());config.macros.include={};config.macros.include.handler=function(_8a,_8b,_8c,_8d,_8e,_8f){_8c=_8e.parseParams("url",null,true,false,true);var _90=parseInt(getParam(_8c,"delay","0"));var _91=_8c[0]["url"];var _92=getFlag(_8c,"hide",false);if(!_92){createTiddlyText(createTiddlyElement(_8a,"code"),_8d.source.substring(_8d.matchStart,_8d.nextMatch));}for(var i=0;_91&&i<_91.length;i++){abego.TiddlyWikiIncluder.include(_91[i],_90);}};config.macros.includeState={};config.macros.includeState.handler=function(_94,_95,_96,_97,_98,_99){var _9a=function(){var s="";var _9c=abego.TiddlyWikiIncluder.getIncludes();if(!_9c.length){return "{{noIncludes{\nNo includes or 'include' is disabled (see AdvancedOptions)\n}}}\n";}s+="|!Address|!State|\n";for(var i=0;i<_9c.length;i++){var inc=_9c[i];s+="|{{{"+inc+"}}}|";var t=abego.TiddlyWikiIncluder.getState(inc);s+=t?"{{{"+t+"}}}":"included";s+="|\n";}s+="|includeState|k\n";return s;};var _a0=function(){removeChildren(div);wikify(_9a(),div);if(abego.TiddlyWikiIncluder.hasPendingIncludes()){invokeLater(_a0,500,_31);}};var div=createTiddlyElement(_94,"div");invokeLater(_a0,0,_31);};var _a2=Tiddler.prototype.isReadOnly;Tiddler.prototype.isReadOnly=function(){return _a2.apply(this,arguments)||this.isIncluded();};Tiddler.prototype.isIncluded=function(){return this.includeURL!=undefined;};Tiddler.prototype.getIncludeURL=function(){return this.includeURL;};var _a3={getMissingLinks:1,getOrphans:1,getTags:1,reverseLookup:1,updateTiddlers:1};for(var n in _a3){_5e(TiddlyWiki.prototype,n);}var _a5=function(){if(abego.IntelliTagger){_5e(abego.IntelliTagger,"assistTagging");}};var _a6=function(){if(config.macros.forEachTiddler){_5e(config.macros.forEachTiddler,"findTiddlers");}};_47();invokeLater(_4e,100);invokeLater(_a5,100);invokeLater(_a6,100);})();
//%/
/***
|Name|InlineJavascriptPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#InlineJavascriptPlugin|
|Version|1.6.0|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides||
|Description|Insert Javascript executable code directly into your tiddler content.|
''Call directly into TW core utility routines, define new functions, calculate values, add dynamically-generated TiddlyWiki-formatted output'' into tiddler content, or perform any other programmatic actions each time the tiddler is rendered.
!!!!!Usage
<<<
When installed, this plugin adds new wiki syntax for surrounding tiddler content with {{{<script>}}} and {{{</script>}}} markers, so that it can be treated as embedded javascript and executed each time the tiddler is rendered.
''Deferred execution from an 'onClick' link''
By including a {{{label="..."}}} parameter in the initial {{{<script>}}} marker, the plugin will create a link to an 'onclick' script that will only be executed when that specific link is clicked, rather than running the script each time the tiddler is rendered. You may also include a {{{title="..."}}} parameter to specify the 'tooltip' text that will appear whenever the mouse is moved over the onClick link text
''External script source files:''
You can also load javascript from an external source URL, by including a src="..." parameter in the initial {{{<script>}}} marker (e.g., {{{<script src="demo.js"></script>}}}). This is particularly useful when incorporating third-party javascript libraries for use in custom extensions and plugins. The 'foreign' javascript code remains isolated in a separate file that can be easily replaced whenever an updated library file becomes available.
''Display script source in tiddler output''
By including the keyword parameter "show", in the initial {{{<script>}}} marker, the plugin will include the script source code in the output that it displays in the tiddler.
''Defining javascript functions and libraries:''
Although the external javascript file is loaded while the tiddler content is being rendered, any functions it defines will not be available for use until //after// the rendering has been completed. Thus, you cannot load a library and //immediately// use it's functions within the same tiddler. However, once that tiddler has been loaded, the library functions can be freely used in any tiddler (even the one in which it was initially loaded).
To ensure that your javascript functions are always available when needed, you should load the libraries from a tiddler that will be rendered as soon as your TiddlyWiki document is opened. For example, you could put your {{{<script src="..."></script>}}} syntax into a tiddler called LoadScripts, and then add {{{<<tiddler LoadScripts>>}}} in your MainMenu tiddler.
Since the MainMenu is always rendered immediately upon opening your document, the library will always be loaded before any other tiddlers that rely upon the functions it defines. Loading an external javascript library does not produce any direct output in the tiddler, so these definitions should have no impact on the appearance of your MainMenu.
''Creating dynamic tiddler content''
An important difference between this implementation of embedded scripting and conventional embedded javascript techniques for web pages is the method used to produce output that is dynamically inserted into the document:
* In a typical web document, you use the document.write() function to output text sequences (often containing HTML tags) that are then rendered when the entire document is first loaded into the browser window.
* However, in a ~TiddlyWiki document, tiddlers (and other DOM elements) are created, deleted, and rendered "on-the-fly", so writing directly to the global 'document' object does not produce the results you want (i.e., replacing the embedded script within the tiddler content), and completely replaces the entire ~TiddlyWiki document in your browser window.
* To allow these scripts to work unmodified, the plugin automatically converts all occurences of document.write() so that the output is inserted into the tiddler content instead of replacing the entire ~TiddlyWiki document.
If your script does not use document.write() to create dynamically embedded content within a tiddler, your javascript can, as an alternative, explicitly return a text value that the plugin can then pass through the wikify() rendering engine to insert into the tiddler display. For example, using {{{return "thistext"}}} will produce the same output as {{{document.write("thistext")}}}.
//Note: your script code is automatically 'wrapped' inside a function, {{{_out()}}}, so that any return value you provide can be correctly handled by the plugin and inserted into the tiddler. To avoid unpredictable results (and possibly fatal execution errors), this function should never be redefined or called from ''within'' your script code.//
''Accessing the ~TiddlyWiki DOM''
The plugin provides one pre-defined variable, 'place', that is passed in to your javascript code so that it can have direct access to the containing DOM element into which the tiddler output is currently being rendered.
Access to this DOM element allows you to create scripts that can:
* vary their actions based upon the specific location in which they are embedded
* access 'tiddler-relative' information (use findContainingTiddler(place))
* perform direct DOM manipulations (when returning wikified text is not enough)
<<<
!!!!!Examples
<<<
an "alert" message box:
><script show>
alert('InlineJavascriptPlugin: this is a demonstration message');
</script>
dynamic output:
><script show>
return (new Date()).toString();
</script>
wikified dynamic output:
><script show>
return "link to current user: [["+config.options.txtUserName+"]]";
</script>
dynamic output using 'place' to get size information for current tiddler:
><script show>
if (!window.story) window.story=window;
var title=story.findContainingTiddler(place).id.substr(7);
return title+" is using "+store.getTiddlerText(title).length+" bytes";
</script>
creating an 'onclick' button/link that runs a script:
><script label="click here" title="clicking this link will show an 'alert' box" show>
if (!window.story) window.story=window;
alert("Hello World!\nlinktext='"+place.firstChild.data+"'\ntiddler='"+story.findContainingTiddler(place).id.substr(7)+"'");
</script>
loading a script from a source url:
>http://www.TiddlyTools.com/demo.js contains:
>>{{{function demo() { alert('this output is from demo(), defined in demo.js') } }}}
>>{{{alert('InlineJavascriptPlugin: demo.js has been loaded'); }}}
><script src="demo.js" show>
return "loading demo.js..."
</script>
><script label="click to execute demo() function" show>
demo()
</script>
<<<
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''InlineJavascriptPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revision History
<<<
''2007.02.19 [1.6.0]'' added support for title="..." to specify mouseover tooltip when using an onclick (label="...") script
''2006.10.16 [1.5.2]'' add newline before closing '}' in 'function out_' wrapper. Fixes error caused when last line of script is a comment.
''2006.06.01 [1.5.1]'' when calling wikify() on script return value, pass hightlightRegExp and tiddler params so macros that rely on these values can render properly
''2006.04.19 [1.5.0]'' added 'show' parameter to force display of javascript source code in tiddler output
''2006.01.05 [1.4.0]'' added support 'onclick' scripts. When label="..." param is present, a button/link is created using the indicated label text, and the script is only executed when the button/link is clicked. 'place' value is set to match the clicked button/link element.
''2005.12.13 [1.3.1]'' when catching eval error in IE, e.description contains the error text, instead of e.toString(). Fixed error reporting so IE shows the correct response text. Based on a suggestion by UdoBorkowski
''2005.11.09 [1.3.0]'' for 'inline' scripts (i.e., not scripts loaded with src="..."), automatically replace calls to 'document.write()' with 'place.innerHTML+=' so script output is directed into tiddler content. Based on a suggestion by BradleyMeck
''2005.11.08 [1.2.0]'' handle loading of javascript from an external URL via src="..." syntax
''2005.11.08 [1.1.0]'' pass 'place' param into scripts to provide direct DOM access
''2005.11.08 [1.0.0]'' initial release
<<<
!!!!!Credits
<<<
This feature was developed by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]]
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.inlineJavascript= {major: 1, minor: 6, revision: 0, date: new Date(2007,2,19)};
config.formatters.push( {
name: "inlineJavascript",
match: "\\<script",
lookahead: "\\<script(?: src=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?(?: label=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?(?: title=\\\"((?:.|\\n)*?)\\\")?( show)?\\>((?:.|\\n)*?)\\</script\\>",
handler: function(w) {
var lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source)
if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart) {
if (lookaheadMatch[1]) { // load a script library
// make script tag, set src, add to body to execute, then remove for cleanup
var script = document.createElement("script"); script.src = lookaheadMatch[1];
document.body.appendChild(script); document.body.removeChild(script);
}
if (lookaheadMatch[5]) { // there is script code
if (lookaheadMatch[4]) // show inline script code in tiddler output
wikify("{{{\n"+lookaheadMatch[0]+"\n}}}\n",w.output);
if (lookaheadMatch[2]) { // create a link to an 'onclick' script
// add a link, define click handler, save code in link (pass 'place'), set link attributes
var link=createTiddlyElement(w.output,"a",null,"tiddlyLinkExisting",lookaheadMatch[2]);
link.onclick=function(){try{return(eval(this.code))}catch(e){alert(e.description?e.description:e.toString())}}
link.code="function _out(place){"+lookaheadMatch[5]+"\n};_out(this);"
link.setAttribute("title",lookaheadMatch[3]?lookaheadMatch[3]:"");
link.setAttribute("href","javascript:;");
link.style.cursor="pointer";
}
else { // run inline script code
var code="function _out(place){"+lookaheadMatch[5]+"\n};_out(w.output);"
code=code.replace(/document.write\(/gi,'place.innerHTML+=(');
try { var out = eval(code); } catch(e) { out = e.description?e.description:e.toString(); }
if (out && out.length) wikify(out,w.output,w.highlightRegExp,w.tiddler);
}
}
w.nextMatch = lookaheadMatch.index + lookaheadMatch[0].length;
}
}
} )
//}}}
<<gradient hori #aaaaaa #eeeeee>>{>>
[img[RRoque|./wikiImages/AutoRetrato_Serro.jpg]] [img[rss feed| ./wikiImages/rss1.gif]]| ''[[rss feed|./index.xml]]''[[ © rroque|http://www.renatoroque.com]] [[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]
*[[Uma pequena explicação]]
*[[Como usar esta espécie de blog?]]
