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Era ele ! Aquele chapéu não me
deixava enganar. Chamava as pessoas para junto do taipal.
Fazia pequenas vénias e levantava um pouco o chapéu da cabeça.
Rodopiava. À medida que as pessoas se
aproximavam lançava um sorriso irónico que ficava a
flutuar no ar. Por vezes parecia que ia estalar uma
gargalhada, mas era só aquele sorriso de gozo. Levantava
então a mão, como que a proteger os olhos da luz do
projector e poder ver as pessoas que tinha seduzido, e
desenhava corpos de mulher, cavalos e pássaros nas
tábuas em madeira. Mas os pássaros não lhe saíam bem.
Era obrigado a deixá-los levantar voo. Chamou o Jorge de
Sousa Braga que ia a passar por ali para o ajudar a
distrair o pássaro enquanto o desenhava. O Jorge recitou
um poema e o pássaro sossegou. Eu, fascinado, esqueci-me
da vernissage
Renato
Roque
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