UMA ESPÉCIE DE LUMINOSIDADE
Captado pela luz um rosto é
uma espécie de luminosidade
mais intensa, a inquietude
reclusa de um olhar sem
legendas ou na penumbra
mais geográfica do silêncio –
um homem está parado no
centro desta imobilidade,
escuta o vento, as narinas
abrem-se, a saliva desliza pela
língua e pára na garganta
sêca, os lábios gretam o
mundo, o seu olhar que nos
observa resiste ao destino do
tempo – entre ruínas e
sujidade o tédio avança a sua
usura e resiste, um osso de
luz deflagra na paisagem os
seus escombros, deciframos
inéditos instantes pela
melodia rugosa das palavras
que um rosto escuta, pelo
bolor que estanca o sangue
nas carótidas e nos joelhos.
Jorge Velhote 2009