De cada vez que actualizo esta espécie de blog, envio mails de notificação a quem possa estar interessado em seguir o seu conteúdo.
Se quiserem receber essas notificações basta [[registarem-se na lista através deste link|http://eepurl.com/bTkjs5]]
Poderão anular o registo quando o desejarem [[através deste link|http://renatoroque.us12.list-manage.com/unsubscribe?u=66b05a303371ef32004795e68&id=20d8c5c75a]]
<<gradient hori #aaaaaa #eeeeee>>}>>
/***
|''Name:''|LegacyStrikeThroughPlugin|
|''Description:''|Support for legacy (pre 2.1) strike through formatting|
|''Version:''|1.0.2|
|''Date:''|Jul 21, 2006|
|''Source:''|http://www.tiddlywiki.com/#LegacyStrikeThroughPlugin|
|''Author:''|MartinBudden (mjbudden (at) gmail (dot) com)|
|''License:''|[[BSD open source license]]|
|''CoreVersion:''|2.1.0|
***/
//{{{
// Ensure that the LegacyStrikeThrough Plugin is only installed once.
if(!version.extensions.LegacyStrikeThroughPlugin) {
version.extensions.LegacyStrikeThroughPlugin = {installed:true};
config.formatters.push(
{
name: "legacyStrikeByChar",
match: "==",
termRegExp: /(==)/mg,
element: "strike",
handler: config.formatterHelpers.createElementAndWikify
});
} //# end of "install only once"
//}}}
[>img[Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License|images/somerights20.png][http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/]]''Copyrights:''
<<<
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These components are distributed using an ''open source'' model; however, they are ''not in the public domain, and the author retains all applicable rights''. You //are// permitted to ''use, copy, and/or modify'' individual components of this work, subject to the licensing terms and conditions specifically included within or referenced by those individual components, as well as other terms, conditions, instructions, and guidelines included herein, as well as all terms and conditions defined by the [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/]].
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<<<
''Terms of use:''
<<<
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Tiddlers can be imported from any TiddlyWiki document. As a consequence, if you share your document with even just ONE other person, you become a "re-distributor" of the tiddlers contained in that document. As such, ''you should avoid modifying any TiddlyTools components you have installed in your own documents'' unless there is a compelling, //functional// reason to do so and, even then, ''the best approach is often to simply submit a feature request'' to the original author/publisher and leave it up to them to determine the best way to modify and re-publish those components.
Nonetheless, if you //do// modify and/or share components of this work, you should ''always retain the original published content within those components'', including all documentation, credits, licensing information, and URL references to the official distribution source for the unaltered versions of those components. In addition, ''all modified components must be clearly identifiable as derivative works'' that have been differentiated from the original versions by renaming those components, as well as adding inline comments and a "revision history" to document specific changes.
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<<<
''Trademarks/servicemarks:''
<<<
"ELS Design Studios", "~TiddlyTools", "~TiddlyStudios", "~TiddlyTech", "~TiddlyLabs", "Small Tools for Big Ideas!", "Intuitive Interfaces for Intelligent Interactions" and the "i4" logo (in graphical //and// text forms) are trademarks or servicemarks of ELS Design Studios and may not be used without permission. Limited use of "ELS Design Studios" and "~TiddlyTools" marks in other works is granted for attribution purposes only. Such use does not create or imply any endorsement, agency or partner relationship with Eric L. Shulman and/or ELS Design Studios, nor with any designated representatives, agents, or heirs thereof.
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''Limits on Liability:''
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All materials are presented on an "as-is" basis and are subject to change without notice. The author of this document makes no claims regarding the suitability or reliability of the information presented, and assumes no liability for any damages that may occur as a result of its use.
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''Privacy Notice: ''
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<<<
@@display:block;text-align:center;^^//please review these statements periodically, as they are subject to change without notice//^^@@
config.options.chkAnimate = false;
config.numRssItems= 1;
config.options.chkHttpReadOnly = true;
readOnly = (window.location.protocol != "file:");
<!--{{{-->
<div class='header' macro='gradient vert [[ColorPalette::TitleBackground]] [[ColorPalette::TitleBackground]]'>
<div class='headerShadow'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
<div class='headerForeground'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
</div>
<!-- horizontal MainMenu -->
<div id='topMenu' refresh='content' tiddler='MainMenu'></div>
<!--original MainMenu menu-->
<div id='sidebar'>
<div id='sidebarOptions' refresh='content' tiddler='SideBarOptions'></div>
<div id='sidebarTabs' refresh='content' force='true' tiddler='SideBarTabs'></div>
</div>
<div id='displayArea'>
<div id='messageArea'></div>
<div id='tiddlerDisplay'></div>
</div>
<!--}}}-->
/***
|PageTemplate|MyPageTemplate|
|ViewTemplate|MyViewTemplate|
***/
<!--{{{-->
<div class='toolbar'><span macro='toolbar closeTiddler closeOthers +editTiddler jump'></span></div>
<div class='title' macro='view title'> </div>
<div class='subtitle'><span macro='view modifier link'></span>, (<span macro='message views.wikified.createdPrompt'></span> <span macro='view created date [[DD MMM YYYY]]'></span>)</div>
<div class='tagging' macro='tagging'></div>
<div class='viewer' macro='view text wikified'></div>
<div class='tagged' macro='tags'></div>
<div class='tagClear'></div>
<!--}}}-->
/***
|Name|NestedSlidersPlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#NestedSlidersPlugin|
|Version|2.0.5|
|Author|Eric Shulman - ELS Design Studios|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements <<br>>and [[Creative Commons Attribution-ShareAlike 2.5 License|http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/]]|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|plugin|
|Requires||
|Overrides|Slider.prototype.stop|
|Description|Make any tiddler content into an expandable 'slider' panel, without needing to create a separate tiddler to contain the slider content.|
++++!!!!![Configuration]>
Enable animation for slider panels
<<option chkFloatingSlidersAnimate>> allow sliders to animate when opening/closing
>(note: This setting is in //addition// to the general option for enabling/disabling animation effects:
><<option chkAnimate>> enable animations (entire document)
>For slider animation to occur, you must also allow animation in general.
Debugging messages for 'lazy sliders' deferred rendering:
<<option chkDebugLazySliderDefer>> show debugging alert when deferring slider rendering
<<option chkDebugLazySliderRender>> show debugging alert when deferred slider is actually rendered
===
++++!!!!![Usage]>
When installed, this plugin adds new wiki syntax for embedding 'slider' panels directly into tiddler content. Use {{{+++}}} and {{{===}}} to delimit the slider content. You can also 'nest' these sliders as deep as you like (see complex nesting example below), so that expandable 'tree-like' hierarchical displays can be created. This is most useful when converting existing in-line text content to create in-line annotations, footnotes, context-sensitive help, or other subordinate information displays.
Additional optional syntax elements let you specify
*default to open
*cookiename
*heading level
*floater (with optional CSS width value)
*mouse auto rollover
*custom class/label/tooltip/accesskey
*automatic blockquote
*deferred rendering
The complete syntax, using all options, is:
//{{{
++++(cookiename)!!!!!^width^*{{class{[label=key|tooltip]}}}>...
content goes here
===
//}}}
where:
* {{{+++}}} (or {{{++++}}}) and {{{===}}}^^
marks the start and end of the slider definition, respectively. When the extra {{{+}}} is used, the slider will be open when initially displayed.^^
* {{{(cookiename)}}}^^
saves the slider opened/closed state, and restores this state whenever the slider is re-rendered.^^
* {{{!}}} through {{{!!!!!}}}^^
displays the slider label using a formatted headline (Hn) style instead of a button/link style^^
* {{{^width^}}} (or just {{{^}}})^^
makes the slider 'float' on top of other content rather than shifting that content downward. 'width' must be a valid CSS value (e.g., "30em", "180px", "50%", etc.). If omitted, the default width is "auto" (i.e., fit to content)^^
* {{{*}}}^^
automatically opens/closes slider on "rollover" as well as when clicked^^
* {{{{{class{[label=key|tooltip]}}}}}}^^
uses custom label/tooltip/accesskey. {{{{{class{...}}}}}}, {{{=key}}} and {{{|tooltip}}} are optional. 'class' is any valid CSS class name, used to style the slider label text. 'key' must be a ''single letter only''. Default labels/tootips are: ">" (more) and "<" (less), with no default access key assignment.^^
* {{{">"}}} //(without the quotes)//^^
automatically adds blockquote formatting to slider content^^
* {{{"..."}}} //(without the quotes)//^^
defers rendering of closed sliders until the first time they are opened. //Note: deferred rendering may produce unexpected results in some cases. Use with care.//^^
//Note: to make slider definitions easier to read and recognize when editing a tiddler, newlines immediately following the {{{+++}}} 'start slider' or preceding the {{{===}}} 'end slider' sequence are automatically supressed so that excess whitespace is eliminated from the output.//
===
++++!!!!![Examples]>
simple in-line slider:
{{{
+++
content
===
}}}
+++
content
===
----
use a custom label and tooltip:
{{{
+++[label|tooltip]
content
===
}}}
+++[label|tooltip]
content
===
----
content automatically blockquoted:
{{{
+++>
content
===
}}}
+++>
content
===
----
all options combined //(default open, cookie, heading, sized floater, rollover, class, label/tooltip/key, blockquoted, deferred)//
{{{
++++(testcookie)!!!^30em^*{{big{[label=Z|click or press Alt-Z to open]}}}>...
content
===
}}}
++++(testcookie)!!!^30em^*{{big{[label=Z|click or press Alt-Z to open]}}}>...
content
===
----
complex nesting example:
{{{
+++^[get info...=I|click for information or press Alt-I]
put some general information here, plus a floating slider with more specific info:
+++^10em^[view details...|click for details]
put some detail here, which could include a rollover with a +++^25em^*[glossary definition]explaining technical terms===
===
===
}}}
+++^[get info...=I|click for information or press Alt-I]
put some general information here, plus a floating slider with more specific info:
+++^10em^[view details...|click for details]
put some detail here, which could include a rollover with a +++^25em^*[glossary definition]explaining technical terms===
===
===
===
!!!!!Installation
<<<
import (or copy/paste) the following tiddlers into your document:
''NestedSlidersPlugin'' (tagged with <<tag systemConfig>>)
<<<
!!!!!Revision History
<<<
''2007.06.10 - 2.0.5'' add check to ensure that window.adjustSliderPanel() is defined before calling it (prevents error on shutdown when mouse event handlers are still defined)
''2007.05.31 - 2.0.4'' add handling to invoke adjustSliderPanel() for onmouseover events on slider button and panel. This allows the panel position to be re-synced when the button position shifts due to changes in unrelated content above it on the page. (thanks to Harsha for bug report)
''2007.03.30 - 2.0.3'' added chkFloatingSlidersAnimate (default to FALSE), so that slider animation can be disabled independent of the overall document animation setting (avoids strange rendering and focus problems in floating panels)
''2007.03.01 - 2.0.2'' for TW2.2+, hijack Morpher.prototype.stop so that "overflow:hidden" can be reset to "overflow:visible" after animation ends
''2007.03.01 - 2.0.1'' in hijack for Slider.prototype.stop, use apply() to pass params to core function
|please see [[NestedSlidersPluginHistory]] for additional revision details|
''2005.11.03 - 1.0.0'' initial public release
<<<
!!!!!Credits
<<<
This feature was implemented by EricShulman from [[ELS Design Studios|http:/www.elsdesign.com]] with initial research and suggestions from RodneyGomes, GeoffSlocock, and PaulPetterson.
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.nestedSliders = {major: 2, minor: 0, revision: 5, date: new Date(2007,6,10)};
//}}}
//{{{
// options for deferred rendering of sliders that are not initially displayed
if (config.options.chkDebugLazySliderDefer==undefined) config.options.chkDebugLazySliderDefer=false;
if (config.options.chkDebugLazySliderRender==undefined) config.options.chkDebugLazySliderRender=false;
if (config.options.chkFloatingSlidersAnimate==undefined) config.options.chkFloatingSlidersAnimate=false;
// default styles for 'floating' class
setStylesheet(".floatingPanel { position:absolute; z-index:10; padding:0.5em; margin:0em; \
background-color:#eee; color:#000; border:1px solid #000; text-align:left; }","floatingPanelStylesheet");
//}}}
//{{{
config.formatters.push( {
name: "nestedSliders",
match: "\\n?\\+{3}",
terminator: "\\s*\\={3}\\n?",
lookahead: "\\n?\\+{3}(\\+)?(\\([^\\)]*\\))?(\\!*)?(\\^(?:[^\\^\\*\\[\\>]*\\^)?)?(\\*)?(?:\\{\\{([\\w]+[\\s\\w]*)\\{)?(\\[[^\\]]*\\])?(?:\\}{3})?(\\>)?(\\.\\.\\.)?\\s*",
handler: function(w)
{
// defopen=lookaheadMatch[1]
// cookiename=lookaheadMatch[2]
// header=lookaheadMatch[3]
// panelwidth=lookaheadMatch[4]
// rollover=lookaheadMatch[5]
// class=lookaheadMatch[6]
// label=lookaheadMatch[7]
// blockquote=lookaheadMatch[8]
// deferred=lookaheadMatch[9]
lookaheadRegExp = new RegExp(this.lookahead,"mg");
lookaheadRegExp.lastIndex = w.matchStart;
var lookaheadMatch = lookaheadRegExp.exec(w.source)
if(lookaheadMatch && lookaheadMatch.index == w.matchStart)
{
// location for rendering button and panel
var place=w.output;
// default to closed, no cookie, no accesskey
var show="none"; var title=">"; var tooltip="show"; var cookie=""; var key="";
// extra "+", default to open
if (lookaheadMatch[1])
{ show="block"; title="<"; tooltip="hide"; }
// cookie, use saved open/closed state
if (lookaheadMatch[2]) {
cookie=lookaheadMatch[2].trim().slice(1,-1);
cookie="chkSlider"+cookie;
if (config.options[cookie]==undefined)
{ config.options[cookie] = (show=="block") }
if (config.options[cookie])
{ show="block"; title="<"; tooltip="hide"; }
else
{ show="none"; title=">"; tooltip="show"; }
}
// parse custom label/tooltip/accesskey: [label=X|tooltip]
if (lookaheadMatch[7]) {
title = lookaheadMatch[7].trim().slice(1,-1);
var pos=title.indexOf("|");
if (pos!=-1) { tooltip = title.substr(pos+1,title.length); title=title.substr(0,pos); }
if (title.substr(title.length-2,1)=="=") { key=title.substr(title.length-1,1); title=title.slice(0,-2); }
if (pos==-1) tooltip += " "+title; // default tooltip: "show/hide <title>"
}
// create the button
if (lookaheadMatch[3]) { // use "Hn" header format instead of button/link
var lvl=(lookaheadMatch[3].length>6)?6:lookaheadMatch[3].length;
var btn = createTiddlyElement(createTiddlyElement(place,"h"+lvl,null,null,null),"a",null,lookaheadMatch[6],title);
btn.onclick=onClickNestedSlider;
btn.setAttribute("href","javascript:;");
btn.setAttribute("title",tooltip);
}
else
var btn = createTiddlyButton(place,title,tooltip,onClickNestedSlider,lookaheadMatch[6]);
// set extra button attributes
btn.sliderCookie = cookie; // save the cookiename (if any) in the button object
btn.defOpen=lookaheadMatch[1]!=null; // save default open/closed state (boolean)
btn.keyparam=key; // save the access key letter ("" if none)
if (key.length) {
btn.setAttribute("accessKey",key); // init access key
btn.onfocus=function(){this.setAttribute("accessKey",this.keyparam);}; // **reclaim** access key on focus
}
// "non-click" MouseOver opens/closes slider
if (lookaheadMatch[5]) btn.onmouseover=onClickNestedSlider;
// otherwise, mouseover aligns floater position with button
else btn.onmouseover=function(event)
{ if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(this.parentNode,this,this.sliderPanel,this.sliderPanel.className); }
// create slider panel
var panelClass=lookaheadMatch[4]?"floatingPanel":"sliderPanel";
var panel=createTiddlyElement(place,"div",null,panelClass,null);
panel.button = btn; // so the slider panel know which button it belongs to
panel.defaultPanelWidth=(lookaheadMatch[4] && lookaheadMatch[4].length>2)?lookaheadMatch[4].slice(1,-1):""; // save requested panel size
btn.sliderPanel=panel;
panel.style.display = show;
panel.style.width=panel.defaultPanelWidth;
panel.onmouseover=function(event) // mouseover aligns floater position with button
{ if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(this.parentNode,this.button,this,this.className); }
// render slider (or defer until shown)
w.nextMatch = lookaheadMatch.index + lookaheadMatch[0].length;
if ((show=="block")||!lookaheadMatch[9]) {
// render now if panel is supposed to be shown or NOT deferred rendering
w.subWikify(lookaheadMatch[8]?createTiddlyElement(panel,"blockquote"):panel,this.terminator);
// align floater position with button
if (window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(place,btn,panel,panelClass);
}
else {
var src = w.source.substr(w.nextMatch);
var endpos=findMatchingDelimiter(src,"+++","===");
panel.setAttribute("raw",src.substr(0,endpos));
panel.setAttribute("blockquote",lookaheadMatch[8]?"true":"false");
panel.setAttribute("rendered","false");
w.nextMatch += endpos+3;
if (w.source.substr(w.nextMatch,1)=="\n") w.nextMatch++;
if (config.options.chkDebugLazySliderDefer) alert("deferred '"+title+"':\n\n"+panel.getAttribute("raw"));
}
}
}
}
)
// TBD: ignore 'quoted' delimiters (e.g., "{{{+++foo===}}}" isn't really a slider)
function findMatchingDelimiter(src,starttext,endtext) {
var startpos = 0;
var endpos = src.indexOf(endtext);
// check for nested delimiters
while (src.substring(startpos,endpos-1).indexOf(starttext)!=-1) {
// count number of nested 'starts'
var startcount=0;
var temp = src.substring(startpos,endpos-1);
var pos=temp.indexOf(starttext);
while (pos!=-1) { startcount++; pos=temp.indexOf(starttext,pos+starttext.length); }
// set up to check for additional 'starts' after adjusting endpos
startpos=endpos+endtext.length;
// find endpos for corresponding number of matching 'ends'
while (startcount && endpos!=-1) {
endpos = src.indexOf(endtext,endpos+endtext.length);
startcount--;
}
}
return (endpos==-1)?src.length:endpos;
}
//}}}
//{{{
window.onClickNestedSlider=function(e)
{
if (!e) var e = window.event;
var theTarget = resolveTarget(e);
var theLabel = theTarget.firstChild.data;
var theSlider = theTarget.sliderPanel
var isOpen = theSlider.style.display!="none";
// if using default button labels, toggle labels
if (theLabel==">") theTarget.firstChild.data = "<";
else if (theLabel=="<") theTarget.firstChild.data = ">";
// if using default tooltips, toggle tooltips
if (theTarget.getAttribute("title")=="show")
theTarget.setAttribute("title","hide");
else if (theTarget.getAttribute("title")=="hide")
theTarget.setAttribute("title","show");
if (theTarget.getAttribute("title")=="show "+theLabel)
theTarget.setAttribute("title","hide "+theLabel);
else if (theTarget.getAttribute("title")=="hide "+theLabel)
theTarget.setAttribute("title","show "+theLabel);
// deferred rendering (if needed)
if (theSlider.getAttribute("rendered")=="false") {
if (config.options.chkDebugLazySliderRender)
alert("rendering '"+theLabel+"':\n\n"+theSlider.getAttribute("raw"));
var place=theSlider;
if (theSlider.getAttribute("blockquote")=="true")
place=createTiddlyElement(place,"blockquote");
wikify(theSlider.getAttribute("raw"),place);
theSlider.setAttribute("rendered","true");
}
// show/hide the slider
if(config.options.chkAnimate && (theSlider.className!='floatingPanel' || config.options.chkFloatingSlidersAnimate))
anim.startAnimating(new Slider(theSlider,!isOpen,e.shiftKey || e.altKey,"none"));
else
theSlider.style.display = isOpen ? "none" : "block";
// reset to default width (might have been changed via plugin code)
theSlider.style.width=theSlider.defaultPanelWidth;
// align floater panel position with target button
if (!isOpen && window.adjustSliderPos) window.adjustSliderPos(theSlider.parentNode,theTarget,theSlider,theSlider.className);
// if showing panel, set focus to first 'focus-able' element in panel
if (theSlider.style.display!="none") {
var ctrls=theSlider.getElementsByTagName("*");
for (var c=0; c<ctrls.length; c++) {
var t=ctrls[c].tagName.toLowerCase();
if ((t=="input" && ctrls[c].type!="hidden") || t=="textarea" || t=="select")
{ ctrls[c].focus(); break; }
}
}
if (this.sliderCookie && this.sliderCookie.length) {
config.options[this.sliderCookie]=!isOpen;
if (config.options[this.sliderCookie]!=this.defOpen)
saveOptionCookie(this.sliderCookie);
else { // remove cookie if slider is in default display state
var ex=new Date(); ex.setTime(ex.getTime()-1000);
document.cookie = this.sliderCookie+"=novalue; path=/; expires="+ex.toGMTString();
}
}
return false;
}
// TW2.1 and earlier:
// hijack Slider animation handler 'stop' handler so overflow is visible after animation has completed
Slider.prototype.coreStop = Slider.prototype.stop;
Slider.prototype.stop = function()
{ this.coreStop.apply(this,arguments); this.element.style.overflow = "visible"; }
// TW2.2+
// hijack Morpher animation handler 'stop' handler so overflow is visible after animation has completed
if (version.major+.1*version.minor+.01*version.revision>=2.2) {
Morpher.prototype.coreStop = Morpher.prototype.stop;
Morpher.prototype.stop = function()
{ this.coreStop.apply(this,arguments); this.element.style.overflow = "visible"; }
}
// adjust floating panel position based on button position
if (window.adjustSliderPos==undefined) window.adjustSliderPos=function(place,btn,panel,panelClass) {
if (panelClass=="floatingPanel") {
var left=0;
var top=btn.offsetHeight;
if (place.style.position!="relative") {
var left=findPosX(btn);
var top=findPosY(btn)+btn.offsetHeight;
var p=place; while (p && p.className!='floatingPanel') p=p.parentNode;
if (p) { left-=findPosX(p); top-=findPosY(p); }
}
if (findPosX(btn)+panel.offsetWidth > getWindowWidth()) // adjust position to stay inside right window edge
left-=findPosX(btn)+panel.offsetWidth-getWindowWidth()+15; // add extra 15px 'fudge factor'
panel.style.left=left+"px"; panel.style.top=top+"px";
}
}
function getWindowWidth() {
if(document.width!=undefined)
return document.width; // moz (FF)
if(document.documentElement && ( document.documentElement.clientWidth || document.documentElement.clientHeight ) )
return document.documentElement.clientWidth; // IE6
if(document.body && ( document.body.clientWidth || document.body.clientHeight ) )
return document.body.clientWidth; // IE4
if(window.innerWidth!=undefined)
return window.innerWidth; // IE - general
return 0; // unknown
}
//}}}
Objectos pousados na paisagem é uma série que apareceu naturalmente, sem ser planeada por mim, a partir do 1º objecto, na Praia da Madalena, em Março 2007
<!--{{{-->
<div class='header' macro='gradient hor[[ColorPalette::TitleBackground]] [[ColorPalette::TitleBackground]]'>
<div class='headerShadow'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
<div class='headerForeground'>
<span class='siteTitle' refresh='content' tiddler='SiteTitle'></span>
<span class='siteSubtitle' refresh='content' tiddler='SiteSubtitle'></span>
</div>
</div>
<!-- horizontal MainMenu -->
<div id='topMenu' refresh='content' tiddler='MainMenu'></div>
<!--original MainMenu menu-->
<div id='sidebar'>
<div id='sidebarOptions' refresh='content' tiddler='WebSideBarOptions'></div>
<div id='sidebarTabs' refresh='content' force='true' tiddler='WebSideBarTabs'></div>
</div>
<div id='displayArea'>
<div id='messageArea'></div>
<div id='tiddlerDisplay'></div>
</div>
<!--}}}-->
De cada vez que actualizo esta espécie de blog, envio mails de notificação a quem possa estar interessado em seguir o seu conteúdo.
Se quiserem receber essas notificações basta [[registarem-se na lista através deste link|http://eepurl.com/bTkjs5]]
Poderão anular o registo quando o desejarem.
<br>
<<search>><<closeAll>><<newTiddler>><<saveChanges>><<slider chkSliderOptionsPanel OptionsPanel 'options »' 'Change TiddlyWiki advanced options'>>
renato roque [[© rroque|http://www.renatoroque.com]]
Uma espécie de blog a partir da fotografia
http://www.renatoroque.com/umaespeciedeblog
/***
|''Name:''|SparklinePlugin|
|''Description:''|Sparklines macro|
***/
//{{{
if(!version.extensions.SparklinePlugin) {
version.extensions.SparklinePlugin = {installed:true};
//--
//-- Sparklines
//--
config.macros.sparkline = {};
config.macros.sparkline.handler = function(place,macroName,params)
{
var data = [];
var min = 0;
var max = 0;
var v;
for(var t=0; t<params.length; t++) {
v = parseInt(params[t]);
if(v < min)
min = v;
if(v > max)
max = v;
data.push(v);
}
if(data.length < 1)
return;
var box = createTiddlyElement(place,"span",null,"sparkline",String.fromCharCode(160));
box.title = data.join(",");
var w = box.offsetWidth;
var h = box.offsetHeight;
box.style.paddingRight = (data.length * 2 - w) + "px";
box.style.position = "relative";
for(var d=0; d<data.length; d++) {
var tick = document.createElement("img");
tick.border = 0;
tick.className = "sparktick";
tick.style.position = "absolute";
tick.src = "data:image/gif,GIF89a%01%00%01%00%91%FF%00%FF%FF%FF%00%00%00%C0%C0%C0%00%00%00!%F9%04%01%00%00%02%00%2C%00%00%00%00%01%00%01%00%40%02%02T%01%00%3B";
tick.style.left = d*2 + "px";
tick.style.width = "2px";
v = Math.floor(((data[d] - min)/(max-min)) * h);
tick.style.top = (h-v) + "px";
tick.style.height = v + "px";
box.appendChild(tick);
}
};
}
//}}}
.twocolumns {
display:block;
-moz-column-count:2;
-moz-column-gap:1em;
-moz-column-width:50%;
}
.indent
{ display:block;margin:0;padding:0;border:0;margin-left:2em; }
.whitespace
{ white-space: pre; }
.left
{ display:block;text-align:left; }
.center
{ display:block;text-align:center; }
.right
{ display:block;text-align:right; }
.justify
{ display:block;text-align:justify; }
.indent
{ margin:0;padding:0;border:0;margin-left:2em; }
.indent2
{ margin:0;padding:0;border:0;margin-left:4em; }
.floatleft
{ float:left; }
.floatright
{ float:right; }
.clear
{ clear:both; }
.wrap
{ white-space:normal; }
.nowrap
{ white-space:nowrap; }
.hidden
{ display:none; }
.span
{ display:span; }
.block
{ display:block; }
/* font sizes */
.big
{ font-size:14pt;line-height:120% }
.medium
{ font-size:12pt;line-height:120% }
.normal
{ font-size:9pt;line-height:120% }
.small
{ font-size:8pt;line-height:150% }
.fine
{ font-size:7pt;line-height:120% }
.tiny
{ font-size:6pt;line-height:120% }
.larger
{ font-size:120%; }
.smaller
{ font-size:80%; line-height:80%}
/* font styles */
.bold
{ font-weight:bold; }
.italics
{ font-style:italics; }
.underline
{ text-decoration:underline; }
/* colors */
.green { color:#6f6 !important }
.red { color:#f66 !important }
.blue { color:#99f !important }
.white { color:#fff !important }
.grey { color:#888 !important }
.black { color:#000 !important }
/*{{{*/
/* horizontal main menu */
#displayArea { margin: 1em 15.5em 0em 1em; } /* use the full horizontal width */
#topMenu
{
background: [[ColorPalette::TitleBackground]];
color: [[ColorPalette::Title]];
padding: 0.2em 0.2em 0.2em 0.5em;
border-bottom: 2px solid #000000;
}
#topMenu br { display: none; }
#topMenu .button, #topMenu .tiddlyLink, #topMenu a
{
margin-left: 0.25em;
margin-right: 0.25em;
padding-left: 0.5em;
padding-right: 0.5em;
color: [[ColorPalette::ButtonTop]];
font-size: 1.15em;
}
#topMenu .button:hover, #topMenu .tiddlyLink:hover
{
background: [[ColorPalette::ButtonTopOver]];
}
/*}}}*/
[[StyleSheetColors2]]
[[StyleSheetLayout2]]
[[ColorPalette2]]
[[StyleSheetShortcuts]]
/*{{{*/
body {
background: [[ColorPalette::Background]];
color: [[ColorPalette::Foreground]];
}
a{
color: [[ColorPalette::Link]];
}
a:hover{
color: [[ColorPalette::LinkOver]];
background: [[ColorPalette::LinkOverBackground]];
}
a img{
/*separador das imagens*/
border: 0;
}
h1,h2,h3,h4,h5 {
color: [[ColorPalette::Header]];
background: [[ColorPalette::HeaderBackground]];
}
.button {
color: [[ColorPalette::Button]];
border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonBorder]];
background: [[ColorPalette::ButtonBackground]];
}
.button:hover {
color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];
}
.button:active {
color: [[ColorPalette::ButtonActive]];
background: [[ColorPalette::ButtonActiveBackground]];
border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonActiveBorder]];
}
.header {
background: [[ColorPalette::HeaderBackground]];
}
.headerShadow {
color: [[ColorPalette::Foreground]];
}
.headerShadow a {
font-weight: normal;
color: [[ColorPalette::Foreground]];
}
.headerForeground {
color: [[ColorPalette::Background]];
}
.headerForeground a {
font-weight: normal;
color: [[ColorPalette::TitleLink]];
}
.tabSelected{
color: [[ColorPalette::TabSelected]];
background: [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
border-left: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
border-top: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
border-right: 1px solid [[ColorPalette::TabSelectedBackground]];
}
.tabUnselected {
color: [[ColorPalette::TabNotSelected]];
background: [[ColorPalette::TabNotSelectedBackground]];
}
.tabContents {
color: [[ColorPalette::TabContent]];
background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
border: 1px solid [[ColorPalette::TabContentBorder]];
}
.tabContents .button {
color: [[ColorPalette::TabItem]];
background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
border: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
}
.tabContents .button:hover {
color: [[ColorPalette::TabItemOver]];
background: [[ColorPalette::TabItemOverBackground]];
border-color: [[ColorPalette::TabItemOverBackground]];
}
#sidebar {
color: [ColorPalette::SideBar]];
background:[ColorPalette::SideBarBackground]];
}
#sidebar .button {
/*Se quiser buttons diferentes*/
}
#sidebar .button:hover {
}
#sidebarOptions input {
border: 1px solid [[ColorPalette::SearchBorder]];
}
#sidebarOptions .button {
color: [[ColorPalette::Button]];
border: 1px solid [[ColorPalette::ButtonBorder]];
}
#sidebarOptions .button:hover {
color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];
}
#sidebarOptions .sliderPanel {
background: [[ColorPalette::SideOptionsBackground]];
color: [[ColorPalette::SideOptions]];
}
#sidebarOptions .sliderPanel a {
border: none;
color: [[ColorPalette::Link]];
}
#sidebarOptions .sliderPanel a:hover {
color: [[ColorPalette::LinkOver]];
background: [[ColorPalette::LinkOverBackground]]
}
#sidebarOptions .sliderPanel a:active {
}
#messageArea {
border: 1px solid [[ColorPalette::MessageBorder]];
background: [[ColorPalette::MessageBackground]];
color: [[ColorPalette::Message]];
}
#messageArea .button {
padding: 0.2em 0.2em 0.2em 0.2em;
color: [[ColorPalette::Button]];
background: [[ColorPalette::ButtonBackground]];
}
.popup {
/* para a lista de tiddlers de cada tag*/
background: [[ColorPalette::SecondTableBackground]];
color: [[ColorPalette::SecondTable]];
border: 1px solid [[ColorPalette::SecondTableBorder]];
}
.popup hr {
color: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
background: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
border-bottom: 1px;
}
.listBreak div{
border-bottom: 1px solid [[ColorPalette::PrimaryDark]];
}
.popup li.disabled {
color: [[ColorPalette::PrimaryMid]];
}
.popup li a, .popup li a:visited {
border: none;
color: [[ColorPalette::SecondTableItem]];
}
.popup li a:hover {
background: [[ColorPalette::SecondTableItemOverBackground]];
color: [[ColorPalette::SecondTableItemOver]];
border: none;
}
.tiddler .defaultCommand {
font-weight: bold;
}
.shadow .title {
color: [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}
.title {
color: [[ColorPalette::TiddlerTitle]];
}
.subtitle {
color: [[ColorPalette::TiddlerSubTitle]];
}
.toolbar {
color: [[ColorPalette::InputBorder]];
}
.tagging, .tagged {
border: 1px solid [[ColorPalette::TagBackground]];
background: [[ColorPalette::TagBackground]];
color: [[ColorPalette::Tag2]];
}
.selected .tagging, .selected .tagged {
background: [[ColorPalette::TagBackground2]];
border: 1px solid [[ColorPalette::TagBackground2]];
color: [[ColorPalette::Tag2]];
}
.tagging .listTitle, .tagged .listTitle {
/*cabecalho de tags*/
color: [[ColorPalette::Foreground]];
}
.tagging .button, .tagged .button {
color: [[ColorPalette::Tag]];
background: [[ColorPalette::TagBackground]];
border: none;
}
.tagging .button:hover, .tagged .button:hover{
color: [[ColorPalette::ButtonOver]];
background: [[ColorPalette::ButtonOverBackground]];
border-color: [[ColorPalette::ButtonOverBorder]];
}
.footer {
color: [[ColorPalette::TertiaryLight]];
}
.selected .footer {
color: [[ColorPalette::TertiaryMid]];
}
.sparkline {
background: [[ColorPalette::PrimaryPale]];
border: 0;
}
.sparktick {
background: [[ColorPalette::PrimaryDark]];
}
.error, .errorButton {
color: [[ColorPalette::Foreground]];
background: [[ColorPalette::Error]];
}
.warning {
color: [[ColorPalette::Foreground]];
background: [[ColorPalette::SecondaryPale]];
}
.cascade {
background: [[ColorPalette::TabContentBackground]];
color: [[ColorPalette::TabContent]];
border: 1px solid [[ColorPalette::TabContentBorder]];
}
.imageLink, #displayArea .imageLink {
background: transparent;
}
.viewer .listTitle {list-style-type: none; margin-left: -2em;}
.viewer .button {
border: 1px solid [[ColorPalette::SecondaryMid]];
}
.viewer blockquote {
border-left: 3px solid [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}
.viewer table {
/*tabelas dentro de um tiddler*/
border: 1px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
}
.viewer th, thead td {
background: [[ColorPalette::SecondaryMid]];
border: 2px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
color: [[ColorPalette::Background]];
}
.viewer td, .viewer tr {
/*Linhas das tabelas nos tiddlers*/
border: 2px solid [[ColorPalette::TiddlerTableBorder]];
}
.viewer pre {
border: 1px solid [[ColorPalette::SecondaryLight]];
background: [[ColorPalette::SecondaryPale]];
}
.viewer code {
color: [[ColorPalette::SecondaryDark]];
}
.viewer hr {
border: 0;
border-top: dashed 1px [[ColorPalette::TertiaryDark]];
color: [[ColorPalette::TertiaryDark]];
}
.highlight, .marked {
background: [[ColorPalette::SecondaryLight]];
}
.editor input {
border: 1px solid [[ColorPalette::InputBorder]];
}
.editor textarea {
border: 1px solid [[ColorPalette::InputBorder]];
width: 100%;
}
.editorFooter {
color: [[ColorPalette::InputBorder]];
}
/*}}}*/
/*{{{*/
* html .tiddler {height:1%;}
body {font-size:.75em; font-family:arial,helvetica; margin:0; padding:0;}
h1,h2,h3,h4,h5,h6 {font-weight:bold; text-decoration:none;}
h1,h2,h3 {padding-bottom:1px; margin-top:1.2em;margin-bottom:0.3em;}
h4,h5,h6 {margin-top:1em;}
h1 {font-size:1.35em;}
h2 {font-size:1.25em;}
h3 {font-size:1.1em;}
h4 {font-size:1em;}
h5 {font-size:.9em;}
hr {height:1px;}
a {text-decoration:none;}
dt {font-weight:bold;}
ol {list-style-type:decimal;}
ol ol {list-style-type:lower-alpha;}
ol ol ol {list-style-type:lower-roman;}
ol ol ol ol {list-style-type:decimal;}
ol ol ol ol ol {list-style-type:lower-alpha;}
ol ol ol ol ol ol {list-style-type:lower-roman;}
ol ol ol ol ol ol ol {list-style-type:decimal;}
.txtOptionInput {width:11em;}
#contentWrapper .chkOptionInput {border:0;}
.externalLink {text-decoration:underline;}
.indent {margin-left:3em;}
.outdent {margin-left:3em; text-indent:-3em;}
code.escaped {white-space:nowrap;}
.tiddlyLinkExisting {font-weight:bold;}
.tiddlyLinkNonExisting {font-style:italic;}
/* the 'a' is required for IE, otherwise it renders the whole tiddler in bold */
a.tiddlyLinkNonExisting.shadow {font-weight:bold;}
#mainMenu .tiddlyLinkExisting,
#mainMenu .tiddlyLinkNonExisting,
#sidebarTabs .tiddlyLinkNonExisting {font-weight:normal; font-style:normal;}
#sidebarTabs .tiddlyLinkExisting {font-weight:bold; font-style:normal;}
.header {position:relative;}
.header a:hover {background:transparent;}
.headerShadow {position:relative; padding:4.5em 0 1em 1em; left:-1px; top:-1px;}
.headerForeground {position:absolute; padding:4.5em 0 1em 1em; left:0px; top:0px;}
.siteTitle {font-size:3em;}
.siteSubtitle {font-size:1.2em;}
#mainMenu {position:absolute; left:0; width:10em; text-align:right; line-height:1.6em; padding:1.5em 0.5em 0.5em 0.5em; font-size:1.1em;}
#sidebar {position:absolute; right:3px; width:16em; font-size:.9em;}
#sidebarOptions {padding-top:0.3em;}
#sidebarOptions a {margin:0 0.2em; padding:0.2em 0.3em; display:block;}
#sidebarOptions input {margin:0.4em 0.5em;}
#sidebarOptions .sliderPanel {margin-left:1em; padding:0.5em; font-size:.85em;}
#sidebarOptions .sliderPanel a {font-weight:bold; display:inline; padding:0;}
#sidebarOptions .sliderPanel input {margin:0 0 0.3em 0;}
#sidebarTabs .tabContents {width:15em; overflow:hidden;}
.wizard {padding:0.1em 1em 0 2em;}
.wizard h1 {font-size:2em; font-weight:bold; background:none; padding:0; margin:0.4em 0 0.2em;}
.wizard h2 {font-size:1.2em; font-weight:bold; background:none; padding:0; margin:0.4em 0 0.2em;}
.wizardStep {padding:1em 1em 1em 1em;}
.wizard .button {margin:0.5em 0 0; font-size:1.2em;}
.wizardFooter {padding:0.8em 0.4em 0.8em 0;}
.wizardFooter .status {padding:0 0.4em; margin-left:1em;}
.wizard .button {padding:0.1em 0.2em;}
#messageArea {position:fixed; top:2em; right:0; margin:0.5em; padding:0.5em; z-index:2000; _position:absolute;}
.messageToolbar {display:block; text-align:right; padding:0.2em;}
#messageArea a {text-decoration:underline;}
.tiddlerPopupButton {padding:0.2em;}
.popupTiddler {position: absolute; z-index:300; padding:1em; margin:0;}
.popup {position:absolute; z-index:300; font-size:.9em; padding:0; list-style:none; margin:0;}
.popup .popupMessage {padding:0.4em;}
.popup hr {display:block; height:1px; width:auto; padding:0; margin:0.2em 0;}
.popup li.disabled {padding:0.4em;}
.popup li a {display:block; padding:0.4em; font-weight:normal; cursor:pointer;}
.listBreak {font-size:1px; line-height:1px;}
.listBreak div {margin:2px 0;}
.tabset {padding:1em 0 0 0.5em;}
.tab {margin:0 0 0 0.25em; padding:2px;}
.tabContents {padding:0.5em;}
.tabContents ul, .tabContents ol {margin:0; padding:0;}
.txtMainTab .tabContents li {list-style:none;}
.tabContents li.listLink { margin-left:.75em;}
#contentWrapper {display:block;}
#splashScreen {display:none;}
#displayArea {margin:1em 17em 0 14em;}
.toolbar {text-align:right; font-size:.9em;}
.tiddler {padding:1em 1em 0;}
.missing .viewer,.missing .title {font-style:italic;}
.title {font-size:1.6em; font-weight:bold;}
.missing .subtitle {display:none;}
.subtitle {font-size:1.1em;}
.tiddler .button {padding:0.2em 0.4em;}
.tagging {margin:0.5em 0.5em 0.5em 0; float:left; display:none;}
.isTag .tagging {display:block;}
.tagged {margin:0.5em; float:right;}
.tagging, .tagged {font-size:0.9em; padding:0.25em;}
.tagging ul, .tagged ul {list-style:none; margin:0.25em; padding:0;}
.tagClear {clear:both;}
.footer {font-size:.9em;}
.footer li {display:inline;}
.annotation {padding:0.5em; margin:0.5em;}
* html .viewer pre {width:99%; padding:0 0 1em 0;}
.viewer {line-height:1.4em; padding-top:0.5em;}
.viewer .button {margin:0 0.25em; padding:0 0.25em;}
.viewer blockquote {line-height:1.5em; padding-left:0.8em;margin-left:2.5em;}
.viewer ul, .viewer ol {margin-left:0.5em; padding-left:1.5em;}
.viewer table, table.twtable {border-collapse:collapse; margin:0.8em 1.0em;}
.viewer th, .viewer td, .viewer tr,.viewer caption,.twtable th, .twtable td, .twtable tr,.twtable caption {padding:3px;}
table.listView {font-size:0.85em; margin:0.8em 1.0em;}
table.listView th, table.listView td, table.listView tr {padding:0px 3px 0px 3px;}
.viewer pre {padding:0.5em; margin-left:0.5em; font-size:1.2em; line-height:1.4em; overflow:auto;}
.viewer code {font-size:1.2em; line-height:1.4em;}
.editor {font-size:1.1em;}
.editor input, .editor textarea {display:block; width:100%; font:inherit;}
.editorFooter {padding:0.25em 0; font-size:.9em;}
.editorFooter .button {padding-top:0px; padding-bottom:0px;}
.fieldsetFix {border:0; padding:0; margin:1px 0px;}
.sparkline {line-height:1em;}
.sparktick {outline:0;}
.zoomer {font-size:1.1em; position:absolute; overflow:hidden;}
.zoomer div {padding:1em;}
* html #backstage {width:99%;}
* html #backstageArea {width:99%;}
#backstageArea {display:none; position:relative; overflow: hidden; z-index:150; padding:0.3em 0.5em;}
#backstageToolbar {position:relative;}
#backstageArea a {font-weight:bold; margin-left:0.5em; padding:0.3em 0.5em;}
#backstageButton {display:none; position:absolute; z-index:175; top:0; right:0;}
#backstageButton a {padding:0.1em 0.4em; margin:0.1em;}
#backstage {position:relative; width:100%; z-index:50;}
#backstagePanel {display:none; z-index:100; position:absolute; width:90%; margin-left:3em; padding:1em;}
.backstagePanelFooter {padding-top:0.2em; float:right;}
.backstagePanelFooter a {padding:0.2em 0.4em;}
#backstageCloak {display:none; z-index:20; position:absolute; width:100%; height:100px;}
.whenBackstage {display:none;}
.backstageVisible .whenBackstage {display:block;}
/*}}}*/
/*{{{*/
* html .tiddler {
height: 1%;
}
body {
font-size: .75em;
/*font-family: arial,helvetica;*/
font-family: verdana,helvetica;
margin: 0;
padding: 0;
}
h1,h2,h3,h4,h5 {
font-weight: bold;
text-decoration: none;
padding-left: 0.4em;
}
h1 {font-size: 1.35em;}
h2 {font-size: 1.25em;}
h3 {font-size: 1.1em;}
h4 {font-size: 1em;}
h5 {font-size: .9em;}
.viewer h4
{
font-size: 8pt;
text-indent: +20px;
font-weight: normal;
}
#mainMenu {
position: absolute;
left: 0em;
width: 10px; line-height: 166%;
padding: 1.5em 0.5em 0.5em 0.5em;
font-size: 10pt;
text-align: right;
}
#sidebar {
position: absolute;
right: 0em;
width: 160px;
font-size: 8pt;
}
#sidebarOptions {
padding-top: 0.3em;
}
#sidebarOptions a {
margin: 0em 0.2em;
padding: 0.2em 0.3em;
display: block;
}
#sidebarOptions input {
margin: 0.4em 0.5em;
}
#sidebarOptions .sliderPanel {
margin-left: 1em;
padding: 0.5em;
font-size: .85em;
}
#sidebarOptions .sliderPanel a {
font-weight: bold;
display: inline;
padding: 0;
}
#sidebarOptions .sliderPanel input {
margin: 0 0 .3em 0;
}
#sidebarTabs .tabContents {
width: 140px;
overflow: hidden;
}
.tagging {
margin: 0.5em 0.5em 0.5em 0;
float: left;
display: none;
}
.isTag .tagging {
display: block;
}
.tagged {
margin: 0.5em;
/*float: right;*/
float:left !important; /*left-aligned with the tiddler content*/
/*You may also want to change or eliminate the background for the .tagged area*/
/*background:transparent !important; border:0 !important; */
}
/*eliminate the 'newlines' between tag values, so that they all appear on a single line instead of one-per-line (note: if you have a LOT of tags, they may still wrap onto additional lines if the line gets wider than the tiddler display area) */
.tagged li { display:inline; }
.tagging, .tagged {
font-size: 0.9em;
padding: 0.25em;
}
.tagging ul, .tagged ul {
list-style: none;margin: 0.25em;
padding: 0;
}
.tagClear {
clear: both;
}
/*}}}*/
/***
|Name|StyleSheetShortcuts|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#StyleSheetShortcuts|
|Version||
|Author|Eric Shulman|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements|
|~CoreVersion|2.1|
|Type|CSS|
|Description|'convenience' classes for common formatting, alignment, boxes, tables, etc.|
These 'style tweaks' can be easily included in other stylesheet tiddler so they can share a baseline look-and-feel that can then be customized to create a wide variety of 'flavors'.
***/
/*{{{*/
/* text alignments */
.left
{ display:block;text-align:left; }
.center
{ display:block;text-align:center; }
.center table
{ margin:auto !important; }
.right
{ display:block;text-align:right; }
.justify
{ display:block;text-align:justify; }
.indent
{ display:block;margin:0;padding:0;border:0;margin-left:2em; }
.floatleft
{ float:left; }
.floatright
{ float:right; }
.valignTop, .valignTop table, .valignTop tbody, .valignTop th, .valignTop tr, .valignTop td
{ vertical-align:top; }
.valignBottom, .valignBottom table, .valignBottom tbody, .valignBottom th, .valignBottom tr, .valignBottom td
{ vertical-align:bottom; }
.clear
{ clear:both; }
.wrap
{ white-space:normal; }
.nowrap
{ white-space:nowrap; }
.hidden
{ display:none; }
.show
{ display:inline !important; }
.span
{ display:span; }
.block
{ display:block; }
.relative
{ position:relative; }
.absolute
{ position:absolute; }
/* font sizes */
.big
{ font-size:14pt;line-height:120% }
.medium
{ font-size:12pt;line-height:120% }
.normal
{ font-size:9pt;line-height:120% }
.small
{ font-size:8pt;line-height:120% }
.fine
{ font-size:7pt;line-height:120% }
.tiny
{ font-size:6pt;line-height:120% }
.larger
{ font-size:120%; }
.smaller
{ font-size:80%; }
/* font styles */
.bold
{ font-weight:bold; }
.italic
{ font-style:italic; }
.underline
{ text-decoration:underline; }
/* plain list items (no bullets or indent) */
.nobullets li { list-style-type: none; margin-left:-2em; }
/* vertical tabsets - courtesy of Tobias Beer */
.vTabs .tabset {float:left;display:block;padding:0px;margin-top:.5em;min-width:20%;}
.vTabs .tabset .tab {display:block;text-align:right;padding:2px 3px 2px 7px; margin:0 1px 1px 0;}
.vTabs .tabContents {margin-left:20%;max-width:80%;padding:5px;}
.vTabs .tabContents .tabContents {border:none; background:transparent;}
/* multi-column tiddler content (not supported in Internet Explorer) */
.twocolumns { display:block;
-moz-column-count:2; -moz-column-gap:1em; -moz-column-width:50%; /* FireFox */
-webkit-column-count:2; -webkit-column-gap:1em; -webkit-column-width:50%; /* Safari */
column-count:2; column-gap:1em; column-width:50%; /* Opera */
}
.threecolumns { display:block;
-moz-column-count:3; -moz-column-gap:1em; -moz-column-width:33%; /* FireFox */
-webkit-column-count:3; -webkit-column-gap:1em; -webkit-column-width:33%; /* Safari */
column-count:3; column-gap:1em; column-width:33%; /* Opera */
}
.fourcolumns { display:block;
-moz-column-count:4; -moz-column-gap:1em; -moz-column-width:25%; /* FireFox */
-webkit-column-count:4; -webkit-column-gap:1em; -webkit-column-width:25%; /* Safari */
column-count:4; column-gap:1em; column-width:25%; /* Opera */
}
/* page breaks */
.breakbefore { page-break-before:always; }
.breakafter { page-break-before:always; }
/* show/hide browser-specific content for InternetExplorer vs. non-IE ("moz") browsers */
*[class="ieOnly"]
{ display:none; } /* hide in moz (uses CSS selector) */
* html .mozOnly, *:first-child+html .mozOnly
{ display: none; } /* hide in IE (uses IE6/IE7 CSS hacks) */
/* borderless tables */
.borderless, .borderless table, .borderless td, .borderless tr, .borderless th, .borderless tbody
{ border:0 !important; margin:0 !important; padding:0 !important; }
.widetable, .widetable table
{ width:100%; }
/* thumbnail images (fixed-sized scaled images) */
.thumbnail img { height:5em !important; }
/* stretchable images (auto-size to fit tiddler) */
.stretch img { width:95%; }
/* grouped content */
.outline
{ display:block; padding:1em; -moz-border-radius:1em;-webkit-border-radius:1em; border:1px solid; }
.menubox
{ display:block; padding:1em; -moz-border-radius:1em;-webkit-border-radius:1em; border:1px solid; background:#fff; color:#000; }
.menubox .button, .menubox .tiddlyLinkExisting, .menubox .tiddlyLinkNonExisting
{ color:#009 !important; }
.groupbox
{ display:block; padding:1em; -moz-border-radius:1em;-webkit-border-radius:1em; border:1px solid; background:#ffe; color:#000; }
.groupbox a, .groupbox .button, .groupbox .tiddlyLinkExisting, .groupbox .tiddlyLinkNonExisting
{ color:#009 !important; }
.groupbox code
{ color:#333 !important; }
.borderleft
{ margin:0;padding:0;border:0;margin-left:1em; border-left:1px dotted; padding-left:.5em; }
.borderright
{ margin:0;padding:0;border:0;margin-right:1em; border-right:1px dotted; padding-right:.5em; }
.borderbottom
{ margin:0;padding:1px 0;border:0;border-bottom:1px dotted; margin-bottom:1px; padding-bottom:1px; }
.bordertop
{ margin:0;padding:0;border:0;border-top:1px dotted; margin-top:1px; padding-top:1px; }
/* scrolled content */
.scrollbars { overflow:auto; }
.height10em { height:10em; }
.height15em { height:15em; }
.height20em { height:20em; }
.height25em { height:25em; }
.height30em { height:30em; }
.height35em { height:35em; }
.height40em { height:40em; }
/* compact form */
.smallform
{ white-space:nowrap; }
.smallform input, .smallform textarea, .smallform button, .smallform checkbox, .smallform radio, .smallform select
{ font-size:8pt; }
/* stretchable edit fields and textareas (auto-size to fit tiddler) */
.stretch input { width:99%; }
.stretch textarea { width:99%; }
/* compact input fields (limited to a few characters for entering percentages and other small values) */
.onechar input { width:1em; }
.twochar input { width:2em; }
.threechar input { width:3em; }
.fourchar input { width:4em; }
.fivechar input { width:5em; }
/* text colors */
.white { color:#fff !important }
.gray { color:#999 !important }
.black { color:#000 !important }
.red { color:#f66 !important }
.green { color:#0c0 !important }
.blue { color:#99f !important }
/* rollover highlighting */
.mouseover
{color:[[ColorPalette::TertiaryLight]] !important;}
.mouseover a
{color:[[ColorPalette::TertiaryLight]] !important;}
.selected .mouseover
{color:[[ColorPalette::Foreground]] !important;}
.selected .mouseover .button, .selected .mouseover a
{color:[[ColorPalette::PrimaryDark]] !important;}
/* rollover zoom text */
.zoomover
{ font-size:80% !important; }
.selected .zoomover
{ font-size:100% !important; }
/* [[ColorPalette]] text colors */
.Background { color:[[ColorPalette::Background]]; }
.Foreground { color:[[ColorPalette::Foreground]]; }
.PrimaryPale { color:[[ColorPalette::PrimaryPale]]; }
.PrimaryLight { color:[[ColorPalette::PrimaryLight]]; }
.PrimaryMid { color:[[ColorPalette::PrimaryMid]]; }
.PrimaryDark { color:[[ColorPalette::PrimaryDark]]; }
.SecondaryPale { color:[[ColorPalette::SecondaryPale]]; }
.SecondaryLight { color:[[ColorPalette::SecondaryLight]];}
.SecondaryMid { color:[[ColorPalette::SecondaryMid]]; }
.SecondaryDark { color:[[ColorPalette::SecondaryDark]]; }
.TertiaryPale { color:[[ColorPalette::TertiaryPale]]; }
.TertiaryLight { color:[[ColorPalette::TertiaryLight]]; }
.TertiaryMid { color:[[ColorPalette::TertiaryMid]]; }
.TertiaryDark { color:[[ColorPalette::TertiaryDark]]; }
.Error { color:[[ColorPalette::Error]]; }
/* [[ColorPalette]] background colors */
.BGBackground { background-color:[[ColorPalette::Background]]; }
.BGForeground { background-color:[[ColorPalette::Foreground]]; }
.BGPrimaryPale { background-color:[[ColorPalette::PrimaryPale]]; }
.BGPrimaryLight { background-color:[[ColorPalette::PrimaryLight]]; }
.BGPrimaryMid { background-color:[[ColorPalette::PrimaryMid]]; }
.BGPrimaryDark { background-color:[[ColorPalette::PrimaryDark]]; }
.BGSecondaryPale { background-color:[[ColorPalette::SecondaryPale]]; }
.BGSecondaryLight { background-color:[[ColorPalette::SecondaryLight]]; }
.BGSecondaryMid { background-color:[[ColorPalette::SecondaryMid]]; }
.BGSecondaryDark { background-color:[[ColorPalette::SecondaryDark]]; }
.BGTertiaryPale { background-color:[[ColorPalette::TertiaryPale]]; }
.BGTertiaryLight { background-color:[[ColorPalette::TertiaryLight]]; }
.BGTertiaryMid { background-color:[[ColorPalette::TertiaryMid]]; }
.BGTertiaryDark { background-color:[[ColorPalette::TertiaryDark]]; }
.BGError { background-color:[[ColorPalette::Error]]; }
/*}}}*/
/***
|Name|SwitchThemePlugin|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePlugin|
|Documentation|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePluginInfo|
|Version|5.4.1|
|Author|Eric Shulman|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements|
|~CoreVersion|2.3|
|Type|plugin|
|Description|Select alternative TiddlyWiki template/stylesheet 'themes' from a droplist|
!!!!!Documentation
>see [[SwitchThemePluginInfo]]
!!!!!Configuration
<<<
Current theme:<<switchTheme width:auto>>
<<option chkRandomTheme>> select a random theme at startup
//Note: to prevent a given theme from being chosen at random, tag it with <<tag excludeTheme>>//
<<<
!!!!!Installation Note
>As of 4/13/2008, a "core patch" function that provides backward-compatibility with TW2.3.x has been split into a separate tiddler, [[SwitchThemePluginPatch]], to reduce installation overhead for //this// plugin. ''You should only install the patch tiddler when using this plugin in documents based on a core version prior to TW2.4.0''
!!!!!Revisions
<<<
2009.10.01 [5.4.1] changed 'noRandom' tag to 'excludeTheme' and recognize 'excludeLists' tag
| Please see [[SwitchThemePluginInfo]] for previous revision details |
2008.01.22 [5.0.0] Completely re-written and renamed from [[SelectStylesheetPlugin]] (now retired)
//history for retired SelectStylesheetPlugin omitted//
2005.07.20 [1.0.0] initial release (as SelectStylesheetPlugin)
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
version.extensions.SwitchThemePlugin= {major: 5, minor: 4, revision: 1, date: new Date(2009,10,1)};
config.macros.switchTheme = {
handler: function(place,macroName,params) {
setStylesheet(".switchTheme {width:100%;font-size:8pt;margin:0em}","switchThemePlugin");
if (params[0] && (params[0].substr(0,6)=="width:")) var width=(params.shift()).substr(6);
if (params[0] && (params[0].substr(0,6)=="label:")) var label=(params.shift()).substr(6);
if (params[0] && (params[0].substr(0,7)=="prompt:")) var prompt=(params.shift()).substr(7);
if (params[0] && params[0].trim().length) // create a link that sets a specific theme
createTiddlyButton(place,label?label:params[0],prompt?prompt:params[0],
function(){ config.macros.switchTheme.set(params[0]); return false;});
else { // create a select list of available themes
var theList=createTiddlyElement(place,"select",null,"switchTheme",null);
theList.size=1;
if (width) theList.style.width=width;
theList.onchange=function() { config.macros.switchTheme.set(this.value); return true; };
this.refresh(theList);
}
},
refresh: function(list) {
var indent = String.fromCharCode(160)+String.fromCharCode(160);
while(list.length > 0){list.options[0]=null;} // clear list
list.options[list.length] = new Option("select a theme:","",true,true);
list.options[list.length] = new Option(indent+"[default]","StyleSheet");
list.options[list.length] = new Option(indent+"[random]","*");
var themes=store.getTaggedTiddlers("systemTheme");
for (var i=0; i<themes.length; i++)
if (themes[i].title!="StyleSheet" && !themes[i].isTagged('excludeLists'))
list.options[list.length]=new Option(indent+themes[i].title,themes[i].title);
// show current selection
for (var t=0; t<list.options.length; t++)
if (list.options[t].value==config.options.txtTheme)
{ list.selectedIndex=t; break; }
},
set: function(theme) {
if (!theme||!theme.trim().length) return;
if (theme=="*") { // select a random theme (except themes with "excludeTheme")
var curr=config.options.txtTheme;
var themes=store.getTaggedTiddlers("systemTheme");
if (!themes.length) return false;
var which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
while (themes[which].title==curr
||themes[which].tags.contains('excludeTheme','excludeLists'))
which=Math.floor(Math.random()*themes.length);
theme=themes[which].title;
}
// apply selected theme
story.switchTheme(theme);
// sync theme droplists
var elems=document.getElementsByTagName("select");
var lists=[]; for (var i=0; i<elems.length; i++)
if (hasClass(elems[i],"switchTheme")) lists.push(elems[i]);
for (var k=0; k<lists.length; k++)
for (var t=0; t<lists[k].options.length; t++)
if (lists[k].options[t].value==config.options.txtTheme)
{ lists[k].selectedIndex=t; break; }
return;
}
}
//}}}
// // option to select a random theme at startup (if enabled)
//{{{
if (config.options.chkRandomTheme===undefined)
config.options.chkRandomTheme=false;
if (config.options.chkRandomTheme)
config.macros.switchTheme.set("*");
//}}}
// // hijack switchTheme to add Check/Init/Reset code handlers
//{{{
if (Story.prototype.switchTheme_saved===undefined) { // only once
Story.prototype.switchTheme_saved=Story.prototype.switchTheme;
Story.prototype.switchTheme=function(t){
function run(t,s){
var f=store.getTiddlerText(store.getTiddlerSlice(t,s));
return f?eval('(function(){\n'+f+'\n})()'):false;
}
if (!startingUp && (run(config.options.txtTheme,'Reset')||run(t,'Check'))) return;
this.switchTheme_saved.apply(this,arguments);
run(t,'Init');
}
}
//}}}
/***
|Name|SwitchThemePluginInfo|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePlugin|
|Documentation|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePluginInfo|
|Version|5.4.1|
|Author|Eric Shulman|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements|
|~CoreVersion|2.3|
|Type|documentation|
|Description|documentation for SwitchThemePlugin|
This plugin replaces the features previously provided by SelectStylesheetPlugin, and uses the ''TiddlyWiki core "theme" mechanism'' to select alternative templates and styles. ''//This plugin requires TiddlyWiki version 2.3.0 or later//''
!!!!!Usage
<<<
{{medium{__Defining a theme:__}}}
First, create/import a tiddler containing CSS definitions and tag it with<<tag systemTheme>>. At the top of the tiddler, embed a //slice table// with at least one slice, "~StyleSheet", whose value is the name of the tiddler itself, e.g., in a tiddler called [[MyTheme]], write:
{{{
/***
|StyleSheet|MyTheme|
***/
}}}
>Note use of {{{/***}}} and {{{***/}}} around the slice table. This syntax allows the browser to skip over the slice table definition when processing the ~CSS-syntax embedded within the tiddler.
A theme tiddler can also define one or more additional slices that associate customized versions of [[PageTemplate]], [[ViewTemplate]], and/or [[EditTemplate]], for use with that theme:
{{{
/***
|PageTemplate|MyPageTemplate|
|ViewTemplate|MyViewTemplate|
|EditTemplate|MyEditTemplate|
***/
}}}
where the slice //name// is the standard template name, and the slice //value// is the title of the alternative custom template to use. You can also associate a secondary set of ''"read only" templates that will be automatically applied whenever a document is being viewed online'' (i.e., via http: protocol)
{{{
|PageTemplateReadOnly|MyWebPageTemplate|
|ViewTemplateReadOnly|MyWebViewTemplate|
|EditTemplateReadOnly|MyWebEditTemplate|
}}}
These alternative templates can be used to present a reduced-feature "reader" interface when viewed on-line by others, while still offering a full-featured "author" interface when working locally.
In addition to the TW core slices described above, the plugin allows you to define extra slices that refer to tiddlers (or tiddler sections) containing ''custom javascript code that can be invoked whenever theme switching occurs''. A theme can include any of the following special plugin-enhanced slices:
{{{
|Check|MyThemeCheck|
|Init|MyThemeInit|
|Reset|MyThemeReset|
}}}
*{{block{
The code referenced by the ''Check'' slice (if any) is invoked ''before switching'' to a selected theme. ''If this code returns a non-zero (or true) result, then the new theme will not be applied. A zero (or false) value allows the theme switch to continue as usual.'' For example, the following code asks for confirmation, allowing the user to cancel the theme switch:
{{{
return !confirm('Are you sure you want to use this theme?');
}}}
}}}
*After a theme has been applied, the code referenced by the ''Init'' slice (if any) is invoked. This can be used to perform theme-related ''side-effects'', such as modifying various {{{config.options['...']}}} settings or displaying instructions/messages.
*When switching to another theme, any code referenced by a ''Reset'' slice //in the current theme// is invoked before the new theme is applied. ''If this code returns a non-zero result, then the new theme will not be applied.'' As with the ''Check'' code, this can be used to ask the user to confirm before switching themes. However, the primary intent of the ''Reset'' code is to permit restoration any modified settings that were altered by ''Init'' code that was previously invoked for the current theme.
{{medium{__Selecting a theme from a droplist:__}}}
To display a droplist of available themes, use this syntax:
{{{
<<switchTheme width:nnn>>
}}}
*''width:nnn[cm|px|em|%]'' (optional)<br>specifies the width of the droplist (using CSS measurements)(default=100%)
All tiddlers tagged with<<tag systemTheme>> will be included in the droplist of available themes for you to select (except those also tagged with <<tag excludeLists>>. The current selection is stored in a TiddlyWiki option cookie ("txtTheme") that is applied automatically each time you reload your document. If the selected theme does not exist in the document (e.g., it was deleted/renamed after being selected), the [default] CSS tiddler, [[StyleSheet]], will be used as a fallback. If [random] is seleced, the plugin automatically selects a random theme. You can exclude a theme from being randomly selected by tagging it with <<tag excludeTheme>>.
Example:
{{{<<switchTheme width:30%>>}}}
<<switchTheme width:30%>>
{{medium{__Selecting a theme from a command link:__}}}
The {{{<<switchTheme>>}}} macro can also be used to embed a command link that, when clicked, will apply a specific, pre-selected theme, using the following syntax:
{{{
<<switchTheme "label:link text" "prompt:tooltip text" TiddlerName>>
}}}
* ''label:text'' and ''prompt:text'' (optional)<br>define the link text the 'tooltip' text that appears near the mouse pointer when placed over the link, respectively.
*''~TiddlerName''<br>specifies the name of the theme tiddler to be applied (e.g., {{{<<switchTheme [[Woodshop]]>>}}}
Examples:
{{{
<<switchTheme Plain>>
<<switchTheme Blackout>>
<<switchTheme Woodshop>>
<<switchTheme Textures>>
<<switchTheme [[Edge of Night]]>>
<<switchTheme label:[default] StyleSheet>>
<<switchTheme label:randomize *>>
}}}
<<switchTheme Plain>> <<switchTheme Blackout>> <<switchTheme Woodshop>> <<switchTheme Textures>> <<switchTheme [[Edge of Night]]>> <<switchTheme label:[default] StyleSheet>> <<switchTheme label:randomize *>>
NOTE:
>You can also create a command link that specifies "*" for the theme name. This will select a theme //at random// from the list of available themes. To prevent a given theme from being selected, tag it with <<tag excludeTheme>>.
<<<
!!!!!Configuration
<<<
<<option chkRandomTheme>> select a random theme at startup
//Note: to prevent a given theme from being chosen at random, tag it with <<tag excludeTheme>>//
<<<
!!!!!Revisions
<<<
2009.10.01 5.4.1 changed 'noRandom' tag to 'excludeTheme' and recognize 'excludeLists' tag
2009.09.28 5.4.0 added Check/Init/Reset slices for invoking code during theme switching
2008.04.23 5.3.0 added option for chkRandomTheme (select random theme at startup)
2008.04.13 5.2.0 moved TW2.3.x fixup for core's switchTheme() function to [[SwitchThemePluginPatch]] and simplified random theme handling. Also, changed "Web*" prefix to "*ReadOnly" suffix for compatibility with TW240 core convention.
2008.02.01 5.1.3 in response to a change for core ticket #435 (see http://trac.tiddlywiki.org/changeset/3450) -- in switchTheme, use config.refresherData.* values (if defined), instead of config.refreshers.* This change allows the plugin to work with both the current release (~TW230) AND the upcoming ~TW240 release.
2008.02.01 5.1.2 in switchTheme, replace hard-coded "~StyleSheet" with config.refreshers.stylesheet (used as name of loaded styles)
2008.01.30 5.1.1 changed tag-detection to use "systemTheme" instead of "theme" for compatibility with core theme switching mechanism.
2008.01.26 5.1.0 added support for txtTheme="*" (applies random theme at startup) and {{{<<randomTheme>>}}} macro (selects/applies a random theme when a command link is clicked)
2008.01.25 5.0.1 in refresh() and set(), removed use of ">" to indicate current theme
2008.01.22 5.0.0 Completely re-written and renamed from [[SelectStylesheetPlugin]] (now retired)
>//previous history for [[SelectStylesheetPlugin]] omitted//
2005.07.20 1.0.0 Initial Release
<<<
/***
|Name|SwitchThemePluginPatch|
|Source|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePluginPatch|
|Documentation|http://www.TiddlyTools.com/#SwitchThemePluginPatch|
|Version|5.2.1|
|Author|Eric Shulman|
|License|http://www.TiddlyTools.com/#LegalStatements|
|~CoreVersion|2.3|
|Type|plugin|
|Description|Patch core switchTheme() function for backward-compatibility with TW2.3.0 and earlier|
!!!!!Usage
<<<
This "patch" plugin provides backward-compatibility needed to enable [[SwitchThemePlugin]] to operate correctly under TW2.3.x or earlier.
{{medium{You should not install this plugin if you are using TW2.4.0 or above}}}
<<<
!!!!!Revisions
<<<
2008.05.09 [5.2.1] Simplified patch code for use with TW230 ONLY - NOT NEEDED FOR TW240 or above
2008.04.13 [5.2.0] moved from SwitchThemePlugin and updated for TW240b1. Patch code will be simplified further once TW240 final release is available.
<<<
!!!!!Code
***/
//{{{
// OVERRIDE OF CORE story.switchTheme()
// for use with TW230, which uses config.refreshers, while TW240 uses config.refresherData
// also provides fallback for existing Web* slice naming convention
if (!config.refresherData) { // DETECT TW2.3
Story.prototype.switchTheme = function(theme)
{
if(safeMode)
return;
isAvailable = function(title) {
var s = title ? title.indexOf(config.textPrimitives.sectionSeparator) : -1;
if(s!=-1)
title = title.substr(0,s);
return store.tiddlerExists(title) || store.isShadowTiddler(title);
};
getSlice = function(theme,slice) {
if(readOnly)
var r = store.getTiddlerSlice(theme,slice+"ReadOnly")
|| store.getTiddlerSlice(theme,"Web"+slice); // fallback naming convention
var r = r || store.getTiddlerSlice(theme,slice);
if(r && r.indexOf(config.textPrimitives.sectionSeparator)==0)
r = theme + r;
return isAvailable(r) ? r : slice;
};
replaceNotification = function(i,name,theme,slice) {
var newName = getSlice(theme,slice);
if(name!=newName && store.namedNotifications[i].name==name) {
store.namedNotifications[i].name = newName;
return newName;
}
return name;
};
var pt = config.refreshers.pageTemplate;
var vi = DEFAULT_VIEW_TEMPLATE;
var vt = config.tiddlerTemplates[vi];
var ei = DEFAULT_EDIT_TEMPLATE;
var et = config.tiddlerTemplates[ei];
for(var i=0; i<config.notifyTiddlers.length; i++) {
var name = config.notifyTiddlers[i].name;
switch(name) {
case "PageTemplate":
config.refreshers.pageTemplate = replaceNotification(i,config.refreshers.pageTemplate,theme,name);
break;
case "StyleSheet":
removeStyleSheet(config.refreshers.styleSheet);
config.refreshers.styleSheet = replaceNotification(i,config.refreshers.styleSheet,theme,name);
break;
case "ColorPalette":
config.refreshers.colorPalette = replaceNotification(i,config.refreshers.colorPalette,theme,name);
break;
default:
break;
}
}
config.tiddlerTemplates[vi] = getSlice(theme,"ViewTemplate");
config.tiddlerTemplates[ei] = getSlice(theme,"EditTemplate");
if(!startingUp) {
var switchedTemplates=config.refreshers.pageTemplate!=pt || config.tiddlerTemplates[vi]!=vt || config.tiddlerTemplates[ei]!=et;
if(switchedTemplates) {
refreshAll();
story.refreshAllTiddlers(true);
} else {
setStylesheet(store.getRecursiveTiddlerText(config.refreshers.styleSheet,"",10),config.refreshers.styleSheet);
}
config.options.txtTheme = theme;
saveOptionCookie("txtTheme");
}
};
} // end if (!config.refresherData)
//}}}
||line 1 <br> line2|
{{green big underline center{teste}}}
([[2007-06 - Eu não sou fotojornalista]])
''INDENTATION'' - várias soluções
 Apples
  Bananas
   Peaches
    Watermellon
{{whitespace{
Apples
bananas
Peaches
Watermelon
}}}
one
{{indent{two
{{indent{three
{{indent{four}}}}}}}}}
{{twocolumns{
aSDAs
asddd
asdadasd
asdadadsads
adadasd
adad
sadasd
asdasdasdADSadsiyu
kjlkjj
hjhj
rrr
yoo
ljçljlçj
çll
lkoioii
lk
}}}
<<gradient vert #ffff99#ffff99>>//Vou falar-lhes de um Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
...
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino maravilhoso.//
^^ //Miguel Torga//^^>>
A aquisição de uma máquina digital (uma pequena Canon IXUS 40), no final de 2004, possibilitou-me a abordagem da fotografia sobre um ponto de vista de um registo mais frequente de imagens. Ainda que sem regras, sem disciplina, em suma sempre que me apetece fazê-lo.
Isto deu lugar ao envio relativamente frequente de emails aos amigos, relatando algumas das experiências imagéticas vividas por mim. Mais uma vez sem regras, sem disciplina, sem obrigações. Estes mails são de conteúdo muito diversificado, desde umas fotografias simples da praia de Matosinhos, de que gostei por alguma razão, até por exemplo uma brincadeira-séria como num dos primeiros tiddlers "[[Onde está o Wally|./index_2005_2006.htm]]?" usando uma imagem manipulada de uma exposição na Culturgest, que me permitiu relançar a discussão sobre a Arte Contemporânea.
Devido à tendência natural de enviar mails com cada vez mais Megabytes, muito pesados para acessos mais lentos, resolvi criar uma página no site para permitir aos meus amigos o acesso a estes registos, sem terem de receber esses mails enormes.
Decidi experimentar uma ferramenta do tipo Wiki, chamada ~TiddlyWiki, por me parecer que possibilita uma navegação simples e agradável numa página deste tipo.
[[Como usar esta espécie de blog?]]
[[© rroque|http://www.gesto-coop-cultural.pt/rroque/renato.htm]] [[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]
{{indent{{{indent{@@font-size:16px;Caso não receba e pretenda receber mails de notificação desta espécie de blog, basta enviar-nos o seu email. Poderá, sempre que quiser, desistir desta subscrição.@@}}}}}}
@@font-size:1opx;@@
<html>
<!-- Begin MailChimp Signup Form -->
<link href="//cdn-images.mailchimp.com/embedcode/classic-10_7.css" rel="stylesheet" type="text/css">
<style type="text/css">
#mc_embed_signup{background:#fff; clear:left; font:14px Helvetica,Arial,sans-serif; width:200px;}
/* Add your own MailChimp form style overrides in your site stylesheet or in this style block.
We recommend moving this block and the preceding CSS link to the HEAD of your HTML file. */
</style>
<div id="mc_embed_signup">
<form action="//renatoroque.us12.list-manage.com/subscribe/post?u=66b05a303371ef32004795e68&id=20d8c5c75a" method="post" id="mc-embedded-subscribe-form" name="mc-embedded-subscribe-form" class="validate" target="_blank" novalidate>
<div id="mc_embed_signup_scroll">
<div class="mc-field-group">
<label for="mce-EMAIL">Email Address </label>
<input type="email" value="" name="EMAIL" class="required email" id="mce-EMAIL">
</div>
<div class="mc-field-group">
<label for="mce-FNAME">First Name </label>
<input type="text" value="" name="FNAME" class="" id="mce-FNAME">
</div>
<div class="mc-field-group">
<label for="mce-LNAME">Last Name </label>
<input type="text" value="" name="LNAME" class="" id="mce-LNAME">
</div>
</html>
<html>
<div id="mce-responses" class="clear">
<div class="response" id="mce-error-response" style="display:none"></div>
<div class="response" id="mce-success-response" style="display:none"></div>
</div> <!-- real people should not fill this in and expect good things - do not remove this or risk form bot signups-->
<div style="position: absolute; left: -5000px;" aria-hidden="true"><input type="text" name="b_66b05a303371ef32004795e68_20d8c5c75a" tabindex="-1" value=""></div>
<div class="clear"><input type="submit" value="Subscribe" name="Subscribe" id="mc-embedded-subscribe" class="button"></div>
</div>
</form>
</div>
<script type='text/javascript' src='//s3.amazonaws.com/downloads.mailchimp.com/js/mc-validate.js'></script><script type='text/javascript'>(function($) {window.fnames = new Array(); window.ftypes = new Array();fnames[0]='EMAIL';ftypes[0]='email';fnames[1]='FNAME';ftypes[1]='text';fnames[2]='LNAME';ftypes[2]='text';}(jQuery));var $mcj = jQuery.noConflict(true);</script>
<!--End mc_embed_signup-->
</html>
<!--{{{-->
<div class='toolbar' macro='toolbar closeTiddler closeOthers jump'></div>
<div class='title' macro='view title'></div>
<div class='subtitle'> <span macro='view created date [[DD MMM YYYY]]'></span></div>
<div class='tagging' macro='tagging'></div>
<div class='viewer' macro='view text wikified'></div>
<div class='tagged' macro='tags'></div>
<div class='tagClear'></div>
<!--}}}-->
<<tabs txtMainTab 'Todos tiddlers' 'All tiddlers' TabAll Tags 'All tags' WebTabTags>>
@@color(#000000):@@''LISTA DE TAGS''
datas - ord.cronológica
outras - ord.alfabética
----
<<tag 2024-02>>
<<tag 2023-11>>
<<tag 2023-07>>
<<tag 2023-06>>
<<tag 2023-03>>
<<tag 2023-02>>
<<tag 2023-01>>
<<tag 2022-09>>
<<tag 2022-05>>
<<tag 2022-04>>
<<tag 2022-03>>
<<tag 2022-02>>
<<tag 2022-01>>
<<tag 2021-08>>
<<tag 2021-07>>
<<tag 2021-06>>
<<tag 2021-05>>
<<tag 2021-04>>
<<tag 2021-03>>
<<tag 2021-02>>
<<tag 2021-01>>
<<tag 2020-12>>
<<tag 2020-11>>
<<tag 2020-10>>
<<tag 2020-09>>
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<<tag 2020-06>>
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<<tag 2020-04>>
<<tag 2020-03>>
<<tag 2020-02>>
<<tag 2020-01>>
<<tag 2019-12>>
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<<tag Agosto>>
<<tag Alendouro>>
<<tag Arca>>
<<tag Arte>>
<<tag Auto-retrato>>
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<<tag Noite>>
<<tag Nu>>
<<tag Objectos>>
<<tag PAN>>
<<tag Poesia>>
<<tag Primavera>>
<<tag Serralves>>
<<tag Silêncio>>
<<tag Struth>>
<<tag Tempête>>
<<tag Tempo>>
<<tag Teo>>
<<tag Tese>>
<<tag TRRS>>
<<tag ValeArmeiro>>
[[A cidade labirinto|http://www.maisevezes.com/wp-content/uploads/a_cidade_labirinto.pdf]]
Type the text for 'New Tiddler'
Type the text for 'New Tiddler'
[[Renato Roque|http://www.renatoroque.com]] nasceu no Porto há muitos anos. Não se lembra! Dizem-lhe que era uma segunda-feira e fazia sol. Apesar de céptico por natureza, acredita.
É engenheiro de Telecomunicações da FEUP. Por vezes esquece.
Nos anos 80 descobriu que era possível contar histórias com a fotografia.
Desde os anos oitenta que participa em projectos de [[Fotografia |http://www.renatoroque.com/rroque/curFot.html]], projectos de [[Escrita |http://www.renatoroque.com/rroque/curEsc.html]]e outros projectos culturais.
[[mail_rroque|mailto:rroque@renatoroque.com]]
<<switchTheme width:nnn>>